Um Cupido (quase) Flechado

Capítulo 8 - Razões e sandices


Celeste

Era um dia bonito nos padrões ingleses. O sol fraco quase incomodava os olhos, e eu até que não estava com frio. Estava procurando por Audrey, mas em vez disso ganhei a outra parte do trabalho.

— Oi — Christopher sorriu, colocando o braço em volta de meus ombros no corredor, gesto que eu sutilmente repudiei. — Certo, sem contato.

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Soltei um riso nervoso.

— Oi, Christopher. Ouvi dizer que ganharam o jogo ontem.

— De fato. Adivinha quem fez o último ponto?

— Disso eu não sei, mas sei que você tirou a camisa depois do último ponto. As líderes de torcida parecem achar essa parte mais relevante.

— E você discorda?

— Acho que é uma questão de ponto de vista.

— Sim, um ponto de vista em especial: o seu. Afinal, por que não estava no jogo?

— Layla achou que eu ainda não estava preparada.

— Talvez ela tenha achado que você não aguentaria a visão de Chris Jacobs sem camisa. O que, você sabe, eu compreendo totalmente.

— Se você diz.

— Afinal, viu a Layla hoje?

— Não. Quer que eu avise que você a está procurando se a vir?

— Não, não estou procurando a Layla. Estou evitando-a, na verdade. Por isso é estratégico ficar perto de você, já que Layla prefere cortar um braço fora com uma faca de manteiga do que passar mais tempo do que o necessário respirando o mesmo ar que você.

— Por que está evitando-a?

Christopher riu um pouco.

— Por que eu não estaria?

— Porque ela é sua namorada, talvez?

— Ultimamente, ela está mais para... sei lá. Aquela tia chata que você só vê no dia de ação de graças e que só abre a boca para reclamar do seu corte de cabelo.

— Então por que...? — parei de falar, reformulando a pergunta em minha mente. — Não sei como dizer isso sem parecer intrometida, mas... Por que você está com ela, então?

Ele estreitou os olhos verde-escuros, me analisando por um minuto.

— Quer saber, você pode estar certa, Anjo.

Quando ele se afastou, eu não sabia se havia acabado de salvar meu trabalho ou arruiná-lo completamente.

Serena

Eu não via um sorriso daqueles em meu rosto desde... Sei lá. Provavelmente desde alguma coisa não-babaca que Heath fizera, mas naquele dia não tinha nada a ver com Heath.

Soltei e prendi meu cabelo pelo menos vinte vezes, até Audrey intervir e dizer que o cabelo solto escondia minha espinha que havia aparecido magicamente naquela manhã — porque uma espinha sempre brota na sua cara quando você tem um dia importante — e eu não tive como contestar.

Parei em frente àquele prédio dramaticamente, como se tudo fosse um episódio de The Carrie Diaries, exceto pelo fato de que a Carrie queria dar o fora do estágio de Direito, e não entrar nele. Ajeitei minha jaqueta e abri as pesadas portas de vidro.

Encaminhei a mim mesma até o 11° andar, onde Harper me acompanhou até o Salão.

O Salão — afinal, eles eram advogados, e não artistas — era... Bem... Um salão. Era a maior sala do 11° andar, e possuía um palco baixo no fundo dela, além de algumas dezenas de cadeiras com estofado ruim. Ajeitei minha postura e abri meu caderno de anotações, escrevendo letras de música aleatórias na borda da página.

— Bom dia, estagiários — disse um homem moreno de terno sobre o palco. — Todos em pé para receber o Excelentíssimo Juiz Sanders.

Levantei-me desajeitadamente, tropeçando nos próprios sapatos. O juiz sentou-se no palco ao lado do outro homem. O garoto sentado ao meu lado se virou para deixar o caderno na cadeira, e com isso chamou a atenção do homem de terno.

— Primeira lição — disse ele. — Jamais dê as costas ao juiz.

O garoto virou-se rapidamente e manteve os olhos fixos à frente.

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—... Eu sou Walter Parker, advogado da Evans & Grimmie e coordenador dos estagiários. Também ajudarei a decidir quem receberá a bolsa integral em Sophsmith. Haverá algumas aulas básicas às quais todos vocês deverão comparecer antes de darmos suas tarefas oficiais. Dividiremos vocês em grupos, e cada grupo terá um supervisor. Mas, por enquanto, cada um deve apenas pegar sua grade horária na saída. Antes disso, Vossa Excelência gostaria de dizer algumas palavras.

O Juiz Sanders se levantou e começou um discurso longo e monótono sobre como o Direito era importante para a sociedade e blá blá blá.

Thomas

Eu estava ouvindo The Smiths no meu quarto quando ouvi o barulho do caminhão.

— Mãe! — gritei. — Tem alguém se mudando para a velha casa dos Brown?

— Ah, é! Eles finalmente conseguiram vendê-la! — disse Patricia, entrando em meu quarto. — Oh, céus! Eu ia fazer biscoitos para dar as boas vindas, mas fiquei tão atolada com o trabalho que esqueci.

Considerando as habilidades culinárias questionáveis de minha mãe, os novos vizinhos provavelmente estavam com sorte.

—... Temos cookies prontos no armário! Acha que eles vão gostar?

— Hmmm... Claro.

— Ótimo! Pode levar para mim?

Suspirei.

— Por que eu?

— Porque Serena está no estágio e eu preciso estudar um caso para entrar na corte daqui a duas horas.

Suspirei novamente e peguei os malditos cookies antes de me dirigir à casa ao lado. Tropecei diversas vezes no campo minado de caixas de papel cercando o jardim e, quando estava quase chegando à porta, ouvi uma voz feminina atrás de mim:

— Posso ajudar?

Virei-me e me deparei com uma garota alta, de cabelos castanho-claros presos em uma trança comprida e olhos cor de âmbar. Vestia um casaco da equipe de luta e calça jeans, o que era consideravelmente cômico, porque ela não parecia o tipo de garota que bateria em alguém.

— Hmmm... Você mora aqui? — perguntei, apontando para a casa.

— Bem... Agora moro — ela abriu um meio sorriso. — Acabei de me mudar.

— Moro na casa ao lado. Minha mãe... Hmmm... Tó — entreguei-lhe a caixa de cookies. — Seja bem-vinda a Nottingham.

Ela riu.

— Cookies? Eu adoro cookies. É muito gentil.

— Gentileza é totalmente a base da família Argent — falei, e ela apenas sorriu, porque não sabia o quão sarcástica aquela frase realmente era.

— Bem... Obrigada — ela acenou e estava prestes a entrar em casa quando a chamei:

— Ei! Qual é seu nome?

A garota se virou, sorrindo levemente, e disse:

— Piper. Meu nome é Piper.

— Eu sou Thomas.

— Te vejo por aí, Thomas — disse ela e fechou a porta atrás de si.

Celeste

Christopher estava sorrindo, e o fato de eu saber o porquê revirou uma emoção desagradável dentro de mim: remorso.

Layla gritara comigo o dia todo, e eu não a culpei por isso. Afinal, eu indiretamente sugerira que o namorado dela deveria terminar com ela, e ele fez isso. Simplesmente.

— RUIVA, PRESTE ATENÇÃO NA COREOGRAFIA!

— Meu Deus, pare de gritar, sua voz é muito chata — Audrey revirou os olhos.

— DISPENSADAS, TIME!

Consegui me esquivar de uma conversa estranha com Christopher quando Audrey gritou:

— Ei! Jacobs!

Audrey

Chris cravou os olhos esverdeados em mim.

— Ah, oi!

— Olha — encarei-o. — Eu não sei que merda aconteceu entre você e a Layla, mas ter você na arquibancada durante os treinos só a deixa ainda mais insuportável, e eu juro que, se ela gritar mais uma vez, eu acerto um murro naqueles dentes brancos idiotas dela.

— Quando ficou tão durona, Miller?

Eu não sou durona, Chris, pensei. Não sou nem um pouco durona.

Resolvi ignorar a pergunta.

— Então acho melhor resolver essa coisa toda com a Layla. Por que terminou com ela, afinal?

Chris franziu o cenho, como se eu tivesse perguntado o que ele almoçara quinze dias atrás.

— Eu... não sei.

Ergui uma sobrancelha.

— Não sabe?

Ele pareceu ainda mais confuso.

— Preciso ir — murmurou e se afastou.