Fita Azul

Algo justamente como isso


Thalia cumpriu sua palavra: no sábado, ela, Nico e Jason apareceram na festa de Luke Castellan.

Havia cerca de duzentas pessoas no apartamento grande, a maioria delas com fantasias e máscaras no rosto. Ao ouvir o som alto, memórias do colegial pipocaram na cabeça de Thalia, momentos da época em que ela adorava desfilar por festas de adolescentes bêbados do ensino médio ou festas de fraternidades junto à Luke. A música, o álcool e as conversas entre gargalhadas havia sido uma parte marcante de sua vida e, agora, ela se via uma pessoa diferente ao reviver tudo aquilo.

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Não a incomodava o som alto ou as pessoas gritando e gargalhando perto deles, derramando cerveja e esbarrando uma nas outras para circularem pela sala. Na realidade, tudo isso até lhe despertava certa nostalgia, mas, ao olhar no rosto de Nico e do irmão, soube que eles não estavam nada habituado aquilo.

Ela não pode deixar de sorrir e se aproximar deles, puxando-os pela mão em direção ao que imaginava ser a cozinha, onde, pelo menos, o som era muito mais baixo.

No final, estava certa e, além do mais, havia menos pessoas ali, a maioria só se servia de bebidas e voltava para a sala, onde a festa realmente acontecia. Por instinto, Thalia pediu que os meninos esperassem perto da entrada e caminhou em direção ao balcão, onde não só estavam as bebidas, como também o anfitrião.

— Thalia. — Luke sorriu, a inconfundível cicatriz até os lábios visível mesmo sob a máscara branca que cobria até o nariz. — E não é que deu o ar da graça?!

— Não tive escolha, tive? — Thalia rebateu, abraçando-o para que lhe sussurrasse no ouvido. — E sim, eu trouxe companhia.

Seu sorriso era sapeca nos lábios carmesim ao se afastar. Seus olhos azuis brilhavam sob a máscara vermelha ao movê-los para a esquerda, indicando atrás de si.

Luke ergueu a sobrancelha loira e não foi nada discreto ao olhar por sobre o ombro de Thalia.

— É o diabo? — Luke, vestido de anjo, fez chacota e Thalia riu, analisando seu próprio vestido e a capa vermelha que a cobria, formando a fantasia de “diabinha”. — Já está no nível fantasias combinadas?!

Thalia revirou os olhos e olhou por cima do ombro por um segundo, analisando Nico encostado no batente da porta com os braços cruzados sobre a camisa preta. Havia uma gravata borboleta vermelha em seu pescoço, além da máscara no rosto e uma espécie de diadema com dois chifres. Os tons rubro e negro que não permitiam confusão: sim, Nico di Angelo estava vestido de diabos. Thalia suspirou culpada, mas rebateu:

— Foi o acaso.

Luke riu em escárnio, se aproximando de Thalia.

— Você anda mentindo demais, Thalia. — o rapaz rebateu. — Isso não seria um problema se, pelo menos, você mentisse bem.

— Quem está mentindo, querido? — Ela cruzou os braços sob os seios, olhando-o desafiadora. — Só porque compramos na mesma loja e na mesma hora, não quer dizer que foi combinado.

Luke apenas negou, franzindo a testa em seguida:

— Ele me parece familiar. — comentou com certa concentração.

— Talvez da festa? Ele estava na minha “recepção”. — Thalia sugeriu, fazendo aspas no ar.

— Não, não. — Luke continuou, levando a mão ao queixo e franzindo os olhos. — Naquele dia eu tive essa mesma impressão.

— Do colégio, talvez? — Thalia ofereceu, mesmo sabendo que Luke teria se formado antes de Nico entrar. — Ele e Jason são melhores amigos desde lá.

— Não sei… — Luke comentou, cismado, mas abriu um sorriso malicioso: — Melhor amigo do seu irmãozinho, é?

— Calado. — Thalia ordenou crispando os lábios. No entanto, nem deu tempo de Luke retrucar: uma garota loira se aproximou, também vestida de anjo e sorrindo.

— Oi! — Comprimentou e Thalia respondeu, reconhecendo-a da boate poucas semanas antes, na noite em que havia ido com os colegas da HTK. — Desculpa atrapalhar, mas não consigo achar nenhuma toalhas. Uma garota entrou na banheira e agora quer tirar a roupa pela casa.

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— Na parte de cima do meu guarda-roupa, segunda porta. — Luke sorriu para a garota, tirando uma chave do bolso.

Ela sorriu, pedindo licença e se afastando, deixando uma Thalia sorrindo travessa:

— Fantasias combinadas, é? — Ela remedou o amigo, fazendo-o sorrir cínico:

— Apenas uma coincidência.

(...)

— Luke, esse é meu irmão, Jason. — Thalia acenou para para o irmão que sorriu e apertou a mão de Luke. — E esse é Nico di Angelo.

— Di Angelo? — Luke questionou, também apertando a mão do italiano. — Acho que trocamos de fantasia, não?!

— O diabo não foi um anjo? — Foi a vez de Nico retrucar, também sorrindo com a brincadeira..

— Então você é o famoso Nico… — O Castellan continuou, com um sorriso debochado. — Thalia falou muito de você....

Thalia o respondeu com uma cotovelada no estômago sem cerimônia alguma, a qual Luke resmungou um “ai”.

— Calado. — Ela ordenou para o amigo, estreitando os olhos. Luke abriu a boca para retrucar, mas o som de estilhaços vindos da sala o impediu, lhe fazendo uma careta.

— Tenho que ver se não quebraram a minha casa toda. — Luke resmungou, tentando ver o que estava acontecendo no meio de um grupo de pessoas. — Fiquem à vontade, tem cerveja em todo lugar, mas sei que Thalia é mais para o lado da vodca.

A Grace apenas assentiu, sorrindo.

— Elas estão no armário, tem suco também. Ah, e tem tequila, sal e limão sobre o balcão, vocês não podem ir embora sem tomar um shot. Qualquer problema, só chamar ou meus irmãos.

— Tudo bem, nós nos viramos. — Thalia fez sinal com a mão e Luke saiu apressado, gritando que um tal abajur custava uma fortuna.

— Posso perguntar o que falou de mim? — Nico ergueu a sobrancelha e Thalia negou com a cabeça:

— Não respondo enquanto estiver sóbria. — Ela sorriu. — Então, o que vão querer pra beber?

— Suco. — Jason respondeu, esticando a mão para Nico entregar as chaves do carro. — Pode deixar que eu dirijo na volta.

— Certeza? — Thalia perguntou para o irmão, que assentiu:

— Não gosto de beber. — Jason respondeu, dando de ombros.

— E você? — Ela se virou para Nico com um olhar sugestivo. — Quão bêbado quer ficar?

(...)

Thalia tinha alta tolerância à bebida e a teoria de que havia adquirido no ventre da mãe: Beryl claramente havia tomado litros e mais litros de uísque enquanto estava grávida da filha.

No entanto, ela também se lembrava que Nico era o oposto: a festa de recepção dos Graces havia provado que ela não deveria dar mais do que alguns copos para o italiano e nem permitir que ele misturasse as bebidas, por mais que ela estivesse um tanto ansiosa para provar da tequila.

— Sei que você não é de festas. — Ela comentou, o corpo próximo ao de Nico quando Jason foi buscar mais suco na cozinha. Eles haviam achado um local não muito barulhento e nem muito movimentado, perto da varanda onde eles podiam conversar. — Mas não está tão ruim, não é?

Nico assentiu, rindo e se aproximou mais do corpo de Thalia, a abraçando pela cintura e colando os corpos.

— Não, não é. — O italiano concordou, falando perto do ouvido de Thalia para que não tivesse que gritar. — Eu até gosto de festas, eu trabalho em um lugar que todo dia parece uma: tem música alta, muitas pessoas dançando e até bêbadas.

— Não tinha parado pra pensar nisso. — Thalia riu, o abraçando pelo pescoço e aproximando o rosto dele.

— Fora que aqui tem você, então está bem divertido. — Nico finalizou, mordiscando o lábio inferior de Thalia, a provocando.

— Você já está bêbado. — Ela pontuou, aproveitando para mordiscar os lábios de Nico também, em dúvida se deveria beijá-lo quando o irmão não demoraria muito pra voltar.

— Vai se aproveitar disso? — Nico perguntou manhoso, os lábios percorrendo a bochecha de Thalia até a orelha, puxando-a pela cintura. — Aproveitar que não estou tão tímido?

Ele mordiscou a orelha de Thalia, causando um arrepio e cócegas, que a fizeram rir mais e se afastar.

— Talvez mais tarde. — Ela retrucou, soltando o pescoço dele. — Ainda está cedo, querido. Vou pegar um pouco de água pra você, ou não vamos conseguir aproveitar a festa.

Ela pressionou os lábios rapidamente antes de se afastar, encontrando Jason no meio do caminho que seguia em direção a cozinha.

Parecia até brincadeira do destino deixá-la interessada por um garoto que, com dois copos de vodca, já a provocava como se fosse outra pessoa.

Ela balançou a cabeça negando e abriu a porta da geladeira, procurando água gelada. Havia uma garrafa cheia em baixo, que ela teve que se inclinar para alcançar.

Antes que corrigisse a postura, sentiu um toque subindo por suas coxas e apertando suas nádegas, um arrepio percorrendo seu corpo. Ergueu-se de uma vez, irritada e encontrou um cara parado ao seu lado, um sorriso cafajeste sob uma máscara de coiote vermelha.

— Gostosinha você, hein? — Ele resmungou, fazendo a raiva inflamar no peito de Thalia. — Inclina mais um pouco, e eu posso… — ele continuou, usando de palavras chulas e gestos obscenos.

A Grace sentiu o rosto esquentar e uma vontade terrível de bater na cara dele, mas se contentou em fechar a mão em punhos.

— Vá se fuder. — Ela xingou, irritada, puxando a capa vermelha para cobrir seu corpo.

— Vamos, gostosa. — Ele continuou debochado, se aproximando de Thalia. — Você adora se fazer de difícil, hein?

Thalia franziu a testa, confusa sobre a forma como ele lhe falava: era como se ele conhecesse ela. Depois, percebeu o timbre de voz e o porte do corpo: Sim, ela conhecia aquele babaca. Era Bryce Lawrence, seu chefe que já havia assediado antes. Ela se lembrou da noite na boate, das palavras chulas dele e sentiu o estômago embrulhar.

— Não toque em mim. — Thalia ameaçou, a jarra de água sendo apertada em sua mão direita. Seu ódio era tanto que não hesitaria em quebrá-la na cabeça de Bryce. — Se eu fosse você, nunca mais olhava na minha cara.

— Diz isso agora, mas vai adorar quando eu olhar pra sua cara enquanto você estiver de joelho e eu… — Continuou na sua enxurrada de palavras chulas e insinuações que davam mais enjoou e raiva em Thalia, avançando e a deixando mais nervosa e envergonhada a cada palavra. A cada passo que Bryce dava para a frente, Thalia dava para trás, sabendo que logo bateria na parede. Como ninguém ao redor percebia que ela estava sendo assediada?!

Estava preste a gritar ou sair correndo, quando sentiu uma mão em suas costas. Ela quase pulou de susto, mas olhou para o lado e reconheceu Nico, respirando fundo de alívio.

— Algum problema, amor? — O italiano perguntou, a envolvendo com o braço e olhando ameaçador para Bryce, que não sorria mais.

— Nenhum, amigo. — O Lawrence entoou baixo, como alguém pego em flagrante. — Só estávamos conversando.

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— Amor? — Nico chamou, olhando para uma Thalia ainda um tanto atordoada com a situação, que decidiu apenas abraçar a cintura de Nico, procurando uma rota de fuga.

— Vamos sair daqui. — Ela pediu, lançando um último olhar irritado para Bryce que parecia constrangido.

— Desculpa aí, amigo. — Ele pediu para Nico, deixando Thalia ainda mais irritada.

O italiano não respondeu, apenas lançou um olhar para Bryce antes de guiar Thalia em direção a sala. Ela só percebeu que ainda segurava a jarra quando Nico a puxou de sua mão, colocando sobre a mesa.

— Você está bem? — O italiano perguntou, pondo-se de frente para Thalia que assentiu com a cabeça.

— Eu só odeio esse cara. — Ela resmungou, recostando-se na parede e cruzando os braços embaixo do seios. — Tenho vontade de socar a cara dele cada vez o vejo.

— Você conhece? — Nico continuou, tirando os fios de cabelos que caiam no rosto de Thalia.

— Meu chefe. — Ela suspirou. — Bryce Lawrence, o maior babaca do universo.

Nico fez uma careta pesarosa, deixando um beijo na testa de Thalia.

— Quer sair daqui? — Ele perguntou, fazendo-a negar.

— Não vou deixar ele estragar essa noite. — Ela forçou um sorriso, empurrando a capa para trás e o abraçando pela cintura, apoiando a cabeça no peito de Nico. — Ele não vai ser louco de mexer quando estou com você. Pelo jeito, você está responsável pela minha segurança em uma festa de novo.

— Vamos ter que ficar juntinhos então? — Nico perguntou, rindo e acariciando os cabelos de Thalia, que murmurou um “uhum”. — Acho que eu gosto disso.

Ele beijou o topo da cabeça de Thalia e ela se afastou um pouco, mantendo o braço na cintura de Nico.

— Tem mais uma coisa… — Thalia começou, pensando em contar sobre toda a situação na boate, mas foi interrompida por uma garota que se aproximava.

— Você está bem? —Ela perguntou um tanto preocupada e Thalia assentiu com a cabeça. — Eu estava na cozinha, ia te ajudar quando seu namorado chegou.

— Eu estou bem. — Thalia sorriu, sem corrigir que Nico não era seu namorado, não exatamente. — Obrigada.

— Nós mulheres temos que nos ajudar, não é?

A garota parecia legal, Thalia notou. Com longos cabelos cacheados e negros, além dos olhos castanhos, ela demonstrava uma certa áurea de presença marcante, o tipo de pessoa que chamava atenção onde ia e não só porque estava vestida de bruxa, com a máscara tampando todo o rosto..

— Só assim pra sobrevivermos.

— Se precisar de ajuda é só chamar. — A garota ofereceu. — Conheço aquele babaca e adoraria quebrar uma vassoura na cabeça dele.

Thalia não pode deixar de sorrir, vendo os olhos escuros da garota brilharem mostrando que não era um blefe.

— Faço questão de quebrar outra.
— Preciso ir antes que a cerveja da minha irmã esquente. — A garota se despediu, erguendo o copo na mão. — Acho que você está em boas mãos.

— Estou sim. — Thalia acenou. — E obrigada de novo.

A garota saiu, deixando Nico e Thalia sozinhos no canto da sacada, mas não por mais que cinco minutos, quando Jason que apareceu.

— Achei que tivessem sido abduzidos. — O Grace comentou. — Aconteceu algo?

— Nada demais. — Thalia sorriu, pegando na mão dos rapazes e os puxando em direção a sala, onde batidas eletrônicas pareciam terem aumentado. De forma alguma iria deixar Bryce arruinar aquela noite. — Vem, eu quero dançar e aproveitar a festa!

— Eu não estou bêbado o suficiente pra isso! — Nico protestou, enquanto Jason resmungava que não iria dançar “nem morto”.

— Então vamos dar um jeito nisso, querido!

(....)

Thalia bebeu dois copos de vodca enquanto Nico ainda estava na metade do primeiro, mas ela se sentia bem longe de alcançar o grau.

O italiano também não estava realmente bêbado, ele apenas estava um pouco menos tímido, fazendo piadinhas e gracinhas no ouvido de Thalia e havia aceitado dançar no meio de uma pista improvisada de dança que deveria ser a sala de jantar — sem a mesa, aliás. Contudo, Thalia suspeitava que, bêbado ou não, Nico acabaria fazendo sua vontade e dançando com ela.

Jason realmente havia se recusado a dançar e Thalia havia visto ele conversando com o irmão mais novo de Luke na sala enquanto puxava Nico para a pista. Haviam fechado o lugar pra ficar o mais escuro possível, com fumaça no chão e luzes que piscavam. A música também não era ruim, por mais que raramente visse Coldplay sendo tocada uma festa do tipo, Thalia se divertiu dançando abraçada a Nico ao som de Something Just Like This.

Isso a fez pensar na garota que havia pensando que Nico era namorado de Thalia. A fez pensar na forma como Bryce recuou quando ele apareceu, um tanto possessivo ao salvá-lo. A fez pensar nele a chamando de “Amor”.

De certa forma, era como se eles realmente namorassem.

Quer dizer, eles conversavam todos os dias, saiam todos os finais de semana — mesmo que sempre com os filhos e muitas vezes sequer conseguiam se beijar mais do que um selinho furtivo — e Thalia havia dormido na casa de Nico recentemente. Eles estavam criando realmente um vínculo, uma rotina, um relacionamento, por mais estranho e vago que fosse.

E, ainda de certa forma, era como se entendessem que não podiam ir muito rápido, mas também estavam progredindo. Os dois estavam assustados, sabiam que envolvia os filhos, Jason, os pais… Mas estava dando certo.

Nico sabia que Thalia não esperava e, muito menos, queria um amor platônico, o tipo de amor que declaravam em histórias dramáticas desde a época de Atenas. Ela não queria um super herói que a salvasse de todos os problemas, um mocinho que arriscava o mundo por ela, não queria um amor louco. Ela queria algo estável, um companheiro, alguém que a escutasse e ajudasse.

Claro que ele poderia salvá-la às vezes — se tivesse que resolver a situação com Bryce por conta própria, tinha certeza que envolveria gritos e escândalos, ela não queria e nem precisava disso —, mas Nico também se deixava ser salvo, se deixava aprender algo novo; se deixava ser ensinado, ser humano, ter medos e mostrar ter medos. Nico deixava que ela o salvasse também e era o que Thalia queria em um relacionamento: queria esse companheirismo.

Seja o que quer que eles tivessem construindo… Era exatamente o que Thalia queria.