Kings And Queens

Chapter 43 - Sinais de Mudança


Mesmo tendo viajando para quase todas as vilas e cidades de Fiore, Gray Fullbuster nunca vira um amanhecer tão lindo quanto o que estava diante de si.
Ele e Erza Scarlet adoravam treinar nos campos ao amanhecer. Tinham a impressão que os primeiros raios de Sol os acordavam por completo, e até os revigoravam, melhorando seu treinamento. Natsu também costumava ir com eles, porém daquela vez o rosado não estava.
Uma semana e poucos dias depois do acontecido, Natsu não apresentava sinais graves, porém não acordava, nem dava nenhum sinal de que estava ciente e ouvindo o que quer que seja. Gray e Erza estavam a ponto de enlouquecer se passassem o dia inteiro dentro daquele palácio, vendo todos preocupadíssimos com o príncipe, e sem ninguém para fazer nada, nem mesmo Porlyusica ou Grandine.
Foi aí que decidiram voltar a treinar, como uma forma de melhorar ainda mais suas habilidades, e tirar um pouco a preocupação com Natsu da cabeça dos dois, fazendo-os se focarem em seus movimentos e espadas.
Erza ainda estava abalada com tudo. Ela poderia ser uma forte guerreira, mas ver Natsu daquela forma mexeu com sua cabeça. Não queria ver mais ninguém ferido em sua frente, era demais para ela. E por conta disso que Gray a chamou para sair e respirar um pouco de ar puro com ele.
Naquele dia, eles já haviam acabado um treino rápido, e apenas estavam sentando no gramado, observando o amanhecer em silêncio.
— Nunca pensei que um amanhecer pudesse ser tão bonito assim. – A ruiva comentou suspirando do lado do amigo, observando encantada os tons de laranja e vermelho que apareciam no céu, misturando-se com o azul escuro da noite que acabara.
— Meu pai diz que o amanhecer mais bonito é aquele que você assiste depois de voltar pra casa. – O moreno disse se estirando no gramado fresco. – Isso é verdade... É bem mais bonito daqui de Magnolia.
— Sim. – A ruiva disse sorrindo. – Ei, Gray... Natsu vai acordar logo não vai?
O jovem olhou para a moça de canto de olho. Todo dia ela perguntava a mesma coisa para Gray, e sempre recebia a mesma resposta.
— Espero que sim, Erza. – Ele disse olhando mais uma vez para o céu. – Acho que ainda não sabe, mas... Eu vou ficar um tempo fora.
— Um tempo fora?! – A ruiva perguntou confusa. – Como assim? Você nunca ficou “um tempo fora” do castelo. Para onde vai?
— Ur e Ultear me emprestaram a Casa de Campo dos Milkovich no Litoral. Estou pensando em passar um tempo lá depois que Natsu estiver melhor. Dar uma boa descansada.
— Entendo. Bem... Se é assim, acho que deveria ir. Sempre é bom descansar a mente de vez em quando. Não que eu tenha uma Casa de Campo para ir, nem nada do tipo. – A ruiva disse sorrindo.
— Então para onde vai quando quer paz?
— Costumo ir visitar Levy, em seu chalé. Lá costuma ser bem quieto e aconchegante, mas agora ela parece estar ocupada demais, sendo que quase não aparece em Fairy Tail. Ou no meu lugar especial. – Ela disse sorrindo travessa.
— Lugar especial? Pensei que tinha abandonado essa ideia quando tínhamos uns oito anos... – Gray falou achando graça da moça.
— Oras. Eu me lembro muito bem que o canto especial de Natsu era uma parte do jardim que tinha um lago, onde patos viviam nadando lá. E eu também me lembro que o lugar que você mais gostava de ir quando estava bravo ou com medo era...
— Debaixo da cama do meu pai. – Gray completou sorrindo nostálgico. – Eu achava que era o lugar mais seguro do mundo. Talvez estivesse certo...
— Mas eu não vou falar onde é meu cantinho especial.
O moreno bufou, fingindo desinteresse.
— Não queria saber mesmo. – Ele disse, fazendo tudo voltar ao silêncio. Alguns poucos minutos depois, a voz de Erza atingiu seus ouvidos com uma pergunta repentina.
— Essa Casa de Campo... Irá levar Juvia Lockser com você?
— Não tenho certeza... Meu pai comentou comigo que eu deveria leva-la, para nos conhecermos melhor... Acho que ela não irá querer ir comigo, afinal, somos desconhecidos um para o outro. Mas... – Gray disse se levantando rapidamente do chão e caminhando até onde os cavalos estavam parados, cochilando serenamente encostados em uma grande árvore que tinha ali. Subiu em um cavalo marrom que havia pegado nos estábulos, e ficou esperando Erza que se demorou um pouco mais, perdida nas cores incomparáveis daquele cenário magnífico.
— Mas? Termine sua frase, Gray. – A ruiva já disse em cima de sua montaria. – O que estava dizendo?
— Eu prometi uma coisa a mim mesmo.
— O que prometeu?
O rapaz engoliu em seco.
— Juvia está sozinha no mundo, e ainda tem esses caras indo atrás dela, sabe-se lá o porquê... Não posso deixar ela aqui sozinha. – Ele comentou preocupado, olhando para o céu.
Assim os dois foram em trote rápido de volta ao castelo, ansiosos para tomar um belo café da manhã, já que saíram sem comer nada. Cavalgando por entre as ruas de Magnolia, os dois puderam perceber que até mesmo a população não estava mais tão feliz quando costumava ser, mesmo com a cidade completamente reconstruída. A notícia de que o príncipe Natsu havia sofrido um grande ataque que estava quase lhe custando a vida correu pelas ruas de paralelepípedo da cidade, e em menos de três dias todos já estavam sabendo da triste notícia.
Algumas mulheres colocavam flores nos portões do castelo, para os guardas as pegarem e colocarem dentro do castelo, como uma forma de mostrar caridade e carinho ao príncipe. Todas as missas da manhã, realizadas na Catedral Kardia, eram voltadas ao príncipe. Todos ali faziam o que podiam para ajudar, da forma que podiam.
Quando foram avistados pelos guardas que vigiavam o portão principal, os portões de aço gigantes foram abertos, permitindo que os dois passassem rapidamente, e fecharam ás suas costas. Deixaram os cavalos nos estábulos, para os criados cuidarem deles, e depois entraram no palácio rapidamente.
O estômago de Gray gritou alto quando o rapaz sentiu o cheiro de bolos de diversos sabores sendo assados, e o barulho de talheres sendo postos na cozinha. Se lembrou que ainda estava cedo demais para todos estarem acordados, mas mesmo assim correu até o Salão e já se deliciou com uma generoso pedaço de bolo de limão com chá de ervas e muitas frutas.
Não se incomodava em comer sozinho, aliás, até que gostava dessa solidão. Era como se ele não se sentisse desconfortável sem ninguém por perto. Poderia ser muito egocentrismo, mas achava que apenas sua companhia já era o suficiente.
Erza avisara ao rapaz antes de comer que iria tomar um banho e se aprontar para o café, e o moreno decidiu não espera-la.
Quando estava terminando seu café, ouviu as portas do Salão de Jantar serem abertas, revelando uma mulher, que olhou preocupada para ele.
Essa mulher era Ur Milkovich. Se lembrou que seu pai disse á ele que a mulher tinha coisas para falar com ele, e a julgar pela sua expressão de preocupação, devia ser algo muito sério.
Ur tinha seus curtos cabelos jogados para o lado, e usava um vestido verde escuro confortável, não muito rodado nem muito decotado, de mangas compridas, pois fazia frio naquela manhã. Caminhou lentamente até o rapaz, com elegância e suavidade que apenas ela tinha, porém o jovem não desconfiava que talvez estivesse algum objeto cortante escondido por entre os tecidos da saia. Decidiu cumprimenta-la com um aceno obediente de cabeça. Ur não se sentou, então Gray entendeu que ela queria que ele se levantasse da cadeira, e assim fez.
— Bom dia. – Ela disse sorrindo para ele, mas via em seus olhos negros que alguma coisa a perturbava muito. – Desculpe, realmente não tive muito tempo para falar com você sobre um assunto muito... Delicado.
— Podemos conversar agora. – Gray disse, não entendendo muito bem o que estava se passando.
— Venha até meu quarto. Precisamos de um lugar mais particular do que esse Salão, onde tem ouvidos para todo lado. – Ela disse virando de costas e andando até a saída do local, com Gray em seu encalço.
O quarto da Milkovich era perto do seu e de seu pai, que ficavam todos em um mesmo andar do castelo. Assim que parou em frente á uma das grandes e chiques portas dali, a abriu e entrou.
— Feche a porta quando entrar. – Ela avisou, e Gray fez isso obedientemente. O quarto da mulher era um pouco diferente do seu. Era mais ou menos do mesmo tamanho, mas tinha a sensação que a cama da mulher tinha pelo menos uns cinco travesseiros a mais, e ele era todo nas cores cinza e violeta. Havia flores em alguns cantos. Orquídeas, mais precisamente.
Havia também, ao canto do cômodo, uma longa escrivaninha de madeira preta, cheia de gavetas, e ao lado uma lareira onde as cinzas ainda trepidavam um pouco, mostrando que fora usada aquela noite para aquecer o quarto da mulher.
Ur caminhou até aquela escrivaninha, que em cima havia vários papéis e pergaminhos embrulhados, contendo informações de todos os lugares e relatos de expedições e guerras que presenciou. Tipo de coisa que Gray tinha muita vontade de ler. Porém ela ignorou todos esses papéis, abrindo uma das gavetas ao lado da mesa, e retirando de lá um pequeno punhado de papéis velhos, enrolados cuidadosamente com uma fita de cetim preta.
Gray deu alguns passos em direção a mulher, que se virou para ele, ficando frente á frente com um rapaz muito curioso.
— O que aconteceu? – Ele perguntou para a mulher, que olhou para baixo. Se prestasse bem atenção era possível ouvir as engrenagens da cabeça de Ur funcionando, tentando encontrar as palavras certas para dizer ao jovem, sem machuca-lo ou irritá-lo de cara.
— Isso. – Ela levantou o bolo de papéis. – Foi o que eu encontrei no Castelo da Floresta Leste.
O jovem olhou confuso.
— Me disseram que não havia nada lá.
— Não havia nada porque olharam nos lugares errados. – Ela afirmou. – Consegui encontrar um cômodo, e havia isso ali. Achei que era importante trazer. Dei uma lida rápida na hora, o que não me fez entender a gravidade da situação.
— Gravidade da situação...? Como assim, Ur? – Gray perguntou confuso.
— A missão não foi inútil. Trouxemos um prisioneiro importante, até onde sabemos, e... Me fez capaz de achar essas cartas. Nelas estão informações bem específicas do que eles faziam ali. Só que seja quem eles forem, são inteligentes. Não colocaram nada comprometedor nessas correspondências, como nomes ou lugares.
— E o remetente? – Gray perguntou.
— Nenhum. Nem remetente, nem destinatário.
— E por que está mostrando isso para mim e não para o rei? Ele deveria saber disso.
— Igneel vai saber, não irei esconder isso dele. Mas achei que elas valeriam mais para você do que para qualquer um aqui do castelo nesse momento. O que mais me intrigou era que, essas cartas eram para ser enviadas, mas por algum motivo não foram, ou foram e voltaram, sabe-se lá o porquê.
— Por que isso me valeria mais do que para o rei? – Gray perguntou já ficando tenso com toda a situação.
— Eu sei o que Juvia deve ter pedido para você. – Ela disse caminhando mais para perto do rapaz. – Ela deve ter pedido para você tentar achar alguma pista sobre o que aconteceu com os pais dela. E sei que queria saber o que aconteceu com aquela sua amiga Jenny.
Gray teve a sensação de que todo o seu café da manhã iria sair pela boca de uma vez só ao ouvir essas palavras. Então eles estavam certos. Esses inimigos tinham uma relação direta com tudo o que estava acontecendo.
— O-O que... – Ele gaguejou, surpreendido com tudo. Não esperava que aquilo fosse acontecer, e que as respostas para suas mais difíceis perguntas estava ali, bem na sua frente. – O que aconteceu com Jenny? E com os pais de Juvia? Por que fizeram isso?
Ur estendeu as cartas para o rapaz.
— Não sou eu que vou carregar esse fardo de te responder essas tristes perguntas. Deixe-me apenas com a culpa de te entregar isso. – Ele pegou as cartas com um pouco de medo, como se elas fossem explodir e levar sua mão junto. – Agora vá. Não quero mais ver isso na minha frente. Assim que acabar, entregue para seu pai, ele saberá o que fazer com elas.
Ela se virou de costas e caminhou até seu banheiro, disposta a tomar um banho e tentar lavar pensamentos tristes de seu cérebro, mas sabia que seria em vão. Tinha entregado uma coisa muito importante para Gray, e não tinha certeza se isso era o certo a se fazer. As respostas para as perguntas dele eram muito perigosas.
O jovem saiu o mais rápido que podia do quarto de Ur, e, quase correndo, atravessou o corredor e entrou em outro cômodo, desta vez era seu quarto. Sentou-se em sua escrivaninha e tirou todos os papéis que estavam lá em cima, os jogando no chão. Colocou o pacote de papéis a sua frente e retirou a fita preta sem delicadeza alguma. Não sabia a real razão do porquê ele estava tão nervoso assim, apenas queria saber o que aconteceu de uma vez, e ter certeza que aquelas pessoas são inimigas reais.
Havia mais envelopes do que cartas ali. Desconfiou que talvez Ur já tenha entregado algumas para Igneel. Ignorou isso, afinal, não era de sua conta. A mulher mesmo disse a ele que tudo o que ele precisava saber estava ali, e em mais nenhum lugar.
Depois de ler algumas cartas sem sentido algum com o que estava querendo, finalmente achou três papéis que finalmente lhe dizia quase todo o que precisava saber.
A primeira começava da seguinte forma:

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“Trago boas notícias.
Ontem á noite capturamos Kenichi e Amaya Lockser. Foram aniquilados em sua casa, porém a filha única deles infelizmente escapou. Não que seja de um grande problema. Capturaremos ela e a aniquilaremos, assim como pediu. Toda a família principal comandante do Litoral vai estar morta, assim como o plano se segue.
O casal foi trazido para o castelo Leste, onde me encarreguei de queimar os corpos junto com os outros, depois de fazer uma revista. Desta vez, cabeças não foram cortadas, por mais que ansiávamos, não achamos que seria realmente necessário.
Contatarei novamente em breve.”

— Eles querem a Juvia... Por isso tentaram mata-la. – Ele sussurrou, com sua cabeça á mil.
O coração do jovem doeu. Ele descobrira o que aconteceu com os corpos dos pais de Juvia. Ainda em silêncio e tentando se recompor, ele começou a ler a segunda.

“Trago notícias. Porém não tão boas quanto eu queria.
O ataque foi perfeito. Conseguimos pegá-los desprevenidos, e maior parte da cidade foi destruída. Porém muitos soldados nossos foram mortos, e nossos alvos não foram eliminados. Não conseguimos capturar a Heartfilia. Juvia Lockser também escapou. Nenhum de nossos assassinos voltaram, nos deixando em dúvida se deveríamos mandar mais pessoas para procura-los ou não. Encontramos também pistas de que um novo Lorde está sendo procurado para se casar com Juvia.
Encontramos alguns documentos oficiais, que alguns guardas pegaram no escritório do rei. Isso já é uma grande vantagem. Os mandarei por pombo correio o mais rápido que puder.
Não comentei sobre a prostituta em outra carta. Ela já está morta. Depois de confessar tudo o que sabia, acabamos com o resto de vida que havia sobrado em seu olhar depois de uma longa noite com dez dos meus rapazes.
Se o agrada, ela morreu com dor. Vi o seu corpo depois, para examiná-lo melhor. Haviam arrancado várias partes do cabelo dela e seus dentes. Estava nua, mas não parecia ter cortes. Acredito que foi morta por sufocamento. Sei que não era preciso que ela morresse, mas tivemos receio se soltássemos ela, ela diria o que não podia. Percebi que ela estava bem relutante em responder qualquer coisa que perguntávamos. E ela veio conosco por boa vontade, a fim de proteger seu querido pai depois de ouvir o que faríamos com ele caso ela não acompanhasse nosso correspondente. Tudo ocorreu como o planejado.
Em uma semana lhe trago mais notícias.”

Essa carta parecia ser escrita depois do ataque que acontecera em Magnolia, ou pelo menos era isso que Gray pensava. Mas isso não era a pior parte. Seja quem for, relatou com detalhes como Jenny morreu. Ele tinha certeza que era ela, afinal, toda a história que Briar contara á ele e á Juvia batia com o que estava escrito naquele papel amassado. E ainda havia uma terceira, e última, correspondência, como se aquele não fosse o bastante.

“Trago más notícias.
Nosso prisioneiro escapou na tarde passada. Não sabemos onde ele pode ter ido, mas suspeitamos que ele esteja próximo do castelo. Não iria tão longe com aquelas feridas, julgo eu. Depois de torturarmos ele, o rapaz não disse nada sobre nenhum negócio de seu falecido pai, ou de nenhuma propriedade. Começamos a achar que ele não sabe de nada mesmo.
Prometemos encontra-lo, nem que seja morto. Ninguém ficará em nosso caminho mais.
Queria acrescentar que capturamos mais três nobres essa semana, já estão mortos.
Tudo está ocorrendo conforme o plano, exceto por esses pequenos imprevistos.
Entrarei em contato novamente há daqui duas semanas.”

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Isso deixara Gray confuso. Então um prisioneiro escapara... Ficou se perguntando quem poderia ser essa pessoa, e onde ela estaria, ou melhor, se ainda estaria viva, pois não sabia quando essa carta foi escrita. Porém a julgar pelo papel ainda novo, não fazia muito tempo.
Sua cabeça rodava. Estava latejando de dor. Era muita informação de uma vez só. Jenny estava morta... E havia um prisioneiro que poderia dar mais respostas á ele. E os pais de Juvia... Isso o preocupava. Como contaria isso para ela? De que forma? Não poderia simplesmente se aproximar dela e dizer secamente, tinha de prepara-la para o pior, mesmo ela sendo bem forte. E ainda planejam mata-la, como se ela fosse uma falha na missão deles. Então a missão daqueles caras seriam acabar com a família principal da Casa Lockser.
Mas agora não conseguia raciocinar nada. Não iria conseguir falar com ninguém.
Se deitou em sua cama, retirando suas botas e as jogando longe, nem vendo onde caíram. Não iria dormir, não conseguiria dormir. Tinha que pensar. Iria armar uma estratégia, montar mais uma parte do curioso e confuso quebra-cabeça que tudo aquilo estava se formando.
Ele teria de começar pelo início. A primeira pessoa a morrer pelo inimigo desconhecido do Ocidente, Layla Heartfilia. Ela tinha um dom, que a fez ver o futuro e salvar sua filha e seu marido há dezoito anos atrás, isso ele, e todos de Fiore sabiam. Seu pai estava lá e contou detalhes para ele quando Gray já tinha idade suficiente para saber de toda a situação.
Havia os livros que ele encontrara. Era em Língua Antiga e Lucy e Levy McGarden traduziram eles para o rei. Também sabia que Layla havia enviado uma carta para Igneel, que tinha coordenadas, mas ele ainda não sabia para onde essas coordenadas iriam levar. Descobriu que se tratava da Floresta Leste quando o moreno, Erza, Lucy e Natsu tiveram um encontro com Gajeel Redfox, o filho adotivo e perdido do finado Metallicana.
Era muita coisa para assimilar, e tudo parece muito vago... E sem contar que depois disso Juvia chegara, abalando as estruturas de todos com o sumiço desconhecido de seus pais. Mas que agora não era tão desconhecido assim.
De início, chegara até a ter receio da azulada, talvez fosse pelo motivo de ele achar, de primeira impressão, que ela estava o prendendo de alguma forma quando foram forçados a se casarem. Como se a culpa fosse exclusivamente dela e de mais ninguém. Ainda bem que sua mente mudara em relação á isso, colocando em sua cabeça que não tinha um culpado, e sim várias vítimas. Ele sabia que Igneel não iria ordenar que ele fizesse isso se não precisasse.
Tentou descansar um pouco.
Não acreditava muito em algumas religiões, mas, por algum motivo, rezou pela alma de Jenny, onde quer que ela estivesse naquele momento.
“Me desculpe. Descanse em paz, Jenny.” – Ele pensou afundando seu rosto em um dos travesseiros, caindo em um sono profundo. Tão profundo que se esquecera completamente de almoçar naquele dia, acordando apenas com o barulho da porta do seu quarto se fechando algumas horas depois.
Com olhos sonolentos, conseguiu focalizar quem estava tentando entrar em seu quarto.
— Gray? – Ele ouviu uma voz feminina. Como o quarto ainda estava escuro, ele não conseguiu identificar muito bem quem era. A moça se aproximou e se sentou ao lado dele. De início, achou que seria mais uma das criadas do palácio querendo coisas a mais com ele, mas assim que se sentou, viu uma cascata de cabelos azuis caídos sobre o busto da jovem.
— Ah, olá, Juvia. – Ele disse olhando para ela, que o encarava preocupada.
— Está tudo bem? Não foi almoçar hoje... E eu não te vi pelos corredores... – Ela começou, parecendo um pouco nervosa em dizer aquilo. – Está doente?
— Eu... – Ele se lembrou das cartas. – Eu estou com vários problemas, e não me senti disposto a sair do quarto. Me desculpe se te preocupei. – Ele falou tentando acalmar a jovem, o que funcionou, já que seu semblante se suavizou um pouco.
— Bem... Estou aqui para lhe ajudar se quiser... – Ela disse encarando o rapaz, e nesse momento, Gray percebeu uma coisa em Juvia que ele nunca percebera. Nunca parara para encara-la, nunca conseguiu realmente ler seu olhar nele, mesmo que estivessem casados, ele nunca realmente prestou atenção nela.
Ele não queria contar o que descobrira para ela. Seria muito triste. Não queria pear este encargo. Mas não poderia deixar que ela ficasse sem saber o que aconteceu com os próprios pais.
A moça usava um vestido branco, porém bem mais simples do que usara em seu casamento. Tinha mangas compridas e um pequeno decote. Ela parecia ainda mais pálida naquela roupa, não que isso fosse uma coisa ruim. Juvia ficava bem assim. Olhou para as mãos da moça, que estavam repousadas em seu colo, e viu que em sua mão esquerda a aliança dourada brilhava com os pequenos feixes de luz que atravessavam a janela, juntamente com o outro anel que ele dera para ela de presente de casamento, que estava encaixado perfeitamente no outro dedo da mão direita da moça.
— Na verdade... Eu preciso lhe dizer uma coisa. Uma coisa que eu descobri. – Gray disse engolindo em seco. Olhou para sua escrivaninha, onde as cartas ainda estavam na mesa. Torceu para que Juvia não tivesse as lido.
— Claro, pode falar. – Ela disse o encarando, já tentando adivinhar o que ele tinha para lhe dizer, já que não era todo dia que Gray Fullbuster dizia que tinha assuntos a tratar com ela.
— Não aqui. – O moreno falou se levantando e arrumando sua calça, que havia caído um pouco em seu breve cochilo que teve. Se voltou para Juvia e ela estava um pouco rubra. Afinal, não era para menos, não sabia como, mas Gray tinha a capacidade de ficar lindo até quando estava desarrumado, com suas roupas amassadas e seu cabelo bagunçado. – Me encontre no jardim em dez minutos, sim?
A moça olhou confusa para ele, se levantou e arrumou sua roupa.
— Sim. Mas me pergunto o que seria de tanta importância para termos que combinar de se encontrar em outro lugar que não seja o seu quarto. – Ela disse indo até a porta do mesmo.
— As pessoas podem falar. – Ele disse sem pensar. Rapidamente se arrependeu.
Juvia deu uma risada seca e revirou os olhos. Ele ainda não mudara.
— Bom, pode não ser o que acontece na vida real, mas para todos os efeitos, nós somos casados. – Ela falou com frieza e saiu do quarto.
Gray ficou olhando para a porta, com um semblante de arrependimento.
— Idiota... – Ele resmungou para si mesmo, tirando sua camisa e a jogando longe com agressividade. Por que estava tão bravo? Era para ele estar indiferente, como sempre foi com todas e como era com Juvia. Por que isso está mudando?
Tentou tirar a azulada de seus pensamentos e colocou outra camisa. Mas era impossível tirá-la de sua cabeça, iria se encontrar novamente com ela. Não queria conversar com ela ali. Preferia estar em um lugar mais arejado e mais tranquilo. Afinal, essa notícia não era em uma simples conversa que iria resolver.
Caminhou apressadamente pelos corredores, trombando em quem estivesse na frente. Não achara ninguém conhecido, nem mesmo seu pai. Achou que ele e Igneel poderiam estar em alguma reunião naquele momento. Iria conversar com ele mais tarde.
Finalmente, depois de uns cinco minutos andando pelo castelo, chegou ao jardim. Agora apenas tinha o trabalho de encontrar Juvia. Estava de tarde, e as árvores ali faziam deliciosas e convidativas sombras, onde se podia ver algumas jovens nobres descansando nelas, ou crianças brincando por entre as flores.
Antes de Natsu embarcar na viagem para a Floresta Leste, ele contara ao amigo que já havia deixado tudo preparado, para que os jardineiros reais plantassem exatamente as plantas que ele havia pedido. O lugar estava mais colorido que antes, e com mais margaridas que o normal. Gray pensou que talvez o príncipe gostasse muito dessa flor.
Encontrara Juvia encostada em uma das árvores ali, aproveitando da fresca brisa e da boa sombra, enquanto olhava para os lados á procura de seu marido. Quando o avistou caminhando até ela, a moça se recompôs, ajeitando seu vestido e limpando a sujeira das cascas de árvores em seu cabelo, que estava solto, apenas com um laço de fita azul escuro o decorando.
— O que tinha para me falar? – Ela perguntou já direta, porém com uma delicadeza e polidez implacável.
Gray engoliu seco. Não achava que seria capaz de falar isso á ela.
— Juvia... Eu descobri uma coisa. - Ela o encarou, já mais séria que o normal. Ela era uma mulher inteligente, já tinha uma noção do que seria. – Uma coisa sobre seus pais. Ur me entregou cartas que ela achara no castelo, e elas falam de Kenichi e Amaya Lockser.
Juvia vacilou um pouco. Havia pedido para que Gray descobrisse o que acontecera com seus pais, mas não esperava que fosse tudo tão rápido assim. Olhou para os lados, não havia ninguém perto deles.
— Você descobriu, então... – Ela disse baixinho. Se apoiou na árvore ao seu lado. Suas pernas ficaram bambas. Não sabia se estava preparada para ouvir o que quer que fosse. – Fale.
Olhou para Gray, e o moreno percebeu a diferença no olhar dela de segundos atrás. Agora estava com os olhos brilhando, com lágrimas paradas, ameaçando a escorrer se piscasse. E tinha tristeza em seu olhar. O moreno não queria continuar. Não gostava de fazer pessoas chorarem, principalmente Juvia. Descobriu isso naquele momento. Era muito ruim vê-la naquele estado.
— Na carta... – Ele começou, e percebeu que sua garganta estava se formando um nó, não conseguia raciocinar muito. – Eles disseram que... Seus corpos foram... Queimados. Eles sumiram com todos... E não sei nem se guardaram as cinzas, ou o que fizeram...
Assim que ele terminou, Juvia sentiu suas pernas bambearem mais ainda, como se do nada toda sua força tivesse sido sugada. Não aguentou seu peso e caiu sentada na grama, com a cabeça baixa.
Gray se assustou.
— Juvia!
Agachou-se na frente da moça, próximo á ela. Tocou seu fino ombro.
— Juvia! – A chamou novamente, e sua mão, que estava no ombro da moça, correu para o queixo dela, e o levantou, revelando as lágrimas de Juvia molhando os dedos do rapaz. Era como se ele tivesse recebido uma flechada em seu peito. Nunca a vira chorar daquela forma. Era sempre indiferente, mas agora estava ali, com seus sentimentos á flor da pele, se expondo daquela maneira para ele.
A armadura que antes a cobria não estava mais ali. Gray agora via somente uma pobre moça que perdera seus pais de uma maneira brutal e cedo demais. Fora forçada a se casar com um idiota como ele, que só naquele momento que fora perceber o quanto ela estava sofrendo calada. Se perguntou se ela sentira o mesmo quando o confortara dias atrás.
Se lembrou de quando era pequeno, e perdera sua mãe. A sensação deveria ser a mesma. Ele não disse nada. Não havia nada para ser dito.
— Venha. A levarei até seu quarto. – Ele disse passando sua mão pelas costas da mulher, segurando firmemente a fina cintura dela. Ajudou Juvia a se levantar, e a moça escondeu seu rosto inchado no peito do rapaz. Gray a apertou mais contra si.
O que estava acontecendo com ele? Não era pra ser assim em sua cabeça. Juvia era sua esposa, mas isso era apenas por contrato, um contrato que fora forçado a fazer. Mas porque estava a ajudando com tudo o que estava acontecendo na vida dela dessa forma?
Estava inquieto, não gostava de vê-la assim. Odiou a si mesmo por ter contado aquela notícia. Se perguntou se o que fez foi o certo, ou se apenas fez da vida da azulada um pouquinho mais infernal do que já era com a tragédia que acontecera com Kenichi e Amaya Lockser.
Quando viu que a moça já conseguia se sustentar sozinha, se afastou um pouco e ofereceu sua mão á ela. Juvia o encarou. Seus olhos estavam vermelhos, e sua maquiagem um pouco borrada, nada muito relevante.
— Essas cartas... De quem era? Para quem? – Ela perguntou soluçando.
— Não sei. Estão sem remetente, nem destinatário. – O rapaz disse. A moça segurou a mão que lhe estava estendida. Estava fria. Gray começou a guia-la por entre o jardim, em passos lentos. De vez em quando olhava para Juvia, que estava perdida em pensamentos. Conforme a brisa leve batia em seu rosto, sua aparência melhorava, fazendo seus olhos desincharem. Mas ele ainda conseguia ver tristeza em seu olhar.
— Eu sempre pensei em achar os corpos dos meus pais. Nem que eu achasse apenas os ossos. Mas queria fazer um enterro digno á eles. Agora não posso mais fazer isso. – Ela disse com tristeza.
Gray apertou sua mão nas mãos da azulada.
— Talvez você não tenha feito um enterro digno á eles, mas tenha certeza que onde quer que eles estão agora, estão orgulhosos de você. – Ele falou baixinho. Não era de seu feitio falar palavras doces como aquela para mulheres, mas saiu quase que naturalmente daquela vez.
— Por tê-los deixado morrer dessa forma? – Ela perguntou.
— Por ter se tornado uma mulher forte, mesmo com tudo o que você passou. – Ele disse olhando para frente. Se tivesse virado seu rosto e encarado Juvia, veria suas bochechas corarem um pouco com o que ele disse. Automaticamente, o coração frio da jovem se aqueceu um pouco com tais palavras inesperadas.
Todos olhavam para eles e sorriam, como se achassem que os dois fossem um belo e feliz casal. E Gray e Juvia deixavam que eles pensassem dessa forma, assim não teriam que explicar para mais ninguém que aquilo era apenas uma fachada. Ou pelo menos era para ser.
Assim que entraram no quarto de Juvia, ela se sentou em sua cama, e ele ficou a encarando na porta. Caminhou até ela, se ajoelhando á sua frente para que pudesse ver melhor seu rosto.
— Ei, Juvia. – Ele a chamou. – Eu estava pensando... Não sei se é uma boa hora, mas... Acho que deveríamos dar um tempo daqui do castelo.
— O-O que? – Ela perguntou ainda um pouco confusa.
— Se lembra de nossos presentes de casamento, não se lembra? – Ele perguntou tentando quebrar a barreira de gelo que Juvia tinha colocado sobre os dois. – Acho que poderíamos ir até lá. Precisamos sair um pouco daqui... Está nos sufocando. – Ele disse tentando convencê-la. Mas sabia que ela seria difícil. Juvia sempre fora difícil para ele.
— Natsu precisa de você quando acordar. – Ela disse já retomando sua postura fria.
— Estava pensando em sairmos quando ele melhorasse.
Juvia pareceu pensar um pouco.
— Certo. Iremos para longe daqui por uns tempos. – Ela disse não esboçando nenhuma reação.
Gray apenas se levantou e foi até a porta. Sentia que ainda tinha coisas para falar para Juvia, mas não sabia o que era, poderia isso acontecer?
Ignorou tais pensamentos e dirigiu-se para os estábulos, pegando qualquer cavalo ali e saindo correndo pela cidade. Queria esquecer que fizera Juvia triste. Queria esquecer de Juvia. Mas não importa o quanto corresse, não conseguiu tirar aquele tom de azul dos cabelos da moça de sua cabeça.
Já tinha uma ideia em sua mente. Iria proteger aquela moça de todos os perigos que poderia haver em torno dela. Ela já sofrera demais.
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Nos livros que lia, Lucy frequentemente lia que as masmorras eram um lugar terrível, cercada pelos piores homens que se poderia encontrar. Mas era pior. Ela conseguia sentir o terror que aqueles homens causaram apenas de olhar nos olhos deles. Havia alguma mulheres ali, mas que não eram, nem de longe, parecida com ela ou com suas amigas. Eram mulheres já moribundas, com vestidos rasgados, a pele seca e já começando a ficar enrugada, com tatuagens pelo corpo dos mais variados símbolos e cicatrizes em seus rostos e braços, dos quais Lucy nunca viu na vida. Os cabelos estavam desgrenhados, e algumas estavam até sem eles. Os dentes já não haviam mais devido a infecções, fazendo-os apodrecerem.
Quando viam a loira caminhando pelos corredores frios e molhados, gritavam nomes inescrupulosos á ela, sem medo dos guardas que a acompanhavam. E depois riam, uma risada seca e cheia de rancor, esse do qual Lucy não sabia do quê, e nem se arriscava a perguntar. Nem se arriscava a olhar nos olhos dela. Tinha medo de ver o que tinha dentro deles.
Com os homens era quase a mesma coisa, ou até pior. Não podia ver a loira ali, com seu vestido limpo e exalando seu perfume, que já ficavam atiçados, querendo tocá-la e dizendo o que se passava em suas malignas e podres mentes. Ela tentava ignorar, caminhando até a cela que queria. Era a segunda vez que estava lá, mas apenas uma noite ali e ela já decorara com perfeição o caminho até onde Jellal Fernandes estava aprisionado.
Encontrara os mesmos guardas, e, novamente, com seu jeito doce e suas palavras bem pensadas, conseguiu fazer com que eles permitissem sua passagem para ver o rapaz.
Estava do mesmo jeito que estava ontem, significando que mais ninguém estivera ali a não ser a Heartfilia.
Suas mãos estavam presas, e ele ainda tremia de frio. Mesmo cansado e fraco, não deixava que a moça o tocasse de jeito nenhum, desviando de suas mãos com uma feição de medo. Ele achava que ela ia o machucar. Estava com muito medo daquele lugar.
Ela se agachou á sua frente, olhando os cabelos azuis do rapaz tapar seu rosto, deixando apenas a boca e o queixo á vista da moça.
— Olá, Jellal. – Ela disse. Silêncio da parte do rapaz. – Bem... Eu trouxe uma coisa para você. Peguei hoje no almoço. – Ela disse tirando um pedaço de pão de sua saia e levando até a boca dele. Ele ficou mais inquieto.
Lucy suspirou. Devia saber que ele não aceitaria a comida dessa forma.
— Ei. – O chamou novamente. – Olhe. – Ela tirou um pedaço da comida e colocou em sua boca, mastigando e engolindo em seguida. – Se eu comi, não tem nada nele a não ser farinha e água.
Novamente levou até centímetros da boca do rapaz. Ele hesitou um pouco, mas depois de alguns segundos, ele entendeu que não havia nada perigoso ali, e com apenas uma bocada, devorou o pão. Estava faminto.
Lucy trouxe comida, pois não sabia se os guardas davam comida para os presos, principalmente para Jellal, que foi preso na noite que o príncipe fora esfaqueado.
Lucy não gostava de se lembrar disso. Sentia-se culpada por ajudar um inimigo, principalmente quando Natsu, o homem que estava gostando, estava á beira da morte andares acima do seu por conta deles. Mas nem mesmo isso fez a loira se afastar da curiosidade de saber mais sobre ele, e porque Layla se referiu á ele em sua carta. No que ele poderia ajuda-la?
“Um jovem cuja face está cheia de culpa e amargura, mas não o deixe cair nas profundezas. Ofereça ajuda á ele, mesmo quando ninguém mais oferecerá.”
Uma face cheia de culpa... Seria a tatuagem? O que ela tinha a ver, e por que ele tinha isso no rosto? Ou seria apenas um modo de sua mãe dizer o que ele sentia? Ele sentia culpa? Pelo quê?
Eram muitas perguntas sem nenhum caminho de resposta. A única coisa que sabia dele era que seu nome era Jellal Fernandes e que, aparentemente, tinha um bom cargo naquele castelo que fora atacado, já que ouvira Erza comentar com Mirajane que antes de Gray pegá-lo, ela o vira ao lado de quem poderia ser o chefe daquele lugar.
Depois que o rapaz acabou de engolir o pão, ele voltou a encarar o chão.
— Eu te dei comida... Agora quero que me dê uma coisa em troca. – Ela disse se aproximando do rosto do rapaz, que permaneceu em silêncio. A moça entendeu isso como um sim. Estava melhorando sua relação com ele. – Jellal. Quero que me fale... – Ela pensou bem, não poderia perguntar qualquer coisa para ele, mas também se já perguntasse coisas mais perigosas, como o que ele fazia no castelo, e quem ele realmente era, tinha medo de ele não confiar mais nela. Decidiu o que iria perguntar. – O que aconteceu com a sua perna? Ela está machucada... Mas não parece que foi pelos guardas do castelo.
Ele ficou um tempo em silêncio. Mas depois sua voz saiu trêmula e fraca.
— Armadilha.
Essa foi a única palavra que conseguiu dizer.
— O que? – Ela perguntou para ele, confusa. – Armadilha? Que armadilha?
Seu olhar se levantou um pouco, deixando visível somente até suas bochechas e uma parte de sua tatuagem.
— Foi... Uma... Armadilha. – Ele sussurrou. Estava muito fraco.
Lucy queria saber mais. Queria saber tudo. Mas quando foi perguntar outra coisa, ouviu um barulho atrás de si, na porta. Era um dos guardas, e pelo visto estava correndo há um tempo, procurando pela moça.
— Srta, preciso que venha comigo. – Ele disse tentando se recompor. Lucy se levantou.
— O que aconteceu? – Ela perguntou rapidamente. Estava preocupada. Sua mente automaticamente foi até onde Natsu estava. O que tinha acontecido com ele.
— O príncipe... Ele... – O homem não conseguiu mais falar pelo cansaço.
— Ele o que? – A loira já saiu correndo pelos corredores, com o homem a seguindo.
— Srta... Ele acordou. – Lucy parou do nada, e encarou o homem, estupefata. – Ele acordou e está querendo desesperadamente vê-la.

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