Te Encontrei

Visita insuportável


– Você cresceu, rosinha. - Ash diz, se aproximando.

Revirei os olhos. Isso só pode ser brincadeira.

– É, eu sei. Você também cresceu. - Falei. - Mas, acho que só o tamanho mesmo, né? Porque, amadurecer que é bom, nada.

Ele sorriu. Um sorriso largo e debochado.

Ash é meu primo, ou melhor dizendo, o capeta em pessoa. Ash é bonito, mas o que adianta ser bonito e ter merda na cabeça? Ele tem 19 anos, de cabelo liso e escuro, olhos castanhos claros e pele clara. Nunca nos demos bem... Ou, eu que nunca me dei bem com ele... Sei lá. Não suporto ele. Ash sempre gostou de me provocar na infância, me chamando de apelidos idiotas como esse que ele acabou de me chamar.

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– Ta, garoto. - Continuei. - O que faz aqui?

– Ei! É assim que você recebe as visitas? - Minha mãe se intromete, aproximando-se de nós.

– Visita inesperadas? Sim. Ainda mais de uma pessoa como ele. - Respondo a ela. - Vem cá, aqui virou uma pousada e não to sabendo?

– Seu primo vai ficar aqui por um tempo. - Ela lança um olhar para Ash, que em seguida olha para o chão.

Percebo que ele ficou intimidado, mas não comento nada.

– E meu pai concordou com isso? - Olhei para meu pai, que vinha com algumas malas que provavelmente eram de Ash.

– Bom... Se sua mãe concordou com isso, quem sou eu para discordar? - Falou meu pai.

– Ótimo! Meu tio, agora o Ash. É... Realmente virou uma pousada.

– Eric, é melhor conversarmos lá dentro. - Minha mãe entrou em casa. Eu a segui, querendo saber o porque do Ash estar aqui.

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A ultima vez que vi Ash foi a 5 anos atrás. Meus pais decidiram viajar para cidade onde Ash e a família moram, para passar a véspera de ano novo com eles.

Nunca gostei de ficar na casa de ninguém. Tanto na casa de familiares, quanto na casa de amigos. Por mais que digam "Sinta-se em casa" eu nunca vou me sentir. Sempre vou achar que estou incomodando.

Na casa do Ash, tenho certeza que estou.

Meus pais sabem que Tia Vanda (Mãe do Ash, e irmã mais velha da minha mãe) detesta pessoas na casa dela. Mas, minha mãe gosta de manter a família unida, mesmo sabendo que minha tia ta pouco se fodendo para ela.

– Mãe, Ash e os amigos dele estão me zoando. - Choraminguei para minha mãe. Nessa época eu era uma criança idiota, mal sabia me defender e corria para o colo da minha mãe por qualquer situação.

– Vanda, fale com o Ash... - Minha mão começou a dizer, mas tia Vanda a interrompeu.

– Deixe ele se virar, Bela.

– Mas Vanda, ele é apenas uma criança.

Nem sempre ele terá você para ajudá-lo. - Falou tia Vanda. Ela direcionou o olhar para mim. - Eric, Você é um homem ou um rato?

– Nenhum dos dois. Mas o Ash com certeza é um rato. - Falei com raiva.

Tia Vanda soltou uma pequena gargalhada.

– Vai lá. Diga isso a ele, Eric. Você não quer que ele pare de te zoar? Então... Vai lá e mande ele parar com essas brincadeiras. Tenha autoridade.

– Mas Vanda ele...

Deixei as duas e sai correndo. Fui, com raiva, ao encontro de Ash e seus amigos. Eles estavam reunidos, sentados no meio fio da rua, conversando. Quando me viram, todos começaram a rir.

– O bebezinho foi chorar para a mamãe? - Ash riu com seus amigos.

– Claro que não. - Menti.

– O que veio fazer aqui, mariquinha?

Respirei fundo. Tenha autoridade.

– Não aguento mais essas suas brincadeiras!

Ash ergueu suas sobrancelhas, sorrindo.

– Não aguento mais ser zoado. - Continuei. - Quero que vocês parem com isso, já! Se não...

– Se não o que? - Ash falou. - O que vai fazer, mariquinha? Chorar? - Todos riram.

Minha cara foi no chão, envergonhado. O que eu iria fazer? Eles eram mais velhos, mais fortes, mais espertos... E eu? Eu era um nada comparado a eles.

– Eu... - Eu não sabia o que dizer. Todos continuam a rir da minha cara. Eu coro.

– Olha só, o mariquinha está vermelha. - Disse um dos idiotas amigos do Ash.

– Vermelha não, rosa. A cor dele. - Ash sorriu. - Rosinha. Olha só, arrumei um novo apelido a você. - Todos riram.

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– Rosinha. - Um deles disse. - Muito boa essa.

Lagrimas começaram a brotar em meus olhos. Lagrimas de ódio. Eu estava a ponto de voar em cima o Ash e socar a cara dele até deixá-lo irreconhecível... Mas, não fiz nada.

Dei as costas para eles, e sai correndo, chorando. Pensei em ir falar com a minha mãe, mas sabia que não iria dar em nada, ela iria dar ouvidos a minha tia idiota.

Acabo esbarrando em meu pai.

– Por que está chorando, Eric? Está tudo bem com você?

– Eu pareço bem? - Respondo, num tom raivoso.

– O que aconteceu? - Ele pergunta, mas assim que ia responder, ouço a voz da minha tia em cabeça. "Você é um homem ou um rato?" Falar o que aconteceu ao meu pai só iria fazer com que Ash e seus amigos tirassem mais sarros da minha cara. Você tem que aprender a se virar sozinho. Digo a mim mesmo. Você é um homem ou um rato, Eric?

– Não aconteceu nada. - Minto. - Só quero ir para casa. Apenas.

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– Digamos que seu primo fez uma coisa errada. - Começou minha mãe a explicar o porque do Ash ficar na nossa casa. Estávamos reunidos na cozinha. Eu, meus pais e o Ash.

– Vindo do Ash, tudo é errado. - Falei, lançando um olhar para ele.

– Ash estava se envolvendo com más companhias. - Continuou minha mãe. - Sua tia achou melhor ele passar uns meses aqui.

– Eles não são más companhias. São caras legais. - Ash falou, tentando se defender. - Minha mãe que é paranóia.

– Pelo o que sua mãe falou, eles não são. Mães sempre estão certas. - Falou minha mãe.

Ash soltou um suspiro e saiu da cozinha.

– Enfim. - Minha mãe continuou. - Ash vai ficar aqui.

– Então, quer dizer que o filho dela pode ficar aqui por meses, e nós não podemos ficar nem por mais de uma semana que ela já começa a mandar indiretas para cairmos fora.

– Ash vai ficar aqui porque eu quero, Eric. - Ela levantou o tom de voz.

– Então é isso? Aqui virou mesmo uma pousada. - murmurei.

– Talvez tenha virado mesmo. - Minha mãe respondeu.

– A casa é grande, Eric. - Meu pai finalmente abriu a boca. - O que tem de mais ele ficar aqui?

– O que tem de mais é que, meu tio já está aqui, e ele é um vagabundo. Aturar dois vagabundos nessa casa não dá.

– Ei! Olha o respeito aqui mocinho! - Minha mãe já estava nervosa.

– E logo o Ash. O garoto que eu não suporto. - Falei. - Que família mais complicada a sua hein, mãe.

– Ash vai ficar aqui, queira você ou não. - Minha mãe disse, por fim.

– Tudo bem, então. - Sai furioso dali. Esbarro em Ash na saída da cozinha. Lanço um olhar furioso a ele. Dei as costas, subi as escadas.

Fui para meu quarto, fechei a porta com raiva. Deitei na minha cama, coloquei meus fones e adormeci.

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Decidi me tornar uma pessoa diferente depois que voltei de viagem. Diferente no sentido de não ser mais uma pessoa boba. Estava cansado de ser a piada para pessoas idiotas.

Percebi que eu era uma pessoa que eu não era de verdade, ou seja, não estava sendo eu mesmo...Tinha medo de falar o que eu pensava. Medo de como a pessoa iria reagir, medo do que elas iam falar... Foi então que enfim, mudei.

Parei de medir minhas palavras quando percebi que não importa o quanto eu ficasse calado, ia ter pessoas falando merda da minha vida. Agora falo o que eu quiser, com quem eu quiser, aonde eu quiser, o quanto eu quiser. Porque sinceramente, eu não estou nessa vida para agradar pessoas que não me agradam.

O primeiro a perceber que eu havia mudado foi o meu pai.

Tinha me metido em uma briga no colégio. Um idiota do oitavo ano me irritava de mais. Acabei perdendo a cabeça e meu punho foi parar em seu nariz. Fui para direção e ligaram para os meus responsáveis. Meu pai que veio me buscar.

– O que foi que aconteceu com você? - Meu pai perguntou assim que entramos no carro.

– Perdi a cabeça. - Respondi. Meu punho ainda doía, porque nunca havia usado ele para acertar o nariz de alguém. Era uma sensação nova para mim e para meu punho.

– Perder a cabeça não é desculpa para acertar um soco em um colega de classe.

– Ele merecia. - Falei.

– Você não é assim, Eric. - Ele me observava, balançando a cabeça. - Você nunca foi assim, nunca foi agressivo.

– Eu mudei. Todos mudam.

– E agora se tornou um agressorzinho rebelde? - Ele perguntou, sem esperar resposta. - O que você está tentando mostrar fazendo isso?

– Que eu não sou mais um idiota? - Respondi num tom debochado.

– Fazendo esse tipo de coisa você está sendo. - Ele levantou a voz.

Abaixei minha cabeça.

Ele suspirou.

– Olha, Eric. Eu já passei pela mesma situação que a sua. Se deixá-los perceber que suas palavras o magoam, nunca se verá livre das piadas. - Continuou ele. - Nem tudo se resolve na base da porrada.

– Então como? - Perguntei, ruborizando.

– Há duas maneiras: Silencio e um sorriso.

– Silencio e um sorriso?

– Sim. - Confirmou ele. - O silêncio recompensa mais que palavras, e o riso é um veneno para o medo. Tem uma frase que eu li em um livro que diz "Sorria muito, como se o mundo fosse uma piada secreta que só ele e você são suficientemente inteligentes para entender."

– Game of thrones, certo?

– Sim. - Ele respondeu, com um sorriso.

Sorri, balançando a cabeça.

– Eu quero que você me prometa que nunca mais fará essa idiotice novamente.

Fiquei em silencio por alguns segundos.

– Prometo. - Vou tentar.

Ele sorriu.

– Ótimo. Se sua mãe perguntar, diga que eu te dei um bronca daquelas em você.

Acabou que, hoje em dia, sigo o conselho do meu pai... Só que da minha forma. E sem acertar o nariz de ninguém.

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Acordei horas depois. Estava com calor, então decidir levantar da cama tomar um banho.Vou até o banheiro, que fica no corredor, mas está fechado.

Bati na porta.

– Tem gente? - Ah vá, Eric.

Abriram a porta. Ash era quem estava no banheiro.

– Quer alguma coisa? - Ele perguntou com um sorriso debochado no rosto. Ele estava só que toalha, que cobria da cintura para baixo... Uma toalha... Espera ai!

– Essa toalha é minha?!

– É sua? - Ele riu ao falar. - Roxa. Pensei que era da sua mãe.

Rapidamente puxei a toalha de sua cintura, deixando-o nu.

– Ei!- Ele disse, cobrindo suas partes intimas.

– Primeira regra nessa casa: Nunca pegue as minhas coisas.

– Eu nem sabia que era sua. - Ele se defendeu.

– Pois agora sabe. - Falei, dando as costas e saindo.

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– Espera, para onde você está indo?

– Usar o banheiro dos meus pais. - Respondi, voltando a olhá-lo.

– E eu vou ficar aqui pelado?!

– Sim? - Respondi debochadamente. - A culpa foi sua não ter levado suas roupas para o banheiro.

– Me devolve, rosinha. Sério.

– Rosinha é meu punho na sua cara.

– Ta bom, rosin...Eric. - Ele corrigiu. - Me devolve, por favor.

– Não. Se vire ai. - Sorri, dando as costas. - Ah, e tenta não ser visto andando nu por ai. Há uma mulher e uma criança nesse lugar. - Voltei a olhá-lo. - Bem vindo ao inferno, pinto pequeno. - Falei por fim.