Hearts Of Sapphire

¨f o r t y - f o u r¨


Callandrea se sentou à mesa pequena do senhor Lestat, uma mão segurando a carta de Kallien, os olhos passando por cada palavra milhares de vezes tentando tirar dali algo que nunca viria a sair.

Evian estava preparando alguma bebida quente para os dois. A menina não tinha muita preferência e qualquer infusão que o homem acabava preparando era boa o suficiente para seu paladar.

Estava virando um costume ir ali. Visitava a casa dos Lestat com tanta frequência quanto quando Corinna ainda estava em Fortuna.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Talvez até mais.

Queria ter consolo da família, obviamente, mas como despejaria tudo que estava em seu coração — tudo que ela andava fazendo — em cima de seus parentes que, com certeza, não a apoiariam.

Evian, ao menos, era um estudioso, criara Corinna e não parecia ultrajado como Callandrea costumava ficar com os comentários da amiga.

Callandrea ergueu a outra mão — a que segurava a carta de Corinna.

— Eu não tinha ouvido falar dessas cartas. Sempre existiram?

Evian caminhou calmamente com duas xícaras fumegantes, colocando uma na frente da garota, que agradeceu, e seguindo com a outra para a cadeira restante.

— Sim, mas não é muito comum recebermos muitas dos nossos Escolhidos daqui. — o pai de Corinna levou a xícara até os lábios — A maioria é derrotado ou morto na primeira etapa e alguns dos que conseguem passar não tem habilidades suficiente para redigir e preferem não aceitar o auxílio dos deorum.

— Acha que eles podem ter escrito no lugar de Kallien e Corinna?

— Não seria uma grande surpresa se eles fizessem…

Evian meneou a cabeça segurança na voz. Callandrea era meio desconfiada, apesar do pai da amiga ser bem inteligente, ele passava uma firmeza e veracidade no olhar como se conhecesse bem demais os deorum e como o sistema deles funcionavam.

O homem continuou:

— Não estou familiarizado com a escrita de Kallien, mas posso garantir que Corinna escreveu a dela.

Callandrea também não tinha ideia de como poderia ser a escrita do irmão e, por embaraço, ficou quieta.

A carta de Corinna ocupava uma folha inteira e a amiga teve um pouco de dificuldade para chegar até o final.

Já a do seu irmão era apenas um parágrafo bem impessoal dizendo que estava bem, que tinha saudades e que faria de tudo para voltar vitorioso para casa.

Em nenhuma das mensagens havia menção de um a outro e isso era o que parecia mais estranho à Callandrea.

Kallien e Corinna eram melhores amigos, amantes até.

— O Setor Superior é diferente, criança. — Evian tentou explicar lendo a expressão da jovem — Comparado à Fortuna, lá é um mundo vasto. Além disso, seu irmão e minha filha devem estar tendo cada passo vigiado pelos deorum. — o pai abaixou a voz olhando para um ponto fixo na parede atrás de Callandrea como se murmurasse para si mesmo. — Considerando o sadismo deles, é mais seguro que ambos não demonstrem tanta ligação um com o outro.

Callandrea sabia que provavelmente era a verdade, mas não entendia por completo.

Sabia que seu irmão era louco por Corinna. Ele sem dúvidas a mencionaria nem que fosse para tranquilizar a irmã.

— O senhor sabe algo dessa Senhora Rubi? — perguntou enfim.

Essa era a Simpatizante de Kallien qualquer informação que pudesse obter era bem-vinda.

Evian não respondeu de imediato, em vez disso tomou um longo gole de sua xícara.

— Rexta. A Senhora do Fogo. — o homem suspirou fundo. — Ela é vaidosa, ambiciosa e muito bonita. Incrivelmente, é o que dizem. Tem manipulações como passatempo, mas até aí ela não é muito diferente da maioria dos deorum.

— Acha que Kallien está seguro com ela?

— Enquanto vivermos do jeito em que vivemos, nenhum humano estará seguro, Callandrea. Contudo, Rexta sempre quer as melhores posições para seus Escolhidos, então, se ela está com seu irmão, fará de tudo para que ele ganhe ou chegue bem próximo disso.

A menina dobrou as duas cartas do mesmo jeito que elas chegaram e deslizou a de Corinna na direção do senhor Lestat.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Você não está preocupado?

Evian sabia a quem Callandrea se referia.

Respirou fundo, milhões de memórias não compartilhadas preenchendo sua mente.

— Me preocupo com Corinna desde o dia que a segurei pela primeira vez em meus braços, criança. Me preocuparei até o dia que a terra me reivindicar, mas ela está tão segura lá quanto aqui. — O homem passou a mão pelos cabelos. — Talvez até mais...Corinna não é só minha. Corinna é do mundo e eu não posso mudar isso.

Callandrea retirou os olhos das ranhuras da mesa para encarar o homem à sua frente.

— Isso tem a ver com a Profecia?

Evian arqueou uma sobrancelha.

— O que sabe sobre a Profecia? — A garota deu de ombros.

— Quase nada, os Esquecidos vivem mencionando-a, dizendo que a hora está chegando, mas nunca explicam que hora é essa nem o que vai acontecer. Corinna tem algo a ver com ela? Por isso que ela dizia que nunca se sentia em paz porque algo dentro dela a incitava a começar a agir?

Recostando-se na cadeira, Evian deixou sua cabeça pender para trás.

— Sei tanto sobre a Profecia quanto você, Callandrea. E sei tanto sobre o destino de Corinna quanto sei sobre a Profecia.

Isso o incomodava, a menina pôde perceber.

Não devia ser fácil criar um filho para que fosse tirado de você por causa de uma destino desconhecido.

— Você tem medo que ela morra? — as palavras fluíram de sua boca e, surpreendentemente, o homem negou com a cabeça.

— Posso não saber o destino dela, mas sei que ele não acaba aqui. Não agora. — os olhos deles escureceram com alguma lembrança.

Callandrea não se lembrava muito bem da história de como a esposa de Evian tinha morrido, a mãe de Corinna, porém desconfiava que aquele olhar tinha algo relacionado com a mulher dele.

Havia uma força nas palavras do pai de Corinna e a menina se questionou se ele não estava apenas tentando convencer a si mesmo daquilo.

O crepúsculo estava se estabelecendo no céu quando Theodor e Conall começaram a subida.

Era provável que Thad tivesse relatado ao irmão mais velho sobre como Conall havia ficado depois de receber as notícias que esperava, pois não demorou muito para que o Senhor Ônix aparecesse no quarto do Escolhido e dizer nada além de:

— Quer tentar descobrir quem você é?

Conall franziu a testa, mas, no mesmo instante, equipou-se sem questionar.

Theo havia explicado que era um pouco simples descobrir de onde — de que Ordem — os poderes do garoto vinham. Contudo, apesar de simples, era perigoso. Não para a vida de Conall diretamente, mas para esconder quem ele realmente era.

A primeira sugestão de Theo era que o Escolhido realizasse algo como uma Inserção.

Antes do Governante explicar, Thad já havia definido alguns termos importantes para os deorum como: Inserção, Intervenção e Conversão.

Os dois primeiros aconteciam logo depois do nascimento de uma criança. A Inserção definia a qual Ordem a criança iria pertencer, ou seja, quais poderes seriam os principais desenvolvidos por ela.

Geralmente, isso era decidido de acordo com a Ordem do pai, porém, em alguns casos raros, a decisão era feita pela afinidade do sangue do recém-nascido com as Gemas — modo como as pedras preciosas representantes das Ordens eram chamadas.

Aquilo era mais ou menos no que consistia a primeira sugestão do Simpatizante de Conall. O problema era que, nos bebês, o procedimento era mais brando, uma vez que a magia deles ainda não estava desenvolvida. Em um jovem próximo à idade adulta, como Conall — principalmente um visto como humano no meio de uma participação no Sacrifício — era arriscado demais depender somente da torcida para que não houvesse mudanças drásticas na aparência e na energia do indivíduo.

Theodor levara Conall até a Ordem Ametista sem explicar o porquê. O Senhor Ônix não tinha nenhuma restrição para entrar no domínio, apenas pediu para que relatassem ao líder — de quem Conall deveria ter guardado o nome — que ele estivera ali.

O Escolhido apreciava o pequeno povoado assim como apreciava a postura do seu Simpatizante ao caminhar pelas ruas. As pessoas iam para a janela a fim de observar Theo, para se curvar ou até mesmo para cumprimentá-lo direta e informalmente. O Governante sempre tinha um sorriso genuíno no rosto mesmo que fosse dando oi para as crianças — que paravam as brincadeiras para olharem-no como se ele fosse um grande rei — ou para as pessoas que o fitavam com um certo temor.

Em um pouco mais de meia hora, os dois já estavam quase no topo da montanha e as estrelas — visíveis entre as copas das árvores — haviam reivindicado seus postos no céu. Ainda bem que o garoto tinha escolhido roupas quentes. Embora pudesse desviar o vento, ainda aquilo não era o suficiente para aplacar o frio.

Ao chegarem no pico, as árvores deram lugar à vegetação rasteira, e, para onde quer que Conall olhasse, seu campo de visão era livre.

Conseguia até mesmo reconhecer a casa de Theodor ao longe.

O deorum, por sua vez, parecia ter ido ali outras vezes, pois não se demorou para apreciar a vista em volta.

Conall cruzou os braços em volta do corpo enquanto o vento começava a açoitar tão forte que ele não era capaz de controlá-lo. Caminhou até se sentar na pedra ao lado da que o Governante tinha se acomodado. Theo parecia pouco incomodado com a ventania e olhava para o céu como se buscasse alguma resposta ali.

— Esse é o Monte Vento. — o deorum disse de repente. — Um dos mais altos do Setor Superior e um ponto de encontro para os ventos de todas as direções. Os moradores evitam trazer crianças até aqui porque, reza a lenda, que se você não tiver a força de vontade e obstinação necessárias para se manter firme ao chão, é capaz de sair voando por aí.

Conall conseguia com muita facilidade imaginar a cena. Ele olhou ao seu redor novamente. Conseguia ver praticamente toda a Ordem Ametista dali.

— Creio que não me trouxe aqui só para olhar as estrelas e me oferecer informações históricas.

Theodor riu pelo nariz:

— Não. Não foi só por isso.

Mas então ele voltou a ficar calado. Os ventos em volta de Conall começaram a ceder até que se tornaram pequenas carícias na pele que encontrava descoberta. Logo, se tornaram um sussurro como uma canção.

Zumbia de maneira suave em seu ouvido, e o Escolhido sentiu o corpo relaxar.

Se fechasse os olhos poderia imaginar que estava em Nix novamente. Em volta de uma fogueira, sob o céu estrelado, sua mãe cantarolando notas com sua voz melódica.

E foi o que Conall fez. Fechou os olhos e ouviu.

Uma lembrança de infância. Ele devia ter uns sete anos, seu tio tinha voltado de uma viagem longa e todos celebravam em volta do fogo.

Mas algo não fazia sentido.

Seu tio voltara de uma viagem, mas apenas os comerciantes viviam viajando entre os Vilarejos e nunca para muito longe, nunca por muito tempo, mas… se Conall fizesse as contas, seu tio viajara por quase dois anos inteiros.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Então a imagem dele se dirigindo primeiro a Conall quando chegara. Pegando o menino nos braços e rodopiando.

Conall se sentiu em casa. Embora nunca tivesse saído da casa da mãe.

Lembrou de como achava que seu tio estava diferente, ele parecia resplandecer, tinha uma energia grande e invencível.

Lembrou de três anos depois quando o encontrara em prantos com uma carta na mão. Não sabia o que aquilo significava, mas sabia que ele tinha parado de brilhar. Estava mais triste, melancólico, curvado.

Recordou-se de como abraçou Conall apertado antes de sua primeira Audição.

Como se só a ideia de ver Conall partir fosse despedaçá-lo.

Então a cena mudou, voltando um pouco mais para o passado, provavelmente para uma das primeiras lembranças dele.

Dois braços firmes e macios o envolviam. Em seus ouvidos, a mais bela das canções ecoavam. Olhos brilhantes o encaravam com carinho, devoção...com amor.

Olhos brilhantes e violetas. Grandes e expressivos, que repuxavam com suavidade cada vez que a mulher sorria em sua direção.

Conall só percebeu que chorava porque a uma lágrima pingou em sua mão.

A imagem foi ficando borrada e embaçada, mas o Escolhido lutava para se agarrar a ela.

Mais lágrimas pingando.

— Ei, ei. — uma mão firme segurou um dos ombros que sacudiam com soluços.

Conall voltou a abrir os olhos úmidos. A música ainda soava em seus ouvidos.

Theodor tirou a mão do garoto e voltou a girar duas pequenas pedras na mão.

— Você não consegue ouvir a música? — Conall perguntou ainda sentindo uma dor dilacerando o peito. Seus movimentos estavam anestesiados.

O Simpatizante negou com a cabeça:

— Não sou digno. Dizem que os ventos se revelam para todos, mas só falam e cantam para alguns. E essa última parte não está na minha essência, mas vi umas coisas interessantes sobre mim.

— Como sabia que ele falaria comigo?

Theo deu de ombros.

— Foi só um chute baseado em algumas informações. De qualquer forma, se eu estivesse errado, os ventos ainda mostrariam algo para você que nos levaria ao caminho certo.

Conall ficou em silêncio por alguns segundos e então:

— Eu vi a minha mãe. A de verdade. Quer dizer, eu acho que era ela. Tenho quase certeza. — Conall disse limpando os olhos com as costas das mãos. — E também vi meu pai. Ele...ele esteve comigo esse tempo todo lá em Nix e eu achava era apenas meu tio.

Uma respiração se passou:

— Ele deve ter tido as razões dele. Nosso mundo é estranho, Conall. Não podemos julgar ninguém sabendo apenas parte da história. Não esqueça que se está sendo difícil para você hoje, está sendo difícil para ele há anos.

O Escolhido assentiu com a cabeça.

— Ela era daqui.

— Sim, Sumalee.

Conall virou a cabeça para encontrar o olhar pesaroso do Simpatizante:

— Ela se foi, não é?

Theo assentiu uma vez.

— Você a conheceu?

— Minhas memórias de Sumalee são poucas, eu era pequeno quando ela… se foi. Porém, há retratos dela, posso procurá-los para você. Tinha uma beleza surpreendente, coisa que obviamente você não conseguiu herdar.

Conall não conseguiu conter a gargalhada e ao fazê-lo se lembrou dos olhos se repuxando em sua lembrança, enquanto sua mãe o olhava.

— Você poderia ter me contado de uma vez.

O Senhor Ônix negou:

— Há coisas que devemos descobrir por nós mesmos. Sem intermediários. E uma parte de mim é afeiçoada ao mistério e drama.— Theodor parou de jogar as pedras no ar, guardando uma delas na bolsa. A restante ele sem cerimônias jogou no chão.

Conall se sobressaltou, mas no mesmo instante algo se repuxou dentro dele.

Pedaços de ametista bruta se espalhavam pelo local.

— Como se sente? — Theo questionou.

— Estranho. Como se alguma coisa se revirasse dentro de mim. — O Escolhido encarou as mãos. — E a ponta dos meus dedos formigam.

— Ótimo. Tente pegar apenas um dos pedaços.

Conall se inclinou para frente pegando um dos menores.

No mesmo segundo, sua pele inteira se arrepiou. Um descarga passou por suas veias e ele quase deixou o pedaço ir ao chão novamente.

— E agora?

— É como se minha adrenalina estivesse no limite. — Conall disse sentindo sua mão tremer. Até sua voz vacilava.

Com um gesto rápido, Theodor fez com que a pedra saísse da mão do garoto e fosse parar na sua.

Arqueou uma sobrancelha em uma pergunta silenciosa.

— É como se você tivesse dado um soco no meu estômago, cara. Ou roubado grande parte do meu ar de uma vez. — Conall comentou com certa dificuldade.

— Perfeito. — O Governante disse entregando o pedaço de volta para o Escolhido. — Vou pedir para fazerem uma espécie de amuleto que se encaixe. Essa pedra vai ficar sempre com você, não importa onde. Se você se afastar dela, ficará num estado crítico entre febre e alucinações.

O garoto arregalou os olhos.

— É sério. Depois do primeiro contato, você está dependente disso. Quanto mais tempo ficarem juntos, pior será quando se separarem. Contudo, seus poderes ficarão canalizados nela, o que não vai te sobrecarregar tanto e dará margem para você desenvolvê-los de forma mais específica.

— Tipo... materialização? — Conall perguntou com um sorriso de canto, lembrando-se de Corinna.

Theo franziu a testa.

— Tipo isso.

Conall coçou o queixo.

— A outra pedra que você carregava era da sua Ordem.

O Simpatizante confirmou com a cabeça:

— Apesar de normalmente eu sempre estar certo… Nunca negligencio um plano C.

— Plano C? — Conall questionou entre risos.

— Sim, sim. Eu soube da garota por quem você está sofrendo calado. — Theo zombou. — O plano B era te levar para encher a cara caso isso aqui não funcionasse. E, se amanhã você ainda estivesse chorando pelos cantos, eu enfiaria de vez a Pedra da minha Ordem por sua garganta.

Conall riu genuinamente.

— Você dorme ou só fica elaborando planos?

— Acho que mesmo dormindo eu fico pensando demais.

Ambos caíram na risada.

— De qualquer forma, obrigado de verdade.

— Não tem de quê. Não que eu tenha passado por isso porque, olhe bem para mim... — Theodor vem uma cara de convencido, mas então respirou fundo voltando a olhar para as estrelas. — Mas posso imaginar como se sente.

— Essa respiração profunda não me convenceu que você nunca passou por isso. — Conall provocou.

O Escolhido pensou ter ouvido, Theodor murmurar algo como "mas as pessoas são muito ingratas mesmo" enquanto se levantava.

— Sabe, eu não sabia o que você tinha em mente me trazendo aqui até as lembranças começarem. — O rapaz girou a pedrinha nos dedos.

— Não? Como não? Os moradores daqui não paravam de te encarar?

— Eles não estavam me encarando...estavam? — Conall arregalou os olhos.

— Claro que sim, venho aqui muitas vezes e ninguém faz nada disso. Se eu soubesse que para descobrir era só jogar você no meio do seu povo, tinha feito antes.

Seu povo.

Conall absorveu as palavras. Elas tinham gosto de dever e peso de responsabilidade.

Era algo grandioso que ele nunca tinha sonhado.

Theodor voltou a falar enquanto se ajeitava para fazer a descida.

— Eu não queria alarmar nada sem ter pelo menos noventa e cinco por cento de certeza. Então lembrei de uma conversa que tivemos há algumas semanas. De como você disse que protegeu seu vilarejo de ursos e panteras. De como você disse que as domou.

Conall franziu a testa.

— Olhe onde pisa, Conall.

O Escolhido olhou para seus pés. Os vazados no chão não eram apenas irregulares formados com o tempo pela natureza. Eles formavam um desenho de um felino enorme.

Seu coração batia mais rápido enquanto o menino entendia o que aquilo significava.

Ouviu Theodor falar já entre as árvores:

— As panteras não se curvam a ninguém, Conall. Exceto a seus semelhantes ou relacionados a elas.

❖❖❖