Quando o amor bate à porta

Um ovo chamado Boone


Depois de sair de casa fui buscar Sici na casa dela.

Sici e eu éramos melhores amigas desde sempre. Seus pais e meus pais eram também melhores amigos, o que fez com que crescêssemos juntas. Ela era uma menina bonita, com cabelos pretos em corte Chanel, um corpo magro e grandes olhos verde-escuros. Além disso, ela era muito legal, companheira, divertida e engraçada. Principalmente engraçada.

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– Eu prometo que esse ano eu e Dave vamos ficar juntos. – Ela comentou no caminho para a escola.

– Você sempre promete a mesma coisa desde a sétima série! – Eu ri. Era sempre a mesma promessa furada de início de ano.

Uma coisa engraçada sobre Sici é que ela é apaixonada por um idiota chamado Dave desde que eu me entendo por gente. Mesmo ele arrotando alto na sala, fazendo piadinhas sem graça alguma e cheirando como um camelo depois da educação física, Sici e mais a metade da massa feminina da minha série tinham uma bizarra atração por ele. A outra metade era atraída por Jack, é claro. E eu... Bem, eu era atraída por sorvete.

Dave e Jack eram melhores amigos. O Debi e o Lóide, o Yng e o Yang, o queijo e a goiabada, assim como eu e Sici. Acho que os dois deveriam até ter algum laço de telepatia ou sei lá o quê.

– Bem, mas dessa vez vai acontecer mesmo. – Sici deu ombros, sorrindo. – Esse ano eu consigo.

– Ei, você nem me falou sobre a viagem para a Itália. – Lembrei que ela havia viajado nas férias.

– Eu te falei pelo telefone, ué.

– Mas pessoalmente é mais legal. – Dei ombros e ela começou a tagarelar.

Minha amiga e sua mãe tem descendência italiana. A tia Lori sempre adorou a Itália e ia para lá todas as férias, junto com o marido e a filha, enquanto eu costumava ficar aqui em Miami suando feito um porco mesmo. “Rata de praia” era como meus pais me chamavam.

– Ah, e comprei uma coisa pra você. – Comentou ela, tirando da mochila um cordão.

O cordão era lindo, banhado à prata, com um belo crucifixo. Sorri genuinamente agradecida.

– Awn, Sici, é lindo. – Ela pôs em mim. – Vou tomar o maior cuidado com ele.

– Acho bom. – Ela falou. – Vale como presente de aniversário, Natal e dia do amigo.

E depois seguimos o caminho até a escola.

O nosso “grupinho” era composto por mim, Sici, Louis e Carl. Os dois últimos são gêmeos e jogadores do time de futebol da escola, o que os tornou musculosos e meio intimidadores, mas todos sabem que eles são muito amigáveis.

Eu ia passando do portão da escola para o pátio quando ouvi uma voz atrás de mim e se aproximando alarmantemente.

– E ele dribla, corre, dribla de novo e... – A criatura das trevas me derrubou no chão e eu caí de bunda em cima de uma poça. – Opa. Derruba uma criança. Cara, você tá bem?

– Oi Dave. – Sorri bobamente Sici, olhando para a pessoa que acompanhava a assombração e me ignorando completamente.

– Visivelmente não, seu bruto. – Rosnei para ele e me levantei sozinha.

– Ah, é só a Uckerman. – Jack rolou os olhos. – Mas como eu sou um genuíno cavalheiro...

– Percebi. – Interrompi.

– ... Peço desculpas. – Ele continuou, me ignorando. – Desculpa.

– Não. – Repliquei. – E vê se toma mais cuidado com essa bola de basquete idiota.

– Não fala assim da Shirley. – Jack pareceu realmente ofendido e colocou a bola debaixo dos braços, o que só reforçou minha teoria de que a idade mental dele era de dois anos.

Rolei os olhos e me virei, puxando Sici, para entrar na escola.

Não ache que eu sou revoltada, eu não sou mesmo. Só com Jack. Ele me tira do sério! Quer sempre me superar nas notas e mesmo me conhecendo finge que nunca viu mais gorda quando está com os amiguinhos. Só porque ele é o capitão do time de basquete e tem um milhão de meninas babando por ele.

Bem, eu não sou cega, admito que ele seja bonito mesmo. Só que a vontade de esganar ele me faz ignorar isso totalmente.

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Ao entrar na sala de aula falei com meus amigos Louis e Carl e ficamos conversando até a aula começar.

– Olá alunos. – Todos ficaram calados (eu tenho a impressão de que foi porque o queixo de todas as meninas estava no chão). Aquele homem era lindo de morrer! – Sou o professor George Roosevelt.

– Olá senhor Roosevelt. – Todos os alunos repetiram como se estivessem num quartel. Pelo menos nisso eu podia dizer que a classe era ótima: na disciplina.

– Bem, parabéns! Vocês estão na reta final dos estudos. Logo a faculdade vem aí e meu trabalho é prepará-los para isso. – Ele sorriu lindamente.

Ah, a faculdade... Meu sonho como estudante! Fazer o curso de engenharia da computação. Seria tão maravilhoso...

– Bem, mas eu estou aqui para ajudá-los não só a se darem bem nas matérias, mas também para ajudá-los a terem maiores responsabilidades com vocês mesmos. – Ah não. A magia desapareceu. Aquilo era sociologia? Como se lesse meus pensamentos, o professor Clooney – ops, Roosevelt – respondeu animado. – Sociologia!

Acho que ninguém correspondeu à animação dele e o professor ficou com cara de tacho.

– É... Hum... Abram seus cadernos para darmos a lição. – Disse sem graça e virou-se para o quadro.

E a lição não poderia ser mais clichê: um ovo! Isso, um ovo. Nós teríamos que fazer duplas e ficar cuidando de um ovo por duas semanas, como se ele fosse um bebê, sem quebrá-lo e agindo como se fossemos casados, cuidando das despesas e etc. Tadinho do professor. Tão lindo e já gagá.

Ele fez o sorteio dos “casais” e torci para que eu ficasse ou com Carl ou com Louis, mas acabei ficando com um cara chamado Gregory McFinn. Ele era bacana, nem bonito nem feio, e tinha umas piadas engraçadas. Os cabelos eram pretos e a pele era branquinha, os olhos castanhos e um sorriso um pouquinho desalinhado.

Fui para o lado de Greg, que foi bem gentil e fácil de trabalhar. Decidimos que o ovinho se chamaria Boone e que nos encontraríamos para “cuidar dos assuntos financeiros do casal” no dia seguinte.

O problema do trabalho foi que, como a turma possuía mais meninos do que meninas, então a razão para a classe seria de dois meninos para cada menina. Consequentemente seria eu, Greg e mais um rapaz, o que me deixou meio sem graça. Ter dois maridos não me parecia muito interessante, mesmo que fosse de mentirinha.

– Bem, quem sobrou aqui foi um rapaz chamado Jackson Mills. – Eu podia ouvir as meninas suspirarem com o nome dele. – Jackson?

A Assombração levantou a mão. Nem na sala de aula ele largava Shirley, sua bola de basquete.

– Eu posso escolher com quem ficar, professor?

– Bem Jackson, eu adoraria deixá-lo fazer isso. – O professor crispou os lábios. – Mas a coordenação me falou sobre você. Ouvi que é um ótimo aluno, mas bagunça demais quando está com os amigos.

A turma riu.

– Soube também que é a maior confusão entre você e a Srta... – Ele olhou o papel novamente. – Alice Uckerman, quanto às notas.

Corei. Bem, isso era verdade. Já havíamos discutido muitas vezes por causa dessa situação de um querer superar o outro.

– Então, como me foi indicado, o designarei para a dupla da Srta. Uckerman para que se resolvam e não causem mais tantos tumultos.

NÃO!, meu eu interior gritou. E ao que tudo indica o de Jack também.

– Mas Sr. Roosevelt, eu e Alice não podemos ficar juntos. Eu juro que me comporto! – Admito que fiquei ofendida com o desespero dele. Ei, eu era a melhor da classe e ainda por cima cheirava bem!

– Desculpe, Sr. Mills. Junte-se com Alice e Gregory, por favor.

E aquele era só o primeiro dia...