– Mamãe, corta meu cabelo?

Sasuke ouviu a filha bater a porta de casa com força enquanto sua mochila era jogada de qualquer jeito no sofá. Sua esposa tinha sido chamada no hospital há pelo menos uns vinte minutos e ele estava sozinho em casa até o instante, depois de fazer um relatório a Naruto sobre a missão que tinha feito.

O cabelo de Sarada crescera rápido e alcançava metade de suas costas. Era vontade dela parecer com Mikoto, porque seus olhos brilhavam sempre que via as fotos da avó e ouvia histórias sobre ela.

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Sasuke saiu de seu quarto e encontrou sua filha sentada na poltrona, encolhida. Estranhou o comportamento dela. Não fazia muito tempo desde que tinha entrado para a academia e, sempre que chegava em casa, se trancava no quarto para ir estudar.

– Cadê a mamãe? – ela perguntou com um fio de voz.

– Saiu – respondeu, para acrescentar, preocupado – O que foi? O que tem seu cabelo?

– Eu só preciso de um corte. Mudar um pouco.

Mas sua resposta não convenceu. Seus olhos negros fitavam o chão com tristeza e abraçava seus joelhos. Sasuke sentou no braço da poltrona e imediatamente Sarada encostou a cabeça no corpo do pai. Nunca a tinha visto assim.

– Eles são maus – sussurrou, enterrando a cabeça nas roupas dele.

Sasuke não entendia aonde ela queria chegar. Ela sempre se dera bem com os filhos de todos os conhecidos, até mesmo com os pais. Deixou-a continuar, se sentia desconfortável por não saber como ajudá-la.

– Eles me chamam de nerd – começou – mas é verdade. Sou milhões de vezes melhor que eles. – e acrescentou, com um tom triste – eu sou um gênio.

– Então, qual o problema? Você é esperta demais pra não precisar se preocupar com eles.

De repente, ela se desencostou e voltou a abraçar os joelhos. Uma de suas mãos foi até o cabelo até chegar na testa, respondendo:

– Eles também falam da minha testa.

Então, Sasuke entendeu. O genes do clã eram dominantes, então os cabelos e os olhos vieram dos Uchiha, mas a testa de Sarada era incontestavelmente idêntica à de Sakura. Não via isso como um problema, mas se lembrava dos seus tempos de academia, onde a pequena Haruno era zoada de todos os jeitos possíveis, até chorar ou se trancar no banheiro. Nunca via necessidade disso, porque seus olhos sempre chamavam mais atenção por serem grandes e brilhantes, mas se sentia ainda pior ao saber que estava acontecendo com sua filha.

– Eles sabem quem sou eu? – ele perguntou, quase com uma aura sombria ao seu redor.

– Sabem – respondeu, com um riso triste – mas esse tipo de coisa eu deveria resolver sozinha. Queria prender todos num genjutsu até sofrerem...

Sasuke levantou uma sobrancelha. Talvez ela tenha puxado um pouco da maldade da mãe também.

– ... mas prefiro cortar os problemas pela raiz: com o cabelo.

– Sarada, isso não resolve as coisas...

– Mas eu quero – rebateu, com o olhar mais firme do que antes – Papai, corta o meu cabelo?

O desespero começou a subir por sua garganta. Ele preferia esperar que Sakura chegasse, claro, já que era melhor com questões capilares – e todas as outras. Mas sentia que não agüentaria ver sua pequena triste até lá. Com o coração na mão, pegou a mão da filha e a levou até o banheiro, onde achou uma tesoura.

– Corta uma franja e deixa curto, que dá pra esconder – pediu, com um pouco de vergonha.

– A franja não vai surtir efeito. Vão zombar de você mesmo assim – respondeu, ainda nervoso com a tesoura na mão.

– Você tem uma franja, papai. Eu não zombo de você.

O Uchiha se olhou no espelho. Era verdade. Com o tempo, foi deixando o cabelo crescer e cair pelo seu rosto, mas não era exatamente a imagem que queria que sua filha tivesse. Puxou sua franja e usou um prendedor de Sakura para prendê-la no topo da cabeça, como que para confirmar sua tese.

– Certo – concordou, abaixando a cabeça para esconder alguns risos – quero o cabelo como o da mamãe então.

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Isso definitivamente era mais complicado.

– Pode cortar como souber – ela sorriu, como se entendesse o desespero do pai – só deixa no ombro que ta bom.

Então, Sasuke começou. Foi cortando pontinhas pequenas, com medo de estragar tudo, mas ao sentir a impaciência de Sarada, resolveu agilizar. Suas tesouradas se tornaram mais intensas e grandes, cortando mechas de uma vez só. O resultado...

– O que... aconteceu aqui? – perguntou Sakura, que se encontrava na porta do banheiro com uma maleta médica na mão e uma expressão assustada no rosto.

– Papai cortou meu cabelo – respondeu Sarada com um grande sorriso – ficou bom?

A verdade é que estava torto. Muito torto. Ainda mais comprido que o de Sakura depois de sua revolta na floresta, mas ainda assim bastante torto. Algumas mechas nem pareciam fazer parte da mesma cabeça, de tão rebeldes que estavam.

– Depois eu explico – Sasuke sussurrou, para depois implorar – ajeita isso, por favor.

E Sakura ajeitou. Bem mais habilidosamente que o marido, diga-se de passagem. Devido ao estrago, não ficou exatamente como Sarada pediu, mas um pouco mais repicado e não tão cheio quanto o da mãe. Para o corte fazer mais efeito, dividiu o cabelo do lado e colocou a filha de frente para um espelho.

– Incrível! – exclamou, animada.

Sasuke sorriu e depois suspirou. Ela tinha ficado linda, mas essa garota dava trabalho. Enquanto Sarada se admirava no espelho, o Uchiha abraçou a esposa, jogando um pouco de seu peso sobre ela.

– Não me deixa mais sozinho – ele sussurrou – meninas são muito complicadas. Ela tem muito de você.

– Você vai conseguir entender um dia – respondeu, sorrindo – mas ela ainda é uma Uchiha. Ela treina muito quando você está fora. Quer ser como você.

Animada, Sarada desceu da cadeira, ajeitou suas roupas e deu uma olhada no relógio.

– Vou dar uma saída! – anunciou.

– A essa hora? Eu acabei de chegar! E meu beijo? E meu abraço? – indagou Sakura, fazendo um biquinho.

– Depois, mamãe. Preciso prender uns babacas num genjutsu – e saiu.

Assim que ouviram o baque da porta, ela se virou para seu marido, como se questionasse o que diabos tinha acabado de acontecer.

– Como eu disse – riu o Uchiha – ela tem muito de você. Aliás, onde você guardou a fita que Yamanaka te deu? Podemos precisar dela.

Depois de alguns instantes, como se assimilasse a situação, Sakura foi até a janela, observando a filha correndo ao longe.

– Como eu disse, ela também tem muito de você. E por isso, acho que vai aprender a lidar com muitas coisas sozinha.

– Sem fita? – Sasuke abraçou a esposa por trás, olhando pela janela também.

– Sem fita.