Estranha Sensação

Cuidado com o que Deseja


***
Se a intenção de Oscar foi causar um mau-estar, ele conseguiu com uma primazia invejável. Até aquele momento, Heriberto não havia se dado conta de que o advogado era apaixonado por Victoria, mas a atitude dele era certeira em deixar isso no ar e o colocou em alerta.

— Bom, com licença, tenho alguns contratos para revisar. — Depois de se tornar o foco dos olhares de todos, Oscar se apressou em querer se retirar.

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— Espere! — Ordenou Victoria com toda sua imponência.

— Victoria, não é necessário, eu posso te indicar um paciente meu que é advogado... — Heriberto agora era quem não queria que Oscar se encarregasse daquele assunto.

— Não é isso Heriberto. — Ela disse com a expressão rígida sustentando a cabeça no ar para não deixar dúvidas de que sempre estaria por cima. — É sábado, você está fora de seu horário de trabalho, Oscar. Então eu preferia que você se encarregue dos assuntos de minha empresa em horário comercial. Vá viver sua vida pessoal... como nós estamos fazendo. — Se referiu a todos na sala que compartilhavam sua felicidade.

— Está bem. — Ele concordou a contra-gosto antes de se retirar.

— Ai que clima. — Comentou Antonieta com uma mão na boca.

— Mas a rainha mostrou para esse amargurado quem é que manda. — Disse Pipino sorrindo. — E então, vamos para aquele bar de salsa dançar a noite toda para comemorar? Essa noite promete!

— Sim, é uma ótima ideia. — Concordou Heriberto bem animado.

— Sim, mas o senhor, Pipino Pichoni, fique bem longe das tequilas! — Ordenou Victoria em tom de brincadeira. — Essa é a semana do desfile e você é o único design que pode desenhar, você sabe que Bernarda está por perto e temos que estar alertas!

— Ai, Vicky, aquele porre foi um desvio de rota, não vai voltar a acontecer. Pelo amor de Deus, não mencione aquela lacraia em um momento tão feliz. — Ponderou divertido.

— Não se preocupem! Eu cuido de vigiar que Pipino não beba demais e de que Bernarda não volte a nos sabotar. Vamos comemorar! — Disse Antonieta animada sentindo que, definitivamente, Oscar não faria a menor falta.

***

A alegria de Victoria e Heriberto era contagiante, ainda mais na companhia de pessoas que eles sabiam e sentiam que se alegravam verdadeiramente por eles. E era necessário que eles aproveitassem aquelas companhia porque sobravam pessoas que lhes queria mal e quem estava verdadeiramente com eles se contava nos dedos. Não se divertiram e desfrutaram somente da noite de salsa, na qual dançaram, beberam, sorriram e curtiram juntos, mas de todos os dias seguintes que foram os melhores da vida de ambos.

Heriberto alugou um carro e passou a morar na casa de Victoria, voltando ao Hilton apenas nos dias do Congresso, inclusive passou a acompanhar Victoria em alguns momentos de seu trabalho onde o único que não gostava de sua presença era Oscar que acabava ignorado por todos que amavam e apreciavam a felicidade de Victoria.

Um advogado foi contratado na Cidade do México e passou a cuidar dos detalhes do divórcio de Victoria alarmando a Osvaldo que não pretendia, de nenhuma maneira sair daquela situação com as mãos vazias, precisava jogar alto. Arriscar. Conforme o desfile foi se aproximando e as negociações com Osvaldo avançando, foi ficando cada vez mais claro que conseguir o divórcio não seria uma tarefa fácil e que aquilo renderia algumas dores de cabeça para Victoria.

Era manhã de quinta-feira, a data do início do Miami Fashion Week, quando Victoria acordou e se surpreendeu ao encontrar o rosto de Heriberto repousado sobre seu braço observando-a.

— Tem muito tempo que você está aí? — Ela indagou sorrindo.

— Muito pouco. — Ele respondeu romântico. —Te ver dormir é uma das sensações mais maravilhosas do mundo, eu passaria horas te admirando sem me cansar.

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— Quem diria que, logo eu, ia amar esse seu romantismo? — Ela comentou beijando-o.

— Eu não diria. — Respondeu ele gargalhando. — Mas eu amo essa versão de você. Não é que eu não goste da empresária implacável, de sorriso difícil e cabeça erguida. Eu gosto e até a admiro. É que essa mulher que dorme todos os dias nua em meus braços depois de fazer amor até ficar exausta, essa é completamente minha. E, com certeza, essa é a melhor versão de você.

— Pretensioso! — Acusou ela levemente emocionada. — Eu te amo, Heriberto. Te amo tanto, tanto.

— Não mais do que eu te amo.

O beijo foi terno, mas mesmo quando se beijavam com ternura, seus beijos exalavam entrega e paixão, era como se se desprendesse deles e ocupasse todo o ambiente, ficasse no ar. E foi exatamente no meio desse beijo tão cheio de entrega que a porta do quarto se abriu e uma jovem bem geniosa invadiu o espaço como uma locomotiva desgovernada seguida da empregada que tentava impedi-la.

— Então meu pai tinha razão? — Gritou ela com um olhar acusador. — Você quer destruí-lo e deixá-lo na sarjeta para dar uma boa vida para seu amante? Quão baixo você desceu, mamãe!

— Seu pai? — Indagou Victoria confusa cobrindo o corpo com o lençol enquanto Heriberto quase desaparecia no meio deles, pois ficou tão branco quanto o tecido. — Fernanda, onde está a educação que eu te dei, você está louca? Como entra assim no meu quarto disparando acusações infundadas?

— Educação? Como você ousa falar de educação quando destruiu a carreira do meu pai e não quer lhe dar um centavo no divórcio? Como você tem coragem de trazer outro homem para sua casa, se divertir com ele enquanto meu pai está quase sendo despejado por sua culpa? Será que sua crueldade não tem limites?

— Fernanda, espere lá fora. Me espere no escritório que eu já me visto e vou lá falar com você. — Ela foi tão firme que Fer não conseguiu não obedecê-la.

Antes de sair, mediu Heriberto com o mesmo olhar altaneiro de Victoria, sem disfarçar seu desprezo, se notava bem de quem a garota era filha. Quando ela saiu pela porta, Heriberto deu um longo suspiro antes de se levantar e se vestir com muita pressa. Victoria fez o mesmo com um pouco mais de calma e o olhou penalizada.

— Eu devia ter imaginado que Osvaldo iria envenená-la contra mim, ele não está medindo as consequências para me extorquir e eu... — Se esforçou para se explicar, mas Heriberto a interrompeu segurando suas mãos entre as dele.

— Vá falar com sua filha, Victoria, não se preocupe comigo. Eu já estava consciente dos problemas que você tinha com seu ex-marido quando te pedi em casamento e não vai ser a primeira tempestade que vai me fazer desistir. — Ele disse acariciando as mãos dela tentando lhe dar a tranquilidade que seus olhos lhe pediam.

— Você jura? — A paixão a deixava insegura, não podia evitar. — Jura que tudo está como antes?

— Não duvide nem por um minuto. — Ele disse enquanto a abraçava.

— Ah, que Deus me perdoe o que vou dizer porque ele é o pai da minha filha e o pai de Max que eu adotei assim que me casei com ele, — ela disse se afastando do abraço e se aproximando da porta — mas... se Osvaldo desaparecesse para sempre, não faria a menor falta!

O que Victoria não podia prever é que, em muitos momentos, o universo tem algumas maneiras bem tortas de fazer nossa vontade e é preciso ter cuidado com o que desejamos porque, às vezes, nossos desejos podem se tornar um completo pesadelo.

***