Quietude

Capítulo 12


Bucky sentiu suas mãos suarem ao guardar o documento de convocação no bolso. As pontas do papel estavam amassadas e a tinta estava começando a borrar. Já tinha feito aquilo de ler e reler a carta uma centena de vezes. Estava em treinamento há meses, sabia que estavam prestes a chamá-lo, mas ter um documento dizendo que ele deveria se apresentar para o embarque para a Inglaterra no dia seguinte tornava a guerra muito mais real.

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Era quase uma sorte que ele tivesse tão pouco do que se despedir.

Recostou-se no sofá, sentindo o cheiro de Steve impregnado na almofada. O jornal e os ingressos que ele comprara para a Feira do Futuro estavam sobre a mesinha de centro. Esperava que o evento fosse realmente bom, considerando que ele estava partindo para a guerra e que o seu futuro provavelmente não iria muito além de uma trincheira.

Amargava aqueles pensamentos quando Steve finalmente saiu do banho, apenas uma toalha passada pela cintura, as costelas salientes. Bucky engoliu em seco, mas não desviou o olhar. Ohh, aquela seria uma visão preciosa para evocar nas noites que viriam.

— Estamos atrasados? — ele perguntou no caminho para o quarto, a fim de encontrar algo que vestir.

— Ainda não.

Quando Steve retornou tinha a gravata precariamente passada pelo pescoço. Bucky riu, colocando-se de pé em um salto.

— Deixa eu ajudar — falou, agradecendo por ter uma boa desculpa para se aproximar, apesar da angustia que pesou estômago.

Steve, cheio de honradez, iria odiá-lo por todas aquelas segundas intenções.

Ele permaneceu muito quieto enquanto Bucky ajeitava a gravata e dava o laço, levando mais tempo no processo do que o estritamente necessário. Os nós dos seus dedos roaçaram na garganta de Steve, e pôde sentir quando ele engoliu saliva. Ao terminar, Bucky correu a mão pelos ombros do outro.

Em contraste com seu uniforme bem alinhado, sempre parecia sobrar tecido nas roupas de Steve.

— Você vai me mandar cartas, não é?

Bucky assentiu.

— Sempre que puder. E vou trazer uma arma alemã para você, como souvenir — prometeu, embora soubesse que o mais provável fosse voltar com uma bala na cabeça e não com uma pistola no bolso. — Enquanto isso, você se cuida, Steve.

Já tinham passado por aquele discursos diversas vezes, e Steve apenas sorriu de canto, sem querer preocupá-lo ao dizer que continuaria se metendo em brigas, mas sem prometer o contrário também.

Bucky teve ganas de abraçá-lo. Aquela provavelmente seria sua última oportunidade para dizer ao outro que, para ele, nunca existiria a garota ideal, que todas essas coisas — beijos, dormir juntos, compartilhar uma vida — ele queria com Steve. Mas, no fim, sempre havia a possibilidade de que sobrevivesse à guerra e tivesse que voltar para enfrentar as consequências daquelas palavras.

Só tinha que fazer a coisa certa mais uma vez. Havia convidado garotas para irem com eles à feira. Quem sabe uma delas visse além da magreza e se encantasse por Steve. A ideia o agoniava, mas ir embora e deixá-lo sozinho parecia ainda pior. Uma garota poderia conseguir aquilo que ele nunca tinha logrado, de colocar algum senso na cabeça do outro e fazê-lo parar de brigar. E, então, mesmo que voltasse, encontraria Steve casado e aqueles sentimentos não poderiam mais atingi-lo.

Talvez, quando Steve estivesse velho, com filhos e netos, e fosse seguro, teria coragem de dizer a ele "eu amei você", só pelo prazer de sentir o gosto daquela frase na língua.

Naquele instante, porém, engoliu em seco, dando um passo atrás e se afastando de Steve.

— Agora estamos começando a ficar atrasados — disse com um sorriso fingido, porque se continuasse ali por muito mais tempo provavelmente iria enlouquecer.

Steve assentiu, dando uma batidinha confortadora em seu ombro

— Vamos lá, então — ele falou, e Bucky teve a sensação de que quando se despedisse de Steve dali a algumas horas estaria saindo de uma batalha para entrar em outra.

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