Guardiã do Rei

Um Lugar à Mesa, Já!


Angel of mercy

How did you find me? How did you pick me up again?

Angel of mercy

How did you move me? Why am I on my feet again?

~ Mercy

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Haviam se passado vários dias após o ataque contra Percy. Duas, quase três semanas. Ele melhorara bastante, e já havia se acostumado com seu irritante Conselho. Rachel também sarara de seu surto. Luke continuava à sua maneira: frio e, aparentemente, de consciência limpa. Já Annabeth pareceu um pouco mais abalada. Entretanto, parecia ter outra coisa que ocupasse mais a sua mente, pois sorria constantemente. Talvez uma forma de tentar esquecer-se de Natalie.

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Paul, o pai de Percy, não tinha nenhum avanço em sua doença desde então. A virose que o deixara de cama gravemente não alterara; não piorou tampouco melhorou. Continuava a deixar o bom homem deitado o dia inteiro, em repouso, tendo como companhia apenas a mãe de Percy, Sally.

Em todos esses dias que se passaram, Percy tinha que dividir sua atenção entre aprender a governar um reino, preocupar-se com seus pais e pelo terror de saber que teria de escolher uma próxima noiva. Nancy não aparecera mais nos arredores do castelo, o que era um ótimo sinal, mas ter encerrado seu noivado com a moça não o salvara do casamento futuro. E a escolha da noiva era algo especial: tinha de ser bela, inteligente e de boa nascença. Seria a próxima rainha, e a mulher com quem Percy viveria até o fim de seus dias.

O Conselho queria que fosse apresentada uma princesa, e inclusive Luke se oferecera para reunir todas as mais belas e encantadoras nobres virgens para que Percy as escolhesse a dedo. Toda a pressão de seu novo noivado, as difíceis e complexas decisões reais e a constante insegurança da saúde do senhor seu pai o enlouqueciam aos poucos. Percy tornava-se irritadiço e cansado a maior parte do tempo, e ainda tinha que lidar com sua desconfiança para com o sacerdote Fritz. O velho parecia estar a todo instante estudando a melhor maneira de envenenar o jovem.

Mas, se havia algo naquele castelo de horrores que ainda fazia Percy sorrir, era Annabeth.

A moça estava sempre ao lado de Rachel, ora lendo com ela debaixo de uma árvore, ora tomando sol aos bosques que circundavam o castelo. Parecia sempre tímida, fechada e atenta, junção de coisas que a tornavam curiosa e instigante. Momento ou outro Percy pegava-se distraído pensando em como se aproximar de alguém que só lhe dizia “bom dia, senhor”.

– Luke, o que pensa de Annabeth?

Ambos os rapazes estavam sozinhos na mesa do Conselho, onde o filho do intendente organizava os detalhes para a coroação de Percy.

Luke ergueu os olhos, confuso, e então pareceu lembrar-se da menina. Continuou atento aos seus papéis.

– Ah, claro. Annabeth. Penso que é uma moça muito bonita, e que você é um idiota.

A intimidade entre os amigos permitia tais atitudes. Percy riu. Luke era preso demais às seus afazeres, que às vezes esquecia-se de viver. Mas talvez pudesse ser um rei melhor que Percy, o jovem príncipe pensou.

– E posso saber por que chega a tal conclusão? – indagou Percy, erguendo ambas as sobrancelhas.

Luke continuava sem desgrudar os olhos de sua atividade, enquanto mergulhava a pena em um tinteiro.

– Idiota sim, pois mal a conhece. Até dias atrás, ela era uma prisioneira.

As mesmas palavras da mãe. O problema do preconceito social. Percy suspirou.

– Mas hoje trabalha dignamente. E, convenhamos, é uma moça interessante.

Luke pousou a pena sobre a mesa e olhou sério para Percy.

– Qual o seu problema com essa garota? – ele pediu. – Desde que ela deu-lhe uma mísera opinião você a tem enchido de elogios. Levou-o a tomar uma decisão que quase custou sua cabeça. Como disse antes, você não faz nem ideia de quem ela pode ser. Tinha uma amiga semideusa, veio de Lortland, o povo rebelde, e não gosta da lei tanto quanto você. O que espera que eu diga?

Percy não respondeu. Luke rolou os olhos, entendo de imediato.

– Ah, deuses. Não e não, não vão aceitá-la.

– Mas ela é... perfeita – argumentou Percy.

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– Sinto informar-lhe, mas ela é de baixo nascimento – relembrou irritantemente Luke. – Não serve. E não se preocupe senhor, encontraremos uma noiva ideal para o rei.

Percy, que segurava uma folha na mão direita, passou a amassá-la controlando a raiva. Luke sempre fora assim: antes a lei e a imagem do que qualquer outra coisa.

Finalmente, tomado pela impulsividade, o garoto pôs-se em pé.

– Está certo – Percy falou, e Luke lhe olhou desconfiado. – Não a conheço. Isso não significa que não posso vir a conhecê-la. – o rapaz loiro abria a boca para dizer qualquer coisa, mas Percy o interrompeu. – E sim, sou o rei, praticamente. E eu escolho o que faço.

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Annabeth poderia estar muito feliz. Poderia estar exultante. Poderia congratular a si mesma e dizer que fez um ótimo trabalho.

Não. Ela não poderia.

Depois de sua infeliz participação na primeira decisão real do príncipe Perseus, ninguém mais a deixava em paz. Por um lado, era gratificante saber que não era invisível aos olhos do próximo rei. Sua missão a impelia de jamais perdê-lo de vista, mas enquanto vivesse no castelo era obrigada a manter as aparências e fazer de tudo para chamar a atenção e a curiosidade apenas do menino. Ganhando sua confiança, ela o levaria dali sem problemas.

Apenas do menino.

Luke Castellan, o filho do intendente e ministro de defesa Dern, também pareceu encantar-se por ela. Annabeth o achava estranho. Estranho demais. E a tentativa dele de aproximar-se dela não foi das melhores. Na verdade, Annabeth nem queria lembrar-se daquela cena estúpida.

Ainda tinha o próprio ministro, que a olhava com desprezo e sorria falsamente todas as vezes que se cruzavam, e o velho e rabugento Fritz. Odiava-a desde o primeiro dia que a vira, e Annabeth nunca tinha certeza se ele sabia de sua metade divina ou se apenas a odiava, como parecia fazer a todo mundo.

Sally, a própria rainha a inquirira. A sorte de Annabeth era que a mulher a ajudaria. Talvez a única que fizesse isso por ela no castelo. Surpreendeu-se com a inteligência e gentilezas dela; logo, não era difícil que um deus se encantasse por sua delicadeza.

Annabeth sabia que andava na linha de fogo. Rachel passava o dia inteiro caminhando por todos os cantos do castelo e conversando com quem quer que encontrasse. Quando viam a dama de companhia ao lado da ruiva, analisavam-na dos pés à cabeça com um olhar crítico. Annabeth perguntava-se até onde seu nome havia chegado.

Ela planejava alterar seu sistema de abordagem com Perseus, mas não encontrava um momento. Ele andava constantemente ocupado e mal a via. Era preocupante, considerando que Annabeth já estava distante do Acampamento há quase quatro meses. Era o momento preciso para que alguma escolha necessária e definitiva fosse tomada. Mas não esperava que isso partisse do próprio príncipe.

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Percy, durante o intervalo de suas tarefas no reino, decidiu visitar o bosque. Sabia que encontraria as duas jovens lá.

Ele se aproximou e as observou detrás de um pinheiro. Ambas andavam a trote em seus cavalos.

– ...e soube que a coroação será em duas semanas.

Nem me fale sobre isso – reclamou Rachel, como sempre fazia. – Por mais que ame Percy, esses eventos da realeza são uma tortura. E ainda tenho que pensar no que vestirei.

Annabeth riu de cima do animal.

Bem, minha última experiência com um momento tão nobre não foi necessariamente agradável.

Rachel a olhou de forma cômica, e então não segurou as risadas.

Ah, céus, aquilo foi um desastre. Um completo desastre. Nancy é uma tola, sempre disse. Serve apenas para atrapalhar... – então falou algo que Percy não compreendeu, pois já estavam um pouco distantes. O menino chegou mais perto - ...não é tão ruim assim. Eu até gosto, apenas acho tedioso. E me passar por “senhora nobre” – ela fez uma pose forçada e empinou o nariz, fazendo Annabeth rir – não é muito meu estilo.

Será um belo momento – assegurou Annabeth. – Sempre ouvi falar muito bem das cerimônias de coroação.

Rachel deu de ombros.

Não sei. Também nunca vi nenhuma. Paul já era rei quando nasci. Mas vou acreditar em você. Talvez realmente seja interessante. E é meu primo tornando-se rei! Ele tem um dom para transformar esses eventos reais.

Ambas riram.

Uma vez – Rachel começou, contendo as risadas – nós éramos pequenos, e o rei havia dado um jantar em honra ao dia do nome de Sally. No meio da comemoração, vários cavalos entraram no Salão, com todos os soldados tentando contê-los! Culpa de quem? – Rachel pediu.

Annabeth hesitou.

Do príncipe?

Exato! – Rachel ergueu as mãos para avivar a história. – Não sei como, mas sempre teve algo especial com aqueles cavalos. Durante a festa soltou todos, danado como era, e quase enlouqueceu toda a nobreza. Sally apenas riu e apertou as bochechas do Percy de quatro anos. Nunca vou me esquecer – Rachel riu mais uma vez.

Percy corou. Lembrava-se muito bem do episódio dos cavalos.

Annabeth tinha os olhos pequenos e lacrimejantes das gargalhadas. Rachel conseguia fazer qualquer um rir, independente da situação.

Então, podemos aguardar uma grande festa! – brincou Annabeth.

Ah sim, com certeza – disse Rachel. – Pelo menos, em termos de acontecimentos inesperados. Poderia ser o suficiente.

Como assim? – perguntou Annabeth.

Percy apurou os ouvidos. Conhecia muito bem o assunto; vinha tratando dele incansavelmente nos últimos dias, junto de seu Conselho.

Rachel falou mais baixo ainda.

Fiquei sabendo que o reino está com algumas dívidas. O tratamento do rei Paul está custando caro. Muito caro. Suas plantas medicinais vêm do Leste – ela contou. – Sinto que o Conselho terá problemas em organizar uma coroação. Isso envolve muita gente, e muita comida. Ainda assim, é servida para poucas famílias nobres.

Annabeth franziu o cenho.

É tão desnecessário – ela argumentou, e Percy preocupou-se. Estava ansioso por sua coroação, mas não queria parecer um idiota gastão em sua festa.

Rachel estreitou os olhos.

Você teve alguma ideia, não foi?

Percy sorriu.

Talvez – Annabeth encolheu os ombros.

Fale! – exclamou Rachel. – Quem sabe mantenha sua fama de gênio – ele brincou.

Annabeth parecia temerosa.

Nada não. Só acho estupidez exagerar tanto para pouca gente. Se eu fosse o príncipe, preferiria organizar a coroação na praça pública, e não na real. Ou então naquele monte que temos nos limites da cidade. Lá é muito belo, tem uma bela visão do mar. Assim, envolveríamos a população, o que deixaria Perseus com uma boa recepção dos plebeus, que não se importariam de servir voluntariamente no evento, caso pudessem participar e comer juntamente.

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Rachel ponderou por um tempo.

É realmente inteligente. Percy precisa mesmo da confiança das pessoas do reino. E, caso as bundas nobres não queiram dividir espaço com os plebeus, nós apenas separamos outra mesa para eles.

Annabeth sorriu.

Então?

Impressionante – sorriu Rachel. – Verdadeiramente inteligente.

“Brilhante”, concluiu Percy. E sentiu que tinha de mostrar essa ideia o mais rápido possível para seu Conselho.

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Todos na grande mesa redonda de madeira aguardavam impacientemente, até que a porta da sala foi aberta. Para a alegria de Percy, Annabeth Chase foi anunciada.

Ela entrou desconfiada. Fez uma reverência educada e sorriu, mas ainda encarava a todos claramente confusa com a convocação.

– Chamou por mim, senhor? – ela franziu o cenho para Percy.

O príncipe sorriu e se colocou em pé. Aproximou-se da menina, e com a satisfação de ver o choque estampado no rosto de todos os presentes, anunciou:

– Cavalheiros, deem as boas-vindas à Annabeth Chase, a nova integrante do Conselho Real.