Todos vieram me visitar no hospital, meus pais, meus sogros, meus vizinhos, Francine e, até mesmo, a minha linda Cecília e, exceto, David. Considerei que lhe faltava coragem para me ver em uma cama de hospital com um tubo de oxigênio no nariz, tentando respirar, mas sentia muita a sua falta. Em uma tarde, percebi pelo jeito de Jean-Pierre que havia algo errado, pois, eu o conhecia muito bem, para notar pequenas sutilezas no seu comportamento.

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— O que está acontecendo, Jean-Pierre? Algum problema com David? – Pressenti.

— Não, está tudo bem.

— Sei que está mentindo. O que houve dessa vez? David está bem?

— Sim, ele está bem.

— Então o que está acontecendo?

Ele respirou fundo e me encarou de um jeito dolorido.

—Não se seria bom para você saber.

— Eu preciso. Eu quero. Ele é meu filho.

— David foi preso, há alguns dias atrás. – Ao ouvir isso meu coração quase parou, não consegui respirar, mas disfarcei bem, pois queria ouvir o resto da história. – Mas, ele está livre agora.

— Por quê?

— Nada sério. Ele tentou roubar uma garrafa de conhaque em uma loja, com outros garotos mais velhos, o dono percebe chamou a polícia, mas na tentativa de fuga, quebraram algumas coisas.

— E está tudo bem, agora?

— Sim e não. Ele pode ficar encrencado, o dono da loja não quer retirar a queixa, ele poderá ser preso.

— Mas, ele só tem quinze anos.

— No entanto, já aprontou muito, é mal visto pela cidade.

— Meu Deus! O que vamos fazer?

— Vou dar um jeito. Tudo vai ficar bem. Por favor, não se preocupe, meu amor.

Na manhã seguinte bem cedo, aproveitando que eu estava sozinha e a diferença de fuso horário, com a ajuda de uma enfermeira, telefonei para a firma em que Olivier trabalhava, não sabia o que dizer, mesmo assim seria o primeiro passo para contar-lhe sobre o filho que tivemos e que, atualmente, precisava de sua atenção. Durante longos minutos, fui jogada de um setor a outro até que ao repetir o nome dele, a voz feminina do outro lado pediu o meu nome, mais uma vez.

— Diga-lhe que é Sarah Didier, uma velha amiga.

— Sarah?! É você mesmo? – Pouco tempo depois, ouvi a voz do meu passado, mais madura e grave.

— Sim, sou. Como vai, Olivier?

— Eu vou bem! Eu não posso acreditar! Depois de todo esse tempo! Como você está? – Ele falava rápido atropelando as palavras, sem disfarçar a sua surpresa.

— Eu ... eu estou doente. Para falar a verdade, bastante doente – disse a verdade.

Silêncio.

— E é grave?

— Sim

Silêncio.

— Eu posso fazer algo para ajudá-la?

— Sim. Eu não queria incomodá-lo, mas eu tenho um filho. Um adolescente... - Esperei pela pergunta que não foi feita. - Ele está com problemas.

— Que tipo de problemas?

— Ele foi preso.

— Preso?

— Nada de grave, ele roubou bebida em uma loja.

— E em que posso ajudá-la?

— Gostaria que você arrumasse um bom advogado para ele.

Silêncio.

— Claro! Dê-me todos os dados, que verei o que posso fazer.

Dei todas as informações que ele pediu, mas ele não perguntou nada sobre o pai do garoto.

— Se você tiver com problemas financeiros, eu posso ajudá-la.

— Eu não tenho problemas financeiros, Olivier. Estou bem quanto a isso.

— Gostaria muito de revê-la, onde você está?

— Em um hospital, estou em tratamento.

— Qual?

Fiquei em dúvida se gostaria que ele me visse assim tão destruída, mas e daí? Dei-lhe o nome do hospital.

— Eu irei visitá-la quando puder. Foi muito bom falar com você, Sarah. Tentarei resolver o problema do garoto.

— David. O nome dele é David. Foi bom falar com você, Olivier.

Assim dei o primeiro passo, para que pai e filho se conhecessem.

Fiquei por um longo tempo internada, a quimioterapia era mais forte, minha imunidade ficou bastante comprometida, então, minhas visitas eram limitadas. Como prometido, Olivier contratou um bom advogado e pagou um bom dinheiro para livrar David da cadeia, mas nunca veio me visitar, o que me deixou um tanto frustrada, pois, apesar de tudo que aconteceu entre nós dois, toda aquela paixão que vivemos, ele não se importava comigo, esquecera de mim totalmente.

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Só algum tempo depois que eu descobri a verdade, ao ser questionada por Jean Pierre.

— Você entrou em contato com Olivier?

— Sim, como você soube?

— Ele apareceu aqui, nesse hospital, querendo ver você.

— Ele veio? – Não pude disfarçar minha alegria.

- Por quê? – O tom do meu marido era de magoa.

— Eu não fiz por mal, não queria magoá-lo ou esconder de você, só queria contar a ele sobre David. Afinal, o que aconteceu?

— Eu o proibi de entrar, achei que não faria bem a você revê-lo.

— Você não devia ter feito isso, Jean-Pierre – Sabia que ele fez isso por ciúmes.

— Não entendo porque você quer fazer isso, Sarah.

— Porque ele é o pai de David.

— Eu sou o pai de David.

— Sim, você é e ele não podia ter um pai melhor, mas será muita responsabilidade para ter sozinho.

— Eu não estou sozinho, tenho você.

— Sejamos realistas, meu amor. Por quanto tempo? O tratamento não está surtindo efeito.

— Eu não quero ser realista, ainda tenho esperança - ele segurou minha mão.

— David tem o direito de saber quem é o seu pai biológico.

— Você tem razão. – Ele se deu por vencido. - Eu prometo se ele aparecer aqui de novo, poderá entrar para ver você.

— Caso ele não venha antes de... quero que prometa que vai entregar a carta, que está na minha escrivaninha para Olivier, quando ele aparecer.

— Não diga isso, Sarah – ele suplicou com um fio de voz.

— Por favor, prometa, Jean-Pierre!

— Eu prometo, mas, como sabe se ele realmente virá.

— Eu, simplesmente, sei.