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Heriberto sabia que, quando se tratava de Victoria, era sempre um turbilhão de emoções inesperadas, mas jamais imaginou que ela lhe fizesse esse convite. Sabia que ela estava apaixonada, um homem sente a paixão e a entrega de uma mulher, entretanto, seu controle até rígido sobre tudo nunca havia lhe permitido que ela pusesse abaixo suas defesas das quais ela tinha tanto medo de abrir mão.

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— Não pense você que me assusta falando em demônios, Victoria Sandoval. — Brincou Heriberto com um incontestável sorriso. — O verdadeiro inferno seria a solidão de não ter o teu amor.

Ela sorriu com suas palavras, como ela era bom com elas, como ele sabia exatamente o que e como dizer em cada situação para levá-la até aquelas nuvens, onde ela havia se sentido nas últimas doze horas. Voltaram a se beijar e aconchegarem-se um nos braços do outro, como se não existisse um mundo lá fora, como se aquele navio realmente fosse um lugar para se proteger do mundo, mas infelizmente havia o maior inferno de todos: os outros.

No meio do café da manhã, Victoria observou o mar, o horizonte e fez um silêncio que Heriberto entendeu como uma preocupação pela expressão de tensão inconfundível no rosto de sua mulher de quem ele conhecia cada reação, sobretudo as de desejo e prazer.

— No que você está pensando? — Ele indagou acariciando sua mão. Carinho agora era uma necessidade constante.

— Elas não vão nos deixar em paz. — Comentou.

— Elas quem? — Ele estava tão absorto naquele momento que, por um segundo, se esqueceu de tudo o que havia acontecido antes.

— De Bernarda e sua mãe, oras! De quem mais? — Ela disse impaciente. — Heriberto, me repita de novo todos os seus passos naquele maldito dia.

— Tem certeza? — Ele conhecia os ciúmes dela e sabia que lhe machucava recordar. Na verdade, ele mesmo não se sentia confortável falando de tudo aquilo.

— Tenho! — Exclamou segura. — Precisamos nos proteger. Eu sei reconhecer uma ameaça e sinto que Bernarda e sua mãe também não vão descansar até nos separar. Ou melhor, até me destruir. — Que, àquela altura, era praticamente a mesma coisa.

— Bom, eu saí do hospital e fui até a casa de minha mãe, ela falou sobre fazer caridade com o dinheiro que seria de minha herança, nos desentendemos. — Ele explicou. — Depois eu te liguei, disse que te esperaria em casa e fui pra lá. E aí aquele garoto tocou a campainha dizendo que a mãe dele estava passando mal. Depois disso, eu só recordo de alguns flashs com o rosto de Bernarda e de acordar no dia seguinte na minha cama na hora do almoço muito confuso por não te ver ali.

— E você começou a se sentir tonto antes ou depois que o garoto apareceu? — Ela começava a juntar os pontos.

— Antes. Eu achei que fosse um mal estar normal, mas eu já estava um pouco aéreo quando entrei no meu apartamento.

— Então você foi dopado na casa de sua mãe! — Exclamou ela sem nenhuma dúvida. — Claro. Bernarda e Ana Joaquina são cúmplices!

— Será? — Era difícil para Heriberto acreditar.

— Você bebeu alguma coisa na casa de sua mãe, você se lembra disso? — Ela mudou sua postura na mesa tomada de ódio. Era inaceitável que aquela velha seguisse interferindo assim em sua vida.

— Acho que não... não sei... Não, sim! Eu bebi! — Lembrou. — Ela insistiu para que eu bebesse suco de abacaxi, até comentou que era meu favorito e depois sugeriu que eu não dirigisse até o hospital, que fosse direto para o flat.

— Elas são cúmplices! — Concluiu Victoria com o olhar cheio de ódio. — E você sabe bem o que isso significa, não é?

— Sim. — Ele concordou.

— Precisamos nos proteger porque elas devem vir para a guerra com artilharia pesada. Se você realmente quer ficar comigo, tenha consciência de que vai enfrentar um verdadeiro furacão para isso.

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— Victoria, você tem consciência de que eu vim para Miami disposto a ser uma fera contra você e quando você apareceu na minha frente eu me tornei um gatinho domesticado? — Ele não teve problemas em se delatar.

— É mesmo? — Ela sorriu vaidosa.

— É mesmo! — Ele confirmou. — Então entenda que o inferno, furacões e até o próprio demônio não me assustam. — Ele entrelaçou seus dedos nos dela e a olhou apaixonado. — A única coisa que me assusta é ficar sem você. Tudo mais eu posso suportar.

***

Foi difícil deixar aquele navio onde haviam sido tão felizes. Absolutamente tudo o que viveram ali não era nada menos que perfeito e, além disso, sair dali e pisar em terra firme significava dar a cara para um mundo que eles não tinham certeza se estavam preparados para enfrentar. Obviamente o amor e a cumplicidade que compartilhavam os fazia sentirem-se mais fortes, bem como sua relação na qual estavam decididos a dar um passo mais, mas um pouco apreensivos, era impossível que não estivessem.

Quando entraram na mansão de Victoria, Pipino, Oscar e Antonieta conversavam na sala e o estilista começou a pular e a gritar ao vê-los entrar felizes e de mãos dadas.

— Ah que felicidade! — Celebrou. — Temos que fazer outra noite da tequila para comemorar.

— De fato, temos muito o que comemorar. — Respondeu Heriberto se divertindo com a alegria de Pipino com uma expressão enigmática. Logo olhou para a mão de Victoria sorrindo.

Victoria levantou a mão direita convencida por seu olhar, exibindo aquele anel que lhe enchia de orgulho, fazendo com que os olhos de Antonieta brilhassem de emoção e que Pipino não se contivesse em sua efusividade.

— Casamento? — Gritou Pipino. — Temos mesmo que sair todos juntos para celebrar, a melhor de todas as notícias! A rainha com seu doutor delícia, que notícia maravilhosa!

— Ai amiga, que felicidade. — Antonieta a abraçou muito feliz porque sabia o quanto ela e Heriberto se amavam. — Você merece muito essa felicidade, bom, vocês dois merecem. — Disse abraçando Heriberto.

— Obrigada, amiga. Eu estou que não me aguento de felicidade. — Ela respondeu sorrindo fácil.

— E, quando vai ser a cerimônia? Temos que preparar tudo! — Se precipitou Pipino.

— Assim que meu divórcio estiver assinado. Inclusive, Oscar, que bom que você está aqui, preciso que você organize todos os papéis e fale com Osvaldo... — Só então ela se deu conta de que o advogado não parecia nada feliz.

— Victoria — ele a interrompeu claramente incomodado — eu não tenho nenhum problema em revisar e redigir todos os seus contratos que dizem respeito à sua casa de modas, aos seus fornecedores, seus colaboradores e suas modelos. Mas quanto a seu divórcio, é um assunto pessoal e eu preferia não me encarregar disso. Se não for um problema para você, eu gostaria que, para tratar de suas relações pessoais, como divórcios e casamentos, você contratasse outro advogado. — Foi levemente grosseiro. — Parabéns pelo casamento! — Falou sem disfarçar seu despeito deixando o clima naquela sala, antes tão leve, bem pesado.

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