O Natal em Hélade não foi tão diferente quanto o da Terra. O povo que vivia nos pequenos povoados mais próximos ao castelo, se reuniu a nós para a ceia. Muitos dos

Eve, Sarah, os Rocco, Sam, Camila, os Shane, Cléo e Lily estavam todas reunidas ali para celebrar a grandeza e a beleza do Natal. Todos riam, brincavam aldeões, porém, ficaram um tanto perplexos ao verem, o meu estado. Pelo que eles se lembravam, eu não havia me machucado tanto assim na luta contra o Vilgax. E agora eu estava ali, com o pé engessado, o braço com ataduras e inúmeros cortes pelo corpo., comiam e bebiam a vontade, exceto por uma pessoa: Eu.

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Eu estava sentada sozinha aos pés da escada. Queria muito subir para o meu quarto e ficar trancada ali com os meus pensamentos, mas se eu fizesse isso, provavelmente alguém iria notar a minha ausência e com certeza iria atrás de mim. Eu queria ficar sozinha, como eu ficava em minha casa na Terra quando meu pai partia em uma missão. Queria poder subir no telhado e ver o brilho prateado da lua como costumava fazer quando estava triste.

Mesmo pensativa e triste, eu tinha noção do que acontecia ao redor de mim. Eu sabia que Oliver e Cléo estavam dançando, assim como Lily e Rick. Sabia que o meu tio Robbie conversava e bebia com George e Daniel Rocco. Sabia que Hellen e Eve discutiam o andamento da reconstrução do Templo de Apolo e que Jessie estava brincado com Sarah. Sabia também que Camila e Sam riam das coisas bobas que lembravam ter feito juntas na infância e que Igor Rocco estava nos estábulos conversando com os cavalos e pégasos. Fitando as minhas mãos sobre o meu colo, eu percebi a chegada silenciosa de um rapaz alto e moreno.

- Posso me sentar ao seu lado? – William perguntou um tanto envergonhado

Eu suspirei e fiz que sim com a cabeça. Eu bem que queria ficar um pouco sozinha, mas eu também não via o porquê de negar o pedido de William para se sentar ao meu lado.

- Está tudo bem? – ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça – Olhe me desculpe pelo que aconteceu anteontem. Eu...

- Não precisa se desculpar e nem explicar nada. – eu murmurei interrompendo-o – Eu compreendo que você gosta da Sam e respeito isso. Confesso que fiquei um tanto magoada no início...

- Eu não queria te magoar...

-... Mas agora está tudo bem. Agora, se me der licença, eu vou para o meu quarto.

- Quer ajuda? Eu posso...

- Não, tudo bem. Eu posso subir sozinha, obrigada.

- Você tem certeza?

E com essa última frase, ele agarrou meu braço e me puxou para perto dele. Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto e puxei o meu braço da mão dele. O toque antes tão suave e quente da pele dele, agora não me confortava mais como antes.

- Will, entenda uma coisa... Acabou. – eu disse em uma voz um tanto fria – Você me magoou muito e eu não quero mais que o nosso relacionamento continue. A paixão que eu tinha por você acabou. Foi queimada como um simples pedaço de papel inútil. Agora, deixe-me em paz e nunca mais tente algo desse tipo comigo.

Furiosa, eu subi as escadas que davam para o segundo andar. Não me importava agora se alguém ia me perturbar ou não. Eu só queria ficar sozinha, nem que fosse por apenas cinco minutos. Porém, quando abri a porta do meu quarto, vi que um homem loiro usando estranhas sandálias com o que pareciam ser asas e segurando um bastão com duas cobras enroscadas me esperava com várias caixas coloridas nas mãos.

- Hermes? – eu disse surpresa – O que você está fazendo aqui?

- Vim entregar os seus presentes de Natal! – ele disse sorrindo amigavelmente – Achou que haviam se esquecido de você?

Eu não sabia o que responder. Era óbvio que eu não esperava receber nada alem dos presentes e do reconhecimento do povo de Hélade.

- Esse é da Annabeth. – ele disse me entregando um embrulho cinza e retangular

- Adoro aquela garota. – George sibilou – Ela nossss deu um belo e ssssuculento rato.

Aquilo de certa forma me assustou. Eu havia esquecido que aquela malditas cobras podiam falar. O som do sibilado de George me fez dar um pulo e eu teria caído se Hermes não tivesse me ajudado.

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- A mesma desastrada com medo de cobras de sempre. – ele brincou – O que houve com você?

- Rolei uma colina com meu pégaso depois de dar uma surra em certo alienígena. – respondi um tanto alegre demais, pois acabara de abrir o presente de Annabeth, onde tinha o livro que eu procurava há um bom tempo: Fallen.

Ele pareceu não ter percebido a animação na minha voz e por isso, continuou a me entregar os presentes dizendo sempre quem os havia enviado antes. Fazendo uma lista do que ganhei e de quem ganhei, fica assim:

Livro Fallen – Annabeth

Flauta de bambu artesanal – Mike

Amuleto contra maus sonhos – Gwen

Milk-shake do Sr Sorvete (pois é, eu ganhei um Milk-shake) – Ben

Chaveiro com a miniatura de uma Ferrari (qual o problema desses meninos?) – Kevin

No final, só sobravam dois pacotes. Um era uma caixa pequena, quadrada, preta e achatada e o outro era um belo embrulho de algo parecido com papelão, preto com bolinhas cor de rosa e um belo laço de algo muito parecido com cetim, combinando com as bolinhas.

- Toma. O embrulho de bolinhas é do seu pai. – Hermes disse entregando-o a mim

- Desde quando meu pai te conhece? – perguntei um tanto surpresa

- Desde que ele começou a namorar uma filha minha.

- O QUE?

- Estou brincando. Ela é só uma filha de Atena.

- O QUE? MEU PAI ESTÁ... NAMORANDO?

- Por que tanta surpresa? Seu pai só está tentando ser feliz depois de tantos anos! E nada melhor do que uma meio-sangue para acompanhá-lo, não?

- Bom... Pelo menos ela não vai me achar estranha. Qual o nome dela?

- Abre logo o presente e para de fazer perguntas, caramba. Os deuses resolveram fazer um amigo oculto e eu estou atrasado.

- OK. Desculpa.

Abri o embrulho rapidamente e vi um belo cachecol preto e prata de tricô que parecia ser bordado à mão. Junto com o cachecol, havia um bilhete escrito à mão. Era a letra do meu pai.

Querida Lana,

Estou morrendo de saudades, querida. Espero que isso a aqueça nesse frio inverno.

Com amor e carinho,

Papai.

Claro que eu não poderia usar aquele cachecol em Hélade, ainda mais com o calor que estava fazendo, mas fiquei feliz mesmo assim. Meu pai havia se lembrado de mim. Isso era o que importava.

- E agora o último, porém, não menos importante presente. – Hermes disse entregando a caixa preta e quadrada que percebi que parecia ser feita com veludo - Esse é de Apolo.

- O-o que? – gaguejei nervosa, havia alguma coisa um tanto estranha comigo. Toda vez que eu ouvia o nome dele, ou pensava nele, eu ficava nervosa – D-de Apolo? M-mas por quê?

- Não sei. Ele deve ter criado certo apreço por você depois de você ter salvado a vida dele.

- O que sssserá que ele viu nesssssa mortal? – Martha sibilou

- Com certeza diversssssão não foi. Você já foi mais engraçada garota. – George sibilou

Acabei por corar. Depois de ter passado por tanta coisa, eu me sentia cada vez mais desanimada. Acho que ultimamente, até uma pedra tinha mais humor que eu.

- Enfim... Quem você tirou no amigo oculto? – perguntei rapidamente pensando em um apelido tosco para todos os deuses

- Tirei o Dionísio, mas eu queria tirar o papai. Eu ia dar uma caneca escrita “FABULOSA” para ele. Claro que ele ia me matar, mas seria engraçado.

Inesperadamente eu comecei a rir. Chamar Zeus de “fabulosa”? Putz, é pedir desesperadamente para morrer. Eu ri tanto, que senti meus olhos lacrimejando.

- E o que você vai dar para o “cara do vinho”? – perguntei tentando parar de rir – Eu ia sugerir a você, roubar uma camisa e dar para ele. Ele vai ficar muito bravo.

- Ótima ideia! Eu ia dar uma garrafa de vinho para ele. Ele ia ficar brabo também, mas não tanto quanto ele vai ficar agora.

- Agora eu ssssei por que Apolo gossssta dela. Adorei essssa ideia! – George sibilou

Eu sorri com a imagem de Dionísio tendo um ataque de fúria no Olimpo. Então me lembrei da caixa aveludada em minhas mãos. O presente de Apolo. Respirei fundo e a abri cuidadosa e curiosamente. Um colar de ouro brilhou com a luz da lâmpada do quarto. No meio de sua corrente, havia o pingente de uma linda clave de sol feita de brilhantes. A clave mais perfeita e bonita que eu já havia visto em toda a minha vida.

- Que lindo! – sussurrei mais para mim mesma – Hermes, diga a Apolo que...

Mas quando levantei os olhos, Hermes já havia desaparecido com George e Martha.

-... Que eu amei o presente. – completei para mim mesma

Olhei fixamente para o cordão por um bom tempo, até que...

- Lana? O que você está fazendo aqui em cima e... Uau! Quantos presentes!

Virei-me e vi Alice parada na porta do meu quarto, vestida como uma Mamãe Noel.

- Mas o que... – comecei, mas Alice me arrastou para o seu quarto.

- Veste isso. – ela “pediu” me entregando um vestido vermelho idêntico ao dela, um cinto largo, um gorro de “Papai Noel” e um par de botas de cano baixo.

- Por quê?

- Por favor! Veste!

Olhando-a desconfiada, eu vesti a roupa e ajeitei o cabelo antes de colocar o gorro na cabeça.

- O que é isso? – Alice perguntou apontando para a minha mão

Eu não havia me tocado que ainda segurava o colar que Apolo havia me dado.

- É um dos presentes que eu recebi. – disse

- Eu te ajudo a colocar no pescoço se você me disser quem te deu.

- Foi a Emily. – menti – Esqueceu que ela é musicista? Agora você pode me dizer o que a gente vai fazer e por que eu estou vestida de Mamãe Noel?

Alice me olhou com um sorriso brincalhão como se dissesse: “Ah, você vai ver daqui a pouco” e eu soube que eu estava ferrada.

...

- Alice! Eu não vou fazer isso! – murmurei para ela – Tem quase duas centenas de pessoas lá embaixo! Você está louca?

Camila estava sentada em frente a um piano de cauda e Sam afinava um baixo preto que saíra sabe Deus de onde. Ambas estavam vestidas de Mamãe Noel como nós e sorriam nervosas. Ao meu lado, Alice acabara de tirar sua palheta prateada do seu cordão e testava as cordas de sua guitarra para ver se estavam todas corretamente afinadas. Estávamos todas em cima de um palco improvisado e atrás de cortinas vermelhas que pareciam muito com as do teatro da escola em que estudei em San Francisco.

- O seu violão está ali no canto. – Alice disse – Acho que você vai acabar tendo que usá-lo.

- Eu já disse que...

- Por favor, Lana! – Camila pediu com aqueles olhinhos brilhando irresistivelmente

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Nenhum ser vivo poderia resistir àquele olhar pidão e eu acabei cedendo.

- Tudo bem. Mas só uma música! – eu suspirei

Com o canto do olho, vi Alice fazendo um “Yes!” silencioso. Sam deu uma risadinha e Camila me abraçou. O que aquelas três tinham na cabeça?

Quando as cortinas abriram, eu fui obrigada a encarar todo aquele povo. Havia cerca de umas 180 pessoas olhando para nós, esperançosos. Esse era o motivo principal de por que eu nunca havia me apresentado nos shows de talentos do colégio ou feito alguma peça. Instintivamente eu apertei o pingente do meu colar contra o meu peito. Alice tomou o microfone da minha mão e antes de falar para o povo que iríamos tocar uma música americana chamada “We are the Champion”, sussurrou no meu ouvido:

- Respira fundo e olha além do rosto das pessoas. Olhe para a parede acima deles. Isso diminui o nervosismo.

Resolvi seguir sua dica e soltei a voz.

Agora eu retiro o que eu não disse. Esse foi um dos melhores natais de toda a minha vida.