Memórias de Lou Clark

A cicatriz permanece


Me vejo outra vez no labirinto do castelo, e estou chorando, correndo trôpega e com a menta confusa, a visão turva e o coração a mil querendo sair do meu peito. O medo toma conta de mim quando vejo que estou no mesmo lugar e não achei a saída dali, e então ouço a voz dele, de Will.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Lou, o que aconteceu? Por que você está chorando?

– É que... eu pensei que tinha visto os... E então eu saí correndo e não podia mais respirar e eu chorei porque....

Eu soluçava e tentava me acalmar, então ele andou até mim, não havia cadeira de rodas, nele não havia qualquer traço de seu problema físico, ele estava ali em pé diante de mim de braços abertos e seu olhar dizia que queria me consolar, então pulei sobre ele e o abracei forte jamais querendo solta-lo.

Eu queria beija-lo por mais tempo, mas infelizmente meu sonho acabou e eu acordei um tanto atordoada como se eu ainda não tivesse superado sua perda. E pensando bem, acho que nunca superei e nem sei se algum dia irei conseguir.

Quando alguém é tão importante, como Will foi para mim, será que podemos simplesmente superar e esquecer? O tempo pode curar, mas a ferida não some, ela cicatriza e permanece ali como um lembrete de que aquilo foi real.

Will foi real, minha mudança foi real, nosso amor foi real. E isso é o que me consola, saber que mesmo o tempo tendo passado e eu me veja cada vez mais longe dele, tudo aquilo realmente aconteceu. Nossa dança no casamento de sua ex-namorada, foi tão bom ver aqueles idiotas olhando para a gente e tentando nos entender. E isso foi real, e isso me ajuda a seguir em frente, porque eu já fui feliz um dia e isso que importa.

E sabe o que é mais real que tudo isso? A vida, e ela me chama para fora da cama porque o mundo lá fora não para só porque a saudade apertou meu peito e me impede de respirar normalmente.

Tenho minhas obrigações diárias, mas gosto de fazê-las. Pela manhã vou para o meu ateliê e lá encontro minhas duas funcionarias, chamadas Anna e Jane, ambas mais novas que eu, porém muito eficientes. Elas que cortam e costuram as roupas que desenho, e na frente de meu ateliê tem uma parte dedicada ao atendimento aos clientes e é onde exponho na vitrine meu trabalho e o vendo.

Pela tarde o ateliê ainda é aberto, mas ás vezes não fico lá, porque posso ir a instituição de caridade que abriga jovens com problemas psicológicos, ou ir ao abrigo de animais dá uma ajudinha, ou no orfanato. E quem diria que eu me tornaria quase uma humanista?

É que com todo aquele dinheiro de Will eu fiquei sem saber como gosta-lo. Eu ajudei minha família como podia e eles ficaram felizes, e eu também, é claro. Comprei uma casa para mim, paguei meu curso e criei meu espaço de trabalho depois que as aulas terminaram, e fiz umas viagens pelo mundo, porém ainda me sobrou grana e eu pensei no bem que poderia fazer ao outros com ele e muitas coisas me vieram a mente e as botei em ação.

Sei que não posso solucionar todos os problemas do mundo, porque não sou nenhuma super heroína com poderes sobrenaturais, mas o que me é possível eu faço e com grande prazer. Eu sei que Will ficaria feliz e orgulhoso de mim.