Viúvas negras?

Sim. Vem comigo, vou te explicar.

Adam me levou para "dar uma volta" pela base. Fomos andando da ala D até o meu alojamento. Parecia mais um encontro do que uma explicação sobre o que eu estava fazendo ali.

Primeiramente eu queria pedir desculpas, não queria coloca la nessa situação... Mas você está melhor aqui do que naquele navio. Não e mesmo? Aqui você tem conforto, comida decente, roupas limpas e...

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Em troca disso vou ter que matar pessoas?

Matar?! Claro que não! Você é uma funcionária do governo agora, você não mata, você ajuda a manter a sociedade em ordem. Entendeu?

Sim...

Como está o Abraham?

Está bem. Lendo muito.

Que bom! Ele é um menino muito inteligente.

Ficou um silêncio e Adam respirou fundo e olhou nos meus olhos.

Eu sei que não posso fazer muita coisa. Mas dou minha palavra de que Abraham vai estar em segurança.

Obrigada...

Bom, chegamos. Esse é o seu pequeno lar.

Nessa hora, lembro me que ficou um silêncio bem constrangedor.

Karen... —Adam levemente segura o meu queixoEu prometo que vou te proteger. Vejo isso como minha obrigação. Os dias aqui não são fáceis. Vão te perseguir, vão perseguir o seu irmão. Eu não sei como ficaria se... Se alguma coisa acontecesse com vocês.

Eu e Adam ficamos trocando olhares e, pela primeira vez, me senti segura.

Nunca confie em ninguém. Principalmente nas viúvas. Priorize sempre você. Aqui ninguém ajuda o próximo. É cada um por si. Todas são frias, não devem demonstrar nenhum tipo de compaixão.

O que acontece se quebrarem essa regra?

Os últimos que fizeram isso foram ridicularizados, humilhados e mau vistos. Aqui de fato, não é um lugar bom.

Você disse que não posso confiar em ninguém. Por que devo confiar em você?

Por isso...

Adam se aproxima e me da um beijo na testa,eu fechei os olhos e senti paz. Logo em seguidaele acaricia o meu rosto. Nunca tinha me sentido tão protegida, eu automaticamente abracei ele. Ele me acariciou e disse;

Eu vou cuidar de você, eu prometo.

Fim do flashback

—Ele realmente cuidou?

—Bom. Ele tentou, ele só não esperava que a criação dele voltasse contra ele mesmo.

Joseph demonstra nitidamente está incomodado

—Esta tudo bem? Se quiser eu paro de contar..

—Não! eu preciso saber da verdade, gostando ou não. Continue

Voltando ao flashback

O tempo passou e eu vivi dias horríveis, usaram o Abraham como pretexto várias vezes, se eu não fizesse aquela "prova"—que era quase um treinamento militar— iriam queimar o braço do Abraham, se eu não soubesse lutar iriam dar um tiro no Abraham. Mudei de forma brusca, de fato estava ficando mais fria e insensível, mudei meu andar, cortei meu cabelo, passei a usar roupas que não tinha costume, mais ainda tinha pavor de usar calça. A intenção deles era criar uma pessoa fria e calculista. Nesse período Adam tinha viajado de 6 em 6 meses, ele viajava "a negócios" ele ia pra embarcações ilegais para contrabandear produtos, matérias-primas e, em alguns casos, pessoas. O pior disso tudo é que ele não era o líder. A minha "treinadora" aproveitou muito bem a oportunidade de Adam não está por perto. Na minha última prova, tive que lutar contra ela, e se eu perdesse,eu seria torturada. Não existia nenhuma condição caso eu ganhasse.

Cheguei na sala, exausta.Todas as viúvas estavam lá, e Bianca, minha querida treinadora, estava me esperando, com um bastão de madeira na mão e disse:

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escolha sua arma.

Todas eram brancas. Escolhi um bastão, mas de ferro, quase um cano rsrs, era um pouco maior do que o dela, e bem mais pesado também.

Começamos a lutar, de primeira levei uma bela pancada na cabeça, apanhei nos primeiros 5 minutos. Minha visão já estava turva, foi quando eu comecei a sentir ódio, lembrei de tudo de ruim que passei na vida, desde perder meus pais, perder você, até ir parar naquela inferno. Na hora, esqueci a dor, esqueci tudo e parti pra cima dela aos gritos. Consegui dar um golpe que chamam de "voadora" e a derrubei. Subi em cima dela e dei muito, muito soco nela, eu me descontrolei, por sorte, Adam chegou de viagem e foi direto pra ala D.

Karen! Karen para agora! pegou um bastão e tacou na barra de ferro que ficava na parede, já que era uma sala de ballet.

Com aquele som eu parei na hora, era como se eu tivesse voltado ao normal. Vi o rosto da Bianca praticamente desfigurado. E eu com dois dedos da mão quebrados e um ligamento rompido. Levantei, bem séria, e vi as meninas com cara de pânico cochichando ; Ela matou a Bianca, nenhuma de nós tinha conseguido vencer ela antes.

Olhei para o Adam e ele tava assustado. Apenas disse:

Vai pra enfermaria. Viúvas, ajudem a levar a Bianca pra enfermaria. Mas levem ela pra enfermaria da ala C.

Quando eu tava na enfermaria, levando pontos do dedo, com um saco de gelo no olho e um pouco sem visão. Adam veio.

Pode me explicar o que aconteceu?

—Lutamos, apenas isso.

—Não! Aquilo não foi uma luta, foi uma sessão de pancadaria. Vocês estavam se matando!

Adam deixa bem nítido o quanto estava nervoso.

— Você se machucou muito?

— Só a mão...

—Ela vai ter que fazer fisioterapia senhor Adam.— interfere a enfermeira.

Adam, indignado , sai da sala.

Fiquei bem machucada, não tanto quanto Bianca. Daquele dia em diante, tudo mudou. Como as pessoas me olhavam, como Adam me olhava. Bianca continuou com o seu cargo, mais não tinha tanta moral como antes, era vista mas como uma secretária, do que uma chefe.

O tempo passou mais um pouco, e minha relação amarosa com Adam só aumentava. No começo eramos grandes amigos, e depois foi um pouco além disso. Sempre foi bem nítido o seu sentimento por mim. O que não era muito nítido era o meu sentimento por ele. As vezes eu demonstrava sentir o mesmo por ele, outras vezes não. Eu não me entendia, eu não me amava, como podia ama lo? Mas a carência era maior, era tão boa a sensação que tinha quando estava em seus braços, quando ele me beijava, que eu não queria saber se amava ele ou não. Mais com o tempo, com o ódio, quis me vingar. Decide ser sedutora, porém intocável, isso acabava com Adam. Ele quase sempre me chamava pra sala dele, perguntava se eu estava sendo perseguida, se alguém me ameaçou. Até que teve uma vez que ele me chamou... Para me entregar meu primeiro caso, meu primeiro homicídio.

—Karen, esse homem fez muita coisa de errado. Alguém tem que dete-ló. É esse alguém é você.

Fiquei espantada.

Aqui está a pasta com a ficha dele. Você vai ver que ele não presta. Vai ver que mata ló será um favor seu a sociedade.

Virei me para ir pra fora. Quando ele me chamou de novo.

Ah! Karen, só mais uma coisa.

Quando me virei, ele me puxou pela cintura e me deu um longo beijo, foi tão forte que ele me empurrou pra porta e a pasta caiu no chão. tomei um susto, mais cedi. Foi lindo, me senti segura, amada. Tive sensações que nunca tinha tido antes. Parecia que o tempo tinha parado, que não existia mais ninguém no mundo, só nos dois. Enquanto ele me beijava, ele me abraçava e me acariciava, e eu fazia o mesmo. Quando o beijo acabou, eu estava igual a um tomate, e também estava sem ar rs.

Esqueci de te dar esse beijo, se cuida ok? Preciso que você volte pra mim ok? . Dizia Adam enquanto acariciava meu rosto, ainda bem próximo a mim.

Eu vou voltar...

Saí pelo corredor quase cambaleando, Ofegante, com o batom todo borrado. Enquanto ia para o meu alojamento, vi uma cozinheira ser humilhada por causa da sua cor. Aquilo me deixou assustada, nunca tinha visto uma cena daquela. Quando a moça se abaixou pra pegar suas coisas, fui ajudar. Ela tomou um susto, mas eu disse que não ia fazer nada contra ela, e me questionou ;

—Por que está me ajudando?

—Porquê também é ser humana.

—Não é por isso. Nesse lugar ninguém se ajuda.

—Foi o que me disseram. Mas da onde eu venho, todos se ajudam.

—Então por que está aqui?

—Eu também queria saber...

O dia do meu primeiro homicídio chegou, e na hora da execução, chorei muito, mas um ódio maior do que eu me dominava. E eu saí de la sem deixar rastros.

Com o tempo, eu e Adam fomos ficando mais próximos, e eu, mais calculista. Aquele ódio que só sentia algumas vezes, começou a ser algo crônico. E quis dar para Adam um pouco do seu próprio remédio. Comecei a ficar cada vez mais insensível, aquele turbilhão de sentimentos que sentia sempre que beijava ele ,e a sensação de segurança quando ele me levava para o alojamento foi diminuindo. E ele não compreendia. Ele vivenciou minha mudança, de uma garota assustada para uma mulher sexy, que sabia jogar muito bem. Isso tudo piorou quando eu deixei bem claro que não sentia mais nada por ele, daquele dia em diante, ele sempre me questionava e se perguntava se fez algo de errado.

Então, em dia ensolarado por mais que pra mim não importasse, parecia ser sempre nubladoLogo pela manhã, estava treinando coordenação motora na sala de ballet, pois ainda tinha bastante dificuldade de mexer a mão direita. Quando Bianca, muito indignada, veio me chamar;

Karen. Adam está te chamando no escritório.

Eu fui. Qualquer um percebia o seu olhar de insatisfação sobre mim.

Ao chegar no escritório, vi Adam pensativo.

Karen, você terá uma missão especial. Aqui está a base de dados... Preste bastante atenção no que vou lhe dizer ; não quero falhas. Esses rapaz é um excelente policial. Se deixar alguma pista, ele e sua equipe te mata. E não vai ser de forma rápida e sem dor. Toda "limpeza" que vocês fazem, e um favor a sociedade. Logo, não somos criminosos. Somos políticos discretos. Essa é a sua chance.

Eu peguei o papel, balancei a cabeça e fui embora. Quando cheguei na porta, Adam me chama:

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Karen... A Bianca ainda te provoca?

Não.

Adam saí de sua bancada e vem na minha direção, com ar de compaixão

Karen... Por que... Por que faz isso comigo? Eu... Eu nunca senti por nenhuma mulher antes o que sinto por você. Por quê mantém esse olhar frio comigo?

Adam se aproxima mais. E tenta acariciar meu cabelo.

Minha loirinh...

Antes que ele completasse a frase, imobilizei o braço dele com o meu.

Nunca maisrepita essa frase. Isso já acabou Adam. Sou sua funcionária, sua viúva negra.

Virei me e fui embora. Cheguei a me perguntar se teria chances dele se vingar pela minha atitude. Mas depois desconsiderei.

Fim do flashback

Joseph nota um semblante triste em Karen.

— O que foi?

—Vou lhe contar a parte mas ruim da minha vida... O homicídio mais doloroso que fiz... Ele era um policial, ele era..

—Steven Johnson?

—Sim...

Joseph respira fundo... E observa nitidamente o pânico no olhar de Karen. Olha para suas mãos e vê o quanto está trêmula. Karen estava completamente apavorada ao lembrar de seu passado.

—Eu não me reconheço mais... Que monstro eu me tornei.

—Pensa no lado bom. Se não fosse por isso a gente não teria se reencontrado.

Karen da um leve sorriso e olha bem nos olhos de Joseph.

—Você não mudou mesmo. Ainda continua otimista.

—Mas é claro, sempre serei assim. O Steven foi meu melhor amigo. Ainda dói ter perdido ele, dói mais ainda saber que foi você que o matou. Mas de fato, foi a morte dele que me fez chegar até você, e perceber que você não teve culpa de tudo o que fizeram com você,e que é nítido sua mudança. Eu te amo Karen, e tenho certeza que você vai dar a volta por cima.

Karen, envergonhada, fica toda vermelha e sem reação. Deixando Joseph também constrangido, mas feliz.

—Eu também te amo, Joseph.

—Somos um casal estranho. Mas iremos juntos superar o passado, e suportar as consequências.