Eu estava com minha mochila pronta, já tem alguns dias que minha mãe está de viagem e eu sozinho nessa bendita casa. Bem, isso até o Nomura chegar umas horas atrás, me convidando para dormir em sua casa enquanto ela não retorna. Meu coração só faltou explodir de alegria, mas claro que não deixaria isso tão na cara, ele estava sentado no sofá com a cabeça caída para trás apoiado no encosto, completamente distraído, tão lindo. Sacudi a cabeça para voltar a mim, cheguei à sala com minha mochila segura pelas minhas duas mãos.

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- É... – Pigarreei – Então vamos?

Ele levantou a cabeça rapidamente, talvez tenha se assustado comigo; se ergueu do sofá, ainda com dificuldade, por conta do machucado de alguns dias antes, que por sinal eu havia feito o curativo. Ele virava o rosto ou mudava de assunto sempre que eu falava a respeito desse incidente, tinha algo muito errado naquilo tudo. Dirigi-me a porta e ele me seguiu, o Nomura agarrou minha mochila e colocou-a nas costas.

- Eu levo, está pesada. – Disse com um tom sério.

- Não precisa! Além do mais você está machucado e... – Fitei rapidamente o olhar dele, e a impressão que eu tive foi que minha alma saia pela minha boca.

- Eu levo...

- S-se insiste... – Minha voz tremeu.

Caminhávamos alguns minutos até sua casa, provavelmente teríamos que pegar um metrô, o garoto de fios negros estava sério demais para meu gosto, mas tinha medo de perguntar o que era. Depois de pegar dois metrôs - o que deve ter levado meia hora mais ou menos -, chegamos a sua rua, um lugar classe média talvez um pouco inferior ao meu bairro. Era cheio de pessoas, na cara que era um comércio, eu seguia o maior, mas era uma tarefa difícil; muitas pessoas se esbarravam em mim ou passava na minha frente, eu tive que correr e me agarrar na blusa do Nomura para conseguirmos andarmos iguais. Droga o que estou fazendo?!

- O que está fazendo, Sakamoto?

- Tentando não me perder de você... O que acha? – Tentei parecer normal. Tentei.

Mas ele apenas agarrou minha mão e seguiu um pouco mais rápido. Ele segurou a minha mão?! Senti meu rosto esquentar rápido, meu batimento cardíaco acelerou e eu não conseguia parar de olhar para a minha mão, estava tão aturdido que não percebi que já havíamos chegado a seu apartamento.

- Bem vindo a minha obsoleta residência.

Era um apartamento de solteiro, pequeno, velho, um pouco bagunçado, mas tinha a fragrância do Nomura e, por algum motivo, só isso já me deixava bastante feliz.

- Perfeito. – Eu disse, deixando-o um tanto surpreso. – Onde eu posso colocar a mochila?

- Bem... Eu vou colocar no meu quarto.

Ele saiu em direção ao quarto me deixando na sala, admirando a vista da janela e da cozinha americana, que, ao que me parecia, era a parte mais arrumada da casa.

- Pronto. Está com fome? – Ele disse saindo do quarto, passando a mão pelos cabelos.

- Não! – Isso soou quase como um grito e eu instantaneamente abaixei a cabeça. Podia sentir o olhar de dúvida pairando sobre mim. Mas logo o meu estomago roncou, extremamente alto.

- Já disse para deixar de ser educado perto de mim.

Estava vermelho dos pés a cabeça, ainda fitando o chão. Ele passou do meu lado me levando junto pela manga da camisa.

- Estava pensando em ver um filme na TV, o que acha? – Disse olhando dentro da geladeira.

- Acho que vai ser legal. – Minha cabeça ainda estava caída, não queria que ele olhasse para mim naquele estado. No mesmo instante eu senti uma mão tocando meu queixo e erguendo minha cabeça.

- Você está estranho. – Alegou com o rosto próximo ao meu.

- O-o-o que quer dizer com isso? – Pare de gaguejar Sakamoto! – Eu estou absolutamente normal. - Me virei de costas e saí, mas ao tentar andar, esbarrei minha testa no que parecia ser a luminária de teto da cozinha. Ela estava pendurada por um fio longo e estava bem mais baixa do que deveria.

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- Ah, me desculpe. – Ele disse com indiferença. – Isso sempre cai. Por que não me ajuda a fazer algo para comermos e logo depois eu conserto isso?!

- Pode ser. – Disse um tanto chateado. Talvez por sempre perder para seus argumentos.

Algumas horas se passaram, comemos uma comida absurdamente deliciosa que ele havia feito: salada e salmão assado. Depois de ele terminar de consertar a luminária, estávamos sentados no chão da sala vendo filme, acompanhados de pipoca e refrigerante; meus bons amigos. Era um filme de terror, parecia fazer o estilo do Nomura, ele não mexia nem um músculo nas partes de susto. Diferente de mim, já que eu escondia minha cara atrás das almofadas e conseguia ouvir suas risadas de deboche e seus comentários como “Você é frouxo Sakamoto” ou “Não acredito que tem medo disso” e em um desses inúmeros momentos, ele me agarrou, envolvendo meu corpo com seu braço. Por algum motivo aquilo me deixava mais calmo. Em uma hora mais ou menos eu já não estava mais escondendo meu rosto, percebi isso logo quando os créditos começaram a subir, estava envergonhado demais com o fato de estar “meio abraçado” com o Nomura que não havia percebido até então seus olhos acinzentados me observando seriamente.

- Aquilo que você me disse quando estava chorando... – Ele quebrou o silêncio. -... Era verdade?

Eu não conseguia acreditar, ele ouviu tudo desde o começo. Mesmo que eu tentasse, nada saía da minha garganta, eu estava perplexo, olhando para o chão e suando frio.

- Não vai me dizer? – Parecia ter um tom irônico, mas eu não conseguia distinguir exatamente. – Eu já disse... Se não vai falar por bem, vou fazer você falar.

Eu podia acreditar que aquilo era uma ilusão da minha cabeça por ter ficado tanto tempo olhando a TV, mas aos poucos percebia que era real, o Nomura se aproximava cada vez mais e mais, seus olhos estavam levemente fechados e seu rosto estava iluminado pela baixa luz da televisão, senti sua mão escorregar pelo meu rosto e logo minha boca foi invadida por sua língua; sua mão macia acariciava meus cabelos enquanto a outra segurava meu corpo contra o dele. Tudo aconteceu tão rápido que meus olhos estavam arregalados. O que está acontecendo? Não conseguia me mover, minhas mãos estavam apoiadas no chão e o beijo ficava, cada vez mais, intenso. Não sabia se deveria empurrá-lo ou deixá-lo, cheguei a forçar seu peito para que saísse, mas não era o suficiente, eu precisava de mais vontade e, com certeza, não conseguiria. Eu estava tão feliz; meu coração batia tão rápido que eu podia ouvi-lo em minha cabeça, quando percebi estava deitado no chão com a camisa de botões aberta pela metade e abrindo cada vez mais.

- Nomura, o que você está fazendo? – Gritei assustado.

- Eu disse que se você não me disser, terei de fazer falar.

O rosto dele era tão sexy; fazia-me ter uma vontade incontrolável de gritar; com aquele corpo em cima do meu, aquele calor, uma sensação de deleite que eu nunca senti. Sua boca se encontrava a minha novamente, um beijo tão quente quanto o outro, mas deixava um vazio, eu não queria, mas meu corpo dizia o contrário.

- Por favor, Nomura-kun pare.

- Se não gosta... – Ele parecia frio, acho que ele queria me ouvir dizer que gosto dele. E se eu disser o que vai acontecer? –... Faça-me parar.

Eu não poderia dizer que gosto dele, mas também não poderia pará-lo, mas se não o parasse ele saberia. O que eu faço?! Meu corpo não respondia mais a mim, me levantei me agarrando ao pescoço do Nomura, me abraçando a ele tão forte quanto podia; sentado em seu colo.

- Nomura-kun, por favor, pare. – sussurrei em seu ouvido. Não tenho certeza, mas ao que parece ele se assustou.

- Me desculpe... - Ele me abraçou pela cintura. -... Por isso.

Naquela noite nós ficamos muito tempo assim, mas não sei o porquê eu me desliguei por uns instantes, era como se eu não estivesse na terra naquele momento, ele também se esqueceu um pouco daquilo naquele momento e continuou abraçado comigo. Nomura Tomoko, eu te amo, esse pensamento ressoava em minha mente, corpo e alma. Queria poder dizer isso para ele, mas... Ali, naquele momento, era melhor não.