A caminho da lanchonete, penso em como minha vida vai mudar. Morar em outra cidade, fazer novos amigos e viver longe de Gale será um martírio.

Desde que meu pai nos comunicou sobre a mudança, cinco meses atrás, não há uma só noite em que eu não chore...

Gale e eu namoramos desde os treze anos, vivemos grudados e não há duvidas de que ele é o amor da minha vida. Meus pais são descendentes de italianos, ambos de olhos e cabelos escuros e se conheceram na festa de São Vito em São Paulo ainda jovens. Meu pai carioca e minha mãe paulistana embarcaram em um relacionamento à distância até se casarem, o que não demorou muito, apenas nove meses.

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E lembrar sobre a história deles me dá certeza de que eu e Gale vamos estar juntos no futuro.

Assim que entro pela porta, vejo-o sentado à mesa, a mais afastada, a nossa mesa.

— Ei – digo-lhe, dando um beijo. – Senti saudades!

— Oi, Niss.

— Já pediu alguma coisa? Acho que vou tomar um milk-shake. O que acha? – Divago pelo cardápio. procurando algo que me agrade, mas, ao perceber que meu namorado esta quieto demais, volto meus olhos pra ele. — Algo errado?

— Precisamos conversar... – diz, desviando o olhar. — Eu não sei como dizer isso.

— Dizer o quê, amor? Há algo errado? Aconteceu algo?

Seu silêncio faz com que meu coração vacile algumas batidas, seu rosto o denuncia de forma nítida.

— Não vai dar pra mantermos isso. – Seu dedo sinaliza nós dois de forma desdenhosa.

— Isso, você quer dizer...

— Eu e você, Katniss. Nós dois. Esse namoro, você lá e eu aqui. Não vai funcionar, não é pra mim.

— Eu não entendo, você, não eu, você disse que não haveria problemas sobre a distância. Você, Gale! – Lágrimas já são perceptíveis em meu rosto, minha frase oscila em sussurros e gritos.

Uma porção de memórias invade minha cabeça, meu primeiro beijo, nosso primeiro beijo. Nossos passeios, minha primeira vez, nossa primeira vez...

— Eu sei o que eu disse Katniss, e sei também que isso não vai funcionar...

— Você disse que faria funcionar, nos faríamos! – digo, cortando-o.

— Mas não vai, okay? – diz sem paciência. — Eu só tenho dezessete anos, não vou ficar preso a uma pessoa que nem vai estar aqui. Eu te amo, mas não vai dar certo.

— Você está se ouvindo? Eu só vou morar a duas, duas horas daqui, você está terminando um namoro de quatro anos por causa de duas malditas horas? Consegue entender o quão ridículo está sendo?

— Eu só sei que não vou conseguir levar esse namoro adiante. Sinto muito, Katniss. Mas pra mim não dá. – Eu o vejo levantar-se da mesa, indo em direção à porta. Gale vacila e volta. Penso que me pedirá desculpas e lhe dou um sorriso. Ele para em minha frente, mas volto a chorar quando ouço suas palavras “Boa viagem, fique bem!”

Seu beijo em minha bochecha é seco e sem emoção. O nosso último beijo.

Meus últimos dias na cidade haviam passado como borrão e, se antes chorava todas as noites, hoje choro durante o dia todo. Liguei para Gale tantas vezes que perdi as contas, meus dedos doíam de tanto digitar mensagens no seu Whatsapp. Meu atual ex-namorado estava empenhado em me ignorar. E, na noite antes da minha partida, ganhei uma pequena festa dos meus amigos mais próximos, que prometeram me visitar sempre que possível, alegando que logo mais Finnick, o mais velho entre nós, tiraria sua carta e os levaria para me ver.

Senti meu peito doer, saber que o homem que amava não pensava como eles era triste.
Quando todos foram embora, Finn me levou até em casa e me entregou duas caixinhas, a maior era dele com muitos mimos, lembrancinhas e uma pandora ouro rose com dois pingentes, uma era o vinho, que diz ele representar nossa cidade e o outro um F, inicial do seu nome. O loiro me mostrou que em seu cordão havia um K e que pra ele entre nós a distância só faria o amor crescer. Vi uma lágrima escapar de seus olhos mel durante a noite e verde nos dias ensolarados e o abracei como nunca antes. A segunda caixinha ele disse não ser dele, mas, assim que eu abrisse, saberia o remetente. Antes que eu pudesse perguntar o porquê de não me dizer, ele saiu às pressas, com seu jeito galante e sapeca sem me dar chances de xingá-lo.

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Descobri que a pequena caixa era de Gale, com um simples cartão me desejando toda a sorte e felicidade do mundo e, por último, um chaveiro “Para a melhor amiga do mundo". Ridículo até pra ele, pensei.

Os primeiros dias foram os piores da minha vida, o fim de ano estava próximo e, com isso, a pressão de passar no vestibular e pensar no futuro somada à falta de amigos e ver as farras do meu ex pelas redes sociais me engoliram de forma cruel. Eu não chorava mais, mal comia e conversava com alguém. Todos os dias eram nublados, tristes e nada, nada se comparava ao vazio que tinha no peito. Eu não vivia, apenas existia.

Com a virada do ano, Finnick e mais duas amigas vieram passar alguns dias aqui e, por ser o mais próximo e fiel, Finn foi o único a saber do meu real estado. O que fez ele estender sua viagem por duas semanas, levando-me pra conhecer a capital, ir a eventos, parques. Sempre me divertindo.

Antes de voltar, ele me fez prometer buscar ajuda e mudar, dizendo que, se eu tivesse êxito, viria mais vezes.

Ambos cumprimos com a promessa e, em uma das suas visitas, ele me confidenciou estar envolvido com alguém, sério o suficiente para se assumir para seus pais. Não vou mentir, fiquei chocada com sua demonstração de coragem. Finn sempre se disse bissexual, mas, desde que nos tornamos próximos, só o via com garotas, e todas lindas.

Depois do choque, ver seu entusiasmo era contagiante. Comemoramos saindo para beber e badalar, coisa que há muito não fazia.

Com ajuda dos meus, pais procurei um psicólogo e assim conheci Haymitch, sua aparência era a de um professor de filosofia, como ele mesmo dizia, mas sua fé na humanidade o fazia acreditar que só Deus poderia mudar e salvar o mundo. Hay acabou se tornando um grande amigo e me incentivava a buscar o autoconhecimento, pra depois um futuro.

Graças a ele, ao invés de faculdade, procurei fazer cursos de curto prazo em diferentes áreas. Como eu já sabia o italiano por ter aprendido desde muito pequena, foquei em aprender inglês. Procurei diversas escolas de línguas, mas todas muito caras. Como minha mãe ainda encontrava-se desempregada, pagar uma mensalidade alta estava fora de questão. E, mais uma vez, Hay me ajudou, mostrando-me sites em que eu poderia ensinar o português a alguém que me ensinaria inglês, tudo isso de forma gratuita e sem pressão. Demorou pouco mais de duas semanas para que eu encontrasse um site mais simples e diretamente sem custo algum.

E mais outras duas para aparecer alguém interessado na língua portuguesa, intitulada uma das mais complexas. A meu ver, dizem isso por não conhecerem o inglês, que tanto usa e abusa de letras quase inutilizadas, tanto na minha língua mãe quanto na língua italiana. Eu mal conseguia ler o nome do meu agora professor e informalmente essa se tornou nossa primeira “aula".

Peeta era um nome incomum, assim como Katniss. Ambos demoramos três dias para aprender a pronunciar corretamente nossos nomes, o que me desanimou um pouco, afinal, se para um simples nome foram três dias, quantos outros eu levaria para falar um inglês nível médio?

Mesmo com todas as dificuldades, eu e Peeta organizávamos as aulas como dois profissionais. A cada dia, uma palavra diferente, focando na pronúncia, escrita e lista de significados. Por sempre achar os verbos complicados, optamos por falar sobre eles assim que terminássemos o básico de cumprimento e educação, como: obrigado, como vai e etc. Não me entendam mal, o verbo “To be” não é tão difícil, mas a língua portuguesa fazia questão de me confundir.

Não sei em que momento deixamos de ser tão formais um com o outro, mas, com o tempo, era palpável nossa intimidade e desenvoltura. Peeta e eu tínhamos as mesmas curiosidades e isso nos deixava mais próximos, acabamos nos tornando amigos e, passado um tempo, estabelecemos um ritmo de aprendizado rápido e eficiente. Ríamos diversas vezes pelo português desajeitado e confuso de Peeta e vibrávamos com o meu tão sonhado inglês.

Em um fim de semana em que minha mãe preparava algumas pizzas, Peeta me surpreendeu:

Pizza, bella ragazza?
Ricordo a malapena l'ultima volta che
ho mangiato la pizza ...

Sono sorpreso, non sapevo che parli italiano.
Vedo che abbiamo qualcosa in comune, ragazzo.

Vedo che si…


Com o tempo, nossa relação se fortaleceu, Peeta soube o porquê busquei aprender outra língua e se mostrou preocupado e atencioso, fizemos um trato, ele me mostraria seu dia-a-dia através de vídeos e facetime e eu mostraria a cidade maravilhosa. O loiro acabara de ingressar na universidade Cornell em Ithaca, Nova York. E me mostrou tudo relacionado à Arquitetura, curso escolhido por ele e, por sorte (como ele diz), a universidade é a melhor escola de graduação em arquitetura dos Estados Unidos.

Peeta me confidenciou que a pressão para ingressar e também obter ótimas notas era muita, seus pais eram “controladores” em relação ao futuro do filho, esse mais velho.

Através de um desses vídeos, conheci sua irmã, loira de um liso invejável e carisma encantador, Primrose, nome também difícil para pronúncia, tinha 15 anos e, segundo o irmão, dera muito trabalho para ele quando frequentavam o mesmo colégio.

Os pais do garoto eram mais fechados e sérios, sempre que Pet estava na presença deles, encerrava nossas ligações e mensagens, sempre pedindo desculpas quando se via livre dos dois. Eu sabia muito pouco sobre seus pais e, pela forma cansativa como meu amigo falava deles, não entrava no assunto.

Em um de nossos vídeos diários descobri algo que me animou. Pet estava no fim do seu primeiro semestre e havia marcado um Happy hour com os colegas de turma, vestido com um suéter tosco e uma camisa estampada, ri da bagunça fashion em que ele se encontrava.

— Tira isso Pet, esta horrible. – Continuo rindo, seu rosto se contorceu em desagrado, mas ele desistiu do look.

— Então, o que vou vestir, Katniss? – pergunta, derrotado.
Dito a ele o tipo e qual roupa vestir numa ocasião como esta e, no fim, ele ficou lindo. Sua camisa azul destacava seus olhos da mesma cor, o jeans mais escuro o deixava sexy, tais pensamentos foram interrompidos pelo seu “até breve".

Pensar em Peeta dessa forma mexeu com algo desconhecido dentro de mim, mas essa não era a primeira nem a última descoberta do dia. Após dar uma “aula” de moda, pesquisei muito sobre e me vi entusiasmada com a possibilidade de estudar essa área. Sempre gostei de me vestir bem e usar acessórios que casassem com a ocasião. Na mesma hora, eu me matriculei em um pequeno curso de corte e costura, que cabia no orçamento e ficava pertinho de casa. Ainda anestesiada com a novidade, liguei para o loiro, feliz da vida...

— Tenho novidades... – digo, assim que a ligação por vídeo é atendida, mas, para minha surpresa, uma ruiva atendeu seu celular.

— Sorry – disse, confusa.

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— Hey, Good Eveening. – respondo sem graça. – Peeta?

— Yes, of course, Peeta is not in here. – Noto um estofado vermelho no fundo, um silêncio e seus cabelos bagunçados. Seu nariz levemente vermelho, realçando as poucas sardas ao redor, ela era linda e tinha um caloroso sorriso. – Would you like to leave a message?

— Oh. No, thanks, I'll call later.

— Ok. Bye – retribuo com um falso sorriso.

Uma tristeza toma conta de mim, saber que Peeta estava com alguém me fez entender que aquele sentimento desconhecido até então era algo forte. Torturante.

No dia seguinte, liguei para Finnick, querendo conversar, contei a ele sobre a decisão do cursinho e sobre os sentimentos que me confundiam, e ele, como bom amigo, ouviu tudo. A minha surpresa foi que, ao final da ligação, ele disse que viria me buscar ainda hoje para que eu fosse passar um tempo em sua casa e, com isso, aproveitaria para me apresentar pessoalmente a Cato, seu namorado, com quem eu havia falado só por telefone.

E assim aconteceu, no fim da tarde, Finnick estava com seu carro em frente ao meu prédio, de óculos escuros e seu sorriso galante. Durante a viagem, conversamos sobre o que faríamos durante suas férias e planejamos sair e curtir cada minuto que teríamos juntos. Cantamos nossas músicas favoritas e passamos no drive-thru do McDonald’s.

Voltar quase um ano após minha mudança me deu certo frio na barriga, eu não sabia como meu ex estava. Haymitch me aconselhou a excluí-lo das minhas redes sociais, assim evitando que eu sofresse com as coisas que ele fazia questão de mostrar.

Eu não recebi sinal de vida do Peeta nos três dias seguintes e, vendo minha frustração, Finn nos levou a um barzinho aconchegante no centro da cidade, e ali conheci o tão famoso Cato. Ele e meu melhor amigo eram tão parecidos, ambos loiros de olhos mel e sorrisos de tirar o fôlego. Quem não os conhecia diria sem sombra de dúvidas que eram primos, Cato era da mesma altura que o Odair, voz grossa e risada charmosa, era até estranho ver dois homens de personalidades parecidas estar em um relacionamento.

Pude perceber que nenhum poupava o outro de brincadeiras e piadas em que a pessoa que ficava sem graça era eu. Levada pela vibe que era estar com eles, aceitei o convite para estender a noite numa balada ali perto, já havia ido uma ou duas vezes lá e, então, sabia que era um lugar legal pra finalizar aquele dia.

Já estávamos um pouco altos pela bebida, então decidimos parar de beber. E, mesmo assim, conseguimos dançar e curtir como se nada fosse nos impedir. Iludida eu? Claro!

Avistei Gale com uma das minhas até então “amigas". Finnick seguiu meu olhar e parecia tão surpreso quanto eu, o ódio pareceu tomar conta dele e foi aí que notei não sentir mais nada por ele.

Segredei ao Odair que isso não me abalou, escondendo o que realmente me abateu, pedi que fôssemos embora e seguimos todos pra casa do meu amigo. Cato passaria o fim de semana lá. Lembro quando recebi a ligação de Finn dizendo que seus pais levaram numa boa a relação dos dois e que trataram super bem seu namorado. Mas, como meu amigo não era bobo, depois de todos irem dormir, ele veio até o quarto de hóspedes onde eu me encontrava.

— Sei que você não está dormindo, vai, fala o que esta te incomodando, e sei que não é sobre Gale.

— Você deveria estar com seu boy. Não aqui me enchendo.

— Tenho todo tempo do mundo pra estar com ele, Katniss, já você vejo vez ou outra. – diz, sentando ao meu lado na cama.

— Você me conhece tão bem que me irrita, Finnick – digo derrotada. – Eu hoje, vendo Gale com outra pessoa, não me abalou nem um pouco, não tive ciúmes nem um incômodo mínimo, tirando a parte de que Joh era minha amiga. Mas isso trouxe a tona uma coisa que esta me enlouquecendo, sabe?

— Sim, chega pra lá – pediu, deitando-se também. — Prossiga...

— Ali eu percebi que ver aquele ruiva atender ao celular do Peeta me deixou mal, então eu comparei o ciúme que tinha do Gale quando ainda estávamos juntos com o que eu senti naquele momento cara a cara com alguém que está ali, do lado dele, que pode tê-lo, Finn. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Mas é mais forte que eu, é como se, mesmo de longe, eu pudesse sentir que ele é meu.

Aquela noite chorei, livrando-me da angústia que estava me engolindo há dias. Finnick passou a noite me confortando e assim acabou por dormir ali. Acordamos com um falso drama do Cato, que nos fez rir e, assim, acabar acordando também os mais velhos.

Decidi ir embora no domingo. Os dois arrasadores de corações me levariam ainda pela manhã, então passamos o sábado regados de porcaria e filmes adolescentes.
Os dias da semana passaram rapidamente, todos os dias recebi uma mensagem de Peeta, a curiosidade me tomou, mas resolvi não mexer em algo que estava me enlouquecendo até entender o que estava acontecendo comigo.

Marquei uma consulta com Hay e ouvir seus conselhos me fez mudar o modo de ver a minha atual situação. Eu estava me apaixonando por Peeta Mellark.

— Eu não sei o que vou fazer, Haymitch, como isso pode acontecer? Sentir algo por alguém que nunca tive próximo?

— Você ainda tem muito que entender sobre o Amor, ter esse tipo de sentimento por alguém não é necessariamente tê-la perto. Você apenas sente e espera que seja recíproco, porque amar sozinho não é uma opção. – Ele me serve um copo d'água. — Estou vendo que isso é confuso pra você, aja naturalmente, avalie se ele é realmente merecedor dessa paixão, converse e, no momento certo, exponha aquilo que sente pelo garoto. Qualquer coisa sabe onde me encontrar.

— Obrigada, não sei o que seria de mim sem suas palavras! – Eu me despeço e decido por dar uma volta antes de ir pra casa.

Nos últimos dias, abandonei meu celular, mas ao chegar decidi ler as mensagens do loiro, e isso me deu coragem pra deixar esse sentimento entrar. Eram tantas e ri ao perceber o esforço em escrever em português. Aparentemente, Peeta se importava comigo e com meu sumiço...

Ei, como está?
Desculpe ter sumido por três dias, estava com meus pais.
Katniss?
Sei que sumir sem explicação é motivo o suficiente para me dar um gelo, mas por favor não me trate indiferente.
Oi, prometo nunca mais sumir dessa forma. Me perdoa? Sinto falta.

Essa era as primeiras de 100 mensagens, nas últimas, o loiro me perguntava se aconteceu algo, se eu estava bem e que estava muito, muito preocupado. Resolvi responder com humor:

O correto é Sinto sua falta.
Como está? Desculpe se sumi também, precisava de um tempo.
Só te perdoo, se me perdoar também.

Obrigado por me corrigir.
Então estamos bem?
Sim, estamos.
Me conte como tem sido sua última semana de aula? Complicada?

Tem sido difícil e ficar preocupado com você não me ajudou muito.
Realmente senti sua falta!!!

As palavras do Mellark me pegaram de surpresa. Aquecendo meu coração como uma verdadeira chama, lembro-me de sentir sensações parecidas quando ainda namorava, mas nada se compara. Realmente, para sentir, não é necessário ter a pessoa perto.

Agradeço mentalmente o Sr. Abernathy.

No dia seguinte como em todos os outros, Peeta me ligou por vídeo animadíssimo, por aquele ser o dia que enfim teria sua última aula obrigatória no campus.

No fim da aula, ele me ligou novamente, era nítida a sua felicidade. Enquanto ele me contava que se sentia mais leve, uma cabeleira ruiva surgiu no vídeo e eu soube na hora quem era. Vi o constrangimento do loiro através da tela do celular, a garota o tinha beijado na bochecha e aquilo o havia pego de surpresa.

Ouvi atentamente a conversa dos dois, vendo se conseguia entender algo, mas o ciúme não deixava. E, quando pensei ouvir um “Bye", a ruiva virou para a tela e acenou pra mim como se me conhecesse.

Mas ela conhece, Katniss – ralhou minha consciência.

Ela e Peeta embarcaram numa conversa cheia de caras e bocas pela parte dele, quando tento desligar a chamada, ele diz que não precisa e se desprende da ruiva. Com o nível de sangue nos meus olhos, não consigo saber seu nome.

— Que cara é essa, Katniss?

— Que cara? Peeta, eu preciso desligar, depois nós conversamos...

— Não desligue, quero saber o porquê de você estar assim, estranha. – Penso em um jeito de sair dessa situação, mas nada passa pela minha cabeça.

— Não estou estranha. E eu realmente preciso desligar. – Finalizo a chamada.

Pensar em Peeta e nessa situação na qual me encontro ferra com tudo o que superei e em que me mantenho. Lembro-me das palavras de Haymitch e em como ser franca e direta antes que as coisas alcancem outro nível pode tirar a angústia do meu peito. E, Hay, parece que você sabe como resolver as coisas, penso.

Ignorei o loiro pelo resto do dia, se bem que ler mensagens em modo off-line não é bem ignorar.

Mas a surpresa mesmo foi ser acordada um pouco antes das três da manhã com insistentes ligações. Atendo um pouco irritada e curiosa, sei que, se não fosse importante, ele não me ligaria a esse horário.

— Oi, Peeta.
— Você ficou daquele jeito por causa da Samy, certo? – Eis que finalmente consigo saber o nome da ruiva, mas esse não é o ponto da conversa. Peeta sabe, não tudo, mas sabe.

— Peeta não sei do...

— Apenas responde, Kat, sim ou não?

— Sim, Peeta! – digo derrotada.

— Okay. – Olho para ele, tentando entender aonde quer chegar.

— Olha, eu e ela não temos nada, absolutamente nada. Nem amigos somos.

— Eu achei que vocês tivessem algo, até porque há algumas semanas ela atendeu seu celular bem intimamente. Mas não é como se isso fosse problema meu – digo desdenhosa.

— Ei, pera. Eu nunca fiquei intimamente com ela, Katniss, até porque ela namora um amigo meu.

— E atende seu celular, que estava na sua cama, deitada na sua cama com os cabelos bagunçados e talvez um pequeno pijama?

— Você está falando do dia em que fui comemorar com meus amigos? Katniss, não era meu quarto. Todas as camas dos dormitórios são iguais e todos ganhamos um edredom da universidade. Por que não me disse que conversou com ela? Por isso me ignorou na semana seguinte. Sério, Katniss? Por que não me perguntou? Merda! Por favor, acredite quando eu digo que não estou com ninguém.

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— Peeta, de qualquer forma, não precisa explicar nada pra mim, tá?

— Claro que preciso, Katniss, é necessário. Por favor.

— O que você quer dizer com “necessário”? Não vejo motivos pra você se justificar por algo comum.

— Pra mim não é, tudo bem? Vi que você ficou incomodada e não quero isso.

— Peeta, não é porque eu estou apaixonada por você que isso vai mudar o fato de que você é livre.

— O que você disse?

— O que eu disse?

— Você disse que está apaixonada... – Ele soa pensativo, como se não tivesse ouvido.

— Eu, eu não disse nada!

— Sim, Katniss, você disse.

— Eu preciso dormir. Tchau. – Eu me sinto tão frustrada, agora Peeta sabe que sinto algo, e nem esperei pra saber sua reação, além, é claro, da surpresa.

Decido dormir e pensar nisso depois.

Peeta não entra em contato comigo por dois dias, a culpa às vezes bate, repito as palavras do meu psicólogo mentalmente e, então, coloco na minha cabeça que, se não fosse agora, seria mais pra frente. Seria quando eu não saberia lidar com tamanho sentimento e as coisas sairiam do meu controle. Quando ele se tornasse forte e solitário o bastante pra se tornar algo ruim e doloroso.

Contei a Finn sobre o ocorrido e ele disse o mesmo que minha consciência, acrescentando que, se não fosse pra ser, encerraríamos nossas aulas, nossas conversas e todo o resto antes que o elefante na sala crescesse. Ele e suas reflexões estranhas.

Decido tomar um banho e acabo por receber um enorme áudio, quinze minutos é o suficiente pra ouvir sem interromper meu momento de relaxamento. Mal consigo ouvi-lo com o barulho da água.

“Já faz um tempo que vejo você de outra forma, eu nunca tive essa sedação antes e você está tão longe que achei que fosse algo do qual eu não deveria dar importância, entende? Cara, isso é tão confuso. Mas sei que não é loucura, você sente o mesmo, certo? Por favor, Katniss, não me deixe no escuro. Se você não quiser levar isso adiante, eu entendo, mas não me deixe no escuro"

Paralisada é como estou no momento. Paralisada. Depois de ouvir mil vezes suas palavras, eu o respondo.

“Eu também estou no escuro, mas acho que nós dois podemos resolver isso.”

Depois disso, nossas conversas passaram a ser em torno de algo só nosso, íntimo e romântico, sem perceber iniciando um namoro com milhares de quilômetros entre nós e, por mais louco que isso possa soar, foi a melhor coisa que nos poderia acontecer.

Cinco meses depois das nossas declarações, recebi a ligação que mudaria nossas vidas:

— Oi.

— Oi – rimos.

— O que está fazendo?

— Hum, no momento estou deitada, e você?

— Também estou deitado... – Ouço barulhos.

— Com esse barulho todo? – pergunto, desconfiada.

— Estou no campus, literalmente deitado no campus.

— O que você faz aí? – decido levantar da cama.

— Estou vendo as estrelas, pensando em nós...

— Aconteceu alguma coisa, um minuto. – Vou em direção à varanda, para não acordar meus pais.

— Eu te acordei! Desculpa, amor – sorrio.

— Não tem problema, é sempre bom ouvir sua voz, e agora também estou olhando as estrelas.

Ouço sua respiração e o imagino ali, ao meu lado. Permanecemos em silêncio, segundos, minutos, talvez horas tenham se passado até ouvir a voz dele novamente.

— “Duvides que as estrelas sejam fogo, duvides que o sol se mova...

— Duvides que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais que te amo" – completo. — Você lê Shakespeare?

— Eu vou para o Brasil....

Ele disse tão rápido, com tanta certeza, que eu não sabia o que dizer e respondi apenas um: “tudo bem!”

E, algumas semanas depois, eu estava no carro do meu melhor amigo, com seu namorado no banco de trás, indo em direção ao aeroporto Internacional para enfim vê-lo.

A ansiedade me toma, o medo de não saber o que fazer ou falar. Finnick aperta minha mão enquanto dirige, notando talvez meu semblante aflito.

— Mais um loiro charmoso pro time, já pensou em pintar os cabelos, Morena? Acho que você ficaria linda. O loiro tem esse poder de deixar as pessoas sensuais... – comenta Cato no banco de trás.

— Será que ficaria legal?

— Eu deixaria o gostoso aí atrás por você, tenho um fraco por loiras – diz Finn.

— Como eu prefiro loiros mesmo, eu colaria o coração do seu boy estrangeiro. – eu e Cato rimos, mas Finnick não pareceu gostar da brincadeira o que tornou tudo ainda mais engraçado.

— Já acabaram? Obrigado! – Seguimos o caminho em total silêncio. Vez ou outra cantávamos uma música aleatória.

Se antes eu estava nervosa, quando estacionamos no aeroporto, entrei em pânico. Meus pais, que nos seguiam também de carro, vieram ao nosso encontro, caminhamos até a área de desembarque e esperamos por 30 minutos.
O vôo de Peeta foi anunciado no painel e, 10 minutos depois, pessoas saíram pelas grandes portas de vidro. Andei até próximo às divisórias, esperando o momento que veria meu namorado pela primeira vez.

Então eu o vi, seus olhos varriam o lugar desconhecido, procurando alguém, quando nossos olhares se encontraram. Demorou alguns segundos para perceber que estávamos estáticos, seu sorriso brilhante iluminava tudo ao seu redor. Minha vontade era de correr e pular em seu colo, sentindo os braços que tanto sonhei me confortando, mas permaneço no mesmo lugar sem acreditar que ele está aqui.

Ainda sem desviar o olhar ele caminha apressado a meu encontro, faço o mesmo.

— Oi.
— Oi. – Lágrimas pinicam meus olhos, deixo a emoção tomar conta e o abraço apertado.

— Eu não acredito que você está aqui. Eu...

— Você está nos meus braços! Imaginei tantas vezes te sentir, te ver, poder estar aqui e agora com você. Mas nada se compara ao que estou sentindo – Peeta diz no meu ouvido, sua voz ainda mais rouca que pelo telefone celular.

Segundos, minutos, horas e pessoas passam, mas é como se nada nos tirasse daquele momento. Peeta cola nossas testas e acaricia minhas bochechas, sinto seu toque e pequenos choques são sentidos. Ouço Finnick pigarrear e me lembro de que eles estão ali nos esperando.

— Vamos, acho que seus pais querem me conhecer pessoalmente. – Ele entrelaça nossos dedos e eles têm o encaixe perfeito.

— É um prazer, enfim, conhecer você, Peeta, seja bem vindo. – Minha mãe que também estava emocionada o abraça.

— O prazer é todo meu. – O sotaque forte faz dona Lena rir. Meu pai o cumprimenta e se oferece para levar suas coisas até o carro. Finnick e Cato brincam com ele como se fossem íntimos de longa data e me sinto realizada. Completa!

Passamos o restante do dia conversando e instalando Peeta no quarto de hóspedes. Eu e ele conversamos a sós no meu quarto, enquanto os outros saíram para comprar algo de comer.

— Eu ainda não acredito que estou aqui com você, seus olhos são tão lindos, seu nariz é perfeito, seus cabelos tão macios e sua boca é.... – Nós nos beijamos pela primeiros vez, esperei tanto tempo por isso. Junto ao calor no peito, vêm as lágrimas, um misto de felicidade plena, tristeza, saudade e vontade.

Ele ficou por duas semanas, e foram os melhores e mais felizes dias da minha vida, e com a felicidade veio a tristeza da despedida, e com ela a certeza de um amor tão real e verdadeiro que passamos a pensar no futuro. Em mudanças e em uma vida onde viver longe um do outro não era uma opção. Pra muitos, éramos loucos, apressados e irracionais. Mas só nós sabíamos a intensidade e o quanto precisávamos estar juntos. E só por isso fiquei sabendo quem eram seus pais, Len Mellark e Jonh Mellark. Eram famosos e tão ricos que morri de medo de futuramente conhecê-los. Peeta me contou sobre como eles lidaram com a nossa relação e que, por mais que eu tivesse certeza que não seria das melhores, eles ajudaram Peeta com todo tipo de papelada para que eu pudesse ir para lá viver ao seu lado.

E, assim que fizemos dois anos de namoro, em meio a muitas idas e vindas dele, até mesmo com Prim. Nós nos casamos e hoje vivemos compensando os anos de distância lado a lado. Aqui em Nova York, entrei para escola de design e posso dizer que, em todos os sentidos, eu me encontrei.

— Minha mãe quer que você ajude a ela, disse ser importante. Algo com a viagem de vocês...

— Com toda certeza é, vamos para a semana de moda em Paris e quer que eu a ajude com seus figurinos. Serão duas semanas mágicas.

— Acredito que sim, até porque eu estarei lá, com vocês! Já ficamos tanto tempo separados que serei sua sombra. Se você for à lua, eu irei com você!

Fim