Qual A Senha Do Wifi?

Amigos antes de tudo.


Na manhã seguinte, Steve sentiu falta da presença do vizinho em sua cama, não pensou duas vezes e foi direto para o apartamento de Tony. Mal viu Bucky preparando o café ou Peggy correndo até ele na cozinha. Ainda não sabia o que iria fazer com o velho companheiro, mas sabia que não iria desistir do que sentia pelo vizinho, e muito menos sem antes saber se ele sentia ou não o mesmo. E não poderia passar o dia inteiro sem falar com ele; tinha que ir vê-lo essa manhã, antes do mesmo ir trabalhar.

— Tony? -

Quando o moreno não respondeu nas quatro vezes em que o chamou, Steve abriu a porta preocupado e entrou no apartamento. As cortinas estavam fechadas, transformando o lugar em um ambiente noturno, Steve conseguia ver apenas parte da sala por conta da porta entreaberta. O loiro não pode ignorar o forte cheiro de álcool que vinha de todos os lados, ele fechou a porta e ligou a luz recebendo um gemido de protesto em troca. Curioso e mais preocupado se dirigiu até atrás do sofá e encontrou Tony com parte da roupa que usou no encontro dos dois na noite passada, deitado de barriga para baixo e segurando o gargalo de uma garrafa de uísque.

— Desliga essa droga. -

Steve teve dificuldade em entender o que o outro tinha dito. Ignorou o pedido e foi até ele, tirou a garrafa de sua mão com outro gemido de protesto de Tony. O loiro imaginava que a má circulação na mão e dedos dele por segurar a garrafa, por sabe-se lá quanto tempo, havia causado um pouco de dor no processo de soltar o vidro.

— Você vai se atrasar para o trabalho, vamos... -

O loiro o ajudou a se levantar praticamente o carregando para o banheiro, o sentou no vaso e tirou o resto das roupas que vestia deixando apenas a cueca.

Tony tentava focar sua visão no anjo a sua frente... Era um anjo? Anjos despem as pessoas assim? Balançou a cabeça espantando as perguntas, não importava se era um anjo, tendo a aparência de Steve, ele aceitaria até o diabo tirando suas roupas.

— Não esqueceu uma peça, querido? -

Disse rouco tentando sorrir malicioso para o loiro que lhe olhou repreensivo. Steve ligou o chuveiro e o colocou em baixo da água fria, Tony gemeu mais alto e tentou sair do box, mas foi impedido pelo outro que acabou se molhando no processo de segurar o moreno no lugar. Tony abraçou Steve apertado o trazendo para baixo da água também, o loiro não o empurrou dessa vez, apenas retribuiu o abraço.

Tony estava voltando à consciência quando o abraçou, sentia vergonha da forma como Steve o encontrara, vergonha do que fizera depois de passar o mês inteiro se dizendo "Steve merece o melhor de mim"; não percebeu que estava chorando até o loiro o abraçar mais apertado dizendo que tudo ficaria bem. Tony sabia que nada iria ficar bem, porque Steve iria voltar para Bucky e ele para a vidinha vazia que parecia só fazer sentido com a presença do álcool. O loiro desligou o chuveiro e enrolou uma toalha em volta de Tony que em nenhum momento olhou para ele.

— Pode se secar? Vou pegar algumas aspirinas e te fazer um café... Vai ajudar. -

Steve sorriu mesmo o outro ainda não olhando para ele. Quando recebeu um aceno de cabeça em resposta, saiu do apartamento do moreno ignorando as roupas molhadas. Bucky e Peggy olharam para ele curiosos, o loiro apenas passou pelos dois pegando o remédio e alguns ingredientes para o café da manhã de Tony e saiu tão rápido quanto entrou. Olhando para a gata, o homem que ficara apenas deu de ombros e voltou a comer.

Tony reuniu coragem para deixar o quarto alguns minutos depois do cheiro de ovo e bacon fritos preencher o apartamento, eliminando o de álcool; Steve pensara em como Tony não queria olhar em seu rosto depois do banho e decidiu deixar o amigo sozinho o quanto fosse necessário. O moreno se sentou no banco do balcão em frente ao copo de água e aspirinas que Steve tinha deixado para ele, com um suspiro ele tomou os dois, não merecia o cuidado de Steve agora.

— Como entrou aqui? -

Sua voz ainda estava rouca, mas desta vez as palavras saíram mais limpas do que antes, Steve não tirou sua atenção do que estava fazendo para responder, sabia que agir naturalmente era o melhor para o momento.

— Você me deu sua chave quando te dei a minha: "Não é justo só eu invadir seu apartamento"

Riu com a tentativa de imitar o outro enquanto colocava o alimento gorduroso em um prato. Tony analisou as costas do loiro, ele não parecia tenso ou nervoso... Talvez já tivesse dormido com o ex e agora estava apenas cuidando de Tony por pena. Steve colocou o prato no lugar do copo em frente de Tony e sorriu para ele.

— Obrigado, pode ir agora. E eu quero minha chave de volta. -

O moreno voltou a não olhar para o vizinho, ao invés disso estava encarando o prato com seu café da manhã, e apesar da comida cheirar e parecer deliciosa, Tony sentiu ânsia. Talvez fosse o pensamento de que tudo teria sido diferente se eles tivessem ido para o apartamento dele depois do encontro, ou se Bucky não tivesse aparecido, ou se ele não tivesse deixado os dois sozinhos... Ou se Steve tivesse ido atrás dele como ele pensou que aconteceria.

— Tony... Vamos conversar, ok? Sei que está preocupado por Bucky ter voltado assim, e que deve pensar que eu vou voltar com ele, mas... Não acho que eu o ame assim e não quero que isso fique entre qualquer coisa entre nós... Principalmente nossa amizade. -

O outro pensava o que o vizinho estava querendo dizer, não iria voltar a ser namorado do melhor amigo, mas também o que tinham era apenas amizade? A dor de cabeça da ressaca estava piorando e Tony tinha certeza de que tinha a ver com toda a situação que estava sendo obrigado a enfrentar.

— Claro... Que seja. -

Disse esfregando a testa e afastando o prato, agora tinha certeza de que se comesse iria vomitar. Steve observou sentindo uma dor no peito, não entendia o porquê de Tony o estar rejeitando desse jeito. Talvez ele não sentisse o mesmo, apenas queria se divertir com o vizinho "gostoso". Se afastou do balcão respirando fundo e balançou a cabeça.

— Tudo bem, então... -

Steve colocou a chave do moreno em cima da mesa e saiu do apartamento. Quando entrou em seu próprio, começou a se despir no caminho para o banheiro, não se importava com a presença de Bucky, não se importava com nada, estava cego pela confusão, mágoa e rejeição, tão desorientado que não ouviu os miados de Peggy se aproximando rapidamente e a massa peluda entrar na sua frente. Estava a meio caminho de tirar o cinto da calça quando a gata chiou de dor quando foi chutada acidentalmente; o homem se sentou no chão e pegou o animal no colo, começou a fazer carinho nela a acalmando e dizendo que tudo ficaria bem. Ele apenas não percebeu que estava dizendo isso mais para si mesmo que para Peggy.

Ela ronronou para o dono esfregando a cabeça contra sua barriga e peito, Steve aceitou o consolo dela sorrindo para a atitude de sua verdadeira amiga.

— Hey, tudo bem? -

Bucky sentou ao lado dos dois, sabia que devia dar espaço para o amigo digerir tudo o que estava acontecendo, mas Steve parecia tão perdido e deixar apenas Peggy o ajudar com isso não era justo com nenhum dos dois, eram melhores amigos desde que se lembrava. E apesar de tudo pelo o que passaram, a amizade dos dois sempre estaria acima de tudo. Steve balançou a cabeça negativamente, sentia que estava prestes a explodir em lágrimas e o moreno percebeu, ele o abraçou forte passando a mão pelas costas do loiro.

— Meu vizinho... Tony, aquele que estava aqui ontem à noite. Nós ficamos bem próximos esse último mês e ontem tivemos nosso primeiro encontro, estava tudo bem até... -

Apesar de saber que Bucky entenderia, não queria que o amigo pensasse que era culpa dele, estava claro que Tony não queria as mesmas coisas que Steve. Peggy deitou as patas dianteiras no braço do loiro e olhava atentamente.

— Eu fui falar com ele... Tentar me explicar ou eu não sei. Encontrei-o caído bêbado atrás do sofá, nunca o vi daquele jeito, quero dizer, ele já havia me dito que tinha certa experiência com álcool e coisa do tipo, mas não pensei que era algo assim... De toda forma, eu o ajudei a tomar uma ducha e levei as aspirinas, fiz até um café pra ajudar a ressaca, mas... Ele agiu diferente de antes, parecia que estava com raiva de mim, eu... Eu falei pra ele que não teria mais nada entre você e eu, e que não queria isso entre ele e eu, mas sabe quando você diz algo e parece não fazer diferença pra outra pessoa? -

Despejou tudo em cima do velho amigo como faziam antigamente. Steve não se importava com o que havia acontecido entre os dois, ou em como ficou quando Bucky foi embora, o moreno estava ao seu lado agora, justamente quando precisava.

— Dê um tempo para ele entender o que você quis dizer, vi como ele ficou ontem, Steve, não passava de ciúmes e medo de você o esquecer... Sinto muito ter chegado dessa forma e estragado seu encontro, eu devia ter avisado. -

Bucky acariciava os cabelos loiros como fazia quando eram crianças e os bullies chateavam o franzino Steve. Apesar da ainda presente dor da rejeição, o loiro sorriu por saber que sua amizade com o moreno não havia sido abalada pelo tempo que passaram separados.