Devaneios

Ossos e cérebro


— Sam! Sam! Acorda! Vê se põe gasolina no Impala, enquanto vou ali tirar água do joelho. — Dean falou apressado, enquanto andava rapidamente para os fundos de um edifício.

Sam se espreguiçou e bocejou, piscando os olhos ante a claridade do sol, esperando desfazer as teias de aranha da mente com esse ritual. "Que horas são? Em que buraco de cidadezinha nós estamos agora?" Dean havia parado o carro em um posto de gasolina com loja de conveniência. O sol estava mais distante e o céu tinha um tom alaranjado triste. Em breve anoiteceria. Sam pegou as chaves da ignição, saiu do Impala, abriu o tanque do carro e ligou a bomba de gasolina. Meio tanque devia bastar dessa vez. Não esperava passar a noite na estrada, então poderiam rodar mais 2 horas até o próximo motel. A noite prometia ser fria, desconfortável e sem surpresas. Os motéis de beira de estrada não eram muito melhores que isso, mas Sam ansiava por um banho quente e dormir reta em uma cama macia e aconchegante. Ela tinha certeza que Dean queria a mesma coisa. Desligou a bomba e trancou o tanque. Onde estaria Dean? Ela também queria se aliviar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Seu irmão surgiu por detrás do prédio da conveniência, sorriu e acenou. A seguir apontou pra loja e esticou dois dedos, como quem diz que vai demorar 2 minutos. "Palhaço!" Sam bufou. Sentiu calor a despeito do clima, e por isso retirou a onipresente camisa de flanela que usava como jaqueta, ficando somente de camiseta de meia. Trancou o Impala e resolveu ir ao banheiro. "Demore o tempo que quiser, Dean. Você vai ter que me esperar agora."

O banheiro da conveniência não era muito limpo, e o odor de desinfetante barato, usado sem parcimônia, ameaçava irritar suas narinas. Temia que aquele cheiro impregnasse suas roupas. Tratou de se apressar. Aliviou-se e molhou o rosto. Saiu de lá e respirou profundamente do lado de fora. Mesmo o cheiro de gasolina era melhor do que de latrina.

"Sammy". Sam se assustou. Ela virou-se e não havia ninguém.

— Dean? É você? — ninguém lhe respondeu.

Ela ficou preocupada e se dirigiu à loja de conveniência. Antes de chegar à porta, está se abriu e seu irmão surgiu sendo empurrado por um homem com uma pistola na mão, encostada na sua cabeça. Eles se dirigiam ao Impala. Sam ficou tão chocada que gritou. Seu grito alertou o homem, que num ato automático disparou a arma. A cabeça de seu irmão explodiu, arremessando pedaços de ossos, sangue e matéria cinzenta para todos os lados, inclusive salpicando sangue em sua camiseta branca. Ela gritou a plenos pulmões.

"Sammy, acorde". Sam se assustou. Ela ainda sentia a chuva de sangue e carne na pele, mas seus olhos começaram a piscar. Dean estava em seu campo de visão, agora.

— Outro pesadelo? Que bom que acordou. Ponha gasolina no carro enquanto vou tirar água do joelho, ok? — seu irmão falou apressado e se dirigiu para os fundos de uma loja de conveniência.

Sam saiu do carro em choque. O céu estava alaranjado e aquela era uma estação fria. Mesmo assim o ar parecia parado e abafado, a fazendo suar frio. Ou seria aquela sensação de deja-vu? Ela trancou o carro e se dirigiu para o banheiro nos fundos. Chegou lá na hora em que seu irmão ia saindo.

— Você também não pôde esperar? Eu também tava apertado … — Dean não pôde falar mais nada, pois sua irmã se atirou em seus braços e ficou abraçada a ele.

— O que foi, Sammy?

— Eu tive um sonho ruim.

— Quer me contar?

— Agora não. Quero apenas sair daqui. Podemos ir embora, Dean?

— Ok! Pôs gasolina no carro?

Ela sacudiu a cabeça negativamente.

— Ok! Eu ponho a gasolina e você paga, ok?

— Ok!

Assim fizeram. Sam foi até o porta-malas do Impala e pegou uma pequena pistola que guardou no cós de trás de sua calça. Voltou a vestir a camisa de flanela e foi até a loja de conveniência, enquanto Dean abastecia seu bebê e limpava o pára-brisas. Subitamente, ruídos de tiros, o que o fez correr na direção da loja. A porta se abriu e Sam saiu de lá guardando a arma no cós de trás.

— Acho melhor irmos embora, Dean.

— Mas … certo!

Dean deu partida no Impala e saiu velozmente em direção ao oeste, acompanhando o pôr-do-sol, deixando para trás um assaltante morto no chão da loja de conveniência, após ter rendido os donos da loja. Ele havia subestimado uma garota bonita que havia entrado pra pagar pela gasolina.