Clube de Fanfics

Sem Direito ao Esquecimento, o Passado Bate à Porta!


Escondido no banheiro masculino, Seiji fugia de Kenichi pela terceira vez naquele dia. Ocultar-se do contato visual do irmão havia se tornado um hábito, desde o dia em que se desentenderam na diretoria, a, pelo menos, duas semanas atrás. Seus óculos novos já haviam chegado, deixando sua visão cristalina e tornando a missão de “localizar e correr” ainda mais fácil do que com os antigos óculos, que frequentemente lhe davam dor de cabeça.

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Toda aquela situação fortaleceu a pirâmide de amizade Seiji-Misaki-Tayui, mas derrubou qualquer tipo de contato entre os irmãos nekos. E, apesar de Kenichi procurar pelo caçula vez ou outra, tentando encontrar uma brecha para uma reconciliação, Seiji sentia-se humilhado demais para encará-lo novamente.

Por muito tempo o caçula havia cultivado esperanças de rever o irmão e reavivar a irmandade que havia entre eles, cujas lembranças de infância ele guardava com tanto carinho. Contudo, ao ser anulado e ignorado por Kenichi em seus primeiros dias na ESNyah, a esperança se desintegrou, tornando-se apenas um remoto desejo de seu coração, um desejo de ter um onii-chan novamente. Porém, novamente as coisas mudaram em seu peito devido àquela terrível discussão, quando o diretor o olhou no fundo dos olhos e disse que o odiava.

Kenichi sentia e sabia que estava sendo evitado, pois, depois de procurá-lo nos corredores do colégio por dias, tudo o que encontrou foi um rápido vislumbre das orelhas pretas de Seiji, enquanto ele fugia de sua presença. Toda aquela situação pesava em sua consciência, porque mesmo eles não se dando bem, o caçula nunca havia fugido dele e sempre o encarava com olhos selvagens de quem não se arrependia das coisas que fazia, mas agora, nem mesmo aquele olhar de desafio ele encontrava mais...

No banheiro, Seiji confere o relógio novamente, pretendendo deixar seu esconderijo apenas quando o treino de beisebol estivesse prestes a começar, evitando assim qualquer oportunidade do diretor abordá-lo.

— Se esconder no banheiro é deprimente, você sabe, né? – questionou Tayui três dias antes, apenas para atormentá-lo, fazendo o neko bufar e mandá-lo criar uma técnica brilhante para fazê-lo desaparecer aos olhos de Kenichi, já que estava tão incomodado com seu plano e esconderijo.

O relógio marca o horário exato para o início do treino e Seiji corre em direção ao vestiário masculino. Ele teria pouco mais de dez minutos para chegar e vestir o uniforme do time, antes que alguém notasse o seu atraso; entretanto, como o neko era um excelente corredor, tinha certeza de que chegaria a tempo.

— Atrasado de novo, Seiji – sussurra Takashi.

— Um probleminha de banheiro – comenta em sua defesa, fazendo o líder do time rir. O apito para o início do aquecimento soa repentinamente e todos os integrantes começam a correr ao redor do campo.

— No final, vamos nos reunir para discutir o próximo Evento – recomeça o líder, enquanto corriam lado a lado –, gostaria muito da sua opinião sobre uma coisa… Poderia ficar?

— Sim, sem problemas – aceita com animação.

Enquanto corria e a adrenalina se espalhava por seu corpo, Seiji refletia sobre como as coisas haviam mudado desde que conhecera Misaki e entrara no clube de fanfics. No princípio, havia ingressado apenas para alegrar Misaki, sendo o beisebol o clube que mais ocupava os seus pensamentos e o seu coração.

Contudo, com o tempo, o clube de fanfics e todos os seus integrantes foram conquistando espaço dentro de si, tornando-se parte da sua grande “família escolar” e fazendo-o questionar se o beisebol deveria ser realmente a sua prioridade. É claro que o neko era habilidoso o suficiente para cumprir com ambos os compromissos, entretanto, a temporada de beisebol havia acabado de começar e ele já não se sentia motivado como nos anos anteriores…

Depois de um longo e cansativo treino, a equipe de beisebol se reúne no vestiário para uma ducha e um merecido descanso, longe da atenção e dos ouvidos do treinador. Seiji desliga o chuveiro depois de um demorado e refrescante banho, caminhando em seguida até o seu armário, enrolado numa toalha, onde Takashi e os demais membros do time o aguardavam.

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— Que banho demorado, Cinderela – caçoa um dos jogadores, fazendo todos rirem.

— Manter esse corpinho lindo requer cuidados, sabia? – devolve o neko no mesmo tom, também gerando algumas risadas.

— Ok! Ok! Deixem os flertes para mais tarde, vamos focar um pouco em nosso próximo Evento – intervém Takashi, fazendo os risos se acalmarem e olhares maliciosas surgirem no lugar. – O time amarelo será nosso próximo oponente da temporada e querem um acordo de paz. No ano passado, eles sequer puderam jogar na primeira fase depois de entrarem num embate conosco e agora eles não querem lutar, para não perderem a chance de avançar no campeonato… Não posso censurá-los por isso, afinal, eu também não quereria enfrentar o nosso time numa briga – caçoa, deixando todos os seus jogadores orgulhosos de si mesmos.

— Sobre o quê, exatamente, você precisa de minha opinião, Takashi?

— Bem… É de conhecimento geral que dispensei Seiji de nossos Eventos, e que abri igual oportunidade para qualquer outro que queira parar de lutar… Isso nunca foi feito antes, mas durante a minha administração, darei a todos vocês a chance de dizer “não” para os Eventos, sem que isso interfira em sua escalação no time. – Solta um longo suspiro, que pareceu incomodar muitos dos membros do time. – Laus me procurou para um novo confronto…

— Ele não está com a costela fraturada? – questiona o mais novo dos jogadores.

— Sim, está! – responde outro. – Ele foi oficialmente colocado na reserva, não poderá jogar até o fim da temporada, por que ele quer outra luta?

— Mesmo com a costela fraturada, ele ainda parece querer lutar. Nosso embate não teve um vencedor, essa é a justificativa dele, porém, serei sincero com vocês: isso não me parece um Evento ocasional, mas uma vingança pessoal.

— Isso é contra as regras, os Eventos nunca devem ser levados para o lado pessoal! – exclama Seiji indignado, já colocando sua última peça de roupa.

Os Eventos possuíam apenas sete regras: (1) Não falar sobre os Eventos abertamente; (2) Somente os líderes podem marcar Eventos; (3) O que acontece no Evento, fica no Evento, nada pode ser levado para o lado pessoal; (4) O time perdedor deve aceitar a sua derrota e o vencedor deve deixar o combate sem mais represálias; (5) Golpes nas genitálias são proibidos; (6) Não atacar os que permanecem no chão; (7) Quando a polícia aparece, é cada um por si, e aquele que for pego não pode entregar os demais.

Era apenas isso, apenas sete regras que tornavam os Eventos um completo sucesso entre os times de beisebol da cidade, tornando inconcebível para Seiji que alguém estivesse burlando uma delas.

— Vingança contra quem? – pergunta o arremessador do time.

— Contra você, Seiji. – revela Takashi, olhando para o neko e o surpreendendo imensamente. – O time vermelho está sem o seu líder poque você quebrou as costelas dele… Soube que Laus tentou entregá-lo à polícia, tentando tirá-lo da temporada da mesma forma que você fez com ele, mas, já que você continua treinando, significa que não funcionou… Ele foi categórico ao dizer que você precisava estar presente, argumentando que, se participou da primeira luta, precisaria participar dessa também… Entretanto, como já disse, isso me cheira a vingança pessoal e a trapaça.

— Então, você me trouxe até aqui para saber se participarei? – questiona, mas já sabendo qual seria a resposta.

— Sim. Laus não parece querer um “não” como resposta, entretanto o que predomina neste time é a minha palavra, e se eu o deixei sair, vou respeitar a sua escolha de se manter fora disso!

— Obrigado, Takashi. Não quero me envolver mais com isso… Quero dizer, foi divertido e eu sempre gostei de lutar ao lado de vocês, mas… As coisas mudaram…

— Não precisa se explicar. Interesses podem mudar para qualquer um, inclusive com relação aos Eventos. Contanto que continue a manter nossos assuntos em sigilo, não vejo problemas em qualquer um de vocês se recusar a lutar. – Pausa, esfregando o rosto cansado. – Então ficamos assim: Seiji continua fora, tentarei marcar uma nova luta sem ele, e, se conseguir, preparem-se para trapaças e ataques pelas costas.

Os jogadores assentem com a cabeça e, um a um, deixam o vestiário. Seiji já estava prestes a sair quando Takashi novamente o intercepta:

— Sentidos em alerta, Seiji. Eu realmente sinto cheiro de vingança no ar e o olfato de um usagi nunca falha em relação ao perigo! Mantenha seus sentidos em alerta, o tempo todo!

— Sim, Takashi, farei isso – responde com seriedade, reconhecendo no rosto do líder, a preocupação com relação ao comportamento de Laus.

— Antes que eu me esqueça, sua amiga das histórias deixou isso pra você – confessa, retirando um bilhete de seus pertences, lacrado com um pedaço de fita adesiva, e entregando a Seiji. – Ela disse que era importantíssimo e eu pretendia lhe entregar antes do treino, mas você se atrasou.

O neko apanha o bilhete com curiosidade, rompendo a fita e o abrindo, sentindo os olhos se arregalarem ao reconhecer a caligrafia perfeita de Kenichi em uma única palavra: “Desculpe”. Takashi tagarelava alguma coisa sobre a beleza de Misaki e mal havia notado a mudança sutil em seu semblante, e temendo ser questionado a respeito, Seiji afunda o bilhete no bolso da calça e tenta se concentrar no que o líder estava falando.

— Não, eu não vou te apresentar pra ela! – responde Seiji, ao perceber que Takashi estava elogiando demais a neko.

— Ah, Seiji, por quê?

— Por que você é o líder do time de beisebol e um briguento incorrigível. Eu não deixei de participar dos Eventos pelos meus novos amigos, para que você viesse trazer esse mundo até eles – retruca, como se a resposta fosse óbvia.

— Você é mau, Seiji onii-chan – debocha, pois a forma com que ele era tratado por Misaki era conhecida por todos.

— Não sou o seu onii-chan – rebate com uma risada –, e se você insistir em se aproximar dela, vou bater em você até as suas orelhas caírem, como faria um bom onii-chan!

Ambos riem e deixam o vestiário, juntos, satisfeitos pela amizade que o time de beisebol havia fortalecido entre eles. Seiji estava em paz quanto a sua escolha de não lutar mais e, no fundo, estava feliz com sua nova rotina e com a pessoa que estava se tornando. Nada mais o faria voltar atrás…

Levou alguns dias para que o seu passado de lutas novamente viesse a tona, afinal, o neko tinha um histórico longo de lutas, hematomas e fraturas, desde que entrara na ESNyah, para ser esquecido tão facilmente. Assuntos mal enterrados sempre juntam forças para saírem do túmulo e, com Seiji, a história não era diferente.

O dia estava lindo e quente, quando Seiji saiu de sua casa empolgado com a programação do novo site do Nyah! Fanfiction – que já estava quase no fim –, e ansioso para relatar aos membros do clube de fanfics o dia de abertura do novo layout.

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A caminhada para a escola foi tranquila e o período de aula passou rapidamente. O neko ainda não tinha tido coragem de encarar Kenichi ou tampouco de procurá-lo a respeito do bilhete, mas o diretor não se importava, não queria apressá-lo, pois acreditava que, quando estivesse pronto, iria procurá-lo…

Depois das aulas e de uma conversa rápida com o professor de Geografia sobre o trabalho que tinha de fazer, Seiji chega ao clube de fanfics. A sala de aula já estava com o aviso na porta, anunciando que àquela já não era uma sala comum, mas um universo paralelo da escrita, um centro de inspiração e de produção de histórias… Ele ri, percebendo de repente o quanto já estava apreciando o aspecto feio daquela tag e o quanto adorava aquele mundo alternativo com dialeto próprio.

O dia estava lindo e quente, quando Seiji abriu a porta lentamente, encontrando todos os membros já trabalhando em suas histórias:

— Normalmente, é causada por mutações genéticas que geram o engrossamento do músculo do coração, e costuma ser uma condição passada geneticamente pelos pais – explicava Tayui para um grupo de alunas, chamando a atenção do neko.

— E quais os sintomas, senpai? Como o personagem pode diagnosticar isso? – questiona uma das alunas, tirando os olhos de suas anotações.

— Dores no peito, respiração encurtada, fadiga, palpitações e episódios de desmaio são alguns dos sintomas, mas o diagnóstico exato só pode ser dado pelo médico, já que muitas outras doenças podem apresentar os mesmos sintomas.

— O que está fazendo? – pergunta Seiji, aproveitando o momento em que as alunas tiravam sua atenção do kitsune para anotar o que ele dizia.

— Elas precisavam de ideias de doenças para suas histórias…

— E que doença você está sugerindo?

— Cardiomiopatia hipertrófica – responde rapidamente, sorrindo como se àquilo não significasse nada, como se ele não estive falando e dando detalhes de sua própria doença.

O kitsune volta sua atenção para as alunas e, em apenas alguns minutos, fala tudo o que poderia ser encontrado na internet sobre a doença, sem detalhes específicos para que ninguém viesse a questioná-lo sobre a fonte de seu conhecimento. Seiji os observa por alguns minutos, absorvendo as explicações até ter sua atenção desviada para o outro lado da sala, onde um aluno chorava, desolado, por não conseguir sair de seu bloqueio criativo.

O dia estava lindo e quente, e, ao final das atividades do clube, Seiji anunciou a abertura do novo site, que seria na sexta-feira seguinte. A notícia foi tão bem recebida, que até os escritores do terraço aceitaram dar uma pausa em seus dias de escrita para realizarem uma pequena comemoração, no dia da inauguração do novo Nyah!.

E no fim de tudo, quando todos os alunos deixaram a escola, extasiados, o trio de amigos se reúne para conversar sobre todas as coisas boas que estavam acontecendo para o clube de fanfics. Àquele era realmente um bom ano para o clube e eles se alegravam juntos, pois, mesmo que Tayui não fosse da gerência, todo àquele sucesso era o resultado dos esforços de todos.

Os amigos se dirigem para a sorveteria mais próxima, falando sobre o novo sistema de pesquisa que o site iria ter, quando, pela milésima vez, Tayui tentou convencê-los a publicar suas histórias. Seiji e Misaki respondem um alto e sonoro “não”, quase ao mesmo tempo, acarretando mais uma cena dramática por parte do kitsune – que, consequentemente, logo gerou risos nos três.

O dia estava lindo e quente, e em nenhum momento Seiji sentiu ou pensou que algo negativo pudesse acontecer… Até aquele momento….

— Olá, Seiji! – cumprimenta Laus, chamando a atenção do trio e fazendo um calafrio subir pela espinha do neko, ao ver os seis garotos que o acompanhavam.