Chorei até pegar no sono. Houve tempos em que eu só conseguia dormir depois de chorar muito, e foi o que aconteceu hoje. Dormi até seis horas da tarde, acordei e estava bem escuro, não totalmente por causa da luz do aquário. Sentei-me na cama e cocei os olhos, dando um leve bocejo depois. As poucas horas de sono conseguiram me acalmar, mas eu ainda pensava naquilo. Levanto e vou ao banheiro, lavo o rosto e fico me observando. O tempo passara rápido, agora vejo quem sou, um homem barbado, com olheiras e marcas da idade. Embora eu seja considerado novo. Saio do meu quarto e bato no quarto de hóspedes, mas não há ninguém lá.

Vou até a cozinha, mas também não encontro ninguém, e Remi também não está na sala. Será que ele foi embora? Impossível, pois deixou o celular aqui.

- Remi? - pergunto num tom de voz alto, mas ninguém me responde.

Vou até a varanda, mas não o encontro, então eu resolvo ir até o quintal e vejo alguém lá. Remi estava na estufa, mexendo nas flores, observando-as e regando-as. A tempestade havia passado e o vento havia derrubado alguns potes, e isso deve ter despertado sua atenção.

- Remi - chamo novamente, dessa vez ele me olha e acena, chamando-me para perto.

- Elas já estão crescidinhas – ele comentou, enquanto passava os dedos sobre as pétalas de rosas amarelas - faz algum tempo desde que apareci aqui na sua casa pela última vez, não é? - ele sorriu.

- Sim... - suspiro - Você me preocupou, pensei que tivesse ido embora.

- Claro que não! - ele riu - Por que eu faria isso? Você foi dormir, eu teria no mínimo deixado algum aviso... - Remi se pôs a olhar para mim.

Ele se aproximou e pousou a mão em minha face, fez algum carinho e sorriu. Eu não pude deixar de corar com aquele ato.

- Você está melhor? Quem ficou preocupado fui eu... - Ele percorria os dedos pelos meus cabelos agora - Mas bem feito, ninguém mandou você ficar trancado naquele escritório o dia todo.

Soltei um riso suave, e o puxei pra perto. Abracei Remi com força, temendo perdê-lo, mas era isso que iria acontecer, de fato.

Uma hora ou outra ele acharia alguém, ele se apaixonaria por alguém que com certeza não seria eu. E eu tive que aceitar isso cedo, mas meu lado esperançoso fez-me iludir mais ainda.

- Te amo, Cecile - ele disse enquanto brincava com os cabelos da minha nuca - Não sei o que eu faria sem você, irmão.

Uma pontada no peito ao ouvir a palavra irmão. Cecile, não chora! Você ao menos é alguém importante para ele.

- Eu também te amo, Remi - suspiro fundo, evitando o choro - muito.

Remi apertou-me ainda mais e ficamos algum tempo ali. Eu que tomei a iniciativa de me afastar, porque se não eu não aguentaria.

Depois daquele dia, passamos a nos ver mais. Era certo que Remi só sabia falar dessa menina agora. O nome dela é Amelie Champoudry, moça de família, divertida, bonita, rica e adorável.

Ela é o tipo de garota ideal, entendem? A menina perfeita. Qualquer um se apaixonaria por ela, a garota parece mais um anjo!

- Remi, tem certeza que quer que eu vá? Digo, vai ser melhor se só vocês dois forem...

- Não, não! Ela pode achar que é um encontro, ou sei lá, que foi armado...

- Mas essa é a intenção, você precisa deixar claro que quer algo com ela. Não seja tolo.

- Desculpa aí se é a primeira vez que me apaixono!

Soltei uma leve risada. Remi era um tanto ingênuo e bobo...

- Escute, vai dar tudo certo, ok? Se você prefere que a gente saia como amigos, tudo bem. Vou chamar alguém pra ir comigo.

- De preferência uma menina...

- Está com medo que ela pense que sou gay? - ri

- Não é isso, ela sabe que você é gay e tal, falo muito de você pra ela - ele sorriu. Fiquei surpreso ao saber disso.

- Ah... E aí?

- Aí que se você levar um homem ela vai pensar que é seu namorado, sei lá, aí não vai prestar - ele fez uma cara de cachorrinho.

- Tudo bem, eu vou chamar alguma menina - sorri.

- Certo! Hoje depois da faculdade, tudo bem? Você pode passar pra buscar a gente.

- Claro, eu passo sim. Mas vamos onde?

- No novo parque!

- Ah tudo bem! Eu vou conseguir as entradas logo.

Remi assentiu e sorriu. Deu-me um abraço e um beijo no rosto, agradecendo-me a ajuda.

- Não sei o que eu faria sem você - ele disse rindo e saindo do carro - E obrigado pela carona! Até mais tarde - Remi levantou do carro e foi caminhando até a porta da universidade. Chegando nas escadarias, ele virou e acenou pra mim, sorri pra ele e esperei que entrasse.

Coloquei Coeur de Piratepara tocar, a música era Prince Arthur. Uma bela canção...

Muitas coisas têm acontecido, minha cabeça tá quase pra explodir. O maior problema de todos eu já consegui resolver, fui embora da casa da minha família, hoje em dia não devo satisfação a ninguém e não mantenho nenhum tipo de contato nem com a minha mãe. Talvez só com meu irmão, é só ele que faço questão de ter algum relacionamento.

Minha história é um tanto complicada, de fato. Desde muito cedo eu tive que amadurecer, a infância foi uma parte delicada da minha vida, e que com muita dificuldade eu consegui atravessar. Talvez a pior das fases seja a adolescência, onde todos os sentimentos triplicam, e sua mente se torna um verdadeiro campo de batalha. Mas na minha juventude, o que mais predominou foi o ódio. Eu sentia tanta raiva de tudo e de todos, principalmente da minha família. Totalmente renegado, vivendo na linha de fogo que era a guerra entre meu pai e minha mãe, eles se odiavam mas continuavam juntos por minha causa.

Enfim, foi uma coisa complicada, eu não gostaria de lembrar tudo agora. Dirigindo de volta para o meu trabalho, pego meu celular e coloco os fones de ouvido. Fazia um dia agradável, o céu estava bem azul e as nuvens embelezavam ainda mais o céu. Cheguei a recepção e falei com Catarine, minha secretária. Pedi que me levasse um café, pois o dia seria cheio de trabalho. E antes de eu entrar na sala, ela avisou-me que um rapaz veio me procurar e que ele deixou um cartão.

- Disse o nome?

- Bom, ele identificou-se como Henry. E pediu para que o senhor ligasse para ele, e também comentou sobre uma proposta milionária que ele queria mostrar para você - Catarine se levantou e entregou-me o cartão - Ele era bonitão - Cat riu.

- Você está tentando loucamente arranjar alguém pra mim não é Cat? - eu ri - Ah, tenho um convite pra você pra mais tarde. Você tem algum compromisso?

- Não, vou estar livre. Por que?

- Quer ir ao parque comigo e uns amigos? - sorri.

- Tudo bem, vai ser divertido - Catarine sorriu - Que horas?

- Umas oito horas, eu passo na sua casa para lhe buscar. Você sai daqui as seis né?

- Sim sim. Já terminei os trabalhos extras...

- Wow, por isso que eu gosto de você, tão eficiente - pisquei pra ela.

Fui para minha sala e fechei a porta. Suspirei fundo e me joguei na poltrona. Fiquei admirando todos os meus desenhos, observando tudo naquele lugar. Eu realmente havia conquistado todos os meus sonhos.

Eu era rico por causa de um trabalho que eu adorava, eu ganhei reconhecimento, fama no meu ramo, conquistei tudo.

Mas não conquistei o meu maior sonho, que é a paixão de Remi.