E agora?

Pecados e revelações


Laura

Quando sai da casa, aquela tarde, a temperatura bem mais fresca, quase frio, e o céu tomava um tom púrpura profundo, a estrela vespertina já surgiu no horizonte. Eu menti, não estava com a mínima vontade de dormir, na verdade estava muito agitada, só não queria ficar ao lado de Nathan, pois aquele homem mexia demais comigo, podia ser pecado, ilegal, abominável, porém não conseguia pensar nele como meu irmão, mas só como um homem, um amante, desejava os seus beijos e abraços, queria ele junto a mim, por isso precisava fugir dali depressa.

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Merda, mãe, em que encrenca que você me meteu! Que eu me meti, querendo descobri quem era o meu verdadeiro pai, podia ter ficado quietinha e apenas me conformar, que isso não me interessava e ficou no passado, mas tinha que fuça essa história, parece até castigo.

Estava tão distraída me lamentando, mal dizendo o meu destino, que me assustei quando uma mão segurou meu braço e me fez parar.

— Laura! – Eu me voltei para ficar de frente com Nathan.

— O que foi? – Tentei parecer a mais tranquila possível, não sei estava fazendo um bom trabalho.

— O que está acontecendo? – Ele me encarou, confuso.

— Como assim?

— Você está fugindo de mim, por quê? Fiz algo errado?

— Não, você não entendeu. Você não fez nada errado, só não estou mais a fim de nenhum lance entre nós dois, somos muito diferentes, incompatíveis – Dei de ombros. Ele estava cada vez mais atordoado, eu mesmo estava ansiosa, tentando parecer falsamente casual, o que soava bem estranho.

— Incompatíveis?! Não acredito em você! Não, depois daquele beijo de hoje à tarde. Nunca me senti tão compatível com uma mulher como me sinto com você – Ele está certo.

— Aquilo não foi nada. Você me pegou desprevenida – Dei de ombros, com dissimulada indiferença.

— Eu não acredito em você – repetiu, dando um passo à frente, devia ter dado um passo para trás, mas fiquei parada no mesmo lugar, hipnotizada pelos seus olhos, sua boca, seu rosto. No fundo da minha cabeça, uma vozinha repetia que ele era meu irmão, porém, banquei a surda, quando Nathan deu mais um passo adiante, tão próximo que sentia o calor do seu corpo. Estava brincando com fogo.

— Por favor, Nathan – digo, sem muita vontade de lutar.

— Você está mentindo, quando diz que não me quer – sussurrou junto a mim, minhas pernas fraquejaram, meu coração parecia que ia escapar do peito de tão forte que batia.

— Sim, quer dizer, não. Quer dizer, eu quero você – Estava tonta, não conseguia raciocinar direito.

— Então, por que não podemos ficar juntos? – Ele se inclinou na minha direção, senti seu hálito quente junto a minha boca.

— Só não podemos – Aquilo era uma tortura.

— Por quê? Você tem alguém? – Sacudi a cabeça em negação, ele se aproximou ainda mais, seus lábios quase roçando nos meus. Aquilo era terrível, insuportável, como poderia resistir?

— Porque... Porque... – Não conseguia pensar, precisar arranjar uma saída, bem rápido. – Porque somos irmãos – Pronto, falei! Ele se afastou em um pulo e me olhou como se fosse louca. – Tim é o meu pai, ele teve um caso com a minha mãe e ela ficou grávida.

— Você está louca!

— Não, não estou, quando minha mãe morreu, achamos umas cartas de Tim para ela, falando de uma filha. Por isso, viemos para aqui, para descobri quem era essa filha.

— E por que você acha que é você?

— Pela atitude de Tim me prevenindo contra você. Dizendo que é um mulherengo, que dava em cima das hóspedes, para me afastar.

— E foi por isso que você se afastou de mim? – Sacudi a cabeça afirmativamente. – Para falar a verdade, Tim estava preocupado, porque tivemos problemas com uma hospede com quem eu sai, no passado, e que me acusou de assédio, apenas isso.

— Então, ele estava falando a verdade?! – Estava ao mesmo tempo surpresa e indignada. – Você dá em cima das hóspedes?!

— Não! Só foi essa vez, mas não quis mais nada com ela, então, por vingança, me acusou.

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— Eu não sei o que pensar. Mas, eu realmente posso ser sua irmã, entende? – Fiquei muito mais confusa.

— Por que não vamos perguntar a ele?

— O quê? A ele quem? Tim? Não tenho coragem!

— Mas, eu tenho – Sem vacilar, ele me pegou pela mão e me arrastou de volta para a casa grande.

Alexia

Depois do jantar, os outros hóspedes se reuniram na sala principal, para a conversa de sempre, regada a aguardente, café e chá. Falavam sobre assuntos variados, menos o membro mais jovem do grupo, que entediado, jogava no seu celular. Se pudesse, eu também não estaria ali, contudo, era onde Maurício estava, então, fiquei, só queria ficar perto dele, prestando atenção na conversa banal que ele tinha com Alberto. Foi quando vi de relance, Nathan passar segurando a mão de Laura e entrar na sala da administração, não entendi, fiquei um tanto aflita, imaginando o que aquilo significava. Tinha que saber, afinal, ela era minha irmã e poderia estar entrando em uma encrenca, assim, resolvi ir até lá. Parei diante da porta, ouvindo vozes lá dentro, fiquei em dúvida, porém, enfim, bati e esperei, a porta abriu.

— Que bom que veio, Alexia, só faltava você para essa conversa, que teremos agora – Nathan tinha um tom sarcástico, observei a expressão assustada da minha irmã, parada no meio da sala, e o jeito incomodado de Tim, sentando atrás da mesa com uma garrafa de aguardente e um copo na sua frente.

— O que está acontecendo aqui? — Ouvi a voz de Maurício nas minhas costas.

— Que bom, agora teremos uma reunião de família completa – Nathan disse, com ironia. – Por favor, entrem e sentem-se.

Fizemos o que ele falou, entramos com cautela e nos sentamos, olhei para a minha irmã, em seguida, para Tim que tinha uma expressão dura. Nathan ficou de pé no centro da sala, empertigado, mãos para trás e um ar sério, tal qual um advogado interrogando uma testemunha em um tribunal.

— Então, Tim, ainda a pouco, eu tive uma conversa bem estranha com Laura. Ela afirmou que você teria tido um caso com a mãe dela e, consequentemente, seria o seu pai, por isso elas estariam aqui, para conhecê-lo, isso é verdade?

Tim deu um longo suspiro e se aprumou na cadeira, esperávamos uma resposta, ansiosos.

— Eu não sei como começar — Finalmente, Tim falou, encarando a mesa a sua frente.

— Sendo assim, comece pelo início – Nathan propôs de um jeito firme.

— Bem, foi há muito tempo, eu amava a mãe de vocês – Tim olhou para mim e para minha irmã. – Ela foi o grande amor da minha vida. Mas, infelizmente, fui um idiota e demorei muito a percebeu essa verdade, por isso, eu a perdi. Posso colocar a culpa na minha juventude e irresponsabilidade, mas, não, fui somente um tolo egoísta. Para saber toda aquela história.

— Como já sabem, eu conheci a mãe de vocês aqui mesmo, nesse lugar, ela tão linda, assim como você, Alexia. E eu me apaixonei, não apenas pela sua beleza, mas, também, por sua alegria e sua personalidade, muito parecida com a sua Laura. No entanto, morávamos em cidades diferentes e éramos muito jovens para assumir qualquer responsabilidade. Por isso, nós marcávamos de nos encontrar aqui todo ano, nessa fazenda.

— Então, vocês eram solteiros e jovens, sem impedimentos, e por que não ficaram juntos? – Laura quis saber.

— Porque, depois de quatro anos, no último verão em que estivemos juntos, Natalia engravidou e eu não quis assumir a criança, fiquei assustado, era ambicioso, estava no começo de carreira, uma família iria estragar meus planos de ascensão.

— Você a rejeitou – Laura concluiu, penalizada, Tim assentiu com a cabeça.

— Então, ela foi embora e não nos falamos por um tempo, até eu perceber que tinha feito a maior bobagem da minha vida, que não queria viver sem ela e fui atrás dela. Nessa época, Natalia já havia conhecido o marido, por ironia, no mesmo dia que eu a desprezei, na rodoviária, quando voltava. Contou que estava sentada em um banco, esperando o ônibus para voltar para casa, chorando muito, então ele se aproximou e lhe ofereceu um lenço, ficou do lado dela e ouviu toda a sua história. Ficaram juntos mesmo assim, porque aceitou a gravidez, se casou com ela e criou a filha de outro homem como se fosse dele, eram felizes. Então, Natalia me chamou de idiota e me mandou embora das suas vidas.

— Meu pai era um bom homem – Laura declarou, limpando as lágrimas.

Sempre soubemos da história de como nossos pais se conheceram, mas, na versão deles, minha mãe tinha um cisco no olho e não um filho na barriga.

— Então, eu sou sua filha – conclui, já que era a mais velha. Noto o rosto na minha irmã se desanuviar, um peso saiu dos seus ombros.

— Quando Nathan me falou sobre vocês, eu desconfiei logo porque teriam vindo, mas não tinha certeza, além de não saber qual das duas seria a minha filha. Natalia nunca me deixou se aproximar, apesar de ter tentado, só conheci minha filha por algumas fotos, depois de muito insistir por cartas. Foram muitas até ela ceder.

— Ela guardou todas – Laura completou.

— Quando vi que não tinha mais jeito, que ela era muito feliz ao lado de outro homem, e me pediu para esquecê-la. Eu me resignei e casei com a mãe de Nathan. – Ele olhou direto para o filho. – Nathan, posso não ter amado sua mãe do jeito que ela merecia, mas você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

— Então, por que você quis me afastar dele? – Laura questionou.

— Como eu disse, não sabia qual das duas seria minha filha, não podia permiti uma relação incestuosa. Eu só descobri que minha filha era Alexia, quando tive a ideia de olhar o registro de entrada de vocês e vi suas datas de nascimento.

Quando ele terminou de falar, ficamos todos quietos, em um silêncio absoluto.