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Suporte - Parte 1


Ponto de Vista - Bernardo

Senti a tensão de Abby a partir do momento em que ela saiu do carro, reconheci o carro que estava estacionado na casa dela como sendo o de seu namorado. As palavras que Sophie falou mais cedo ficaram martelando na minha cabeça. Se esse cara não fazia bem para ela por que motivo ela ainda continuava namorando ele? Acabei socando o volante frustrado e liguei o rádio do carro e por ironia do destino ou não estava tocando uma música do Shawn Mendes, Treat You Better. Eu literalmente poderia tratá-la melhor que ele. Balancei minha cabeça com tal pesamento no intuito de afastar esses pensamentos e com isso cheguei em casa parando meu carro em frente a garagem de casa. Sai do carro e entrei pela cozinha e me deparo de Lucas estava ali.

— Você não tem casa não? - Falei indo o cumprimentar.

— Achei que estava com saudades querido - ele falou afinando a voz, o que resultou risadas nossas e uma Ayla entrando na cozinha rindo.

— Vocês são gays, me poupem - falou sorrindo e dando uma encarada em Lucas, que retribuiu o olhar. Dei um tapa em sua cabeça e ele me encarou sem entender nada, minha irmã deu uma risada abafada e saiu da cozinha.

— Nem ouse... minha irmã não.

— Cara, Ayla já tem 16 anos, você tem que aceitar que os caras vão começar olhar ela. - ele falou levantando as mãos em rendição.

— E você tem 18, toma vergonha nessa cara antes que tome um soco meu - disse dando as costas e indo em direção pro meu quarto sendo seguido por Lucas.

— Desculpa cara - ele disse assim que entramos no quarto - A Ayla sempre foi nossa menininha, a protegida por mim, você e o Stavo, mas sua irmã está crescendo e ela já está chamando a atenção dos caras, principalmente agora que ela decidiu estudar na Valley e não na Rosey com nós... nem o irmão gêmeo dela ela deixou ir para a escola com ela.

Lucas estava certo. Stavo e Ayla eram gêmeos, mesmo que não aparentasse mas os dois sempre estudaram juntos, sempre foram vistos juntos e fazendo tudo juntos, mas agora ela decidiu mudar de escola e ficar longe de quem a protegia, no caso nós. Dei um suspiro e concordei com a cabeça.

— Mesmo assim, os outros caras eu posso bater por olharem assim para minha irmã, VOCÊ não deveria a olhar dessa forma, se não vai ser o próximo da lista a apanhar - Lucas deu risada com minha ameaça e foi em direção ao video game.

— UI, fico nervosinha depois que se apaixonou - continuou rindo e me encarou - quem é a garota?

— Já te falei que não vou dizer - deitei em minha cama e fiquei encarando o teto.

— Cara, eu admito que estou de olho na sua irmã e você se nega a me contar quem é a garota? - Senti uma almofada atingindo meu rosto. - BERNARDO, me da uma dicaaaa - pediu implorando e eu comecei a rir.

— Ela é loira, tem heterocromia levemente, tem um sorriso lindo, ela é forte, adora mostrar seu ponto de vista, chama a atenção dos caras mas nem nota, porque diferente das outras ela não liga para o que os outros pensam dela e estuda na nossa escola. É só isso que você precisa saber. - Lucas estava com um perfeito O em sua boca e eu senti minhas bochechas ficarem vermelhas.

— AI MEU DEUS, você tá apaixonado e ta ficando vermelhoo - Lucas apertou minhas bochechas

— Para cara, assim a Ayla vai achar que você é gay, é capaz até de começar a falar sobre outros meninos contigo dai. - sua cara se fechou na hora.

— Cala boca Bernardo - Lucas pegou um dos controles e ficou concentrado jogando. Sentei em minha cama em minha cama e peguei meu celular abrindo a conversa com a Abby, resolvi mandar mensagem como anônimo ainda para ela.

Anônimo (Bernardo): olá princesa

Anônimo (Bernardo):quanto tempo

Anônimo (Bernardo): saudade de falar contigo

Anônimo (Bernardo): loirinha?

Anônimo (Bernardo): Tá tudo bem?

Larguei o celular do meu lado e peguei o outro controle e comecei a jogar Injustice 2. Ficamos jogando por mais ou menos umas duas horas até que noto que meu celular começou a vibrar, recebi um olhar maroto de Lucas.

— Hm, a sua garota resolveu responder, uuuu - falou dando pausa no jogo.

— Cala boca Lucas, você não tem moral para falar nada - respondi enquanto estiva meu braço sobre a cama para pegar o celular.

Princesa: oi anônimo

Princesa: também estava com saudade de falar contigo

Princesa: mesmo eu não sabendo quem você é

Princesa: tudo vai melhorar, eu espero.

Anônimo (Bernardo): O que foi que houve?

Princesa: ....

Princesa: outra hora eu te conto

Anônimo (Bernardo): Tem certeza?

Anônimo (Bernardo): To preocupado contigo

Princesa: eu vou melhorar

Princesa: eu juro

Princesa: só preciso de um tempo...

Princesa: e um abraço bem forte para juntar meus caquinhos

Anônimo (Bernardo): Prometo que quando eu te ver eu vou te dar um abraço bem apertado

Anônimo (Bernardo): Daqueles para não soltar mais

Anônimo (Bernardo): Juro que quando você estiver do meu lado eu nunca vou te deixar ir.

Princesa: não fala assim, vou acabar me apegando a ti

Princesa: quem sabe até me apaixonando...

Anônimo (Bernardo): Esse é o resultado esperado princesa

Princesa: eu me apegar ou me apaixonar? ahaha

Anônimo (Bernardo): Os dois

Princesa: por que você não vem falar isso para mim pessoalmente?

Anônimo (Bernardo): Porque ainda não é a hora de eu me revelar.

Princesa: mas eu preciso de um abraço teu.

Anônimo (Bernardo): isso é jogo baixo loirinha.

Princesa: merda

Princesa: achei que ia dar certo hahahaa

Princesa: eu vou indo dormir

Princesa: tive uma noite cansativa hoje

Anônimo (Bernardo): tem certeza?

Anônimo (Bernardo): mas ok, dorme bem loirinha

Anônimo (Bernardo): amanhã posso te chamar?

Princesa: Pode me chamar sempre que quiser

Princesa: Dorme bem

— O que foi? - Lucas perguntou tentando ler as mensagens.

Entreguei o celular para ele e ele leu as mensagens atentamente.

— Então?

— Bem, acho que alguma coisa aconteceu, mas gostei dela, mesmo assim ela ainda tem um leve senso se humor.

— Eu também acho... enfim - falei pegando o celular de volta e guardando - Você vai dormir aqui?

— Não não, eu já vou indo. - Lucas respondeu colocando-se em pé - Amanhã se falamos. - Ele se despediu me dando um aperto de mão - Sonha com a loirinha.

— Com certeza - respondi sorrindo.

— Ah... posso ir dar um beijo de boa noite na Ayla? - ele perguntou alargando o sorriso. Fechei a cara e neguei com a cabeça.

— Não abuse da sorte Lucas...

Ele começou a rir e foi embora. Deitei na minha cama e fiquei pensando em Abby no que estava acontecendo com ela. Tive um sono agitado e acordei antes do meu despertador. Eu estava sentindo um aperto no peito, como se algo tivesse acontecido. Fui até o banheiro e fiz minha higiene como em toda manhã, coloquei uma roupa fresca já que pelo jeito hoje seria um dia insuportavelmente quente.

E realmente, estava um dia lindo lá fora. O caminho até a escola foi tranquilo e quieto, na verdade Ayla estava mais quieta que o normal.

— Ayla, tá tudo bem? - perguntei quando paramos em um semáforo.

— Está sim, eu acho - falou perdida em seus próprios pensamentos. Encarei Stavo que apenas deu de ombro, eu sabia que eles depois iriam conversar e ele iria descobrir o que estava a incomodando.

Paramos em frente à sua escola e ela nem nos deu tchau direito, apenas desceu do carro em um silêncio estranho. Chegamos a nossa escola e parece que todos estavam animados pelo calor e o sol ter começado dar as caras agora em Fevereiro. Stavo como sempre foi em direção a Sophie e eu fui em direção aos garotos do rugby. Ficamos conversando até irmos para nossas aulas, as quais por um milagre passaram rápidas até o almoço.

Fui em direção ao refeitório aguentado às reclamações de Lucas sobre eu ter que convencer Ayla para vir para nossa escola. Já era ruim ter minha irmã em outra escola, mas era pior ainda ter seu melhor amigo apaixonado por ela.

Olhei em direção a mesa de Abby, mas parece que as amigas também estavam estranhando ela não estar presente ali. Bianca notou meu olhar e era como se me pedisse se eu tinha visto Abby, apenas neguei com a cabeça e ela continuou encarando o refeitório. Comecei a fazer o mesmo e notei que Abby estava em um canto do refeitório sentada com seus fones de ouvido, diferente das outras pessoas que estavam com camisetas, regatas, calções, ou qualquer roupa para o calor que estava fazendo, Abby estava de mangas longas, de calça e tênis, com uma cara abatida. Ela notou meu olhar e me deu um sorriso tímido, retribui e fui em direção à mesa junto com meus amigos.

Sentei ao lado de Gabriel e ele apenas acenou com a cabeça para mim.

— Gabriel? – chamei-o em um sussurro. O mesmo me encarou e esperou eu continuar – Por que a Abby está sentada sozinha em vez de estar com as meninas? – meu tom era de preocupação.

— Ah, isso... – ele falou soltando o ar em um suspiro – Hoje deve ser um dos dias que ela prefere ficar sozinha para evitar perguntas e as preocupações "desnecessárias" da Bianca e da Jess... – ele fez aspas com os dedos quando falou desnecessárias – É um assunto delicado para Abby Bernardo, é melhor se acostumar com essas mudanças dela. São bem normais – dito isso ele deu de ombro e voltou a atenção para sua comida.

Reparei de canto de olho que ela nem tocava na sua comida, ficou apenas revirando as coisas no prato e logo levou sua bandeja para o local, dizendo que já tinha acabado seu lanche. Ela saiu com pressa do refeitório em direção dos jardins. Notei certa agitação na mesa das amigas dela, Jessica segurando o braço de Bianca e falando para deixar Abby sozinha. Algo estava acontecendo, isso era certo.

O restante das aulas passou depressa e logo chegou nossa ultima aula do dia, Educação Física, a qual eu por sorte tinha com Abby.

— Bom alunos hoje vocês terão vôlei na piscina, vão até os vestiários se trocarem, espero vocês na piscina – A professora Micheli falou para o grupo de alunos que estava em sua frente. Todos ficaram animados e logo correram para os vestiários.

Abby em vez de ir para o vestiário foi atrás da professora. Não que eu estivesse reparando, mas notei que a professora fez uma cara preocupada para Abby e colocou sua mão sobre o ombro da menina. Abby deu um sorriso tímido e concordou com a cabeça, elas conversaram mais alguma coisa enquanto a turma já estava voltando e eu ainda não tinha ido me trocar. Logo Abby saiu do lado da professora e foi devagar caminhando em direção aos vestiários. Caminhei até a professora para conversar com ela.

— Professora? – chamei-a tocando seu ombro, ela me olhou e sorriu.

— Sim Bernardo?

— Então, eu não vou mentir e não tenho nenhuma desculpa plausível, mas será que posso ser dispensado da aula? – ela me encarou com uma cara esperando o motivo – vou ser sincero, eu estou preocupado com a Abby e ela hoje nem com as amigas dela ficou ela deve estar mal por algum motivo e eu queria saber o que está acontecendo com ela... Então, será que posso ser dispensado?

— Bem, ela me disse que não estava passando bem... quem sabe um amigo ajude – ela falou colocando a mão no queixo pensativa – não tem problema vocês perderem uma aula, então sim Bernardo, pode ir. – falou colocando a mão sobre meu ombro e saiu caminhando em direção à turma.

Fui correndo em direção aos vestiários, notei que o Vestiário feminino estava com a luz ligada e fui até a porta, como parte da porta tinha vidro eu consegui ver através dele, notei que Abby estava sem seu casaco encarando-se em um espelho e tocando as manchas que estavam em seu ombros e braços, abri a porta e entrei devagar no vestiário. Ela me encarou através do espelho e virou-se para mim. Esperei seu gritos me mandando embora, mas ela apenas ficava abrindo e fechando a boca sem nenhuma palavra sair. Depois de um longo suspiro ela foi em direção aos bancos.

— O que você está fazendo aqui Bernardo? - Abby pergunta sentando-se de cabisbaixo em um dos bancos do vestiário.

— Fiquei preocupado com você - falei abaixando-me em sua frente. - E fiz certo pelo jeito em vir atrás de você...

Toquei seu rosto que já estava derramando algumas lágrimas, passei meu polegar sobre cada uma delas secando-as, minha vontade era de abraça-la e nunca mais soltar, até toda essa dor ir embora.

— Não conta para Bianca, por favor. Nem pro Gabriel, nem pra Alice, nem pro seu irmão... por favor Bernardo - ela disse implorando, olhando em meus olhos enquanto algumas lágrimas ainda desciam por seu rosto.

— O que aconteceu Abby? De verdade - levantei minhas mãos e coloquei uma de cada lado do rosto da menina. Abby começou a chorar ainda mais e acabou se jogou em meus braços, abracei-a com todo cuidado do mundo, como se a qualquer momento ela fosse quebrar, se despedaçar... mas eu sentia que ela já estava desta forma, então meu abraço seria para juntar todos os pedaços de volta. - Você quer falar sobre isso? - perguntei, minha cabeça estava em meio aos seus cabelos. Ela balançou a cabeça negativamente escondendo-a ainda mais na volta do meu pescoço.

— E-eu n-não posso Bernardo, ele iria me machucar mais, ele... ele iria matar quem eu amo - Ela começou a tremer e chorar mais.

— Quem é ele Abby? - eu estava certo então em querer protege-la, alguém estava machucando ela e eu estava com muita vontade de acabar com a raça do desgraçado - por favor Abby, me fala...

— Não da Bernardo, eu... não posso. - ela falou olhando em meus olhos - me tira daqui, por favor.

Nossos rostos estavam tão próximos, eu conseguia sentir sua respiração se misturando com a minha. Encostei nossas testas e assenti.

— Mas me promete uma coisa... - ela me encarou esperando eu continuar - Me promete que você ainda vai me contar o que tá acontecendo.

Ela assentiu com um sorriso tímido no rosto.

— Eu prometo.

Ficamos em pé e ela pegou seu casaco e colocou de volta. Foi até um armário e pegou sua mochila, mas não sem antes puxar uma folha de seu caderno e escrever algo, deixou o bilhete em um outro armário e veio ao meu lado. Dei um sorriso fraco para ela e peguei em sua mão, achei que ela iria recuar ou começar a gritar comigo (o que era típico dela gritar comigo) mas ela entrelaçou seus dedos com os meus. Andamos mais alguns metros e chegamos em frente ao vestiário masculino.

— Eu já volto - encarei-a enquanto ela assentia. Dei um beijo em sua testa e entrei no vestiário indo em direção ao meu armário, peguei minhas coisas e puxei meu celular mandando uma mensagem para Stavo ir direto para casa que eu tinha saído mais cedo, logo recebi uma resposta perguntando o que eu havia acontecido e eu respondi que não era nada, que quando ele chegasse me casa conversávamos. Sai do vestiário e Abby estava concentrada olhando para as mangas de sua blusa.

Parei ao seu lado e ela me encarou com um sorriso tímido estendendo a mão para mim. Naquele momento eu só tive uma certeza, que eu ia segurar em sua mão e nunca mais soltar.

Saímos dos vestiários indo em direção a saída para o campo, era o caminho mais rápido até o estacionamento e esta hora da tarde não iria ter ninguém fora de sala para ficar nos encarando. Fomos em direção ao meu carro e logo já estávamos andando com o mesmo.

— Quer que eu te leve para casa? - Reparei que seu corpo ficou tenso e ela apenas negou com a cabeça.

— Não, eu... não posso voltar lá. - ela falou puxando a mão e secando algumas lágrimas que tinham voltado a cair.

— Podemos ir para minha casa então - falei virando meu rosto em sua direção, ela assentiu e continuei o trajeto até minha casa.