Ao vê-lo ajoelhado no chão enquanto chorava, seus amigos rapidamente se aproximaram:

—Está tudo bem com você? -Sorriu Sasesu. -Eu sei que foi meio difícil mas eu nunca te vi tão feliz assim antes...

Sasesu abriu sua boca para responder apenas para ver sua visão consumida pela escuridão. Seus olhos fecharam-se e sua consciência dissipou-se antes de ele sequer entender o que aconteceu. Flutuando pela imensidão de sua mente, ele observou algumas cenas que não contavam em suas memórias.

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Em lugar extremamente escuro, duas pequenas meninas chorando abraçadas. Elas sussurravam uma para a outra coisas como "Tudo vai ficar bem", "Não se preocupe" e "Não podemos fazer barulho". Uma porta abriu-se no meio daquela escuridão e a luz preencheu aquele quarto.

Quando um homem adentrou aquele quarto com passos pesados, o desespero no olhar daquelas garotas tornou-se nítido. Aquilo teve fim com Kurokawa abrindo seus olhos mais uma vez naquele quarto. Ele rapidamente levantou-se desesperado.

—Isso não pode estar acontecendo...

—O que não pode estar acontecendo? -Perguntou Hikari sentada na janela.

Ele sorriu e apoiou seu rosto em sua mão:

—Então eu não morri...

—Não, você só desmaiou. -Disse Yami praticamente invisível naquela escuridão. -Provavelmente devido ao excesso de nervosismo e você dormiu até anoitecer.

Kurokawa lentamente voltou para a sua cama:

—É tão bom saber que tudo está melhor agora mas eu ainda me sinto extremamente cansado...Por isso eu vou voltar a dormir...

Hikari interrompeu suas ações com um olhar sério:

—Você teve pesadelos?

—Sonhei com algumas coisas estranhas e sem sentido... -Respondeu Kurokawa confuso. -Como você sabia?

Elas olharam uma para a outra:

—Eu acho que você merece saber... -Disse Hikari.

Kurokawa sentou-se em sua cama e apenas esperou:

—Há cerca de 15 anos atrás, viveu um ferreiro chamado Shikimori, ele foi sem sombra de dúvida o maior ferreiro que esse mundo já concedeu. Suas habilidades na criação de armas eram inacreditáveis, principalmente suas espadas. Mas no fundo, ele era apenas outro maníaco qualquer. -Explicou Hikari. -Ele começou a prender almas humanas dentro de espadas na esperança de criar armas mais fortes...aquele...lixo de ser humano...

Hikari fez uma pequena pausa para recuperar sua compostura:

—Existiam duas jovens nessa época que eram prodígio no domínio da luz e da escuridão. Essas jovens eram eu e a minha irmã. Ele pediu ao nossos pais a permissão para fazer isso mas eles recusaram. Ele então matou incontáveis membros da nossa família que tentaram nos proteger...até finalmente conseguir o que queria... -Continuou Hikari. -Tudo o que eu me lembro depois disso era estar presa em um lugar escuro, com medo, triste, querendo nada mais do que morrer.

Yami interrompeu subitamente:

—Mas sequer morrer podíamos...a partir desse dia, nós vivemos apenas com um objetivo...encontrar e matar Shikimori...

—Nós já fomos encontradas varias vezes e usadas por diferentes pessoas. Mas quanto mais convivemos com outros seres humanos mais lembramos de nosso objetivo original. E quando pensamos demais nisso...acabamos por ficar corrompidas... -Falou Hikari.

—Aquilo que aconteceu na arena de Blut? -Perguntou Kurokawa.

—Sim, quando isso acontece, todo o ódio e a frustração acumulado durante esses anos fica fora de controle. -Continuou Hikari com uma visível vergonha. -Aquilo que corrompeu seu braço e que você vomitou eram literalmente manifestações físicas das emoções negativas que nós sentimos...

—Então foi por isso que eu vi algumas memórias de vocês?

—Você ficou muito tempo em contato direto conosco, por isso você entendeu um pouco de nossa dor e viu um pouco de nossas memórias... -Respondeu Hikari.

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Kurokawa sorriu com um olhar sarcástico:

—Um pouco? Aquela quantia de dor foi simplesmente absurda...

—Nós não morremos porque não conseguíamos... -Disse Yami.

—Eu acho que era tudo que você precisava saber...os pesadelos não devem durar muito tempo... -Falou Hikari. -Nós voltaremos para aquele lugar...

—Não é solitário para vocês ficarem lá? -Perguntou Kurokawa.

Hikari sorriu:

—Obrigado pela sua preocupação mas para mantermos uma forma física nesse mundo é preciso uma grande quantidade de energia...E não se preocupe...passamos os últimos 15 anos naquele lugar...

Elas simplesmente desapareceram deixando Kurokawa pensando na quantidade de sofrimento que aquelas jovens suportaram. Seus sentimentos por elas tornaram-se confusos, querer ajuda-las mas tentar não piorar a situação. No final, ele apenas voltou a dormir. Os pesadelos atrapalharam seu sono mas aquilo era apenas uma consequência de uma ação que ele se orgulhava de ter tomado. Seu corpo estava renovado pela manhã e sua mente finalmente aceitou sua vitória.

Ao abrir seus olhos e ver aquele teto mais uma vez, ele apenas levantou seu dedo médio na direção do céu como se falasse com alguém:

—Não dessa vez.

Ele se levantou e andou para seu banheiro. Tudo em sua casa se parecia repetitivo mas ele não podia se sentir mais feliz. Ele viu seu rosto no espelho e sorriu:

—Essa é a minha cara quando estou feliz...Que retardado...

—Eu concordo plenamente... -Disse aquela voz.

Ele não precisou conferir para ter certeza, só podia ser uma pessoa:

—Não precisa me agradecer, eu salvei a nossa mente de apodrecer naquele ciclo eternamente. -Disse Kurokawa.

—Eu não vou dizer obrigado de qualquer forma, eu só quero saber como você fez aquilo. -Disse aquilo interessado.

—Foi um tiro no escuro, a probabilidade de dar errado era grande mas não fazia diferença...tudo era melhor do que continuar naquilo para sempre. -Respondeu Kurokawa. -Como você sabe, o pendente estava causando o ciclo por algum motivo. Eu dei o pendente para ele fingindo estar entregando a Eclipse. Nós já sabíamos que o ciclo recomeça onde a pessoa se sente mais confortável. Eu acreditei que esse "onde" poderia não ser em um lugar mas sim em uma situação, por isso eu fiz ele se sentir confortável me humilhando. Assim ele descobriria que eu era a fonte daquilo depois de morrer algumas vezes e voltar sempre naquele mesmo lugar. Em outros ciclos, eu devo ter recusado em tirar a maldição apenas para ter certeza que ele estava sobre meu controle, afinal de contas, eu não podia fazer nada se ele me traísse depois daquilo. E nesse último ciclo, eu tive certeza que ele estava bem submisso e até mesmo fiz falsas ameaças.

Alguns sons de palmas foram emitidos:

—Genial... -Disse aquela voz. -Você considerou incontáveis aspectos no seu plano...

Kurokawa saiu do banheiro:

—Eu não preciso de seus elogios...

Ele desceu as escadas e viu Sasesu e Lizzy tomando café da manhã em sua cozinha:

—Está melhor? -Perguntou Lizzy. -Você desmaiou de um segundo para o outro ontem.

—Eu também não sei o que aconteceu muito bem ontem... -Respondeu ele.

—Porque não se junta a nós? -Perguntou Sasesu.

—Não...tenho algumas coisas para resolver... -Disse ele seguindo em direção a porta.

—Ei, pense rápido! -Gritou Sasesu arremessando algo.

Kurokawa virou-se e conseguiu pegar aquele saco de caramelos antes de seu rosto ser atingido. Ele sorriu e sussurrou:

—Obrigado...

Ele seguiu correndo para a casa daquela velha. Ela surpreendeu-se ao vê-lo:

—Você aqui...de novo...

—Ei, tia, eu tenho um favor para te pedir...

Ela suspirou:

—Última coisa que eu farei por você...

Ele estendeu o pendente:

—Eu agradeço o presente mas não seria justo apenas eu ter um recomeço todas as vezes que morro...Destrua isso...

Ela sorriu:

—Porque você parece tão maduro mesmo que apenas um dia tenha se passado?

Ele deixou o pendente enquanto se afastava:

—Um dia para você foram vários anos para mim...Tchau, tia...