Ghosts

Chapter 2 - Bloodstained Hands


Chapter 2 – Bloodstained Hands

Eu conheci diversos fantasmas e espíritos durante esse trajeto infeliz que eu apelidei de vida. Alguns eram simpáticos, amigáveis e gentis. Outros, violentos, grossos e tinham ódio para dar e vender. Alguns eram bons, outros eram maus. Mas eu nunca achei que um dia iria encontrar um fantasma que fosse tão insuportável quanto James Potter.

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Fiquei o encarando, um pouco assombrada. Eu vi tanta raiva, tanta fúria no olhar frio e sem vida dele que fiquei realmente assustada. Pessoas que morrem de forma violenta costumam se tornarem espíritos violentos. A raiva dele era tanta que cheguei a conclusão de que definitivamente ele não havia falecido de forma indolor, em um campo de flores.

Eu não tenho a certeza de como consegui recuperar a coragem para responder à ele:

— Eu… Hum… Vim morar nesse apartamento.

— E quem te deu permissão para morar nesse apartamento? – ele perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. – Esse lugar é meu.

Indignada foi a palavra certa para descrever como eu fiquei naquele momento. Quem aquele morto achava que era para dizer que o lugar era dele? Quem era ele na fila do pão (ou do céu, ou do inferno. Eu não sei se espíritos e fantasmas entram em filas para comprar pão)?

— Escute aqui, eu comprei esse apartamento com o meu dinheiro. – rosnei, cruzando os braços. – Eu não trabalhei em uma lanchonete asquerosa durante um ano para conseguir comprar um apartamento para que, no final de tudo, um fantasma idiota, egocêntrico e arrogante me expulse dele. Agora, porco espinho, o apartamento é meu. Lide com isso.

James Potter (era esse o nome dele, certo?) suspirou, aparentemente cansado.

— Eu não acreditei muito na profecia do velho Dumbledore, mas já que você está aqui, isso quer dizer que eu ainda tenho uma chance. – ele resmungou. – Uma falha e estúpida chance, mas não deixa de ser uma. Então, ginger, quando você vai começar?

— Começar o quê? – perguntei, arqueando uma das sobrancelhas.

— Começar a quebrar a maldição. – ele explicou, me olhando como se eu fosse uma criança com demência.

O encarei por um momento. Logo após isso, gargalhei. Aquilo só podia ser uma piada estúpida. Sim, isso, uma piada. Ele devia ser um fantasma idiota e brincalhão, que adora fazer brincadeiras (retardadas e sem graça) com os moradores desafortunados que acabaram por morar no apartamento 354. Mas a sua expressão de pura confusão me fez parar de rir.

— Do que você está rindo? – ele perguntou.

— Da piada. – expliquei, hesitante. – É uma piada… Certo?

Lentamente, ele negou. Suspirei. Não era a primeira vez que eu negava a uma fantasma a oferta suicida de quebrar uma maldição. Mas que a verdade seja dita: Aquilo não era fácil.

— Escute, eu posso ver fantasmas, espíritos e gente morta em geral. – eu disse seriamente. – Mas isso não me faz uma profissional no assunto. Eu não sei quebrar maldições. Veja Supernatural e procure alguém como os irmãos Winchester.

— Sinto muito, ruiva, mas você está presa a mim e a essa maldição, querendo ou não. – ele cantarolou, sorrindo de lado. – Está na profecia. Não tem como escapar.

— Presa a você? Profecia? – perguntei, incrédula. – Quer saber, eu não tenho nada com isso. Estou apenas procurando um trabalho para que eu consiga me sustentar e ter uma vida de qualidade.

Virei de costas para ele, caminhando até a sala. Acho que ele ficou irritado, já que começou a gritar insultos dirigidos a mim e a me seguir.

— Você precisa me ajudar! – ele gritou. – Já irão completar dez anos em que eu estou preso nessa porcaria de apartamento! Eu esperei esse tempo todo pela garota da profecia para que, quando ela chegasse, ela fosse uma ruiva teimosa e que se recusa a me escutar!

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— Não sou obrigada a nada. – resmunguei. – Vá para o céu, para o inferno, assombrar outro lugar ou algo assim.

— Eu não posso! Qual a parte de “eu estou preso aqui” você não entendeu?!

— Como se a culpa fosse minha! Mas afinal, o que você fez de tão mau para acabar preso em um apartamento por toda a eternidade?

— Isso não é da sua conta.

— Ótimo! Se não quer me ajudar, eu também não te ajudo!

Ele ia falar alguma coisa, mas eu fechei a porta do quarto e a tranquei.

— Se tentar atravessar a porta, eu juro que irei jogar sal grosso em você! – gritei para que ele conseguisse me escutar.

Percebi que ele hesitou, e sorri vitoriosa.

— Não pode evitar isso, Evans! – ele gritou. – Eu vou te perturbar até você concordar em escutar sobre a profecia e quebrar a maldição!

Revirei os olhos. Se James Potter queria me perturbar, ele teria que se esforçar muito. E além do mais, um fantasma não poderia fazer algo que me prejudicasse tanto assim… Certo?

***

Lembram de tudo o que eu disse, sobre que um fantasma não podia fazer nada de tão absurdo? Pois bem, esqueçam o que eu disse. Fantasmas conseguem sim fazerem coisas absurdas.

No primeiro dia, eu acordei com alguma coisa grudenta no meu rosto. Quando eu abri os olhos, o imbecil colocou mel em todo o meu quarto. E para piorar, havia uma colmeia de abelhas perto do prédio. Precisei ir ao hospital, por que eu fiquei praticamente roxa.

No segundo dia, eu ia sair para uma entrevista de emprego. Havia uma vaga para pediatra no St. Mungus, um hospital bem conhecido da cidade de Hogsmeade. Eu precisava acordar cedo para não pegar transito, e foi por esse motivo que coloquei o meu celular para tocar às sete horas da manhã. Ele mexeu no celular enquanto eu estava dormindo, e eu acabei por acordar às onze horas da manhã. Ah, sim, eu perdi o emprego também.

Por último, mas nem um pouco melhor do que os outros, no terceiro dia, enquanto eu estava fora de casa, procurando emprego, ele quebrou o meu celular. Não foi algo do estilo “rachar a tela”. Ele literalmente esmagou o celular, o deixando em pedaços.

Foi nesse momento que eu tomei uma decisão: eu não iria ficar mais naquele apartamento.

***

— Você levou essa história de passar o apartamento para outro à sério? – perguntou James, arqueando uma das sobrancelhas.

Eu estava terminando de arrumar o apartamento. Fiz questão de varrer e tirar toda a poeira que se encontrava no apartamento, e até mesmo a louça eu lavei.

— Sim. – resmunguei, arrumando as almofadas do sofá. – Você vai se tornar problema da próxima pobre e infeliz alma desavisada que vier morar aqui.

— Você não vai sair desse apartamento. – ele rosnou.

— Sério? – perguntei sarcasticamente, pegando uma escova e começando a escovar o meu cabelo. – Sinto muito, gasparzinho, mas nada vai me impedir de sair daqui.

Foi nesse momento que a campainha foi tocada. Corri para abrir a porta, mas antes, olhei para trás. James não estava mais ali. Sorri de lado e a abri.

Uma mulher baixa e de idade avançada me encarava por trás dos óculos pequeninos. Seus olhos eram negros, ao ponto de que eu não conseguia diferenciar a pupila da íris. Era atarracada e, por sua expressão, não poderia dizer que era simpática.

— Olá. – eu a cumprimentei com um sorriso. – Meu nome é Lily Evans.

— Não me importo qual é o seu nome. – ela resmungou. – Eu me importo com o apartamento. Posso entrar? Claro que sim.

E dizendo isso, ela me empurrou da frente, entrando no apartamento. Estava tão feliz com a ideia de que poderia finalmente me livrar do idiota chamado Potter que ignorei aquela demonstração de pura falta de educação. Fechei a porta e me virei. Ela examinava o apartamento.

— Então, vai querer comprar o apartamento ainda hoje? – perguntei, esperançosa.

Ela não respondeu. Caminhava pelo pequeno espaço, observando as fotografias que eu trouxe. Claro, me senti desconfortável, mas não tirei o sorriso do rosto. Ela se virou, me encarou e arqueou uma das sobrancelhas.

— E o chá? – ela perguntou.

Franzi a testa.

— Chá?

— É claro que você fez o chá, certo?

— Sim, claro, e fiz o chá. Me dê cinco minutos.

Corri para a cozinha e peguei um bule. O enchi de água e coloquei chá, logo após isso me apoiando na bancada da cozinha, com um sorriso vitorioso presente no meu rosto. Quando o chá ficou pronto, retornei com o bule e dois copos para a sala. A mulher se encontrava sentada no sofá, olhando o meu álbum de fotografias.

Respirei fundo, resistindo ao impulso de querer esganá-la. Sorri de forma forçada e disse:

— Aqui está o chá.

Eu servi no copo e ela o pegou, começando a bebe-lo. Arrastei e sentei em uma cadeira, olhando ansiosamente para a mulher, que bebericava o chá enquanto observava o apartamento pelo canto dos olhos.

— Belo apartamento, esse. – ela comentou, depois de momentos de silêncio. – É um ótimo local para se viver. Afinal, por que você quer vendê-lo?

— Eu recebi uma proposta de trabalho em outra cidade. – menti – Já comprei outro apartamento, mas antes, preciso vender esse.

— Hum. – ela resmungou.

Continuamos naquele mesmo silêncio constrangedor, até que uma coisa aconteceu, coisa essa que fez o meu sangue gelar. James repentinamente apareceu atrás da mulher, um sorriso maldoso presente em seu rosto. Ele carregava nas mãos um vaso com água que estava, a julgar pelo gelo no vaso, gelada.

— Não ouse fazer isso. – rosnei, entre dentes.

A mulher se virou para me encarar, arqueando uma das sobrancelhas.

— Disse alguma coisa? – ela perguntou.

— Não, não. – eu disse, sorrindo de forma amarela. – Espere, aquilo ali não é um pássaro raro da Califórnia?

Ela olhou para a janela e eu fuzilei James com o olhar.

— Vai vender o apartamento? – ele perguntou, continuando a sorrir daquela forma debochada.

— Claro que sim! – rosnei.

— Srta. Evans, nenhum pássaro raro da Califórnia passou por…

Antes que ela conseguisse terminar a frase, James jogou o vaso cheio de água gelada em cima dela. A mulher ficou encharcada e tremendo dos pés à cabeça. Levantei, indo pegar uma toalha, tremendo tanto quanto ela.

— Me desculpe, senhora! – exclamei, a cobrindo com a toalha. – Juro que eu não sabia que isso aconteceria! Deve ter sido as crianças do andar de baixo. A senhora sabe como são crianças, certo? Afinal, deve ter tido lindos filhos…

— Eu sou infértil. – ela rosnou.

— Perdão. Mas deve ter um esposo muito simpático…

— Eu sou viúva!

— Perdão novamente, senhora, desculpe-me. Mas me diga… Continua interessada em comprar o apartamento?

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Ela se levantou e jogou a toalha no chão.

— Eu nunca mais irei voltar aqui! – ela gritou, caminhando até a porta e a abrindo. – Passar bem, Srta. Evans, passar bem!

E dizendo isso, ela saiu do apartamento, fechando a porta com um tremendo estrondo. Fiquei em estado de choque por algum tempo, mas todo esse choque foi substituído por uma imensa raiva quando eu ouvi a gargalhada de James.

— Você viu a expressão dela? – ele exclamou, se contorcendo de tanto rir. – Foi hilário! Por que eu não pensei nisso para expulsar o idiota que veio morar aqui antes de você, ginger?

Estreitei os olhos, emburrada. Quando ele finalmente terminou de rir, perguntou:

— Desiste, então? Vai finalmente concordar em me ajudar a quebrar a maldição?

— Não! – eu gritei, me virando de costas e caminhando até o quarto.

Aquele fantasma expulsou muitas pessoas, mas agora estava na hora de ser o contrário. Estava na hora do proprietário expulsá-lo. Ah, sim, e eu já sabia muito bem como iria arrancar James Potter daquele apartamento.

***

Sub tuum praesídium confúgimus, Sancta Dei Génetrix

Nem tão longe do prédio, ficava uma igreja católica. Eu conhecia o padre desde criança. O padre Jim era uma pessoa simpática, e sempre me disse que, caso eu precisasse de sua ajuda, era apenas falar. E a hora era aquela.

James me encarou, arqueando uma das sobrancelhas.

— Isso é sério? – ele perguntou, incrédulo, enquanto ouvia o padre rezar em latim. – Você chamou um padre? O que você acha que eu sou? Um demônio? A garota do filme “O Exorcista”? Azazel de Supernatural?

— Foi a minha última opção! – exclamei, cruzando os braços. – Você está se tornando insuportável!

— Isso só pode ser uma piada! Ele nem consegue me ver!

— Mais para a esquerda! – eu avisei.

James fez uma careta, parecendo aborrecido.

— Sinto muito em lhe dizer, ginger, mas eu estou amaldiçoado. Não estou aqui por que eu quero.

E dizendo isso, ele derrubou uma estante de livros no chão, fazendo com que o padre Jim se assustasse.

— Me desculpe, Lily, mas esse é um caso perdido! – ele exclamou, correndo para fora do apartamento.

James arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo de forma vitoriosa. Cerrei os dentes, com raiva. Aquele fantasma não iria ganhar aquela guerra. Definitivamente não.

***

Naquela noite, eu tive mais um sonho. Não tão cruel quanto o que eu tive ao chegar no apartamento, mas tão estranho quanto.

Era de madrugada, talvez três horas da manhã. Estava na rua de Godric’s Hollow, mas estava de noite e uma multidão se encontrava reunida. O barulho das sirenes dos carros de policia e das ambulâncias conseguia ser mais alto do que o barulho das pessoas cochichando umas com as outras.

No lugar do prédio, estava uma enorme mansão, e era ao redor de uma ambulância que a multidão se concentrava. Me aproximei, e passei a prestar atenção no que as pessoas falavam:

— Pobre família…

— Espero que superem.

— Quem faria uma atrocidade dessas?

Por fim, cheguei até a ambulância e consegui entender o por que da multidão parecer estar de luto. Uma mãe, cujo usava roupas elegantes, chorava abraçada ao corpo de uma criança, que estava deitada na maca da ambulância. Consegui reconhecer a criança, sendo ela a do sonho anterior. O pai gritava com um policial, que tentava acalmá-lo.

— Fique calmo, senhor, por favor. –pediu o policial, que já não sabia como lidar com a situação.

— Calmo?! – gritou o homem. – O senhor pede para que eu fique calmo, considerando que meu filho foi assassinado por uma das mais perigosas gangues de todo o Reino Unido?!

Logo após isso, o cenário mudou. Me encontrava em uma mansão. Sabia que não era a dos Potter, pois essa parecia mais sombria. Escutei alguém entrando na mansão. Me virei para conseguir enxergar quem era, mas novamente, as sombras não permitiam. Mas a julgar pelo terno, era o dono da mansão.

Ele caminhou até o banheiro, e lavou as mãos. Algo completamente normal, exceto por um simples fato: suas mãos estavam sujas de sangue fresco e humano.

***

Acordei sendo sacudida por alguém. Abracei o travesseiro.

— Me deixe dormir mais algumas horas, mamãe. – resmunguei.

— Você não tem tempo para dormir mais algumas horas, Srta. Evans. – Uma voz masculina disse.

Bocejei e abri os olhos, me deparando com um homem idoso que me encarava. Seu cabelo era platinado e sua barba longuíssima, e seus olhos azuis me encaravam por trás de um óculos em formato de meia lua. Franzi a testa.

— Quem é você? – resmunguei mais uma vez, coçando o olho direito. – Por favor, me diga que não é outro fantasma que assombra o prédio.

— Não, não, Lily. – O homem disse, sorrindo levemente. – Meu nome é Albus Dumbledore, e nós precisamos conversar sobre uma profecia e uma maldição.