O outro lado do clichê

22 - Está nas suas mãos



Capítulo vinte e dois
Está nas suas mãos

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"Eu quero mais do que você
Imagina que eu vou ter
Dos meus sonhos não vou desistir
Eu sou pontos de interrogação
Sem respostas na canção
Só entenda que eu nunca serei o que querem pra mim"
(Estou aqui - Planeta do Tesouro)

Sou uma idiota. — Sussurrei para mim mesma enquanto esperava o Evan no estacionamento da escola.

Ok, eu até dei uma desculpa de que não era uma das mulheres que saia por aí, ok que quando disse que tinha dito que prometi sair com ele no sábado respondi que tinha sido para o cemitério, mas depois disso não tinha saída e disse "sim", já que estava de folga hoje. Se pudesse tinha fugido, só que precisava acabar com toda essa historinha.

— Oi. — Só o que falou ao me ver, dando aquele sorriso que derrubaria mil a minha direita, dois mil a minha esquerda, mas eu não cai!

Quer dizer, fiquei parada e toda aquela ideia de escapar sumiu, mas ainda tinha a minha voz para falar que ia embora.

— Oi, vamos no parque de diversão? — Não me leve a mal, quem sabe deixe essa ideia estupida de encontro depois dessa proposta. Pelo jeito meu plano podia dar certo, pois sua expressão entregava que não tinha gostado nada disso. — Que foi?

— Está pedindo minha opinião, Drey? Então vamos para a minha casa. — E riu depois de me olhar, será por que minha cara dizia que estava a ponto de o matar se continuasse com essas gracinhas? — A Alexia pode estar lá. — Era engraçado o quanto podia mudar de humor de uma hora para outra.

Parei em sua frente antes de continuar, aquele assunto ainda me doía por lembrar de tudo que fizeram, das palavras e também de saber que aquilo talvez se repetiria se me vissem com ele. No entanto uma coisa aprendi com isso e todo esse tempo com o Evan, ficar isolada ou ter amigos são ruins a mesma coisa, dos dois jeitos eu sai machucada, quando estava no primário me bateram por brincar sozinha, já quando tive com quem conversar me ameaçaram, então precisava pelo menos enfrentar esse trauma por mim.

— É lá ou nada. — Quase não consegui dizer essas mínimas 4 palavras, por isso senti tanto orgulho de mim quanto terminei de falar, mesmo que o Miller tenha reagido como se tivesse um ponto de interrogação na testa.

— Então vamos. — Tocou sua mão na minha para me levar até o ponto de ônibus mais próximo, porém foi obrigada a parar quando não o segui. — Está com medo é? Não se preocupe, irei te proteger. — E deu aquele sorriso e uma piscadinha que dessa vez me fez entender um pouco do porquê ser tão apaixonável, era como seu charme.

— Obrigada, meu herói. — Brinquei para disfarçar o quanto estava nervosa. Cada passo que dava e mais chegava perto daquele parque com ele, me dava um frio na barriga. Será que ainda dá tempo de correr para o banheiro e deixar isso para o outro dia? Por que inventei isso?

— Chegamos. — Nem sei como sai da condução e estivesse parada na frente do parque, talvez o meu medo tenha sido percebido, já que senti um aperto na minha mão, será que estávamos assim desde que saímos do estacionamento? Ele fez mais, pegou na minha outra palma e me olhou antes de abrir a boca novamente. — Tem certeza que quer ir? Se quiser tem uma sorveteria perto.

— Não tenho muito dinheiro. — Disse um pouco baixo. — Aqui posso ir nos brinquedos de graça.

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— Se quiser eu pago. — Rebateu. Para quê? Depois esfregar isso na minha cara? Uma pessoa que chantageia daquele jeito é capaz de tudo.

— Evan, eu prefiro não dever nada para você. — Mesmo que soubesse que me olharia daquele jeito de cachorro abandonado e ficaria chateado, fui o mais sincera possível.

— Então entra. — Pelo seu tom estava irritado, mas foi só ver uma barraca de comida que ficou um pouco alegre. — Maçã do amor ou algodão doce? — Suas escolhas me fizeram soltar uma risada pela surpresa. Não imaginava que uma pessoa como ele tinha um paladar tão infantil.

— Você decide. — Comentei, mas já pegando a segunda opção, vamos tentar mudar a primeira lembrança ruim daquele dia, até porque foi a última coisa que comi antes de tudo aquilo acontecer.

— Parece até que estou perguntando se é para maltratar um gato ou um idoso. — Estou tão tensa assim? Tentei arrumar minha cara, o que pelo jeito não deu certo pela forma que me olhou. — Não precisa fingir na minha frente, somos amigos.

Quando terminou de falar algo mexeu dentro de mim, foi uma certa dor que nunca tinha sentido. O dia do cemitério passou pela minha mente, principalmente a cena dos dois se abraçando. Que tá acontecendo contigo, Audrey?

— Ótimo ter tocado nesse assunto, Evan. — Desabafei quando estávamos na fila daquela maldita roda gigante. — Nós não somos.

Se fosse para enfrentar, teria que ser agora. Não só o meu trauma, mas também nossa relação. Quer dizer, a falta dela. Vamos combinar, nem sequer parecia ter amizade ali, só uma relação de negócios forçada, ele era o cabeça daquela aposta e eu a ajudante.

— Como assim? — Parecia não aceitar o que tinha acabado de ouvir.

— É a nossa vez. — E ver que podia entrar me deteve de chorar e falar tudo ali mesmo, de tudo que achava, vi e a conversa com a Catherine.

Subimos naquele brinquedo enquanto eu respirava e inspirava, minhas pernas tremiam e nem conseguia olhar para outra coisa que não fosse o chão, até tinha visto papel de bala e sujeira.

— Achei que já tínhamos passado dessa fase. — Seu sussurro quase não foi ouvido por mim. — O que mais preciso fazer para entender que para mim você é uma amiga?

— Por acaso já viu alguma amizade começar como a nossa? — Antes que falasse alguma coisa eu completei, mesmo que isso me custasse. — Não se ganha amigos chantageando, nem beijando a força. — Eu apertei um pouco os punhos enquanto não tinha olhado para ele uma vez sequer.

— Me desculpa. — O quê? Fiquei tão assustada que até levantei o rosto em busca de algum sinal de brincadeira no seu, só que não achei. — Não pensei que ia ser tão ruim para você.

— Claro né? É tão babaca de achar que ia pedir mais e parar na sua cama que nem as outras? — Respondi enquanto batia palma, o sarcasmo era evidente, mas meus olhos marejados diziam que aquilo não foi legal. Sei lá porquê nunca tinha falado disso, era algum sinal que confiava nele para dizer como me senti? — Foi meu primeiro beijo e eu nem queria.

Ele piscou mais do que devia e ficou pensativo, para depois sentar do meu lado. Pegou na minha mão, me levando a olhá-lo, mas o que notei foi que tremia muito. O que o faria ficar tão nervoso?

— Não! — O tom um pouco mais alto e a cabeça baixa, seus lábios também tremelicavam ao dizer e depois disso. — Eu nem sei direito até hoje porque fiz aquilo, mas já sabia que não era igual as meninas que "fiquei". Na verdade sempre quis ser seu amigo, talvez por isso eu cheguei desse jeito tão torto.

— E escolheu bem me beijar? — Perguntei com certa indignação enquanto lágrimas já escorriam pelo meu rosto. Outra coisa me incomodava: como assim era diferente? — Além do mais, nem precisava dizer que não sou seu tipo, eu sei, mas dizer que desde do começo queria ser mais próximo de mim é demais.

— Sei que não justifica, mas para mim beijar é tão normal, sei lá, só fui e fiz. — Quando vi seu sorriso aberto minha vontade de esmurrar sua cara era grande. Está brincando em um momento tão importante? Meu raciocínio parou quando pegou na minha outra mão, ainda tremia e isso me pareceu tão confuso. — E quem te falou que não é meu tipo? Você sempre me chamou atenção, o jeito que me olhava na escola desde sempre pareceu como se quisesse ser minha amiga. Eu estive tão errado assim?

Eu dei uma parada e fiquei repassando tudo o que comentou na cabeça. Ele sempre estava me observando? Sente atração por mim? Queria ter amizade com o Evan? Que foi tudo isso que ouvi?

— Espera, dá para me explicar isso direito. — Disse bem na hora em que a nossa cabine abriu para sair. — Podemos continuar no brinquedo? — O homem assentiu ao ver meu crachá e então a porta fechou, quando começamos a subir virei para a pessoa a minha frente. — Você gosta de mim?

— Não é isso, só queria que tivéssemos alguma lembrança juntos antes que o ensino médio acabasse. Pareceu um desperdício que só tivéssemos trocado umas poucas palavras e olhares. — Fiquei com mais raiva ainda dele. — Que foi agora? — Era tão transparente assim? Preciso fazer aulas de teatro pelo jeito.

— Então por que me colocou nessa aposta ridícula? Não era melhor só ter dito "oi" e deu? — E ele riu, riu, do que eu disse.

— E você ia continuar falando comigo? — É verdade, tem um ponto.

— Não, mas nem é isso que importa, só fala logo que queria alguém para te ajudar a fazer a Cat se apaixonar por você. — Rebati, mudando de assunto. — Essa coisa de mocinho de novela que só queria ser meu amigo não combina contigo.

Até saiu da onde estava e foi para o banco da frente, mesmo que aquele fosse o Evan Miller, não tinha nada mais do rastro brincalhão, sim uma versão séria. Aquilo me dava certo medo de cair na lábia dele, que eu, você e todo mundo sabem que tem.

— Está bem, é ótimo ter alguém para me ajudar a ganhar uns trocados, saber que gosta do Logan também foi um dos motivos para fazer o que eu fiz. — Confessou várias coisas que embaralharam minha cabeça. — Mas é verdade que eu sempre quis ser seu amigo. Sei que pode ter sido idiota ter te beijado daquele jeito, só que nunca te vi tão feliz, saiu para a balada, foi a lanchonete com a gente e até recebeu um pedido de namoro. — Deu uma parada para respirar, mas sem deixar de me olhar, talvez esperando por algum sinal de que estivesse acreditando nele. — Foi tão ruim assim viver ao meu lado?

— Então não foi só por causa da aposta? — Não sei quando aconteceu, porém não chorava mais, só restava ali a Audrey que procurava por respostas.

— Dane-se essa merda! — Falou como se jogasse tudo para o alto. — Eu só quero que a gente fique como antes.

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Nem falei nada e peguei meu celular, digitando algumas coisas e mandando um e-mail. Se para ele não importava esse jogo, então a minha consciência não pesaria tanto assim pelo que acabei de fazer.

— Então vamos acabar com isso? — Ele respondeu que "sim" com a cabeça e o olhei pensando o que exatamente falaria. — Antes, só irei cumprir com a minha palavra e te contar um segredo, a Catherine me falou que está gostando de você. — A sua cara ficou em confusão, não alegre ou de vencedor, até parecia que não tinha curtido. — Agora está nas suas mãos os próximos passos, porque eu estou fora. Adeus.

Nessa hora o brinquedo já tinha parado e eu abri a cabine, apressando os passos para que não me seguisse, mas quando quando notei me alcançaria até corri. Só que calculei muito mal, pois ao tentar me esconder no banheiro me agarrou antes. Não foi forte nem nada, mas suficiente para me levar para trás, onde estaríamos sozinhos.

— Que história foi essa? — Via que estava ainda tentando entender tudo o que empurrei para ele, era uma bomba e tanto.

— Você ganhou a aposta, parabéns. — Bati palma, mesmo que não estivesse nem um pouco para clima de comemoração. Até porque estava entre ele e uma parede, sem poder fugir.

— Que têm? Nunca liguei para ela. — Me chantageou para nada? — Que foi isso de "adeus"?

— De todas as besteiras que disse, uma coisa foi certa. — A curiosidade dele era evidente. — É bom que nossa relação seja como antes, eu lá e você cá.

— Como assim? — Ok, já está me irritando.

— Preciso de um tempo, de você! — Gritei, se antes tivesse com um braço para não me deixar sair, afrouxou um pouco e se afastou, andando de um lado para o outro. Se eu quisesse sair, teria ido sem problemas, só que queria saber o que diria.

— Achei que tivéssemos feito as pazes. — O coitado estava mesmo confuso.

— Já eu estou cansada de não entender, principalmente de ficar o tempo inteiro tentando descobrir o que tinha por trás dessa relação de vocês três, ter até achado que ia ser amiga, mas depois ver que não, estou é sobrando. — Confessei a parte que mais me doeu nesses dias. — E o pior mesmo é ter me magoado com isso para agora ouvir que só estou nessa história por causa de uma aposta que nem liga?

— Você ficou chateada por achar que não somos amigos? Eu já disse que somos. — Como se com essas palavras eu ia o abraçar e tudo ficar bem, né?

— Por causa de uma chantagem que me amedrontou semanas, que você acompanhou de perto, e ainda foi para ajudar em um plano que nem sequer se importava. — Repeti. — Não quero ser amiga de alguém assim.

— Só o que precisa saber disso tudo, Drey, é que entre você e a aposta. — Parou e me olhou. E que olhar! — Eu escolho você, então esquece aquela foto, a Catherine ou o dinheiro. — Tentou se aproximar, mas sai dali para não ficar de novo encurralada. — Fique comigo, sinto sua falta.

— Então se é verdade, me deixe sozinha. — Era como um alivio, mesmo que doesse de certa forma. — Tchau!

Parece tão esquisito isso né? Eu que nunca dizia não, entendi com essa conversa que tudo o que aconteceu foi em vão. O idiota nem se importava com a aposta ou gostava da Catherine, por isso pareceu que não valeu a pena ter me envolvido tanto, para depois me machucar mais ainda. Só precisava pensar, longe deles, de tudo, dessa relação complicada que me deixou obcecada e magoada, porque se não ia enlouquecer.

Seu silêncio foi como uma confirmação para mim, então apenas fui embora, deixando-o me olhando sem sequer se mexer. Ok, o Evan até me seguiu até a parada de longe, acho que para ver se a Alexia estaria por perto. E ainda bem que não.

Confesso que mesmo já em casa ainda fico pensando se foi um choque para ele como foi para mim, pois até agora estava tremendo pela coragem que tive de negar seu pedido tão desesperado.