Hearts Of Sapphire

¨f o r t y - t h r e e¨


Embora Mattia não tenha tentado tocar mais no livro, a magia ainda parecia ecoar na sua pulsação.

Quando saíra do quarto após o banho no dia anterior, seu coração batia forte no peito pela expectativa de encontrar Trevan depois do que aconteceu.

Estava receosa e animada com a possibilidade.

Não sabia como olharia para o deorum, mas estava curiosa para saber o que ele lhe diria.

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Coisa que a garota não descobriria até a tarde seguinte, visto que Trevan havia passado o dia fora para se reunir com alguns líderes..

Os Governantes se reuniam obviamente, mas os líderes das Ordens Secundárias também tinham seus encontros particulares — apesar de serem bem menos urgentes do que os das Ordens mais poderosas.

Mattia tentou não parecer muito decepcionada quando Raleigh lhe dera a notícia no café da manhã. Em parte porque Raeanna a observava com um olhar curioso no rosto.

Naquele dia, a garota passou o dia passeando pela biblioteca sem focar verdadeiramente em nada.

Muita coisa estava acontecendo de repente.

As revelações de Rexta, a situação com Trevan e ainda por cima tinha de se preocupar com a segunda etapa do Sacrifício.

Se pretendia continuar no Setor Superior mesmo depois da competição tinha de vencê-la ou, pelo menos, ficar viva. O que cada vez se tornaria mais difícil.

A sua vida sempre tinha sido monótona e rotineira até ser escolhida para aquele Sacrifício. Ainda não conseguia decidir se gostava de fato da mudança.

Na manhã seguinte à ausência de Trevan, Mattia recebeu uma carta. Um selo da Ordem Rubi marcava a frente.

Olá, querida. Como está?
Não tive a oportunidade de me despedir de você na Cerimônia, mas tenho certeza que recuperaremos o tempo perdido.
Com essa carta, peço que se prepare. O momento está chegando.

Com afeição
Sua mãe, Rexta.

Mattia fez uma careta para a assinatura. E para tudo o que aquela carta significava.

Sabia o que Rexta queria dizer. Seu encontro com o Senhor Safira, seu — por mais inacreditável que pudesse soar — pai, deveria estar se aproximando. A Senhora Rubi pedira que não entrasse em detalhes com o Senhor Granada sobre o que Mattia descobrira, ao menos por enquanto.

A mulher alegou que mesmo que Trevan parecesse disposto a ajudá-la, não podiam se dar o luxo de abrir guarda para intrigas de poder depois de passar quase duas décadas se protegendo delas.

Mehlich, mesmo depois de entregar a carta, observava, sob sobrancelhas arqueadas, a menina assimilar a mensagem.

Os olhos de Mattia se voltaram para o senhor com um pingo de desafio e Mehlich apenas deu de ombros, desviando o olhar.

Segundos depois, quando a Escolhida guardara a carta em um dos bolsos de sua calça em sarja, o homem lhe entregou um papel em branco.

— Ao início da cada etapa do Sacrifício, depois da primeira, os Escolhidos podem escrever uma carta para seu Vilarejo, famílias e amigos. — Mattia apenas observou por um tempo o papel creme, junto com uma caneta que tinha uma pena presa na ponta de cima, estendido no ar pelas mãos enrugadas de Mehlich.

A menina franziu a testa.

Era tão raro ver um deorum com aqueles sinais de idade tão avançados.

O próprio Trevan tinha umas boas décadas de vida, mas tinha uma aparência bem jovem…

Mattia segurou os materiais e murmurou algo como um "Obrigada" para o empregado.

Ao ficar sozinha sentada na escrivaninha do quarto, ela encarou o papel em branco. Para quem escreveria?

Certamente, não seria adequado nem sutil endereçar uma correspondência a seus recém-descobertos familiares, mas aquilo não a impedia de escrever nem que fosse somente para si mesma.

Com um suspiro, Mattia deslizou a caneta de escrita fácil pelo papel macio.

Apenas uma linha, era o suficiente.

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A Escolhida dobrou o papel e o enfiou no bolso onde a carta de Rexta tinha estado antes de jogá-la de qualquer jeito sob o colchão.

Direcionou-se para a estufa esperando que ela conseguisse cumprir seu papel tranquilizador de sempre.

Contudo, Mattia não tinha tanta certeza.

Tudo parecia estar mudando.

A menina sentiu a presença antes de, de fato, ver o Senhor Granada.

A estufa, como um ato de misericórdia, tinha acalmado seus pensamentos um pouco, mas o fato de que Trevan não disse nada e apenas se pôs ao seu lado, preparando terra e sementes para alojar nos vasinhos vazios, fez com que toda calmaria da Escolhida se convertesse em agitação.

Perdeu a conta de quantas vezes se atrapalhara com sua tarefa ou esbarrara no deorum.

Olhara de relance para o rapaz várias vezes. Nada continha os cabelos dele de cair sobre a testa. Sua postura era casual, mas firme enquanto fazia tudo metodicamente como se já estivesse habituado com aquilo. Vez ou outra, enquanto assentava a terra, ele mordia inconscientemente o lábio inferior, ou passava as costas de uma das mãos limpando o suor da testa. Pegou Mattia o observando uma ou duas vezes, mas sempre sorria de uma maneira afetuosa que esquentava todo o interior da garota.

Quando ela trombou seu braço pela última vez, Trevan soltou um risinho, mas enfim, Mattia tinha feito tudo o que deveria para aquele dia na estufa.

Trevan apenas terminou de cortar meia dúzia de caules condenados e se virou para a Escolhida.

— Nós finalizamos? — perguntou.

— Nós? — retrucou a menina e Trevan assentiu com a cabeça. — Acho que sim.

— Ótimo, creio que agora a senhorita esteja com tempo livre. — Naquele momento, de frente para ele, Mattia era capaz de ver toda a bagunça que o deorum fizera em sua camiseta de botões bege.

— Você deveria ter usado um avental. — a garota comentou tirando o seu próprio acessório, desviando o olhar de onde os botões da camisa de Trevan estavam fora das casas, revelando um pouco do tórax dele..

Trevan olhou para si mesmo, mas não parecia impressionado com a sujeira e apenas deu ombros.

— Nunca consigo me lembrar. — ele deu um pequeno sorriso buscando o olhar que Mattia parecia se esforçar para desviar. — Você não me respondeu, está com tempo livre?

— Você não fez uma pergunta. — a garota respondeu timidamente.

— Oh, mil perdões pelo deslize no discurso. — Trevan fez uma reverência exagerada, levando uma das mãos ao peito e curvando as costas.

Mattia não conseguiu conter a risada quando percebera que ele fizera um estrago ainda maior na camiseta ao pôr a mão suja ali.

— Deveria se afeiçoar mais aos livros de discurso do que os de guerra, Excelência. — a Escolhida disse com coragem.

Trevan pôs uma expressão forçada de pura mágoa e ultraje antes de pegar um pano e limpar as mãos.

Então ele cedeu e estendeu um braço para Mattia.

— E como sou muito melhor em interpretar discursos do que recitá-los, deduzo que seu comentário quer dizer um sim ao meu convite.

— Ah, — Mattia soltou um riso irônico e entrelaçou o braço com o do deorum. — Mas é claro.

A Escolhida nunca imaginaria que a propriedade de Trevan era tão grande e ainda assim tão acolhedora. Os dois caminharam bastante por bosques, riachos e entre as enormes montanhas dos vulcões adormecidos — onde tinham parado para descansar as pernas por alguns instantes.

Trevan era uma companhia calma e passiva, quase sempre esperava que os pensamentos curiosos de Mattia se manifestassem em forma de perguntas — às quais o Senhor Granada respondia prontamente.

— Bem, acho que conseguimos ver bastante coisa hoje, embora eu tenha lhe dado a permissão de desbravar o que quisesse há semanas. — Trevan disse se encostando numa das pedras da montanha que ficava bem em frente e próxima à que Mattia se apoiava naquele momento.

— Nunca achei muita graça em explorar nada sozinha. Com quem eu expressarei meus comentários inconvenientes durante o caminho?

Trevan fez uma expressão séria.

— Você não é inconveniente.

Mattia riu.

— Nem você acredita nisso.

— Sim, acredito. — o deorum disse com calma como quem afirma algo universal. Seus olhos brilhavam com algo que a garota não conseguia decifrar.

Então ela mudou de assunto.

Encontrar Trevan depois do que acontecera, não estava sendo tão embaraçoso quanto pensou. Ele era uma companhia engraçada e agradável apesar de, às vezes, parecer tão reservado quanto ela.

— O que você quis dizer com bastante coisa? Isso não é tudo que se tem para ver?

— Da Mansão Granada, sim. Mas da Ordem Granada? Não chegamos nem perto. — Trevan recostou a cabeça nas pedras, o reflexo do entardecer brilhava em seus olhos. — Ainda há o centro da Ordem, onde o resto de nós vive, trabalha e cresce. — num tom mais baixo e pesaroso, ele acrescentou: — Levei Idah lá uma vez.

A Escolhida tentou manter suas emoções longe de seu rosto, mas não sabia se estava tendo muito sucesso.

— Sinto muito. — murmurou tão baixo quanto Trevan, esforçando-se para não encará-lo.

É claro que, quando sentisse algo por alguém, teria que existir um fantasma entre eles.

— Idah em pouco tempo se tornou uma pessoa muito especial para mim. — o deorum comentou com os olhos focados num ponto acima da cabeça da menina. — Dói saber que não pude fazer nada para aplacar sua dor, para impedir sua morte. Encontrei nela uma amiga sem precedentes mesmo com todos os meus anos de existência.

O coração de Mattia tropeçou em uma palavra.

Amiga.

Quando ergueu o olhar para encontrar o do Senhor Granada, ele já a encarava com firmeza e com aquele mesmo brilho que percebera em suas íris segundos antes dos lábios deles repousarem nos dela duas noites atrás.

A jovem engoliu em seco.

Naquele mesmo momento, na extremidade de sua visão, ela viu algo se mover.

Ao observar o local, Mattia viu uma espécie de salamandra — bem maior do que já tinha visto na vida — salpicada em vermelho, laranja e um amarelo profundo se aproximando arredia da reclusão das pedras onde a menina estava com Trevan.

Os olhos pareciam pequenas bolas de fogo, ou melhor, de lava.

Algo estalou em sua mente, lembrava que o brasão da Ordem Granada tinha um animal bem semelhante aquele.

— Parece que temos uma visita ilustre. — Trevan disse num tom neutro, sem querer assustar a menina com o animal. — É bem raro uma nos dar a honra de sair do subsolo... vulcânico.

O rapaz interrompeu o falatório no instante em que percebeu que Mattia não se afastava do animal como a maioria das pessoas, na verdade, a menina se agachou para ficar mais próxima do bicho que tinha mais ou menos o comprimento do seu antebraço.

Mattia evitava se mover bruscamente e sem que deixasse a criatura perceber aproximava sua mão alguns centímetros para mais perto.

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Quando ela estendeu a mão, prestes a encostar na pele gélida do animal, Trevan se intrometeu:

— Não toque, ela vai...— as palavras morreram em sua língua no momento em que os dedos da Escolhida começaram a deslizar pela pele lisa do animal.

Ao invés de se desfazer em fumaça bem na frente dos olhos de Mattia, como era esperado que acontecesse durante o contato físico de qualquer pessoa sem afinidade com o elemento fogo, a salamandra continuou bem sólida e real, chegando até a se aproximar mais da garota.

Trevan recuou os últimos centímetros que lhe restavam entre seu corpo e a parede de rocha.

A Escolhida olhou para cima com o risinho observando a expressão surpresa dele:

— O que foi? Ela só é um pouco fria e parece gostar de atenção.

O Senhor Granada sacudiu a cabeça e deixou um sorriso tomar seus lábios.

— Existe alguma forma de que você não possa me impressionar mais? — perguntou dando um passo à frente e se abaixando na altura da menina.

A salamandra escapou dos dedos de Mattia, correndo para uma das fendas quase que imperceptíveis na base de montanha.

Parecia que o animal apreciava atenção, mas não tanta.

Mattia sentiu suas bochechas esquentarem quando Trevan pois uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. Seus dedos macios roçando o local.

Olhando em seus olhos, passando por toda estrutura do seu rosto até se concentrar nos lábios entreabertos — os quais ela agora sabia muito bem o gosto —, a menina levantou num impulso, antes que fosse longe demais.

De novo.

— Muito obrigada por me mostrar tudo isso, Trevan. De verdade. — o deorum também se ergueu e aquela ação mostrou o quão próximo eles estavam. — Significa muito para mim.

E, de fato, significava.

Durante todo o percurso que fizeram, Mattia se sentiu à vontade e satisfeita com tudo o que via. Quase como se tudo aquilo fosse algo que ela ansiou desde sempre, mas que só descobrira naquele passeio.

Porém, era arriscado demais criar raízes e expectativas. E ela bem sabia daquilo. Tivera essa lição durante quase toda sua vida.

O Senhor Granada se abaixou para pegar algo no chão.

Arregalou os olhos quando notou o papel familiar — e amassado — que Trevan tinha em mãos.

Sua carta.

O deorum girou o papel nos dedos, mas não o desdobrou.

— Não vai escrever sua carta? — questionou num tom baixo. Quase como se tivesse medo que Mattia saísse correndo.

A garota deu de ombros:

— Não tenho ninguém que se importe lá. Nem em lugar algum.

Trevan respirou fundo.

— Entendo. Embora, ache que esteja equivocada na última parte. — antes que ela pudesse assimilar as palavras, uma luz forte vermelha iluminou a ponta dos dedos do rapaz. — Posso?

Mattia apenas assentiu em silêncio.

A mensagem para seus progenitores agradecendo-os pelo nada que deram a ela durante toda a vida, não a fazia se sentir melhor

Aquelas palavras encharcadas de mágoa não mudaria nada.

Então viraram um nada literal mas mãos de Trevan.

Ambos assistiram os ciscos carbonizados cair no chão.

Quando não restava nem um pedaço, Mattia se recostou se volta na sua pedra olhando para o céu que começava seu show pálido e tímido de cores de pôr-do-sol no inverno do Setor Superior.

Sentia o olhar de Trevan sobre si a todo instante e se esforçava para não retribuir.

— Mattia… — o deorum começou. — Sobre o que aconteceu...bem...entre nós...eu...

Nunca vira o Senhor Granada hesitar nas palavras então apenas fechou os olhos apertados tentando suavizar a ardência. Sabia o que vinha a seguir.

Forçou-se a dizer:

— Não… não se preocupe. Nós podemos apenas...esquecer. Não...tem problema.

Um silêncio seguido de um suspiro pesaroso fez o coração da jovem doer.

— Na verdade, — Trevan começou pausadamente. — esse é o problema. Eu não quero esquecer. Embora, eu tenha tentado. Desde a primeira vez que pus os olhos na sua foto.

Mattia abriu os olhos, o deorum a encarava com intensidade.

— Tentei esquecer das maneiras mais erradas. — ele disse com cuidado. — Mas depois do… que aconteceu, eu descobri que não sou capaz. E também, eu não quero.

Paralisada, a menina abria e fechava a boca várias vezes sem saber o que dizer ou fazer, mas por sorte — ou azar — Trevan continuou:

— Olha, — o homem passou as mãos pelos cabelos como se a tentativa de se fazer coerente fosse uma tarefa árdua. — Só não quero que você pense que sou um cretino que sai por aí tentando seduzir qualquer pessoa em meu alcance. Eu realmente me importava com Idah e ela sabia até onde nossos sentimentos chegavam. Nós dois sabíamos.

As palavras pareciam correr como um rio de sua boca, quase como se ele tivesse a necessidade física de pôr tudo para fora antes que perdesse a coragem ou algo do tipo.

— Sei que não devia ter te...abordado daquela maneira, prometi a mim mesmo para não agir como um desesperado, mas eu não consegui. E se você se ressente ou quer que eu mantenha distância e me atenha apenas às minhas obrigações como seu Simpati…

O Senhor Granada não conseguiu finalizar seu pensamento afoito, pois num momento de bravura e rapidez, Mattia segurou sua camiseta, ergueu-se sobre os dedos dos pés e grudou seus lábios com os do deorum.

Tão feroz e urgentemente quanto da primeira vez.

Apesar de parecer surpreso, Trevan de forma alguma ficou avesso à ação. Muito pelo contrário.

Suas mãos quentes deslizaram sobre as costas de Mattia, dando-a a confiança necessária para aprofundar o beijo.

Era intenso e viciante. Ela sentia algo pulsar avidamente em suas veias.

Uma de suas mãos subiu aos fios macios e loiros escuros do rapaz e ela os puxou com suavidade apenas para apreciar a sensação deles escorrendo por seus dedos.

Trevan soltou um ruído baixo em seus lábios e aquilo foi a faísca que Mattia precisava para acender.

Trevan a encostou com delicadeza e firmeza contra a montanha enquanto encarava os olhos da menina, com os seus próprios transformados em puro magma.

Não sabia explicar muito bem, mas aquela visão agitava de uma maneira incontrolável alguma coisa dentro dela.

Ele manteve o olhar fixado nela enquanto deslizava as duas mãos — que naquele momento pareciam milhares — por cima a calça que delineava cada curva garota.

Mattia não conseguiu manter os seus olhos abertos por muito tempo, principalmente quando os lábios de Trevan começaram a trilhar um caminho fervoroso entre o seu colo e seu queixo resumindo a Escolhida a um montinho suspirante.

Não soube contar quantos beijos tinham sido dados — todos eles tiveram intervalos muito curtos e se conectavam entre si — nem quantas vezes achou que seria queimada viva com os toques do Simpatizante, nem mesmo quantas horas tinham se passado, porém foi só quando uma criada tímida e infeliz por ter aquela tarefa, interrompeu os dois perguntando a Trevan se ele tinha algum horário específico para a janta ser servida naquele dia, que Mattia notou a passagem do tempo.

O sol definitivamente já tinha se posto e as estrelas começavam a sarapintar o céu.

Mattia estava envergonhada por inteiro por ter sido pega naquela situação, mas Trevan apenas riu ao notar seu embaraço mesmo quando a criada já estava a uma boa distância dos dois.

O deorum ajudou a menina a se recompôr, além de fazer o mesmo consigo próprio, alisando as roupas amassadas e os cabelos desgrenhado e então segurou a mão de Mattia durante todo o caminho de volta.

O embaraço não demorou a ir embora, dando lugar a um sentimento muito mais satisfatório e aconchegante que aquele.

A criada apenas levou alguns instantes — depois de sair da vista do Senhor Granada e da Escolhida — para se concentrar em enviar a resposta para o garoto da Ordem Ônix.

Ninguém ficava surpreso, achava estranho nem questionava o menino. O próprio Governante, Theodor, seu irmão mais velho utilizava sua rede de contatos para obter informações.

Como Thaddeus, tão jovem, conseguiram uma rede tão extensa e fiel em poucos anos era uma pergunta que ficava literalmente no ar.

Thad assimilou a mensagem, mas encontrou alguma dificuldade para decidir como passaria adiante para seu amigo que requisitara. O pequeno deorum era observador demais para acreditar que o interesse de Conall na Escolhida de Amara era apenas superficial, contudo, não seria ele a pressionar o rapaz sobre aquilo.

Thad deu as quatro batidas ritmadas — previamente combinadas — e entrou ao ouvir a aprovação do Escolhido.

Conall estava debruçado na escrivaninha do seu aposento, redigindo a carta que seria enviada para sua família. Sabia que o rapaz tinha uma família numerosa e que sentia muita falta dela, então esperou Conall terminar, sentando sem convite na beira da cama, balançando as pernas que, daquela altura, não chegavam ao chão.

— E então? Notícias? — O Escolhido apoiou a caneta na mesa. Thad tinha se oferecido para ajudá-lo com a mensagem, mas Conall rebateu dizendo que queria mesmo que o primeiro — e talvez o último — papel que redigisse fosse para sua família.

No momento, o deorum apenas sorriu, orgulhoso do amigo e de ter sido o responsável por ensiná-lo.

Thaddeus se moveu na cama, mas não disse nada por alguns instantes.

Conall tirou o olhar da carta que dobrava para encarar o menino com o cenho franzido.

— O quê? Ela está bem, não está?

Thad se sentou com as costas retas, tentando não entregar nada que não deveria na sua expressão.

— Sim, Mattia está bem. Sã e salva na Ordem Granada. — disse enquanto avaliava as feições do Escolhido.

Este apenas estreitou os olhos e, se movendo quase como o próprio vento, Conall saiu da cadeira e avançou para o local onde Thad estava, pegando sua mão no processo.

Thaddeus se sentiu envergonhado por ter sido pego tão despreparado ao mesmo tempo que admirava a rapidez com que o rapaz aprendeu os segredos mentais e demonstrou aquilo com habilidade, se lançando contra a mente de Thad, pegando o que queria saber.

— Oh. — Foi o que Conall disse depois de assistir, em terceira mão, ao que a criada presenciara nos arredores da Mansão Granada. O Escolhido soltou a mão do garoto e saiu de sua mente.

Mattia e seu Simpatizante, juntos.

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Thaddeus apertou os lábios em uma linha fina.

Conall se recompôs e num segundo já estava de pé.

— Que bom...que ela está bem. — comentou, sentido raiva de o quão patética sua voz soou.

O amigo entrelaçou as mãos no colo e as encarou.

— Obrigado, Thad. Você é incrível. — E era verdade. Conall ficou zangado por Mattia indiretamente fazer com que o rapaz dirigisse um elogio tão insosso ao amigo.

Thad não parecia ligar para aquilo.

— Sinto muito. Eu só não queria…

O Escolhido o interrompeu apenas erguendo uma mão hesitante.

— Não se preocupe, eu entendo. E agradeço de verdade.

— Sempre que precisar.

Conall esticou a mão na direção do escrivaninha, a carta flutuando cambaleante até seus dedos.

— Até que foi fácil. — afirmou com um sorriso fraco referindo-se à carta. — Só descartei uma dúzia e meia de papéis antes desse.

Thad deu um risinho pegando a mensagem.

— Um ótimo número, de fato. Vou entregar isso a Theo. Se precisar de mim, já sabe.

Conall apenas confirmou com a cabeça, embora a última coisa que queria naquele momento era ficar sozinho com seus pensamentos sobre a Escolhida que pelo visto, não dedicara um segundo sequer dos seus a ele.

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