Sintonia

Cinco - Dúvidas.


O silêncio dentro do apartamento de James Sirius era estranho e desconfortável. Jill não falava nada, muito menos olhava para ele, desde que foram embora da festa de aniversário de Dominique. Para não piorar a situação, o Potter não insistiu, mas continuava intrigado com o que aconteceu para ela ter ficado daquele jeito.

— Vai querer algo para comer antes de dormir? — ele perguntou para a namorada, que estava sentada no sofá olhando para o nada.

— Uma banana. — Jill respondeu entre suspiros frustrantes e braços cruzados.

James foi até a cozinha e procurou pela banana na cesta de frutas, mas não encontrou. Mas, já que queria agradar Jill, fez um esforço para lembrar suas aulas de Transfiguração em Hogwarts, pegou sua varinha e transformou um cacho de uvas num cacho de bananas, retirando uma delas para entregar para a namorada.

— Aqui está. — ele entregou.

Ela pegou a fruta e ficou encarando-a, enquanto a girava com as mãos. Logo, a deixou de lado, respirando tão fundo que parecia que seu pulmão explodiria.

— Acho que vou embora. — disse.

— Já? — James se surpreendeu. — Você disse que ia passar a noite aqui!

— Mudei de ideia. — Jill abriu um sorriso irônico.

Potter já parecia estar se irritando, então apenas fez um gesto para que a namorada saísse, o que ela realmente fez. Entretanto, antes de abrir a porta, já com a mão na maçaneta, virou para ele e disse:

— Garanto que você não trataria a Dominique desse jeito.

E ela simplesmente foi embora, deixando James indignado, confuso e sem palavras.

XX

O lugar era sujo, empoeirado e parecia estar caindo aos pedaços, mas Dominique não se importava com isso. Seus olhos estavam marejados, e não era por causa de todo o pó.

— É aqui, Kelly. Eu sei que é. — ela se dirigiu à sua assistente que estava ao seu lado.

A loira já podia ver tudo; as paredes pintadas, as roupas espalhadas e devidamente penduradas e disponibilizadas nas araras, a pressa das vendedoras e milhares de pessoas experimentando roupas desenhadas pela Weasley e adorando, alguns até a definindo como sua loja/marca preferida, assim como ela se sentia por várias estilistas. O pensamento era lindo, e prestes a se tornar realidade.

— Gostou, senhorita Weasley? — o dono do prédio olhava ansiosamente para a possível compradora, louco para que vendesse aquele lugar velho e idiota.

— Muito. — sorriu. — Vou comprar.

— Ótimo! — o homem se animou mais do que Dominique pensava que se animaria, chegando até a se assustar. — Te darei meu número para que possa entrar em contato comigo e logo nos reuniremos com meus advogados. Parabéns, senhorita Weasley. Isso será tudo seu.

Mesmo percebendo um tom de ironia na voz dele, isso não a abalou. Dominique teria sua própria loja, e nada estragaria sua felicidade.

XX

Depois de um longo dia parando amantes de arte das trevas, James se encontrava sentado em seu escritório afrouxando a gravata e bufando, perturbado com os acontecimentos do dia. Jill não procurou por ele o dia inteiro, nem no trabalho, enquanto ele parecia um cachorrinho atrás dela tentando descobrir o que havia acontecido para ela estar tão distante.

A última frase que a namorada disse antes de sair do apartamento ainda assombrava sua mente. “Garanto que você não trataria a Dominique desse jeito” será que ela descobriu algo? E se ela descobriu o pequeno caso que ele tivera com Domi?

— Ah, Merlin... Isso não pode ser real. — James sussurrou e afundou o rosto nas próprias mãos, apavorado com o último pensamento.

Ele olhou ao redor de sua sala, tentando se distrair com literalmente qualquer coisa, mas foi interrompido por seu primo irritantemente alegre.

— E aí, chefinho? — Fred II chegou sentando na mesa de James, que respirou fundo.

— Oi Fred. — o Potter soltou um grunhido, fazendo com que Fred percebesse seu mau humor.

— Vish, alguém comeu cereal estragado no café da manhã. — ele tentou quebrar o clima aparentemente depressivo, mas não conseguiu.

— Jill está me evitando. — James explicou, massageando as têmporas.

— O que aconteceu?

— Essa é a questão. — ele saiu da cadeira e ficou encarando o mundo de fora pela janela. — Eu não sei.

— Não sabe? Ela não sugeriu nada?

— Bem... — James parecia um pouco hesitante. — ela disse alguma coisa sobre Dominique.

O Potter virou para olhar para o primo, que estava com uma expressão de quem não parecia surpreso.

— Ela descobriu? — Fred perguntou.

— Não sei. — suspirou. — Provavelmente não, se tivesse ela teria me enfrentado diretamente. Deve ter sido algo menos significante.

— Algo aconteceu na festa ontem?

James ficou pensativo, tentando lembrar algo na festa que poderia ter deixado Jill frustrada, mas não conseguiu encontrar nada, então só falou o óbvio.

— Eu dei uma das primeiras cópias de um dos livros favoritos de Dominique quando era criança e demorei meses para achar, mas Jill sabia disso. Depois, fui entregar para ela e a consolei porque estava triste. — relatou, e Fred passou a analisar as palavras do primo.

— Jill pode ter visto algo enquanto você estava consolando Dominique, talvez? — Fred sugeriu, parecendo hesitante, esperando por uma irritação da parte de James.

E, assim como o Weasley achou, James tentava negar que qualquer coisa tivesse acontecido.

— Eu não fiz nada com a Domi, Fred. Eu juro.

— James, você pode não ter feito nada romântico. Mas como a Rose disse ontem, vocês tem uma afeição diferente do resto das pessoas, tanto que todos nós suspeitávamos de alguma coisa. Então você pode ter exagerado só um pouquinho ao demonstrar seu apoio à Dominique. — Fred olhou para os olhos castanho-esverdeados do Potter, esperando que ele explodisse, negasse tudo como sempre fazia, e foi assim mesmo que ele reagiu.

— Eu e Dominique somos apenas amigos. — James Sirius disse, quase que de forma agressiva, mas tentando manter a calma.

— Que tiveram um “relacionamento casual e aberto” e não ficaram com outras pessoas por três anos! — Fred exclamava, tentando fazer com que o primo admitisse algo.

— Aonde você quer chegar com isso, Fred? — perguntou, ficando mais confuso a cada segundo.

— O que quero dizer é... — o Weasley fechou os olhos e respirou fundo, pensando se realmente deveria dizer o que estava prestes a falar. — Você tem certeza que nunca sentiu nada pela Dominique?

Aquela pergunta fez James até se sentir mal. Seu estômago revirou e ele engoliu em seco, pensando se deveria responder. Dizer que o que tinha com Dominique era “apenas sexo” parecia tão errado, mas era o que ele queria que tivesse sido, mas falar isso o fazia sentir como se tivesse enganado sua melhor amiga, a quem tinha grande admiração e respeito. E ele gostava de Jill, na verdade, era mais do que isso. Não sabia se a amava, mas com certeza possuía sentimentos fortes por ela. Por que Fred estava fazendo isso com sua mente?

— Eu... — James ficou cabisbaixo. — Eu não posso dizer que tenho certeza. Tudo que sei é que nossa intenção nunca foi ter algo sério.

— E vocês podem ter tido, mesmo que involuntariamente.

— Não, cara. Simplesmente... não. — ele balançava a cabeça negativamente. — Jill é minha namorada.

Fred assentiu e deixou o assunto de lado, mas não pôde deixar de perceber a aflição de James, que parecia mais perdido do que nunca. Nunca foi sua intenção deixar James daquele jeito, mas queria que ele pensasse antes de continuar qualquer coisa com Jill.

XX

Dominique se jogou no sofá da sala de estar, ainda não acreditando no dia que teve. Em poucos meses, teria a loja que sempre sonhou. Os anos dedicados à moda finalmente valeriam a pena, a espera para que seus sonhos finalmente se realizassem acabaria. Depois daqueles anos horríveis de sofrimento, ela teria algo a se orgulhar, algo para chamar de seu.

Por pouco ela não foi até a casa dos pais comemorar, até lembrar que ainda estava brigada com a mãe. Ela queria tanto celebrar com a família, mas seu irmão estava em Hogwarts e sua irmã na França com o marido, então escreveu uma carta para Fred, James e Rose — que ainda não voltara para Liverpool — irem até seu apartamento com urgência.

Os três chegaram quase juntos, preocupados, pois Dominique não escreveu em nenhuma das cartas do que se tratava, mas se surpreenderam quando viram o sorriso enorme da prima e a expressão de quem não estava conseguindo conter a felicidade.

— Oi! — ela deu pulinhos de felicidade quando os viu, e os três se entreolharam, tentando imaginar o que teria acontecido.

— Domi, oi! — Rose foi a primeira a cumprimentá-la, dando-lhe beijos na bochecha. — O que aconteceu para estar tão feliz?

A loira cumprimentou os outros dois e, antes de responder Rose, taças cheias de champagne flutuaram até os quatro.

— O que iremos celebrar? — Fred também fez uma pergunta, e Dominique ergueu as sobrancelhas e sorriu antes de erguer a própria taça.

— Um brinde a mim... — ela fez uma pausa para causar um pequeno mistério. — que em breve terei minha própria loja!

O entusiasmo de Dominique logo contagiou Fred e Rose, que abraçaram ela juntos. Enquanto isso, James ficou admirando a cena, pensando na conversa que teve com o primo enquanto ainda estavam no trabalho. Talvez ele sentisse algo a principalmente no momento, em que admirava ela e sua animação, mas agora isso não importava. Esse momento era dela e ele devia comemorar junto com ela.

— E aí, James? — Dominique percebeu que o Potter a encarava e decidiu chamar a atenção dele. — O que acha?

Os olhos castanho-esverdeados encontraram os azuis. Dominique esperava, esperançosa, por uma reação da parte de James, forçando-se a não sorrir.

— Eu acho que é... — de relance, James Sirius tentou mostrar tédio e desinteresse, mas não conseguiu se manter assim por muito tempo. — maravilhoso!

A Weasley foi surpreendida pelo Potter que foi até ela e a abraçou, a levantando do chão e girando.

— Você merece isso e muito mais, Nique. — ele sussurrou no ouvido dela, antes de lhe dar um beijo na bochecha.

— Obrigada, James. — ela agradeceu com o tom mais verdadeiro.

Depois disso, eles continuaram conversando e parabenizando a Delacour pela conquista, rindo e bebendo champagne até cansarem. Começaram a falar sobre como foram sortudos, considerando que estavam realizando seus sonhos de escola. Fred e James com o emprego de Auror, Rose como Curandeira no St. Mungus e Dominique com sua própria linha de roupas. E ali, deitados nos dois sofás da última, eles sentiam que mesmo se algum dia alguns deles falhasse, teriam uns aos outros. Aquilo era o suficiente.

XX

Embriagado de champagne, James, já em seu próprio quarto, encarava suas paredes, cem por cento preenchidas por diversas fotos. Ele possuía esse hobby desde os tempos de adolescência, tirava fotos de tudo que via pela frente, de todos seus amigos e familiar. Contudo, pela primeira vez na vida, notou a presença majoritária dos cachos loiros e olhos azuis. Dominique.

Ele estava louco? Sim, talvez. Talvez a conversa com Fred o deixara desnorteado, fazendo com que ele duvidasse das próprias ações.

O sorriso e a felicidade de Dominique mais cedo o fizeram lembrar-se de um momento em particular. Momento esse, que James fotografou várias vezes.

A viagem dos dois para Verona, um ano atrás. Ele nunca viu Dominique tão feliz e relaxada quanto naquela semana.

“Os dedos de Dominique acariciavam levemente o peitoral nu de James Sirius, em que ela mesma estava deitada, enquanto ele contemplava a cena com um sorriso malicioso. Logo, pousou a própria mão em cima da dela, a pegando e levando-a até seus lábios.

— Ei, Jay. — a loira chamou sua atenção, com uma voz doce e baixa. — O que acha de viajarmos?

O garoto mostrou uma expressão pensativa durante alguns instantes, mas logo olhou diretamente para os olhos azuis eletrizantes de Dominique e começou a enrolar o dedo indicador nos cachos loiros dela.

— Por que quer viajar? — perguntou.

— Pense nisso, James. — ela queria que ele projetasse uma imagem em sua mente. — Vamos para outro país, renovar as energias. Não terá nenhum conhecido, portanto...

— Não precisaremos nos esconder. — ele completou a frase da garota com seu típico sorriso torto e sedutor. — Genial.

— Sou cheia de ideias geniais, baby. — Domi piscou.

— Que lugar sugere?

— Que tal a Itália? — ela propôs. — Não conhecemos ninguém lá e, ainda por cima, é romântico.

— Por que quer um lugar romântico? Não temos nada sério.

— Porque lugares românticos não são apenas românticos... — Dominique aproximou tanto o próprio rosto do de James que podia sentir sua respiração, e mudou sua voz normal para uma mais rouca e sexy. — Se sabe do que estou falando.

— Oh. — ele sussurrou.

James colocou as mãos nas bochechas de Dominique e a puxou para um beijo intenso, chegando a inverter as posições para que dessa vez ele ficasse em cima dela.

— Se for assim, a Itália pode ir se preparando.

Em algumas semanas, eles decidiram a cidade: Verona, a “cidade dos namorados”, mesmo eles não tendo esse tipo de relacionamento. A viagem rendeu várias fotos dos prédios de arquitetura rústica, das paisagens lindas e de Dominique.

Dominique comendo pizza. Dominique tomando vinho. Dominique sorrindo na “casa de Julieta”. Dominique andando e olhando para trás, rindo e pedindo para que James largasse a câmera. Dominique acordando. Tudo era ela, sobre ela.”

Durante o momento em que ele admirava a foto deles dois na Piazza dei Signori, se assustou com o barulho da campainha tocando. James delicadamente pôs a foto em seu devido lugar e foi atender a porta.

Jill entrou no apartamento do namorado feito um furacão. Ela parecia angustiada e arrependida, pronta para ter uma longa conversa com o Potter.

— Sinto muito por invadir seu apartamento antes mesmo de você conceder a minha entrada. — ela não pausou nenhuma vez enquanto falava. — É que... eu preciso muito falar com você.

James, ainda confuso e assustado com a chegada repentina de Jill, fez um gesto para que ela continuasse.

— Sinto muito pelo meu comportamento mais cedo. — ela se desculpou, em meio a muitos suspiros. — Eu conversei com algumas amigas minhas e percebi o quão errada eu estava em te tratar daquele jeito.

“O que aconteceu é o seguinte: eu sou insegura. Eu tenho um péssimo passado em relação ao amor. Eu e um ex-namorado ficamos juntos por mais de dois anos. Ele era do tipo que causava problemas toda hora, mas eu o amava tanto e o apoiava em todas as decisões cegamente, sempre tentava ser a melhor namorada possível. Até que um dia, em uma festa, ele me traiu. E eu senti que meu mundo estava desabando.

O que eu estou tentando dizer é que isso me deixou insegura demais e eu tive uns três relacionamentos depois desse, mas nenhum durou muito tempo por causa da minha insegurança. Eu tinha uns ataquezinhos bobos de ciúme e depois de um tempo caía fora, e quando eu te vi com todo aquele afeto para cima de Dominique, eu meio que surtei. Mas eu não quero que isso acabe, não quero fazer isso com você, James. Porque... eu te amo.”

Depois de perceber suas últimas palavras, Jill respirou fundo, porém não se arrependeu. Considerando a face ainda mais perplexa de James Sirius, ela continuou a falar.

— Eu sei que namoramos há apenas três meses, mas eu precisava dizer isso. O que eu sinto por você... eu não sei se existe algo comparável. Então, é isso mesmo. Eu te amo, James Sirius Potter. — ela sorriu entre as lágrimas que não conseguiu segurar. — E eu não me importo se você não falar que me ama também, porque eu só queria expressar meus sentimentos.

James viu aquela mulher na sua frente, chorando e dizendo que o amava, e não sabia o que fazer. Fora o relacionamento casual com Dominique, ele nunca teve um relacionamento sério, muito menos com alguém que admitia os sentimentos por ele. Então, sem pensar duas vezes no que estava fazendo ao perdoá-la e ainda com os efeitos do champagne exagerado no seu corpo, ele avançou até Jill e selou seus lábios como faziam no cinema, com intensidade e paixão.

Só que, justamente por não ter pensado antes, ele não fazia ideia de que fazer aquilo sem saber se sentia o mesmo podia trazer todos os problemas que logo viriam.