Valverde, 29 de março de 2017

— Bom dia, mãe. Acho que dormi demais. Cadê o pai? — Lara quis saber, no meio da manhã ao sair do quarto.

— Você parecia cansada, foi bom dormir um pouco mais. Seu pai está dormindo, agora. Aonde você vai a essa hora da manhã, Lara? — Marta perguntou, assim que reparou na filha pronta para sair.

— Roberta me telefonou ontem, pediu que fosse vê-la, hoje. Está se sentindo muita sozinha, precisando de apoio. Sabe como ela era ligada ao pai. — Lara se serviu de um pouco de café.

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— Você acha que Ricardo fez com a filha... você sabe?

— O que fez comigo e com as outras garotas? Tenho certeza que não. Roberta era como que sagrada para ele, intocável, mesmo para o noivo. Ela se diz ainda virgem.

— Mas com esse tipo de cafajeste nunca se sabe.

— Ela nunca demonstrou nada que desse para desconfiar.

— Ainda acho que você não devia ir até aquela casa, Lara. Não sabemos qual será a reação de Joana ao vê-la por lá.

Lara levou a mão ao seu estômago ainda dolorido pela agressão que sofreu.

— Como poderia dizer não a Roberta, não teria desculpa. Ela é minha amiga e passa por um momento difícil.

A mãe soltou o ar com força, resignada, sacudindo a cabeça em negação.

— Não sei se foi uma boa ideia você ter voltado, Lara, mesmo com a doença do seu pai.

— Mãe! Que coisa horrível de dizer! Vou ver se o carro já chegou!

Lara saiu de casa, não querendo discutir, ela não fez nada errado para ser mandada para o exílio dessa forma, assim, parada diante da porta e esperou por pouco tempo, quando um carro preto com vidros escuros estacionou na frente do seu portão. Mesmo receosa, ela deu alguns passos na direção dele, não dava para ver quem dirigia, até que o vidro do motorista desceu e o rosto de Roberta surgiu sorridente.

— Venha, Lara! Hoje, você terá uma motorista especial!

— Roberta? Nunca esperaria por você.

— Estava cansada de ficar em casa chorando, preciso sair um pouco, ficar um tempo longe de tudo isso. Vamos, Lara!

Mais confiante, Lara se apressou e entrou pela porta do carona.

— Esse não é o seu carro.

— É um dos carros da casa. Não quero ninguém bisbilhotando a minha vida, questionando as minhas atitudes, por não está em casa, usando preto e guardando o luto.

— Carlos sabe que você saiu?

— Não. Eles pensam que ainda estou apagada no meu quarto, cheia de remédios. — Ela deu partida e saíram. — Sabe o que estava pensando? Que tal darmos uma volta por aí, preciso respirar um pouco de ar fresco.

— Por mim, tudo bem — Lara deu de ombros, impressionada com a mudança de humor de Roberta. — Algum lugar em especial?

— Não, nenhum.

Contudo, ao contrário do que falou, Roberta dirigia, atenta a rota, entrando em ruas determinadas, como se soubesse para onde queria chegar. Então, Lara começou a reconhecer caminho.

— Roberta, para onde vamos? — Lara ficou tensa.

— Quero mostrar um lugar especial para você

— Que lugar é esse?

Roberta não respondeu, só sorriu, Lara não perguntou nada, talvez, fosse só uma coincidência. Mas, não era, ela percebeu quando o carro entrou na pequena rua de terra, sem saída, e no final dela, isolada, estava a chácara de Ricardo, cercada por altos muros e as buganvílias floridos, a mesma onde ele a levava quando era mais jovem, onde ela encontrou o corpo dele, há dias atrás.

— Que lugar é esse, Roberta? — perguntou, tentando manter a voz firme.

— Um lugar pertencente ao meu pai que descobri outro dia, que achei interessante conhecer — Roberta respondeu em tom casual.

— Por quê?

— Curiosidade! Já que ele passava tanto tempo aqui — Roberta deu ombros.

— Como você sabe disso? — Lara perguntou preocupada.

Roberta não respondeu

— Eu não acho uma boa ideia, entrar aí — Lara já não disfarçava mais a ansiedade, quando pararam diante do portão e Roberta abria a porta do carro.

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— Não seja boba, Lara! Vamos! – Roberta saiu do carro, animada, Lara ficou parada com a mão na maçaneta, sem saber o que fazer, então abriu a porta e acompanhou a outra garota.

Roberta empurrou o grande portão, que cedeu sem resistência, o que era muito estranho, pois, somente quando Ricardo estava lá, ele ficava aberto.

— Eu nunca vim aqui. E você, Lara? — Roberta perguntou em tom casual, sem olhar para trás, continuando a entrar pela o terreno que circundava a casa.

— Por que eu teria vindo aqui? — respondeu, com dissimulada inocência, imaginando onde Roberta queria chegar. Será que ela desconfia de algo? — Por favor, Roberta, vamos embora daqui.

— Não, eu quero conhecer a casa! — Ela continuou a exploração, passando direto pela sala bem decorada e indo para o corredor que levava aos quartos.

Lara ficou parada no meio da sala, considerando que seria melhor dar meia volta e ir embora andando, mesmo que fosse uma boa caminhada, de repente, ouviu um grito de terror e correu a procura da outra garota, encontrou Roberta parada dentro do quarto, imaginou que ela havia encontrado o local ensanguentado onde seu pai morrera. Porém, em vez disso, encontrou a cama desnuda, sem roupa de cama ou colchão, no lugar extremamente limpo, cheirando a água sanitária, antes as bonecas e os bichos de pelúcias, que enfeitam o lugar, haviam sumidos. Alguém havia eliminado com muito cuidado toda as provas do crime. Os armários abertos estavam desnudos, livres de todas as roupas femininas que Ricardo presenteava suas jovens amantes.

— Não há nada aqui, Roberta. Vamos embora! — Lara insiste, mas a outra garota olha com cuidado o lugar, abrindo armários e gavetas.

— Está diferente, não está? — Roberta pergunta, olhando direto nos olhos dela.

— Como eu vou saber — Lara sustenta o olhar e a mentira.

— Pare de mentir, Lara. Você sabe — Roberta retruca com a voz segura, lhe dá um sorriso sardônico.

— Eu não sei do que está falando — Lara sussurrou, mas o sorriso de Lara se alargou.

— Sobre você e meu pai. Sei que vocês dois foram amantes. Eu havia notado como meu pai mudou, há alguns dias atrás, achei que foi por causa do meu noivado, que ele estava triste por isso. Então, um dia, eu estava procurando por Carlos e ouvi meus pais discutindo por sua causa. Minha mãe perguntou ao meu pai se vocês voltaram a dormir juntos.

— Por favor, Roberta, você entendeu tudo errado.

— Não, eu sei muito bem o que ouvi. Então, pensei que fazia uns dez anos que você não morava mais aqui. Como podia ser? Quanto anos você tinha quando isso começou?

— Quinze — Sem saída, Lara murmurou.

— Quinze?! Você era mesmo uma vadia, fingindo ser minha amiga e trepando com meu pai — Roberta cuspiu cheia de rancor.

— Eu não tive escolha seu pai me coagiu, ameaçou a mim e a minha família, por isso, eu fugi daqui! Fugi dele! — Lara explicou, exasperada.

— Acredito em você — Roberta parecia incrivelmente calma. — Por que sabe como descobri esse lugar? — Lara sacudiu a cabeça em negativa. — Quando Régis falou aquela história de meus pais não transarem mais e meu pai estar procurando prostitutas, eu pensei em você e quis ver com os meus próprios olhos. Por isso, uma tarde, eu o segui até aqui. Fiquei esperando até um outro carro chegar e sabe quem estava dentro dele? Uma garota que não devia ter nem 14 anos. Eu esperei escondida até o carro com a garota ir embora, então esperei até meu pai sair.

— Era assim que acontecia.

— Sabe de uma coisa, Lara. Nós devíamos destruir esse lugar e tudo que ele representa — Ela falou de uma maneira incrivelmente fria.

— Não, Roberta! Isso é loucura! — Lara rebateu, assustada.

— Não! Já está decidido!

Roberta saiu com passos largos para o lado de fora, Lara a seguiu, observando, quando ela foi até o carro, abriu o porta-malas e tirou de lá um galão cheio.

— O que é isso, Roberta? — Lara estava cada vez mais apavorada.

— Gasolina. Vou tacar fogo em tudo — disse, retornando para dentro da casa.

Na sala, começou a espalhar o líquido de cheiro inconfundível sobre os móveis e o chão, depois seguiu para o quarto, deixando um rastro fluído e de cheiro forte.

— Pare com isso, Roberta! — Lara a seguia tentando trazê-la para razão.

— Daqui a pouco vai estar tudo terminado, poderemos esquecer toda essa história para sempre e ser feliz. Então, terei apenas as boas lembranças do meu pai de volta. — Ela deu um sorriso angelical e olhou para a outra garota. — Agora, você, Lara? — Tirou um pequeno revolver enfiado no cós da calça, nas suas costas.