Olhei para a água do mar e estava exatamente como meu pai me descrevera uma vez. O vento puxava a água, ou seja, tudo ia para a mesma direção que o navio. E então comecei a dar suas ordens exatamente como ele me contou.

– Vamos! Todos a postos! - comecei a gritar. - Içar velas ao meu comando!

Kyle e Rato foram rapidamente fazer a parte deles e os outros também começaram a fazer. Will olhou pra mim um pouco receoso, mas foi ajudar também. Elizabeth tinha uma cara de medo que dava vontade de socar.

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– Rato! Amarre a vela ao eixo principal! Afrouxar velas! Tudo pra poupa! - Fui gritando e indo para a proa do navio, super animada com eles arrumando tudo rapidamente segundo as minhas ordens. - Rápido! Rápido! Velas à bombordo! Solte a verta! Içar velas da proa! Puxar! - peguei a corda e comecei a puxar, com todos atrás me ajudando. A vela começou a subir até a outra ponta, olhei para cima e ela estava praticamente como a ponta de um triângulo, como o meu pai havia me contado e me mostrado com as mãos e no meu navio de brinquedo. - Segurem as velas! Todo mundo a meia nau! - gritei indo para a proa, ficando bem na frente de tudo, observando o fim do mundo chegar. - E agora, como meu pai dizia: rezar aos deuses - eu disse para mim mesma segurando uma corda. - Segurem firme!! - gritei olhando para o portal.

Então o navio começou a avançar sobre o precipício, meu coração começou a se acelerar, olhei para baixo e era impossível ver o final da cascata. Então começamos a cair.

– Soltem as velas! Segurem-se nas cordas! - gritei segurando a minha corda e vendo o barco cair de ponta em queda livre. Tentei ainda segurar meu chapéu de Capitã, é claro. - Funciona, vai, vai, vai - comecei a olhar pra cima.

Então as velas se abriram, fazendo com que o navio desse uma parada bem brusca e algumas partes se soltassem. Ouvi o grito da Elizabeth, fui parar no chão do convés. Assim que o navio começou a planar, eu me levantei e fiquei olhando para o portal, olhei para cima e vi que estávamos voando.

– Éééé!!! - gritei. - Deu certo! Hahahaaaa! Obrigada pai! - comecei a rir freneticamente.

– É isso aí garota! - disse Kyle animado me abraçando e me girando.

– Bom plano Kay - disse Will surpreso e eu sorri.

– Eu sei, meu pai é incrível mesmo - eu disse olhando as velas que funcionavam como asas. Até que de repente, as peças começaram a soltar.

– Kaos! - Elizabeth gritou.

– Kaos? - Kyle estava perto de mim.

Olhei para o portal. Eu tinha que fazer o mesmo que meus pais fizeram. Me soltei de Kyle fui correndo pegar uma corda. Eu a peguei e Kyle me pegou pelo braço.

– Não! Não vou deixar que faça isso - ele disse sério.

– Eu vou fazer isso Kyle - eu disse séria.

– Não! Seu pai e a deusa não terminaram tão bem da última vez Kaos, não acredito que ela será misericordiosa com você.

– Kyle, me solte, é uma ordem! - eu disse.

– Kaos, o navio não vai aguentar chegar ao portal! - gritou Barbosa.

– Eu preciso ir Kyle. Preciso descobrir sobre a minha marca, preciso salvar Jack - eu disse.

– Eu não consigo deixar você ir, prometemos que cuidaríamos de você.

– Eu sei, mas é pelo bem de todos, eu sei o que estou fazendo - coloquei minha mão no rosto de Kyle.

– Kaos? Mais alguma ideia brilhante do seu pai? - Barbosa gritava.

Kyle me soltou. Amarrei a corda com firmeza no centro do navio e depois amarrei na minha cintura, como uma espécie de cadeira.

– Kay? - Will me chamou.

– Eu vou entrar lá, o navio não vai conseguir chegar.

– Você vai buscar Jack sozinha? - disse Will.

– Não. Vou entrar ali sozinha.

– Jack não está ali?

– Eu não sei Will. Mas eu tenho que ir. Barbosa! Vire o navio à bombordo próximo ao portal, depois desça com ele em segurança! - gritei e Barbosa acenou para mim entendo o aviso.

– Mas Kay, não posso deixar você ir sozinha.

– Você deve deixar. É meu destino, eu preciso ir. Se você for ela vai querer destruir você de alguma forma.

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– Mas e você? Ela não vai te destruir?

– Eu não sei Will.

Corri até a beirada do navio assim que ele ficou à bombordo.

– Me desculpe - eu disse e pulei de costas.

– Kay! - Will gritou e a última coisa que vi foi ele tentando me pegar.

Segurei a corda e fui caindo em queda livre, até que a corda prendeu e fez um impulso me levando para o portal. Fui vendo aquela luz forte se aproximando, até que passei por ela e de repente não havia mais corda em minhas mãos, nem na minha cintura. Abri os olhos e comecei a cair do que parecia ser o universo, pois vim das estrelas num céu infinito e haviam nuvens marrons ao meu redor. No fim da minha queda livre, vi um monte de areia, coloquei meus braços na frente do meu rosto e fechei os olhos, até que de repente meu corpo foi freado antes de tocar o chão e depois fui colocada na areia. Me levantei, mas a areia começou a se mover, como se fosse o mar, o que me fez cair e desequilibrar. Então, um resto de navio vinha se aproximando por cima de mim, tentei correr para que não caísse em cima de mim, mas acabei capotando e rolando areia abaixo. A areia começou a sumir de debaixo de mim e eu vi uma cabeça de estátua surgindo ao meu lado, grudei naquela cabeça de estátua para que não caísse lá no fundo de areia. Meu chapéu de Capitã agora já era, nem lembrei de entregá-lo para Kyle antes de pular do navio. Então a areia começou a voltar e eu fui levada por ela, me afastando da estátua e rolando pela areia, tentei parar mas a força que ela havia feito em meu corpo era forte. Até que então a areia parou e muitas bestas marítimas das quais eu só tinha ouvido falar em histórias, começaram a aparecer da cor das estrelas do universo. Elas me rodeavam, como se fossem me atacar. Não peguei minha espada, porque eu não estava com medo delas, o que até eu mesma achei estranho.

– Ora, ora, ora - escutei uma voz de mulher num tom sedutor e de repente um tufão levou embora os bichos, deixando apenas eu em um chão de pedra do que parecia ser um palácio mas com as pilastras em ruínas e sem teto. - Nunca pensei que outro mortal conseguiria chegar à Terra do Caos vivo - ela deu uma risada e quando olhei para o lado vi uma mulher de pele meio roxa e com longos cabelos pretos flutuantes como se estivesse dentro d'água, seus olhos eram amarelos com as pupilas vermelhas.

– Você... - eu disse sem pensar. Eu conhecia aqueles olhos, aqueles olhos me encararam em vários sonhos, tentando penetrar a minha alma. Ela então se afastou quando a olhei nos olhos. Ela me olhou estranho e pegou meu rosto pelas bochechas com seus dedos frios e fumacentos.

– Quem é você? Seus olhos não me são estranhos e nem esse cabelo - ela pegou em meus cabelos com a outra mão. - Já fizemos algum trato?

– Não - eu disse tirando a mão dela do meu rosto. - Sou a filha de Simbad...

– Simbad! - ela sorriu e deu uma risada sedutora e seu cabelo foi jogado todo para o lado, achei o cabelo dela flutuante bem legal, devo admitir. - Deixe-me adivinhar, filha dele e da noiva do melhor amigo? - ela sorria. Eu não respondi, ela já sabia. - Sim! Claro que sim! - ela riu, se divertindo. - É claro, olhe só o seu olhar de raiva, seus lábios contorcidos como os da Marina, a sua mãe e esses olhões castanhos idênticos ao de Simbad. Sim, você é tão bonita como ele e possivelmente tão ingênua quanto também.

– Não sou ingênua - eu disse e ela ficou olhando como se eu estivesse mentindo. - Enfim... não foi por isso que eu vim aqui, pra você me comparar com o meu pai...

– Sim... tem uma outra razão, na verdade duas, não sei especificamente o que é, por incrível que pareça.

– A primeira: meu nome é Kaos - ela deu uma gargalhada, jogando seu cabelo magnificamente para trás e voltando até mim, me encarando com certa fúria e divertimento e seu cabelo saindo de trás e vindo pra frente.

– Kaos - ela repetiu. - Simbad é mesmo muito engraçadinho, não é mesmo? Nada melhor do que me tornar filha dele, não é? Então é isso - ela olhou para o lado pensativa. - É isso. Você é o distúrbio!

– Distúrbio?

– Sim, você vem causando problemas aos meus poderes. Não que tenha me impedido de levar o caos para alguns lugares mas, eu senti algo há algum tempo, algo nesse planetinha medíocre que pegava um pouquinho dos meus poderes. Então era você. Isso, isso mesmo, era você. Simbad lhe deu esse nome por minha causa, para me ter no controle, para que todos dissessem "Kaos, a filha de Simbad" e por causa de promessas da eternidade que fiz com ele, aquele mortal nojento e lindo, ele acabou me prendendo a você - ela me olhava com raiva. - Ah Simbad, como você é espertinho, não é mesmo? E se eu matasse você? - ela se aproximou de mim colocando a minha espada contra a minha garganta. - Esse distúrbio e essa ligação acabariam, não é mesmo?

– Você não quer me matar - eu disse olhando nos olhos dela.

– E por quê não?

– Porque você vê uma grande chance de me usar para causar o caos.

Ela sorriu e depois gargalhou, tirando a espada do meu pescoço e devolvendo-a à minha cintura de maneira fumacenta.

– Eu posso causar o caos no mundo inteiro com um estalar de dedos, porque eu ia querer você pegando um pedaço do meu poder?

– Porque do mesmo jeito que meu pai queria controlar você em mim, você quer controlá-lo em mim também. Eu tenho características marcantes do meu pai, tanto que suas sereias estúpidas me confundiram com ele e até você mesma disse que meus olhos lhe eram familiares...

– Então você quer meus poderes...

– Eu não quero... eu os tenho.

– Não tudo, nem metade.

– Mas tenho - eu disse por fim com um sorriso malicioso e ela correspondeu.

– Seu coração é tão maléfico quanto o meu, não é mesmo? Há ódio aí dentro, há o egoísmo, há o desejo pelo glorioso caos - nós ficamos nos encarando pelo olhar e eu senti ela vasculhando as minhas memórias de todos os momentos em que vivenciei o caos em minha vida e das minhas atitudes, ela tinha razão, eu ria com o caos, eu ficava tranquila durante um saque dos meus pais, eu gostava da bagunça e de encrencas e então ela pegou uma coisa em meu interior que me fez desconectar com ela. - Ahá - ela começou a rir. - Esse é o seu segundo objetivo aqui, não é mesmo? Tirar o seu amado pirata do Tártaro.

– Ele não é meu amado pirata - eu disse.

– Não? Então por quê seu coração acelerou tanto? - suspirei pesadamente com raiva e ela gargalhou. - Eu adorei você pequena Kaos, de verdade, tão egoísta, mas tão egoísta que nem se permite gostar de outra pessoa.

– Eu já gostei de alguém...

– Aquele garotinho que você conheceu adolescente? Por favor, o que você sentia por ele não se compara ao que você sente por esse pirata... Jack Sparrow, não é?

– Não sei do que está falando...

– Não? - ela riu e me fez sentar em uma cadeira. - Bom minha querida Kaos, estou disposta a te deixar viver com um pouco mais dos meus poderes e te entregar seu amado Jack Sparrow. Você só precisa dizer o que você sente por ele.

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– Eu já disse, somos amigos...

– Por favor, que brega isso. Mas devo confessar que está muito divertido, o caos interno, que sensação gostosa. Chega a ser mais violento do que o caos numa cidade. Você é digna de carregar os poderes de Eris pela Terra, mas eu quero que diga o que sente por ele.

– Nada.

– É mesmo? O que me diz disso aqui? - ela esticou a mão e me mostrou o momento em que eu e ele caímos pelo penhasco fugindo dos canibais, nós estávamos rindo e quase nos beijamos quando paramos de rir e ficamos olhando para o outro.

– Nada - eu respondi com meu coração acelerando e meu rosto ficando quente.

– Não? Mesmo? Com esse coração batendo dessa altura? - ela riu se divertindo do meu constrangimento. - E esse aqui? O que acha? - ela então mostrou o momento em que Davy Jones me disse que ele estava apaixonado por mim.

– Nada... eu fiquei surpresa, só isso - eu disse engolindo em seco e com meu coração quase saindo pela garganta. Ela riu e me mostrou o momento em que Elizabeth veio correndo para os braços de Will e eu e Jack nos encaramos. Eu não disse nada e ela ficou super animada, parecia uma criança se divertindo.

– Há... esse aqui, o melhor de todos! - ela mostrou então o momento em que quase nos beijamos no Pérola depois de sairmos da ilha com o coração no jarro de terra, pelo menos achávamos que ele estava lá. Naquele momento eu ia beijá-lo, eu queria beijá-lo, eu não suportava ver aquele momento, não estava mais aguentando ver.

– Okay! Okay! Eu a... - ela tapou a minha boca flutuando na minha frente.

– Você não vai dizer pra mim. Vai dizer para o próprio Jack e não poderá dizer que eu mandei você dizer, senão eu mato você e seu Jack fica preso pra sempre no baú de Davy Jones.

Meu coração acelerou, eu não sabia mais respirar e de repente tudo sumiu e eu estava de pé num deserto branco com céu branco e horizonte branco de névoa. Olhei para frente e vi Jack se apoiando na corda do Pérola Negra, ele parecia querer levá-lo nas costas. Droga, meu coração palpitou tanto, mais tanto que eu estava com medo de alguém escutar ao longe. Há quanto tempo eu não via Jack? Há quanto tempo eu não via aqueles cabelos longos cheio de badulaques, aquela roupa, aquele jeito, aquele rosto, aquela barba, aqueles dentes horríveis que não o deixava feio. Eu sorri ao vê-lo, mas assim que ele olhou pra mim, eu parei de sorrir e fiquei atônita.

– Kaos? - ele perguntou se colocando de pé e soltando a corda.

– Oi Jack - eu disse com o coração quase chegando na boca.

Jack olhou para os lados e depois olhou pra mim de modo estranho.

– O que você está fazendo aqui? - ele perguntou.

Okay, agora era o momento, eu precisava dizer, eu tinha que dizer, eu queria dizer, tudo bem, querer eu não queria, mas era o que eu sentia mesmo, ai não, não, não, que estúpido dizer isso, mas eu preciso, mas por que agora? Pelos deuses... ai... é isso, vamos lá Kaos, é hora de dizer. Respirei fundo.

– Jack...