Real world

Capítulo 39


—Não consigo acreditar no que acabei de ouvir. –disse Pietro assim que lhe contei a história. Ele tinha chegado fazia pouco tempo da lanchonete, e estava tirando os tênis.

—Pois pode acreditar. –falei e me joguei na cama. –Pietro, tá tudo bem pra você né?

—Eu vou te matar, Sophia. Logo com Lucas? Não teria outro ser pior?

—Não. –falei e sorri.

Ele revirou os olhos.

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—Pelo menos não voltou sozinha pra casa. –falou e tirou a camisa. –Vou tomar um banho. E vê se agora não me trata diferente só por que tá namorando.

—Idiota. –falei e ele sorriu.

—Sou idiota, mas me importo com você. Se ele te machucar, eu machuco ele muito mais. Pode avisar a ele se quiser. Ou melhor, deixa que eu aviso.

...

—Pietro, passe geleia nesses pães, por favor. –pedi e ele pegou o pote.

—Lydia, vai querer com muita ou pouca geleia? –perguntou meu irmão mais velho.

—Preferia pasta de amendoim. –ela disse e fez uma careta.

—Mas só tem geleia. Se contente com isso. –falei e coloquei café em uma xícara.

—Tudo bem. –ela disse e pegou o pão, mesmo com cara feia.

—Posso faltar a escola hoje –Juan perguntou, de boca cheia.

—Primeiro, nunca fale de boca cheia, por que é nojento. –falei.

—Segundo, não tem pra quê você ficar em casa. –Pietro completou.

—Ajudar vocês pra quando a vovó chegar. –ele disse e deu de ombros.

—Você não ajuda em nada, espertinho. Quer ficar pra ir jogar futebol.

—Calúnia! –ele disse, como se estivesse chateado. –Assim você machuca meu coração.

—Senhor coração machucado, o ônibus acabou de parar ali na frente. –Lydia disse e pegou sua bolsa, correndo até a porta.

—Tem certeza de que não posso ficar em casa? –Juan tentou uma última vez.

—Se perder o Ônibus, vai a pé. –falei e cruzei os braços.

Ele pegou a bolsa, irritado e correu para o ônibus.

—Você sabe de que horas a vovó chega? –perguntei.

—Vou pegá-las antes do almoço. A mamãe disse para comprarmos umas coisas, por que aqui tem poucas coisas saudáveis para a vovó.

—Não tem como você ir sozinho?

—Não. Você tem de vir comigo. Odeio supermercados, principalmente quando estou sozinho.

—O que seria de você se não fosse eu.

—Continuaria sendo eu.

—Ah, é? Pois agora vai sozinho...

—Brincando, minha irmãzinha mais linda do mundo! –falou e deu aqueles abraços de urso que somente ele conseguia dar.

—Idiota. –murmurei e ri.

...

—Pietro, você não sabe ler não? Na lista tá dizendo leite desnatado, não leite integral! –bufei, irritada.

—E qual a diferença?

—A diferença é que um é desnatado e o outro integral! Caramba! –falei e passei a mão na testa. –Vai trocar.

—Ah, agora vá você. Já rodei a droga desse supermercado inteiro, enquanto você fica aí reclamando.

—Então, senhor Faz Tudo, vá levando essas coisas até o caixa que eu troco. E veja se falta alguma coisa da lista.

Pietro fez cara feia para mim, mas nada disse. Apenas seguiu até o caixa.

Fui para o setor dos laticínios e procurei nas prateleiras o leite desnatado. Para o meu azar, ele estava em uma prateleira muito alta. E quem é a maior baixinha de todas? Eu mesma.

Me estiquei toda para conseguir alcançar, sem sucesso. Bufei, frustrada.

—Inferno... –murmurei.

—Quer ajuda? –uma voz perguntou e me virei. Era um homem, de aparentemente 40 anos. Ele tinha cabelos escuros e olhos azuis, de um tom claro. Tive a impressão que o conhecia de algum lugar. Ao olhar para mim, ele arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma.

—O senhor está bem? –perguntei. Quando ele respondeu, senti um frio na espinha.

—Sim. Quer que eu pegue o leite para você? –perguntou e engoliu em seco.

—Seria muito bom, obrigada. –agradeci e ele entregou a caixa para mim.

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—Sinto que te conheço de algum lugar. –ele falou e me analisou.

—Eu também. –falei, mas já tentei me afastar.

—Qual seu nome? –perguntou e tentou segurar meu pulso, mas desvencilhei. Comecei a respirar mais depressa.

—Algum problema aí, Sophia? –meu irmão chegou e cruzou os braços, encarando o homem.

—Nenhum, Pietro. Esse homem apenas me ajudou a pegar o leite. –falei. O homem arregalou ainda mais os olhos.

Me desvencilhei daquele maluco e segui Pietro até o caixa.

—O que houve ali? –ele me perguntou.

—Não sei. Acho que aquele cara é maluco.

-Pode até ser maluco, mas tenho a impressão de que vi ele em algum lugar... –Pietro disse, pensativo.

—Também tive essa impressão. Mas acho que não o conhecemos.

Ele deu de ombros.

—14,90. –a funcionária do balcão disse e meu irmão pagou.

—Vamos para casa. –ele disse.

...

Já estava tudo organizado e bem limpinho. Pietro se demonstrou ser um ótimo faxineiro. Juntos, conseguimos finalizar tudo em menos de 1 hora. Agora era só esperar dar a hora do almoço que Pietro iria pegar a vovó e a mamãe.

Enquanto aguardávamos os gêmeos chegarem, eu e Pietro estávamos na cozinha, tentando preparar alguma coisa para comer.

—Pegue o filé de peixe, que é a única coisa que sei fazer. –falei e ele riu.

—E mal. –ele provocou.

Revirei os olhos.

—Tem arroz na geladeira. Então só é fazer mais um pouco de salada e teremos o almoço perfeito. –falei, ignorando suas provocações.

—Eu cuido da salada. –falou e me entregou o filé. –Posso fazer com tudo o que tem na geladeira?

—Pode. –disse e comecei a cortar o filé.

Ao olhar por sobre o ombro, notei que Pietro levara ao pé da letra tudo o que eu falei.

Ele havia colocado ovos, leite, os mais variados tipos de verdura, água, suco e geleia em cima da mesa. E ainda por cima, cantarolava, como se estivesse fazendo tudo certo.

—Pietro! –o repreendi. –Você está maluco?

—Você disse que poderia colocar tudo o que tinha na geladeira...

—Tudo relacionado a salada! Seu maluco!

Ele riu.

—Adoro te provocar, Soph. –ele falou e começou a preparar a salada de verdade.

Suspirei e voltei ao meu trabalho.

Não demorou muito para que alguém batesse na porta.

Olhei para o relógio de relance.

—Ainda não está na hora dos gêmeos chegarem. –falei, estranhando. –Está esperando alguém, Pietro? –perguntei.

Ele balançou a cabeça, negando.

Lavei minhas mãos e a enxuguei no avental que eu vestia.

Me encaminhei até a porta e a abri.

O homem maluco do supermercado estava lá, ainda de olhos arregalados.

—Sophia... –falou, com a voz grave.

—O senhor nos seguiu? –falei, assustada. –Vou chamar a polícia. Pietro!

—Não, espere! –ele pediu e segurou meu pulso. Havia algo naqueles olhos que eu reconhecia. –Você não está me conhecendo?

Franzi a testa, confusa. Sabia que havia algo de errado. Olhei para ele, tentando me lembrar de onde o conhecia. Pietro apareceu atrás de mim.

—O que o senhor deseja? –perguntou, o fuzilando com aqueles olhos frios.

—Meu Deus, vocês estão tão grandes! Não me surpreende que não me reconheçam. Mas já faz muito tempo... Uns 14 anos?

—E quem é o senhor? –ele perguntou, embora eu já tivesse uma noção de quem era.

Ao olhar de Pietro para o homem á minha frente, me lembrei de onde o conhecia. Das fotografias que haviam no meu sótão. Ele estava diferente, com o cabelo meio grisalho, e a aparência um pouco mais acabada. Mas os olhos eram os mesmos. Os mesmos olhos de Pietro, Lydia e Juan. Os mesmos olhos azuis escuros.

Já sabia quem ele era antes mesmo dele dizer.

—Eu sou o pai de vocês, Pietro.

Continua...