We Are Stars

☆ 11. Por que esse idiota é tão lindo?


We Are Stars — Capítulo 11

Lucy Heartfilia.

— Senhora Heartfilia?

Desviei a visão da tela do celular e fitei a moça atrás do balcão, que, há poucos minutos, digitava em seu computador feito uma condenada. Uma coisa que eu nunca entendi: secretárias. Passavam o seu precioso tempo atrás de uma máquina, atendendo telefonemas, “cuidando” de seu chefe. E, mesmo assim, muitas considerariam isso como um emprego difícil.

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Não posso dizer nada, trabalhava em uma biblioteca. Até então, claro.

No mesmo momento em que ela me chamou, um homem alto saiu da sala do reitor e a mulher apontou para a porta, com um sorriso esboçado em seu rosto.

— O reitor lhe espera. — Disse, logo voltando ao seu trabalho: escrever no computador.

Levantei e me dirigi até a porta com passos calmos. Estava nervosa, e tinha um branco em minha mente. Era um pouco difícil simplesmente jogar tudo para o ar e desistir da faculdade, apenas porque eu não queria. Talvez não difícil, e sim ousado. Abri a porta com cautela causando um rangido alto vindo da mesma.

O homem sentado na cadeira atrás da enorme mesa de madeira cantarolava uma música desconhecida. Organizava os papéis, e provavelmente estava no meio de uma reunião com o homem que acabara de sair de seu escritório.

Nunca ia para a diretoria da faculdade, a menos que fosse necessário. Mal comportamento era algo que com certeza nunca me levaria para lá, no máximo iria para conversar com a secretária que amava atender o telefone ou o reitor que era um amigo antigo do meu pai. Mas, as vezes que fui para a diretoria poderiam ser contadas nos dedos.

— Boa noite, Lucy — ele estendeu a mão num cumprimento e eu o retribuí.

— Olá, senhor Makarov. — Sorri.

Makarov era um velho de mais ou menos sessenta anos. Ele ser baixinho era algo que fazia com que os estudantes caçoassem dele dia e noite. O senhor tinha mais ou menos a altura de Levy, talvez um pouco mais baixo — 1,55. Me sentei em seguida dele.

— O que a traz aqui hoje? — Indagou, ainda organizando os papéis.

Mordi o lábio inferior, olhando para minhas mãos, nervosa. Era extremamente fácil dizer, mas complicado organizar os pensamentos. Eu deveria explicar, com calma, sobre o por que de eu ter tomado aquela decisão para ele, e torcer para que Makarov compreendesse. Por alguns instantes, a parede parecia ser o ponto mais interessante do local.

— Bem, a empresa de meu pai está começando a falir, e eu estou com dificuldades financeiras — comecei, estralando os dedos. — Preciso cortar certas coisas para que o dinheiro não acabe tão rapidamente. Então, tomei essa decisão. — O velho me encarava e eu inspirei o ar, tomando fôlego. — Quero trancar minha matrícula.

O silêncio prevaleceu. Ele me fitava e eu olhava para a parede, um pouco aflita. Jogar meses e anos de estudo pra o ar era uma ideia insana que nenhuma pessoa sã faria. Escutei o suspiro de Makarov.

— Entendo o que está passando — disse, num murmuro. — Certo. Falarei com minha secretária e ela organizará tudo. Entrarei em contato com você, sim?

Sorri e concordei. O senhor estendeu a mão e eu apertei-a.

— Muito obrigada.

Supus que tudo terminaria assim, fácil. Makarov conhecia meu pai, eram velhos amigos, então ele sabia o que eu estava passando com tudo que estava acontecendo.

Levantei e andei depressa para a direção da porta. Acenei em despedida para a secretária e a mesma respondeu com um sorriso e um aceno com a cabeça. Não sabia se estava feliz ou entristecida. Talvez um pouco aflita, afinal, havia gastado anos da minha vida fazendo algo que eu nem ao menos me interessava.

Parei no corredor e segurei com força a alça da bolsa.

Gastei anos da minha vida fazendo algo que eu nem ao menos me interessava.

Por motivos que nem eu mesma sabia, comecei a rir. Ri até chegar no ponto em que meu estômago doía. As pessoas passavam e me encaravam, sussurrando: “Essa é doida”. Não importava, afinal. Eu era uma louca.

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Limpei as lágrimas causadas pelas gargalhadas e continuei meu percurso. Peguei meu celular na bolsa preta que segurava para checar o horário. Faltavam, ainda, quatro horas para que as aulas de Levy e Erza terminassem. A ruiva havia marcado de todas nós sairmos juntas para um bar qualquer e nos divertíssemos, mesmo sendo segunda feira. Conclui que tinha tempo de sobra, então decidi dar uma última volta pelo o campus da faculdade. Talvez fosse a última vez que eu entrasse naquele lugar, uma última visita não mataria ninguém.

Saí do prédio da administração da universidade e inspirei o ar fresco. A faculdade era enorme e tinha muitas árvores. Era calmo lá, mesmo tendo milhões de alunos que corriam feito loucos de um lado para o outro, assim como professores. Andei pelo caminho de pedras e observei a todos. Ventava bastante mas não o suficiente para alertar uma tempestade ou uma chuva forte. Algumas pessoas corriam e quase me atropelavam, sem nem ao menos pedir perdão.

Parei perto de algumas árvores e olhei para cima, tentando enxergar as estrelas. Com as luzes que o campus emitia, era quase impossível ver o céu estrelado, mas, mesmo assim, conseguia enxergar alguns pontinhos brancos sumindo aos poucos. Eu sorria feito uma criança após receber seu presente de Natal.

“Mãe, acho que as coisas vão melhorar de agora em diante.” Pensei. Desviei o olhar para baixo e encarei as árvores. As folhas caíam com facilidade e rapidamente por culpa da brisa forte. Encarei uma de cima pra baixo, e notei que havia alguém sentado sob ela. Um sujeito que deveria estar na aula de anatomia dormia serenamente enquanto as folhas verdes caíam sobre seu rosto. Usava um fone de ouvido com os braços cruzados. Os cabelos rosas estavam mais bagunçados do que já eram.

Me aproximei dele. Natsu murmurava algumas palavras incompreensíveis. Com certeza estava num sono extremamente profundo. De perto, conseguia ouvir o que ele escutava em seus fones: AC/DC. Como alguém tem a habilidade de dormir enquanto aprecia o som pesado das guitarras e da música de AC/DC? Natsu, definitivamente, não era normal. Desde o início eu sabia disso. Pensei em acordá-lo e mandar ele voltar para as aulas. Todavia, a visão de ele tirando um cochilo era agradável.

— Se ficar olhando muito, minha beleza vai te cegar. — Um dos olhos dele se abriu, encarando-me sem pudor. Dei um pequeno salto para trás, assustada.

— Que susto! — Comentei, com os olhos arregalados. — Quer me matar?!

Natsu riu, retirando os fones de seu ouvido, pausando a música em seu celular.

— Você é estranha, Lucy — disse, limpando as lágrimas causadas por suas gargalhadas.

— Eu sou estranha? — Perguntei, exclamando. — Você que está fingindo dormir no meio do campus da faculdade, e depois eu que sou a estranha — expliquei, colocando a mão na testa.

— Não estou fingindo dormir, só ouvindo música — respondeu.

Suspirei e encarei-o. O rosado estava sentado no chão de uma forma desleixada e relaxada, com as pernas cruzadas e com o olhar cansado. Um de seus braços estava atrás da cabeça, o apoiando na árvore, e ele continuava a me fitar, aguardando o que eu diria. Ficamos em silêncio por alguns instantes, analisando um ao outro, até a situação ficar constrangedora e eu desviar o meu olhar.

— Você não deveria estar na aula? — Indaguei, observando o gramado verde que precisava urgentemente de um aparo. Não conseguia ver Natsu, mas com certeza, diante seus atos, ele deveria estar sorrindo.

— Sabe, minha professora de anatomia é um saco — falou, em forma de resposta. — Parece que nunca deu aula. Prefiro estudar em casa, mesmo.

Lembrei-me de como eu costumava prestar atenção em todas as aulas de sociologia e das horas que passava no meu apartamento, grudada nos cadernos. Nunca consegui compreender a matéria, apenas gravá-la e colocar os estudos em prática durante a prova, com sucesso. Desperdício de tempo. Agora eu estava livre de tudo isso, mas pensava no que eu faria, substituindo os momentos em que eu ficava sentada, lendo os livros.

— Lucy? — A voz grave dele cortou meus devaneios.

— Sim?

— Você está bem? Parece um pouco distante.

De repente, a tortura da cólica pareceu voltar em um instante. Senti uma pontada de dor na região do útero, e minhas pernas ficaram bambas. Precisava sentar.

— Eu tranquei minha matrícula hoje.

O famoso silêncio constrangedor.

Eu ainda fitava os prédios da faculdade, que eram muitos. Estava um pouco curiosa sobre o que ele diria sobre isso, afinal, fora ele que queria que eu mudasse e voltasse a ser como eu era antes, uma garotinha sem escolhas para seu futuro. A cada minuto que se passava, mais eu sentia que estava dentro de um drama clichê muito chato e entediante.

Consegui ouvir o suspiro do rosado.

— Quer se sentar? Eu divido meu fone com você.

Agradeci aos céus e me sentei em sua direita, acomodando-me. Peguei um dos fones de ouvido e os coloquei. Um som de rock tomou conta de meu cérebro e, por um momento, senti que meus tímpanos fossem explodir.

— Não quer pôr algo mais pesado, não? — Perguntei, irônica.

— Ah, Lucy, você tem que aprender a apreciar o velho e bom AC/DC.

O som alto das guitarras arrebentavam meus pensamentos. A única coisa que conseguia raciocinar era o fato de essa música ser realmente boa. Não que eu fosse uma grande fã da banda, mas conhecia algumas músicas, como Black in Black, justo a que tocava.

De alguma forma, aquilo conseguiu me confortar, de uma forma que eu nunca conseguiria imaginar que faria. A melodia pesada descrevia meus sentimentos no momento: loucos, perdidos, insanos. Eu estava completamente desiquilibrada e perturbada com a minha vida.

Batia minha mão no chão conforme o ritmo. Era bom, maravilhoso. Com certeza um modo diferente para me acalmar e pensar. Estar com Natsu ali também me fazia relaxar. A presença dele era calorosa e única, e ele conseguia fazer eu dizer coisas que não falaria a ninguém, nem mesmo para Levy – que, na verdade, sempre sabia como eu me sentia.

— As estrelas estão lindas hoje, não? — Ele disse. Virei minha cabeça para olhá-lo e ele encarava o céu. Fitei o mesmo lugar, e, realmente, as estrelas estavam belíssimas. Recordei de minha mãe.

“Ah, mãe. Seria tão mais fácil se a senhora estivesse aqui...”

— Com certeza. — Disse, nostálgica.

De repente, uma ideia louca se passou pela minha cabeça.

— Ei, Natsu — o rosado murmurou um “hm?”. — Nós vamos para um bar hoje, depois das aulas. Erza e Levy provavelmente vão levar os outros — falei. Ele arregalou os olhos e me encarou.

— Lucy Heartfilia vai pra um bar numa plena segunda feira? Amigos, algo está errado — debochou, fingindo espanto. Soltei uma risada.

— Sim, insano. De qualquer forma, gostaria de vir conosco?

Girei minha cabeça e notei que seu rosto estava próximo. Conseguia sentir o perfume único de Natsu e sua expressão sorridente perto de mim. Aquele sorriso insubstituível e que conseguia ficar gravado na memória de qualquer um. Seus olhos eram tão negros quanto o céu estrelado daquela segunda feira, e possuíam o mesmo brilho que uma explosão de meteoritos entrando em contato com planetas. Seu olhar parecia querer me derreter, aos poucos. Perto desse jeito, conseguia sentir o calor que ele emanava. Notei o sangue subir para minhas bochechas.

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— Claro.

Me separei um pouco dele e retirei o fone de meu ouvido, ainda conseguindo ouvir a música impregnada em meu cérebro.

— Certo, então. Eu te passo o lugar por mensagem, ok? — Estava nervosa, então dizia as coisas rapidamente sem lógica nenhuma. Levantei, tremendo um pouco. Notava que ele abafava risos, todavia, estava constrangida demais para fazer qualquer coisa. — Nos vemos depois.

Me despedi, andando depressa para mais longe possível. Mesmo já distante, consegui ouvir Natsu gritando um “Tchau, loira”.

[...]

Fechei a porta do meu apartamento e me joguei no sofá. Estava mais calma, mas a imagem de Natsu ainda estava em minha mente, assim como o som que nós dois estávamos ouvindo sob a árvore, debaixo do céu estrelado da noite. De repente, tive a absoluta certeza de que minha vida não se passava de um drama clichê.

Gritei com o rosto enterrado na almofada. Não sabia se estava berrando por dor ou vergonha. Me separei do pequeno travesseiro e notei que era rosa. Rosa, assim como o cabelo dele. Peguei a almofada e joguei para longe.

Levantei e comecei a andar em círculos pelo o meu apartamento, conversando comigo mesma. Dizia coisas como “Ele é um amigo”, ou “Você é sem graça, Lucy, por que ele gostaria de você?”, e também “Puta que pariu, eu sou uma retardada mental”.

Gostaria de ter um cachorro em momentos assim, apenas para poder abraçar e reconfortar a mim mesma. No entanto, o prédio não permitia a entrada de animais de estimação dentro dos apartamentos, o que sempre me enfureceu.

Fui até a cozinha e tomei mais um remédio para cólica, e me encostei na geladeira. Senti meu celular vibrar em meu bolso e retirei para ver a mensagem que acabara de receber. Era um SMS de Natsu, que havia uma imagem dele mesmo fazendo uma careta para a câmera.

“E aí, loira! Não esquece de me mandar o nome do bar.” Era o que a mensagem dizia.

Ainda encostada na geladeira, escorreguei até o chão, encarando a tela do celular.

— Por que um cara tão idiota assim tem que ser tão bonito? ­— Perguntei em voz alta, para ninguém em especial.

Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela.Paulo Coelho