Algumas pessoas costumam dizer que, quando as coisas estão calmas e boas demais, é um prelúdio de algo muito ruim que se aproxima.

Talvez alguém na sede da Nexus possa ter pensado isso em algum momento de pessimismo, mas não imaginava quão terrível era o perigo que estava por vir.

Benny e Millicent continuavam trabalhando na recuperação das memórias dela, embora o garoto sempre precisasse ser atendido pela médica, às vezes sangrando pelo nariz e ouvidos.

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O setor de inteligência e estava crescendo com a preciosa ajuda de William, enquanto Rachel esbanjava seus dons dentro do laboratório.

Alice, com a ajuda de Delilah e John, fazia um ótimo trabalho nas ruas, mas as últimas ocorrências não passavam de crimes que a própria polícia local poderia resolver.

Após um longo e tedioso dia, ela recebeu um chamado da agente Jones, pedindo que comparecesse, sem atrasos, em um certo local, onde John a levaria para uma missão, da qual a mulher não deu muitos detalhes.

Já pronta para sair de casa, ouviu risadas vindo da sala, e foi conferir, encontrando Rachel e William abraçados, caminhando em direção à saída.

— Aonde vocês estão indo? — perguntou, cruzando os braços, no topo da escada.

— Nos divertir, talvez. — Rachel deu de ombros, rindo baixinho. — Não precisa nos esperar.

— Não acha que já estão bêbados o suficiente? Por que vão sair e beber mais? Acabou todo o seu estoque, Rachel?

— Não acha que já somos bem grandinhos para cuidarmos da nossa própria vida, mãe? — William sorriu de canto, embora seus olhos não expressassem nem um pouco de humor.

— Não sabe que ela precisa parar de beber? Em vez de ajudá-la, você a encoraja?! O que aconteceu com você, Will? Está virando uma péssima companhia para a Rachel! — aumentou o tom de voz, enquanto descia e parava em frente a eles.

— Eu sou uma péssima companhia. Olha para você, Alice! Olha para o que se tornou! Não é a mesma garotinha meiga e tímida que eu conheci, e isso é tudo minha culpa. Eu fui uma péssima influência para você! Eu não mudei. Você mudou!

— Por que está dizendo isso, Will? O que eu fiz? — Com lágrimas nos olhos, encarou o rapaz, confusa.

— Você nunca faz nada! Você sempre é a vítima! — gritou, assustando a garota.

— Carter, já chega! Vamos logo. — Rachel puxou ele pelo braço, mas ele não tirou os olhos de Alice.

— Eu te odeio, Harper! Eu te odeio!

~*~

— Eu amo ela, Grey! Eu amo demais! — Sentados em um canto mais afastado, em um bar, William chorou alto, debruçado sobre a mesa. — Por que a Lice faz isso comigo? Esses joguinhos de “quero e não quero mais” me matam!

— Calma, Will. — A mulher acariciou as costas dele, segurando a risada. — Você não deveria ter dito aquilo. Está bêbado, vai se arrepender logo, logo.

— Sabe o que é pior, Rachel? — Ele ergueu a cabeça, secando o rosto na manga da blusa. — É ver ela se agarrando com um e com outro toda vez que eu acho que vai dar certo. Primeiro foi o Joe, professor de literatura, depois a Clair, aluna da minha mãe, agora o agente 28! Logo aquele nanico metido a gerente de banco. — Desviou o olhar, tentando não chorar mais, sem sucesso. — Eu sei que a Lice é livre para ficar com quem ela quiser, que não deve satisfação para mim, mas, ainda assim, dói. É o jeito dela. Ela gosta de beijar todo mundo que tenta matar ela, vive me pedindo para conseguir o telefone da Corvo — riu fraco, balançando a cabeça —, mas eu apenas não consigo não ficar triste.

— Sabe do que você precisa? Amnésia pós vodca! — Rachel fez um sinal, chamando o garçom. — Vamos beber até esquecer nosso próprio nome! E amanhã, sua cabeça vai doer tanto que não vai ter espaço para a Alice.

— Desculpa, Rachel. Eu sou um péssimo amigo! Fico chorando pela Lice, falando o tempo todo sobre ela, enquanto eu deveria te arrastar para casa e não te deixar beber.

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— Parem de me tratar como uma alcoólatra! — Revirou os olhos e cruzou os braços, recostando-se na cadeira. — Eu sei me controlar!

— É o que você pensa! Saiba que hoje é a última vez que vou deixar você beber, então aproveita a minha benignidade — disse, atrapalhando-se com as sílabas — e enche a cara.

— Certo, certo. — Assentiu, enquanto a jovem garçonete deixava os copos e uma garrafa para eles. — Adoro esse lugar, só porque toca música boa.

— Aqui está! — A moça sorriu, após encher os copos, e entregou um guardanapo de papel para William, fitando-o. — Agora não precisa mais chorar.

— Obrigado! — Ele sorriu de canto, reparando na minissaia que ela usava.

Rachel revirou os olhos, antes de virar o copo, mas quase cuspiu o conteúdo, quando viu o amigo secando os olhos e assoando o nariz com o papel.

— Will, você deve ser virgem! Não é possível! — Ela gargalhou, vendo a garota, furiosa, do outro lado do balcão. — Ela anotou o telefone aí, idiota!

— Minha nossa! Eu não tinha reparado! — Segurou a risada, mas não por muito tempo.

Os dois chamaram a atenção de todos, rindo alto e trocando ofensas vez ou outra.

Conversaram sobre suas relações furadas e namoros que duraram poucas semanas. Ou nem isso.

— Por isso que eu estou muito bem sozinha, obrigada! — Ergueu o copo, tomando a bebida em um gole só. — Hmm! Adoro essa música! Aí, pirralha, aumenta o som!

— Minha favorita da Halestorm — ele comentou, enchendo os copos mais uma vez. — À nós!

— Ao amor! — Ergueu o copo, esperando ele brindar.

— Às vezes que ferramos com tudo!

Após os copos tilintarem ao se tocar e tomarem a dose de vodka de uma só vez, William começou a cantar, fazendo Rachel rir e esconder o rosto, envergonhada. Mas de tanto insistir, ela acabou acompanhando-o na cantoria, enquanto alguns batiam palmas no ritmo da música, e outros riam dos dois embriagados.

No final da música, Rachel já estava sentada sobre a mesa, usando a garrafa como microfone. Foram aplaudidos em meio à gargalhadas e gritos de outros bêbados.

— Às vezes penso que eu deveria ter ganho seus poderes. — Ela voltou para a cadeira, com um sorriso melancólico em seu rosto. — Eu sou fria como gelo e você é tão… vivo!

— Talvez seja porquê a gente se completa. — William sorriu de canto, segurando a mão de Rachel.

— Se não fosse você falando, diria que está tentando me conquistar, Carter.

O rapaz não disse nada. Apenas continuou sorrindo, enquanto mantinha o olhar preso ao de Rachel, que corou levemente. Ela puxou a mão sob a dele e lhe deu um olhar duro, enquanto se levantava e pegava sua bolsa.

— Vamos para a casa. Você já está pior do que eu!

Ele apenas riu baixinho, seguindo a mulher.

~*~

Em uma das vielas de Nova York, iluminada apenas por um poste na entrada, uma mulher de cabelos platinados, pouco acima dos ombros, limpou algumas gotículas de sangue de seu rosto, antes de fechar o zíper de seu macacão preto. Em sua frente, um homem de estatura mediana estava caído e sua garganta estava rasgada, jorrando sangue ao seu redor

— Mais um beco sem saída — disse ela, antes de dar as costas para o cadáver. — Literalmente.

— Parece que está tendo um dia difícil, Srta. Bernardini. — A agente Jones parou na entrada do beco e passou a mão pelos cabelos castanhos, presos em um rabo de cavalo, antes de ajeitar a jaqueta preta e colada, com o símbolo da Nexus no peito.

— Parece que você está enganada, Srta. Não Faço Ideia de Quem Seja. — A mulher devolveu, lhe encarando, enquanto caminhava na direção da agente. — Meu dia não podia ser melhor.

— Poderia ser melhor se a Violeta estivesse aqui, mas não me parece o caso. — Ergueu uma sobrancelha, cruzando os braço.

No mesmo instante, a mulher se aproximou de Jones, a segurando pela jaqueta e a batendo na parede, com força, enquanto a empurrava contra ela. Um osso saiu da palma da mão dela e o encostou no pescoço de Valerie, pressionando-o contra sua pele.

— O que você sabe sobre a minha irmã?! — bradou, aproximando o seu rosto.

— Que uma estudante de engenharia mecânica em Princeton desapareceu e foi dada como morta, embora o corpo não tenha sido encontrado. Na mesma região, mais duas pessoas, ambas com conhecimentos favoráveis para a Nêmesis, sumiram sem deixar rastros. Fora a coincidência de desaparecerem na mesma semana, ambos foram vistos no dia anterior com o mesmo homem. Jared Harper — disse lentamente o nome dele, empurrando a moça em seguida.

— Se você sabe disso tudo, por que veio atrás de mim e não dela? — Seguiu-a com o olhar, um tanto quanto desconfiada.

— Por que? Bem... Quais dos motivos eu começo? — Se afastou um pouco, caminhando com as mãos para trás. — Porque você já matou oito pessoas só aqui em Nova York, porque a Nexus italiana já estava de olho em você há muito tempo e porque ambos queremos pôr as mãos no Harper. Em outras palavras, quero sua ajuda.

— Não receberá a minha ajuda até garantir que a minha irmã estará a salvo — devolveu, cruzando os braços. — Não estou nem um pouco interessada nesse jogo entre agências, só quero o que foi tirado de mim.

— Eu só posso garantir que, se ela ainda estiver viva, ninguém vai tocar em um único fio de cabelo dela. Mas se ela estiver controlada pelo Jared, você terá que pará-la.

— Facilmente — disse firme. — Mas se eu perceber que estou sendo enganada de algum jeito, eu mato você e quem estiver perto.

— Não está, Bernardini. Tem a minha palavra. — Estendeu a mão para a mulher. — Valerie Jones. É um prazer conhecê-la, Tíbia.

— Parece que alguém fez o dever de casa, não é, subdiretora da Nexus. — A mulher apertou a mão da agente. — Bianca Bernadini.

— Cuidado nunca é demais, não é mesmo? Aprendi com a melhor. — Jones sorriu de canto, levando a mão até o comunicador em sua orelha. — Harper, Campbell, já podem guardar o equipamento. Terminamos por aqui.

Ao ouvir a mulher, Bianca olhou para um prédio, soltando um assobio longo.

— Você não é a única que toma cuidado. — Sorriu de canto.

— Se a Corvo estivesse aqui, isso acabaria em um rio de sangue. E acho que já tivemos muitas mortes por hoje. — Apontou para o cadáver, sem olhar para ele.

— Tecnicamente eu só cortei a garganta dele, a gravidade que trouxe tudo pra fora. — Deu de ombros, cruzando os braços. — Então, vamos embora em alguma supernave ou algo do tipo?

— Supernave? Puff! — Alice desativou a invisibilidade atrás de Bianca, rindo fraco. — Vamos no Mini Móvel. Melhor do que qualquer máquina já inventada.

— Só uma dica. Não cheguem de surpresa como a pouca sombra acabou de fazer — Bianca comentou, olhando as duas. — Isso vai evitar que um buraco apareça em sua pele.

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— Ui que medo. — Alice ergueu as mãos, rindo fraco. — O John já está esperando. Ah! Pocket Girl. Mas pode chamar de Lice. Seja bem vinda à equipe. — Estendeu a mão, demorando um pouco mais o olhar no decote da mulher.

— Tíbia ou Bianca, tanto faz. — Sorriu de canto ao notar o olhar da garota, enquanto apertava a sua mão. — Não que uma identidade secreta faça diferença.

— Quando se tem muitas vidas para conciliar com essa — Apontou para elas, sorrindo de canto. —, um codinome faz toda a diferença.

Alice levou os três até a sede da Nexus e depois voltou para casa, onde tomou um banho quente e demorado. Já na cama, várias e várias coisas invadiram sua mente cansada.

Ver a agente Jones em ação, fez a garota lembrar de Jordan. Ela sempre fazia aquilo, mantendo a calma e a pose autoritária sempre que precisava recrutar alguém. Sabia que a tutora estaria orgulhosa de Valerie. Ela também estava.

Pensou em todo o sofrimento que seu pai estava causando, mesmo longe dali. Temia que nunca mais pudesse encontrá-lo e puni-lo por seus incontáveis crimes.

Benny e a difícil missão de guardar o segredo de sua ligação com ela se tornava cada vez mais torturante, toda vez que entrava na sala de aula.

Por fim, ao olhar no relógio, preocupou-se com Rachel e William. Eles estavam demorando mais do que havia imaginado. Por um momento, pensou que eles pudessem ter ido para outro lugar passar a noite. Juntos, talvez.

O pensamento fez com que ela se encolhesse na cama, sentindo os olhos arderem. Odiava aquilo que estava sentindo, embora não soubesse — ou não quisesse admitir — o que era.

~*~

God save our gracious Queen. Long live our noble Queen. God save the Queen. Send her victoriou, happy and glorious long to reign over us. God save the Queen! — William cantou aos berros, abraçando Rachel de lado, enquanto a outra mão pousava em seu próprio peito.

— Cala a boca, inglês patriota estúpido! — ralhou a mulher, rindo baixinho. — Vamos cantar o hino dos Estados Unidos da América!

— Eu me recuso, americana patriota estúpida! — disse, com desdém em seu tom de voz.

— Ora, ora! Veja se não são Debi e Lóide pelas ruas de Nova York! — a voz masculina ecoou atrás deles, vinda de um beco sem iluminação.

— Dean. — Rachel se virou, cruzando os braços. — Você é muito louco ou muito suicida para aparecer na minha frente.

Os dois se encararam por um longo tempo, sem trocar uma única palavra. O cientista não pôde deixar de reparar no nível de embriaguez em que eles estavam, mesmo que ela não aparentasse ter bebido uma única dose, enquanto Will esforçava-se para não cambalear, devido a tontura.

O rapaz usava seu jaleco branco, do qual adorava exibir por onde ia, e carregava uma maleta prateada, com travas numéricas. Ele ajeitou os óculos que escorregaram pelo seu nariz, mantendo um sorriso debochado no rosto.

Ele deu alguns passos, fazendo William recuar outros, embora Rachel permanecesse firme.

— Qual é, Viúva Negra? Vai matar mais um de seus companheiros? — Ele acariciou a bochecha dela com o indicador, fitando seus olhos.

Ela não respondeu. Apenas deixou a marca de sua mão no rosto do rapaz, fazendo o som do tapa ecoar pela rua.

— Vai acabar sozinha se continuar assim, Rachel. Não deve tratar um velho amigo dessa forma. — Dean massageou o local avermelhado, rindo fraco. — Sua resistência me admira, mesmo sabendo que vai morrer agora. Sabe o que acontece com traidores, não sabe?

— Eu não vou morrer! — Ela sorriu de canto, dando-lhe as costas, enquanto caminhava até William, entregando sua bolsa para ele. — Você não faz ideia de quem eu sou. Do que me tornei. Você não sabe nada sobre mim!

— Sei o suficiente para ter certeza de que em uma luta, você não teria chances! Por favor! Em algumas semanas você não ficaria tão badass assim! Não passa de uma bêbada mal amada! Um distintivo da Nexus não faz de você alguém melhor do que já foi. Uma vadia suja que traiu a própria amiga!

— Cala a boca! — bradou, enquanto os postes de luz começaram a piscar.

— Do que ele está falando? — William questionou, cruzando os braços.

— Ela não te contou? — Dean sorriu, erguendo as sobrancelhas. — Claro que não contou. Ela quer fazer o mesmo com você! Sabe a Alice? Ela tem uma péssima amiga. Porque quando ela se apaixona, essa vagabunda faz questão de dormir com o cara!

— Rachel? — Will a encarou, esperando uma explicação.

— Eu não fazia ideia de que ela gostava de você! Mas você sabia disso quando ficamos juntos, Simmons! Você é o crápula da história, não eu! E sabe qual o seu problema? Você nunca aceitou o chute que eu dei no seu rabo, seu desgraçado! Tanto que correu para os braços da Rose, tentando fazer ciúmes, e eu dei graças por ter saído do meu pé!

— Você pegou esse cara?! Sério, o que você e a Lice tem na cabeça? Ele é um nojo!

— Falou o bêbado que trabalha de zelador em uma escola pública e nem terminou o ensino médio! — Dean revirou os olhos, dando de ombros.

— Eu vou fazer você engolir cada palavra, Simmons. Ninguém ofende o Will além de mim!

— Por que o defende? Vai dormir com ele também?

— Que nojo! — Rachel exclamou, balançando a cabeça. — Will é bem mais que um amigo! Nós somos ligados de uma forma que você nem imagina, mas vai descobrir agora. Nós somos gêmeos! Renascemos juntos!

— Rachel, para! Você não pode lutar! Você está bêbada! — argumentou o rapaz, vendo-a caminhar em direção ao cientista.

— Esse é meu segredo, Will. — Ela se virou para ele, sorrindo de canto, enquanto uma corrente elétrica acinzentada percorreu seu corpo. — Eu sempre estou bêbada!

Dean paralisou no mesmo instante. O elemento surpresa de Rachel era algo que ele nunca havia imaginado. Sabia que precisava fugir, mas não teve tempo de traçar uma rota de fuga. A mulher surgiu atrás dele em um piscar de olhos, deixando-do apavorado. Virou-se para ela, mas já não estava naquele lugar, mas ao seu lado, de braços cruzados. Rachel brincou com ele por algum tempo, dando-lhe alguns choques no abdômen. O cientista implorou para que ela parasse, e foi o que a GreyThunder fez. Parou em sua frente, acertando-lhe um soco forte o suficiente para fazê-lo tropeçar no meio fio e cair no chão.

— Rachel, não! Não faça isso! Não me mate, por favor! — implorou, arrastando-se no chão para se afastar dela.

— Por que não faria? — Com uma calma invejável, sorriu, concentrando-se em seus poderes.

No céu, relâmpagos iluminaram a noite entre nuvens escuras que surgiram de repente. O vento gelado do final do outono soprou mais forte, fazendo papéis voarem para longe, enquanto a eletricidade acinzentada chiava ao redor das mãos de Rachel.

— Últimas palavras? — Ergueu o braço, fazendo com que um trovão ensurdecedor disparasse alguns alarmes de carro, estacionados longe dali.

Dean não deu resposta, apenas abraçou a maleta, atento a cada movimento de sua inimiga

— Morra!

Tudo a seguir se passou em um instante, embora parecesse que estavam presos em uma cena em câmera lenta.

Vendo o que Rachel estava prestes à fazer, William estendeu os braços e criou uma barreira de gelo acima do cientista.

Das nuvens, um raio riscou o céu na direção de Dean, chocando-se com gelo. Mas Will não estava em condições para segurar um impacto daquela intensidade.

Ele perdeu o controle, e o gelo transformou-se em água, encharcando o rapaz no mesmo instante em que o raio atingiu seu peito, atravessando a maleta sobre ele.

Não havia mais o que fazer. Dean havia morrido.

— Você é louco?! — Ela empurrou o peito de Will, fazendo-o bater as costas na parede de um prédio. — Por que tentou salvá-lo?!

— Porque eu sou um herói, não um assassino! — Afastou-se de Rachel, empurrando o ombro dela.

Ele se ajoelhou ao lado do corpo de Dean e, ao tocá-lo, sentiu um choque fraco, fazendo-o afastar a mão.

— Precisamos descobrir o que havia na maleta.

— Nitrogênio modificado — comentou, observando um pedaço do vidro que continha rótulo. — Isso não é bom. Dean nunca andava sozinho, sem um capanga para sua proteção. E o pior. Isso aqui — Mostrou o vidro, encarando William — é especialidade da doutora Klinger. Ela que inventou.

— Acha que ela está traindo a Nexus? Que ela está só fingindo para se infiltrar?

— Eu não sei. Mas vamos descobrir. — Rachel levantou-se, estendendo a mão para William, que aceitou a ajuda, embora se sentisse mal pelo ocorrido. — Vamos reportar. Logo alguém aparece para limpar a bagunça, seja da Nexus ou não.

Os dois se afastaram em silêncio, pensando na mesma coisa, sob perspectivas diferentes.

O nitrogênio líquido modificado começou a se espalhar pelo corpo do Simmons, congelando-o de dentro para fora e também toda a água no chão ao redor.

Rachel ainda olhou para trás e estendeu a mão em direção ao cadáver, lançando mais uma corrente elétrica. Seu ódio por ele era grande o suficiente para matá-lo mais de uma vez.

~*~

Meredith fitava o retrato de Alice, embora desconhecesse aquele rosto. Por mais que suas memórias implantadas dos vinte anos em que esteve morta, contassem tudo o que precisava saber, sentia-se estranha. Incompleta.

Ao ouvir a porta de seu quarto se abrindo, virou-se e sorriu para Rose e Violeta.

— Fico feliz por terem vindo. Sentem-se, por favor. — Indicou a própria cama, tomando seu lugar em uma cadeira em frente as duas.

— Pois não, Srta. Harper. — Violeta cumprimentou, sentando-se, como a mulher solicitou. — Em que podemos ajudar?

— Nada importante. — Deu de ombros. — Só queria conhecê-las melhor, já que têm a mesma idade da minha filha, aproximadamente. Me diga, Violeta, gosta daqui?

— Sim. — Ela assentiu, embora não emitisse tristeza ou felicidade no tom de sua voz. — A universidade é boa, os garotos são bonitos, as missões do Sr. Harper são ótimas. Sim, eu gosto daqui.

— Jared me falou um pouco sobre você. É uma moça dedicada e muito bonita. Sei que a vida de agente é solitária, mas logo a Alice estará aqui e seremos uma família novamente. Espero que me aceitem também, assim como quero aceitá-las como minhas próprias filhas. — Sorriu, segurando a mão de cada uma.

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— Seria uma honra fazer parte da sua família, Srta. Harper. — A garota esboçou um sorriso, fitando a mulher. — Mas antes, eu preciso achar a Alice.

— Então traga-a para mim! Para nós!

— Como desejar, Srta. Harper. — Ela assentiu, se levantando. — Rose, prepare a equipe. — E ao dizer isso, a garota se desfez em diversos pedaços de papéis, que voaram para fora do quarto.

Rose levantou-se, pronta para formar a equipe, mas Meredith a segurou pela mão, sorrindo gentilmente.

— Você me lembra sua mãe. Ainda não acredito que ela não está mais entre nós.

— Foi um crime terrível, Sra. Harper. Acho que eu nunca vou conseguir me conformar. — Ela assentiu, abaixando a cabeça. — Minha mãe falava muito de você. Sem dúvida, a amava como uma irmã.

— Sim. Éramos como irmãs. — Sorriu, limpando algumas lágrimas que escaparam de seus olhos. — Diga-me, já sabe quem é o responsável pela morte da Jordan?

— Sim, senhora. Eu sei quem a matou. — Fitou a mulher menor do que ela, respirando fundo. — A agente Valerie Jones, da Nexus.

— Ela será meu primeiro alvo! Testarei minhas novas habilidades com essa mulher!

Rose abraçou Meredith, visivelmente abalada. Sorriu de canto, aproveitando que ela não conseguia ver seu rosto, enquanto se deliciava vendo o ódio crescente na pequena mulher.

Se afastou, caminhando em direção a porta, mas virou-se para dar uma última olhada nela.

— Não se preocupe com isso. Eu mesma matarei a agente Jones!