41 – Fim

"Posso confiar mesmo que vocês vão ficar bem?"

Era a quinta vez que Rony perguntava aquilo em dez minutos, desde que haviam se despedido de Draco e Harry. Depois de andarem por alguns minutos, eles pararam numa bifurcação que levava à entrada do castelo por um lado e ao saguão pelo outro.

"Sim, Ron." Gina respondeu a mesma coisa que havia dito nas outras quatro vezes quando também tentou passar confiança ao irmão."Só preciso chegar até a entrada no castelo. Não há necessidade que você me acompanhe nesse trajeto tão curto."

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Rony hesitou exatamente com Gina sabia que faria. "Harry não vai me perdoar se eu te deixar ir sozinha com o garoto. Merlin, eu não vou me perdoar se eu fizer isso."

Gina suspirou e aproveitou a pequena pausa para posicionar James mais confortavelmente no seu colo. As angústias de Rony – plenamente justificáveis- haviam começado porque uma parte lateral do castelo tinha sofrido uma forte explosão. Nada de anormal naquelas circunstâncias se não fosse o fato de que, infelizmente, aquela era a parte para qual Gina tinha visto Hermione se dirigir mais cedo. E a ruiva tinha se obrigado a dividir aquele pedaço de informação com seu irmão.

"Rony, estamos perdendo tempo." Gina argumentou tentando fisgar o lado racional de Rony. Mesmo se sentindo sensibilizada pela atenção do seu irmão, aquele era o momento de encarar os fatos com praticidade. "Quanto antes eu chegar até a entrada e você até Hermione, mais chances teremos de sermos bem sucedidos."

"Mas você é minha irmã-"

"E Hermione é sua esposa." Gina o interrompeu soltando uma das mãos da perna de James e colocando no rosto de Rony. "E nós duas o amamos profundamente. Mas, agora, quem mais precisa de você não sou eu."

"Nem sabemos se ela precisa mesmo de mim." Rony murmurou com um fio de esperança e um toque de orgulho na voz. "Mais provável que ela tenha causado a explosão e se livrado de um bocado de comensais para facilitar nossa vida."

Gina sorriu quando James concordou com o tio balançando distraidamente a cabeça. "É bem provável. Mas o seguro morreu de velho. Além do mais, eu estou saindo desse inferno." Ela disse com um sorriso ainda maior diante da possibilidade. "E Hermione ficando. Acho uma troca justa."

Rony bufou desdenhosamente como se estivesse desacostumado com o conceito de justiça. "E se a mulher do Ministro não estiver lá?"

"Ela vai estar." Gina respondeu suavemente.

Rony então pareceu vencido pela primeira vez. "Não tenho muita escolha, não é?" Ele coçou a nuca num gesto automático "Acho que quando o assunto é você, eu nunca tive muita escolha. Sempre fui arrastado a fazer o que você queria."

James lançou ao tio um olhar de 'eu conheço sua dor' que não agradou totalmente a Gina, mas que ela resolveu ignorar em nome da urgência.

"Mamãe vai cuidar de mim, tio Rony." James disse solenemente enquanto seus braços se apertavam mais em volta do pescoço de Gina. "E eu vou cuidar dela."

Rony sorriu para o menino e se rendeu finalmente. "Perdão, Gin."

"Não há o que perdoar." Ela fez um gesto apressado em direção onde considerava que seu irmão deveria seguir. Com uma última olhadela cheia de culpa, Rony deu as costas à irmã e saiu em busca da sua esposa.

"Bom, agora somos só nós dois." Gina disse para seu filho e retomou seu caminho.

Enquanto caminhava até a entrada do castelo, ela apertou o menino contra si o mais forte que poderia sem machucar ou assustar o garoto. A reação de James não era diferente; ele enlaçava o pescoço da mãe com os braços e duvidava que alguém pudesse tirá-lo de lá, mesmo com toda a magia do planeta.

Com sua mãe ao seu lado, nada poderia atingi-lo. Sempre havia sido os dois contra o mundo.

Mesmo que ela olhasse toda hora para trás, como se esperasse ver o Sr. Malfoy ou papai a qualquer momento.

Entendendo a situação pela qual sua mãe estava passando, James passou a mão suavemente pelos cabelos vermelhos dela.

"Eles vão ficar bem, ma." Ele deu três tapinhas encorajadores nas costas dela. "E nós também."

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Gina assentiu e se permitiu se sentir reconfortada com o pequeno gesto do seu menino.

Para ela, não tinha sido fácil deixar Draco e Harry para trás, virar as costas para uma batalha que também tinha sido dela há muitos anos. Tudo na vida, entretanto, era uma questão de prioridade e não era diferente daquela vez. James – metade do seu mundo – estava finalmente com ela. Ela sairia dali, pegaria Aries e esperaria para ver o que o destino havia reservado para ela e para sua família.

O pensamento lhe causou um aperto estranho na barriga, mas ela se obrigou a continuar andando.

"Obrigada, James." Ela disse ao ouvido do menino e, parecendo tomar uma decisão repentina, colocou James no chão e se ajoelhou diante dele, não sem antes se certificar de que eles estavam num lugar seguro. "Nós vamos sair daqui e esse será o nosso recomeço, ok? Vamos deixar todas as coisas ruins para trás."

"Okaaay." James arrastou um pouquinho a palavra como se não entendesse muito bem onde sua mãe queria chegar. "Como quando a gente acha um feijãozinho com gosto de algodão-doce depois de ter comido um com gosto de vômito?"

Gina não conteve um sorriso. "Exatamente, meu amor. Como uma segunda chance para nós dois. Se você puder me perdoar, por tudo que eu fiz."

"Acho que já perdoei há muito tempo…" Ele coçou a cabeça timidamente. "Só estava triste demais para dizer, eu acho."

Gina entendeu perfeitamente para onde iam os pensamentos do menino. "Eu sei que você está muito sentido por causa da Della..." Ela murmurou suavemente enquanto passava a mão no cabelo denso e escuro de James.

"Har, quer dizer, papai teve uma segunda chance comigo, o Sr. Malfoy teve uma segunda chance com todo mundo, você e eu teremos uma segunda chance de fazer a coisa certa um com o outro." Ele enumerou com os olhos verdes distantes - mais tristes -, com uma maturidade que Gina jamais esperaria de um menino da idade dele. Mas enfim, era de James que se tratava e ela já não mais se surpreendia com a capacidade que seu filho tinha de superar suas expectativas. "Mas Della… Ela não vai ter uma segunda chance para nada."

Os olhos dele se encheram de lágrimas e Gina reagiu mecanicamente, pensando no que diria para amenizar a situação com o menino, apaziguar a bruta realidade. Contudo, quando as palavras já estavam quase escapando pela sua boca ela se deu conta de que aquilo não funcionaria mais. Seu filho – seu primeiro bebê- não era mais um bebê afinal. E ele não merecia menos que a verdade. Nunca mais.

"Não, não vai ter." Gina disse gentilmente e James olhou para ela com expressão surpresa, como se ele não estivesse esperando por aquilo. "Mas nós podemos – e devemos – seguir em frente da melhor maneira que pudermos, honrando suas lembranças e os motivos pelos quais ela viveu. E o mínimo que podemos fazer é demonstrar respeito por alguém que nos amou como uma família."

James assentiu solenemente. "Ela era família."

"Sem sombra de dúvidas." Gina concordou e sorriu. "E é por ela que temos que nos esforçar e valorizar ao máximo nossa segunda chance. O que acha?"

"Parece…justo." James retribuiu o sorriso sereno e levantou a mão direita num gesto solene de quem prestava um juramento. "Sem mais fugas e desobediência."

Gina espelhou o gesto do filho. "Sem mais mentiras, sem mais desconfianças de que você não conseguirá lidar com a realidade."

"Fechado, mãe!" James exclamou subitamente voltando a ser um menino vivaz.

Gina se levantou com um sorriso mais radiante ainda, levando o menino pela mão. "E somos bruxos de palavra."

James concordou com energia e eles voltaram a caminhar num silêncio alerta, mas que não deixava de ser confortável – somente a presença de James já tornava tudo mais fácil. A ideia de ter recuperado seu filho fazia com que ela se sentisse confiante o suficiente para derrotar Voldemort à base de vassouradas certeiras naquela cara feia dele.

Isso não significava, é claro, que ela seria imprudente. Gina estava mais do que preparada para qualquer eventualidade, mas aquela parte do castelo aparentemente estava mais tranquila naquele momento. Todos os sons e agitação pareciam estar vindo do Salão Principal no extremo oposto ao saguão de entrada.

Tanto melhor, ela pensou com um misto de alívio e incômodo.

Estavam perto agora, tudo que precisariam fazer era chegar até a porta principal e esperar por Olívia, se ela já não tivesse lá, aguardando-os.

Com esses pensamentos em mente, foi com surpresa que Gina constatou dois pontos: o primeiro, Olívia não estava lá, e, segundo, Jorge estava. E uma sensação ruim originada na boca do estômago começou a se espalhar por ela.

Alheio aos sentimentos da irmã, Jorge abriu um sorriso radiante e se agachou para abraçar James bem apertado até o menino rir sem fôlego.

"A ideia era me tirar inteiro do castelo, tio Jorge." James gargalhou depois de ser solto.

"O conceito de inteiro inclui a presença da língua?" Jorge perguntou com uma mão no queixo de forma pensativa.

"Claro que sim!" James riu.

"É lá se vão meus planos de reformar um menino tagarela e fujão." Jorge suspirou triste e James ruborizou. "Aliás, ferimento imponente, hein." Ele apontou para o grande hematoma que cobria o lado esquerdo do rosto do garoto, da testa até a bochecha.

"Err," James deu um meio sorriso, ainda encabulado. "Já posso ser considerado um guerreiro?"

"Com essa cicatriz, pode apostar que sim!" Foi a vez de Jorge rir.

"Jorge," Apesar do conforto que a invadia ouvir uma risada de James depois de dias de agonia, ela se forçou a ir direto ao ponto. "Sabe onde está Olívia?"

Jorge assumiu uma postura séria, pela primeira vez desviando os olhos do sobrinho e observando sua irmã com uma expressão resignada. "Ela teve que levar o Ministro para longe daqui, Gina."

"O quê?!"

"Na verdade, Percy e eu a convencemos de que era o certo a ser feito." Jorge declarou e automaticamente esperou por uma dose do mau gênio da irmã.

Gina abaixou a cabeça abafando quaisquer sentimentos de traição que pudessem aflorar dentro de si e se concentrou no seu filho, que por sua vez a olhava com curiosidade. Perder o controle naquele momento – não quando tinha chegado tão longe – não adiantaria nada.

Jorge aproveitou a hesitação da irmã para continuar seu raciocínio. "Ela já se sacrificou e se colocou em perigo por nós – por você— quantas vezes, Gin?"

"Eu sei," Gina respondeu com os dentes cerrados, racionalmente sabendo que seu irmão estava certo. Ela balançou a cabeça para espantar os resquícios de egoísmo que ameaçaram se apossar dela. "Tenho total consciência disso. Mas o que eu vou fazer agora?"

"O mais sábio a fazer é achar um lugar seguro e nos escondermos." Jorge disse em tom de desculpa, sem melhores alternativas para dar. "Estou aqui para isso, aliás."

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Gina fez um gesto dissuasivo com a mão. "Não preciso de um guarda-costas para me esconder, Jorge." Ela tentou tirar o gosto de desprezo nas palavras, mas, pela expressão de Jorge, ela havia falhado miseravelmente.

"Não fale como se se esconder fosse ultrajante." Jorge rolou os olhos para ela e depois sorriu da sua forma mais endiabrada. "Use o Malfoy como inspiração. Essa é a especialidade dele, não?"

"Não é isso." Gina tentou se explicar melhor e ignorou o comentário espirituoso de Jorge. "Sei o quanto essa batalha é importante para você." Um 'Por causa de Fred' ficou implícito na frase dela e não passou despercebido por nenhum dos dois adultos. "Não é correto fazer você se abster dela, depois de tudo que fez para chegar até aqui."

"Não é certo deixar minha irmã caçula e meu sobrinho desprotegidos." Jorge rebateu sem hesitar.

"Tão igual a Rony, por Merlin!" Gina se exasperou.

"Hey!" Jorge exclamou ofendido com a comparação. Gina o ignorou.

"Dificilmente estaremos desprotegidos, Jorge." Gina tentou explicar mais uma vez. "Eu sei me virar."

"Quanto a isso, eu não tenho a menor dúvida." Jorge deu um meio sorriso que estranhamente envolvia humor e condescendência. "Não adianta teimar com você."

"Nem um pouco." Gina concordou, assinando seu estado de cabeça dura no processo.

"Não faça que eu me arrependa disso, Gina. Por favor. " Jorge suspirou e Gina concordou com aceno rígido da cabeça. Então ele se virou para James com seriedade. "Vai cuidar da sua mãe, garoto?"

"Vou." James balançou energicamente a cabeça e enlaçou seus dedos em volta dos da sua mãe para dar confirmação à sua força de vontade.

"Se cuidem, vocês dois." Jorge pediu como se relutasse em ir embora. "Nos vemos em breve."

"Em breve, prometo." Gina confirmou enquanto James e ela observavam Jorge adentrando o castelo.

XXX

"Estão no Salão Principal." Protegido por uma pilastra semidestruída, Draco espiou por uma fresta em direção ao Salão e não acreditou na informação que seus olhos estavam lhe transmitindo. Ele não conseguiu conter um riso desesperado. "De todos os lugares do castelo, é óbvio que ele escolheria aqui para terminar tudo." Ele passou o antebraço sobre os olhos num gesto automático enquanto controlava a risada que havia surgido na sua garganta. "Em grande estilo."

Harry, que não conseguia ver o humor da situação, simplesmente se desviou de mais um feitiço que acertou a parede atrás dele, se agachando para se esconder sob uma viga perto de Draco. "Conseguiu vê-lo?" Ele perguntou num sussurro urgente.

Draco acenou vigorosamente a cabeça num gesto afirmativo, enquanto buscava apoio com as costas rente à parede atrás de si. "Está sentado na cadeira do Diretor, em toda a sua glória ofídia. Parece até que está assistindo um bom jogo de quadribol em vez de uma carnificina."

Harry lançou um feitiço no último oponente no seu campo de visão e, agora com mais segurança, se levantou para espiar dentro do Salão com seus próprios olhos. Então voltou rapidamente à sua posição anterior.

"Muitos?" Foi a vez de Draco perguntar num murmúrio ofegante, devidamente protegido no seu refúgio sagrado com as costas na parede.

"Mais do que eu pude contar." Harry franziu a testa com a constatação e Draco fechou os olhos com a maior força que podia, se dando conta de que as coisas não poderiam ficar piores. Harry continuou seu raciocínio "Pelo lado bom, há muitos do nosso pessoal também."

Draco abriu os olhos cinzentos e encarou Harry fixamente. "Você tem consciência de que o conceito de nosso pessoal fica um pouco nebuloso quando você e eu estamos falando de Comensais e pessoas da Resistência, certo?"

"Quis dizer que há muitos Comensais lá dentro, mas também há um número semelhante de pessoas da Resistência." Harry rolou os olhos para Draco e se questionou internamente porque havia proposto – e se questionou ainda mais sobre a razão pela qual Draco havia concordado – em seguirem juntos durante a batalha.

Bom, Harry pensou resignadamente, a ajuda de Draco Malfoy é melhor do que nenhuma ajuda, eu acho.

De qualquer forma, não havia mais tempo para segundos pensamentos e se arrepender de escolhas feitas. Harry decidiu que já era passada a hora de acabar com aquela cisão do mundo bruxo de uma vez por todas.

"Está pronto?" Ele perguntou a Draco com certa reticência, como se estivesse dando uma última chance para que Malfoy recuasse.

Draco hesitou.

Seria infantil e inútil dizer que não havia a tentação de correr desesperadamente dali, encontrar o buraco mais profundo do mundo e se esconder até a virada do próximo milênio.

Mas ele estava tão cansado. De viver no limite, de sempre estar alerta, de servir.

E, acima de tudo, não era aquele mundo que ele queria deixar para Aries.

Depois daquela noite, que nunca mais dissessem que um Malfoy fugiu à luta.

(Embora muitos deles tivessem efetivamente fugido)

Draco deu um aceno rígido e curto para Harry, confirmando suas intenções.

Com uma última inspeção para verificar se a retaguarda estava segura, eles adentraram o Salão Principal apressadamente, receosos de se tornarem um alvo fácil na entrada. O que eles deveriam ter suposto, é claro, é que não seria mais seguro entrar naquele lugar do que ficarem expostos do lado de fora, de forma alguma.

Foi como se o tempo parasse.

E aquela era uma sensação bizarra, Draco tinha que admitir.

Automaticamente os olhos vermelhos de Voldemort pararam neles e, como se houvesse um feitiço magnetizador escondido em algum lugar no salão, a maioria dos pares de olhos cujos donos duelavam ferrenhamente seguiu a mesma direção. Malfoy se sentiu quase sufocado e, se não fosse a presença de Potter tão próximo de si, ele não teria evitado dar meia volta e correr para longe dali.

"Ora, vejam." Voldemort falou suavemente com sua voz penetrante e horrenda, sinuosa como uma cobra que rastejava para dentro dos ouvidos. "O Homem-Que-Sobreviveu e o meu mais temido Comensal da Morte." Ele bateu com o longo dedo indicador numa bochecha descorada. "Eis aí uma aliança inusitada."

A afirmação – quase um sussurro espirituoso, feito com bom humor – causou um arrepio de repulsa que percorreu todo o corpo de Draco. Instintivamente, ele apertou os dedos em volta da varinha.

"Olá, Tom." De onde estava, Harry respondeu com simplicidade é aquilo pareceu arrancar o bom humor da expressão de Voldemort. "Acho que já esperamos mais do que o suficiente por esse momento."

Desacostumado a ter alguém que ousasse se dirigir a ele como um igual durante muitos anos, Voldemort sibilou horrorosamente diante daquele nome há muito tempo não pronunciado, se levantou rapidamente da cadeira do Diretor e se atirou para frente para atravessar o salão em direção a Potter. Harry, por sua vez, deu passos corajosos e determinados para encontrar Voldemort no meio do caminho. Com o movimento, as pessoas pareceram sair do transe e feitiços voltaram a cruzar o ar numa imagem assustadora.

Draco tomou um segundo para respirar fundo e então seguiu a direção de Potter.

XXX

Com habilidade que lhe rendeu pelo menos mais alguns minutos de vida, Gina agarrou seu filho pela cintura e correu em direção à entrada do castelo enquanto jogava feitiços sobre o ombro.

Mais uma vez.

Bom, pelo menos dessa vez quase chegamos perto do lago, ela tentou se inflar com esperança.

Depois de terem sido deixados por Jorge, aquela era a terceira tentativa de se esconder em algum lugar menos acessível aos Comensais. Na primeira tentativa, quase chegaram à Floresta Proibida. Na segunda, chegaram a vislumbrar a Cabana que uma vez fora de Hagrid. Na terceira, conseguiram chegar até o lago à caminho da estufa, mas todas elas resultaram na mesma corrida desenfreada de volta ao castelo depois de uma aproximação de figuras suspeitas.

Se ela estivesse sozinha certamente poderia lutar com os comensais do lado de fora, mas tendo que proteger uma criança no processo, tudo ficava mais complicado.

De volta à relativa segurança da entrada, Gina pousou James no chão e na sequência se curvou colocando as mãos no joelho. Estava ofegante e aquele estado não contribuía em nada para que ela conseguisse atingir seu objetivo.

James parou ao lado dela e a observou atentamente enquanto Gina recuperava o fôlego. "Mamãe."

"Sim, querido." Gina ofegou sem realmente prestar atenção no menino. Sua mente já estava traçando mais um plano de fuga que não resultasse na sua volta ao mesmo ponto.

"Tá tudo bem." James afirmou num sussurro e passou a pequena mão pelo braço da mãe, num carinho que tinha a intenção de reconfortar.

Aquilo finalmente chamou a atenção de Gina. James não tinha feito uma pergunta então ela não soube o que responder. Tampouco era uma afirmação das mais exatas, por isso ela mais uma vez hesitou antes de dizer qualquer coisa.

"O que está tudo bem, James?"

"Você não conseguir nos tirar daqui." Ele explicou gentilmente.

Foi como um soco no estômago.

Gina fechou os olhos, apertando-os com força para conter a queimação que os ameaçava com lágrimas de fracasso.

Chegamos tão perto... Tão perto.

Mas James já tinha entendido algo que Gina não queria dar ouvidos até aquele momento: eles tinham mais chances do lado dentro do castelo do que do lado de fora.

"Não, não, não." Gina passou as mãos pelo cabelo sentindo sangue e cinzas nele. Sangue e cinzas, vermelho e cinza, sempre terminava assim com ela. Começava a sentir o desespero invadir-lhe mais uma vez. "Não era para ser assim, nós deveríamos ir embora daqui. Você deveria estar seguro."

James puxou a manga do casaco dela para que ela se virasse inteiramente para ele. "Acho que não quero estar em outro lugar."

Longe de você.

"Eu te amo tanto, meu amor. Você é a pessoa mais corajosa que eu já conheci." Gina o abraçou forte, já não contendo suas lágrimas que agora se misturavam a poeira e sangue no seu rosto. "Ainda assim, aqui não é dos melhores lugares para te deixar."

"Podemos tentar procurar Sr. Malfoy e o papai?" James ofereceu com alguma hesitação.

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Gina refletiu. Já tinha dispensado a companhia de Jorge e Rony e duvidava que Draco ou Harry fossem de grande ajuda naquele momento. Todos tinham as próprias batalhas para lutar. James e ela teriam que se esconder por ali mesmo até que Olívia voltasse ou que a Batalha acabasse – com esperança, com resultado favorável à Resistência.

Foi então que seus olhos captaram sombras à distância e seu estômago se apertou mais uma vez. Estavam sendo cercados pela frente e laterais.

"James, você ainda está com a Capa da Invisibilidade?" Ela sussurrou com urgência, sem tirar os olhos das quatro figuras que se aproximavam.

James pareceu refletir por um minuto e colocou a mão protetoramente sobre a mochila com desenhos de sapos que carregava consigo desde a fuga do esconderijo da família da sua mãe. "Não me lembro. Não sei se aqueles homens colocaram aqui de volta." Ele cutucou um bolso com o pequeno dedo indicador.

"Okay, deixe-me checar." Gina não esperou nem por mais um segundo e sequer registrou quando passou a mão pelo Chapéu Seletor em sua busca às cegas pela capa, até sentir sua textura peculiar, bem enrolada no fundo da mochila. "Graças a Merlin."

Com rapidez, Gina puxou o menino para aninhá-lo entre as suas pernas, sentindo quando ele colocou as duas pequenas mãos nos seus joelhos e, na seqüência, o cobriu com a Capa da Invisibilidade. "James, por favor, não saia debaixo dessa capa."

Foi tudo que ela pode dizer antes que os Comensais se aproximassem da porta da frente. Com rapidez que surpreendeu até a si mesma, ela conseguiu alvejar um deles com um feitiço certeiro e rebateu duas maldições com um feitiço protetor, mas não era suficiente. Sabia disso. Se continuasse ali, estaria assinando sua sentença de morte.

Não podia seguir em frente.

Não podia correr para os lados.

Não podia se esconder mais.

Mas, acima de todos os problemas causados pelas coisas que ela não podia fazer, estava o fato de que ela precisava de aliados para ter alguma chance de sair daquela sua situação. Não chegava a se arrepender de ter aberto mão de Rony – que precisava ir até sua esposa-, nem de Jorge – que havia esperado tanto tempo pela sua paz de espírito que viria com aquela batalha-, mas aquilo não a impedia de enxergar que sua situação demandava alguém ao seu lado.

Então, com um suspiro ríspido e resignado, ela sabia o que tinha que fazer.

Pegando a mão de James com tanta força que fez o menino dar um leve arquejo, Gina correu para trás se certificando que James a acompanhava. Havia tomado a direção ao Salão Principal, lançando feitiços sobre o ombro e rezando para que aquela loucura – que era sua última esperança – desse certo.

XXX

A partir do momento em que Draco entrou no Salão Principal, sabia que não haveria mais espaço para raciocínio. Agora, tudo se resumia às sensações – o gosto amargo do medo, do terror e morte incipiente. Cada feitiço desviado era uma sobrevida, uma pequena vitória pessoal.

Então ele seguia em frente.

Sua intenção era acompanhar Potter da melhor forma que pudesse (não que estivesse ansioso para ficar frente a frente com Voldemort, mas se Draco Malfoy se propunha a fazer algo, então que a tarefa fosse executada com perfeição). Porém, as forças que regem o universo, como era de seu costume, decidiram contra os planos de Draco; o caos da batalha tinha, de alguma forma, colocado uma distância entre eles. Potter tinha conseguido chegar até o Lorde das Trevas – ou o Lorde das Trevas havia chegado até Potter, Draco não saberia dizer ao certo – e eles duelavam com afinco quase maníaco.

Olhando a cena por alguns segundos, Draco tinha que admitir para si mesmo que ficara um pouco aliviado por ter se afastado acidentalmente de Harry. O alívio durou pouco, contudo, quando um feitiço o acertou de raspão no braço direito, exatamente aquele que já sangrava muito na opinião de Draco.

Ele olhou para o comensal que o atingira e o reconheceu imediatamente. Malfoy franziu a testa para o seu tio numa clara expressão de 'tenho mais de um metro e oitenta e você dá sorte de me acertar onde já estou machucado?'

Rodolpho Lestrange deu de ombros e sorriu. "Não pensei que te encontraria tão cedo depois de você e seus amigos terem me deixado estuporado naquele corredor."

Foi a vez de Draco sorrir apesar da dor no braço. "Estávamos com pressa. Da próxima vez, vamos nos certificar de que você permaneça inconsciente."

Lestrange grunhiu algo como 'traidores e seu senso de humor' e não perdeu tempo ao atacar Draco.

"Oppugno!" Ele exclamou fazendo vidros e destroços ao seu redor levitarem e se projetarem contra Malfoy. Sua única reação foi proteger os olhos com o braço bom, o que, de fato, não o deixou numa situação favorável.

Ele gemeu com os cortes principalmente no rosto, mas não hesitou em rebater com uma outra maldição e iniciar o duelo. Tinha confiança de que, apesar da dificuldade, conseguiria passar pelo seu tio e chegar até Potter; as habilidades de Lestrange nunca foram aclamadas como excelentes e Draco pesou suas possibilidades com uma ponte de esperança. Com esse pensamento, seguiu desviando e lançando feitiços não letais. Naquele espaço e com a quantidade de pessoas ao redor, ele entendia a hesitação que havia ao se lançar maldições da morte. Ele mesmo estava sofrendo desse mal naquele momento. Assim, tinha que se contentar com os feitiços menos mortíferos, mas não menos eficientes para tirar um adversário do caminho.

Ficou particularmente feliz quando um feitiço de imobilizar atingiu o joelho do seu tio, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio e caísse se apoiando no outro joelho, soltando um grito de dor. Draco tinha na ponta da língua um insulto que envolvia a idade do seu tio e como Bellatrix havia acabado com a capacidade sua fazer exercícios físicos quando avistou algo que o fez prender o fôlego.

Uma cabeleira ruiva adentrou a porta numa corrida desenfreada e cuja dona estava visivelmente esbaforida, lançando feitiços sobre o ombro até esbarrar num dos seus inúmeros irmãos, graças a Merlin.

O que aquela louca estava fazendo justo ali?

Por que ela não tinha dado o fora do maldito castelo?

E, principalmente, onde diabos estava o Cicatriz Júnior?

Todas aquelas perguntas povoavam a mente de Draco quando um feitiço o acertou em cheio no peito e o fez voar alguns metros, atirando-o contra uma parede do Salão, levando alguém da Resistência junto com ele e o afastando ainda mais de Potter e do Lorde das Trevas.

Absolutamente tonto, Draco sentiu uma queimação absurda onde o feitiço tinha atingido.

Não muito ruim, ele catalogou depois de apalpar o ferimento e tentando soar otimista. Na seqüência, fez uma careta de desgosto quando tentou se movimentar. Não era muito fácil ser otimista quando havia pelo menos uma costela quebrada.

Ele se desvencilhou da pessoa que tinha acertado na sua jornada até a parede sem lhe dar muitas atenções – aparentemente Angelina Johnson tinha amortecido seu impacto contra a parede – e passou a mão pela nuca dolorida, observando os dedos na seqüência. Sangue.

Maravilhoso.

Ele se levantou com certa dificuldade se apoiando apenas no seu braço bom e encarou Lestrange com determinação no olhar.

Primeiro teria que sobreviver. Depois, ajudaria Ginevra.

XXX

Gina chegou ao Salão Principal depois de correr durante todo o percurso, segurando firmemente a mão de James por baixo da Capa da Invisibilidade.

Quando olhou o cenário ao redor de si, Gina teve que controlar o impulso que seu queixo de ficar na altura dos seus joelhos.

Merlin, tanta gente, tantos corpos, tanto sangue.

Em uma batalha bruxa, deveria haver tanto sangue? Era tão primitivo que Gina sentiu seu estômago revirar tentando jogar para fora todas as suas refeições – sua sorte é que não houve muitas nos últimos dias.

Ela se amaldiçoou no instante seguinte quando percebeu que tinha se distraído e se chocou com alguém. Só houve tempo para levantar a varinha para o pescoço do seu oponente e esperar o próximo passo.

"Whoa!" Rony exclamou ao perceber a varinha de Gina no seu pescoço. "Que diabos, Gina! Já não basta ser atacado pela penca de Comensais ao nosso redor?"

"Oh, perdão!" Gina abaixou a varinha rapidamente. "Não vi que era você."

Rony a colocou atrás de si e lançou um feitiço estuporante num comensal que lutava com Luna a uns três metros dali.

"Percebi." Rony resmungou voltando a olhar para a irmã por cima do ombro. "Não era para vocês estarem a quilômetros daqui?" Ele perguntou chocado e cutucou com a varinha o lugar onde deveria estar a cabeça de James, escondida pela Capa da Invisibilidade.

"Ouch!" O menino deu uma exclamação ultrajada abafada pelo tecido mágico.

Gina o olhou com surpresa, mas não perguntou como Rony havia detectado a presença de James ali. Ele, Hermione e Harry tinham muito mais experiência do que ela quando o assunto era aquele artefato mágico especificamente.

"Não há tempo para explicar, Rony." Gina disse sem desviar a atenção do caos que os cercavam. "Mas resumindo muito, eu não tive escolha. E agora nossa melhor chance de escapar é sobreviver a isso aqui."

Rony assentiu resignado. "Por aqui." Ele então conduziu o sobrinho e a irmã até um canto mais afastado do Salão Principal, entre feitiços projetados e 'protegos' abafados. Eles demoraram alguns minutos para chegar a uma quina menos visada atrás do estrato dos professores e, depois de tatear um pouco o ar em busca do menino, empurrou James para o chão. "Acho que nesse lugar vocês ficarão menos expostos."

Gina suspirou aliviada, pretendendo de todo o coração ficar ali até ter uma oportunidade melhor. "Obrigada, Rony, eu-"

Ela não conseguiu terminar seus agradecimentos. Seu mundo parou por trinta segundos. Gina sentiu todo o sangue abandonando seu rosto quando se deu conta da cena que se desenrolava a dois metros dela.

Seu pai estava duelando com um comensal mascarado e, ao recuar de um feitiço, tinha tropeçado num dos destroços espalhados no chão e perdido o equilíbrio. Gina tentou alertá-lo para o que viria na sequência, mas não houve tempo. O comensal já havia apontado a varinha para o peito do seu pai, quase que encostando no tecido da sua capa.

"Confringo!" O mascarado exclamou e Gina podia sentir que o homem havia sorrido ao dizer aquilo. Viu o pai – já desequilibrado – cair para trás com a expressão surpresa e uma enorme saliência onde residia o lado esquerdo do peito, preenchida de forma repugnante por chamas vivas e hipnotizantes.

Gina mais sentiu do que viu Rony, depois de um grito que não parecia particularmente humano, disparar ao seu lado, se projetando sobre o Comensal e praticamente voando sobre o homem. "Maldito, maldito!" Ele gritou a plenos pulmões enquanto esmurrava o rosto mascarado, sua varinha absolutamente esquecida aninhada na cintura.

"Não!" Gina gritou inutilmente para evitar o impacto que já havia acontecido, com os braços esticados em vão como se pudesse amparar a queda de Arthur Weasley.

"Vovô!" James gritou ao seu lado ainda embaixo da capa e Gina só teve tempo de sibilar um 'fique aqui' que ela esperava que fizesse James ficar no lugar enquanto ela corria até junto do seu pai.

Ela se ajoelhou desajeitada ao lado dele, não se importando com as pedras que perfuravam seus joelhos. Seu pai estava pálido e de olhos fechados que tremulavam sob as pálpebras, com a cabeça num ângulo estranho; prontamente Gina a posicionou sobre seu colo. "Papai, fique comigo, por favor." Depois de checar se ele estava respirando – fracamente- ela sacou a varinha com as mãos trêmulas e apontou para o ferimento do pai. "Episkey!" As chamas cessaram, mas o ferimento ainda continuava com aquele aspecto horroroso. "Episkey!" Ela tentou novamente e novamente sem maiores resultados, sem sequer perceber que Rony havia se ajoelhado ao seu lado com as mãos cobertas de sangue e restos do material da máscara do comensal. Ela falava cada feitiço entre soluços e lágrimas. "Finite Incantatem! Episkey! Merda!" Ela bateu com um punho fechado no chão. Nada parecia funcionar.

Rony cobriu sua mão com a dele e, com a voz totalmente embargada, tentou argumentar com ela. "Foi muito perto, Gi." E Gina não soube se aquilo era uma afirmação ou uma pergunta – já tinha havido tantas naquela noite – então se limitou a retribuir o gesto de Rony, muito para não se jogar sobre o corpo debilitado do seu pai.

Arthur Weasley abriu os olhos verdes lentamente e fazendo um esforço visível, mirando os dois filhos mais novos com lágrimas nos olhos. "Obrigado aos dois, por continuarem lado a lado apesar de tudo." Ele sussurrou com a voz fraca. "Dificilmente eu poderia escolher uma melhor última imagem."

"Pai!" Gina repreendeu horrorizada, soltando a mão de Rony e usando para limpar o próprio rosto repleto de lágrimas.

"Não repita isso, pai." Rony implorou e passou uma mão trêmula pela testa pálida do pai. "Nós vamos te tirar daqui, procurar ajuda."

Arthur balançou negativamente a cabeça e aquilo custou a ele um outro esforço. "Molly está segura com meus netos e meus filhos estão aqui." Ele tentou sorrir e aquilo o fez empalidecer um pouco mais. "Estamos juntos, como eu sempre quis."

"E vamos continuar juntos por muitos e muitos anos ainda." Gina começou a balbuciar. "Você vai poder ver o filho de Rony nascer e crescer, conviver muito mais com Aries e James, estar lá por Victoire e Dominique..."

A cada palavra pronunciada de forma apressada e desesperada, contudo, ela sentia seu pai se afastar um pouco mais dela.

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"Tenho tanto orgulho de quem vocês se tornaram... Todos vocês." Arthur suspirou e Gina sentiu Rony ficar tenso ao seu lado.

"Vai estar conosco para ajudar a reconstruir um mundo melhor, pai. E só é possível por causa de você." Seu pai tinha um sorriso tatuado no rosto, mas não mais reagia. Gina se obrigou então a fazê-lo reagir, pegando-o pelos ombros e tentando levantá-lo, poderia até esbofetear se fosse necessário. "E Jorge! Jorge precisa de você para guiá-lo para longe da melancolia. Gui precisa de você para continuar servindo de inspiração. Merlin, eu preciso de você, papai! Não me abandone!" Ela já estava gritando e nem se dera conta disso, tampouco de que estava tentando sacudir o corpo do seu pai.

"Gina." Rony tentou interrompê-la, mas não obteve sucesso.

"Ouviu? Não me abandone." Ela estava pronta para desferir um feitiço enevarte quando Rony segurou seus braços e a obrigou a virar para ele.

"Não podemos fazer mais nada." Ele disse enquanto lágrimas silenciosas rolavam pelo seu rosto. "Não podemos fazer mais nada." Rony repetiu como se precisasse convencer a si mesmo.

Gina se desvencilhou das mãos de Rony para abraçar o corpo inerte do seu pai, chorando copiosamente sobre o peito dele, não se importando com o cenário ao redor. Rony projetou seu corpo sobre o de sua irmã como se quisesse criar um escudo para a própria Gina e, principalmente, para o seu pai.

"O Comensal...?" Gina perguntou com a voz abafada, com o rosto totalmente encostado no peito de Arthur, como se ela estivesse tentando escutar uma única batida do coração que havia acabado de parar.

O aspecto de Rony se tornou sombrio, carregado com a dor da perda. "Não terá mais a oportunidade de ameaçar mais nenhuma vida."

Gina simplesmente assentiu, sem se importar com as implicações do ato de Rony.

Rony pareceu voltar a si mais rapidamente. "Vamos, Gi. Temos que tirar o papai daqui."

Apesar do pedido e do quão expostos estavam, Gina não se moveu. "Será que sempre vamos perder, Rony? Perder um a um, como papai-" Ela não terminou sua frase, sentindo as lágrimas novamente sufocando-a.

"Eu não sei, Gi. Realmente não sei." Rony respondeu com sinceridade, limpando as próprias lágrimas com a manga da capa. "Mas duas coisas que eu aprendi com..." Ele hesitou um momento. "Que aprendi com a morte de Fred é que nada é em vão. E que as pessoas que amamos nunca morrem de verdade." Ele apontou para o coração, como se o irmão estivesse alojado ali durante todos aqueles anos. "Só partem primeiro que nós."

Assimilando as palavras do irmão, Gina levantou os olhos para Rony, limpou as suas próprias lágrimas e se levantou com a ajuda dele.

Tiraria o corpo do seu pai daquele inferno. Era o mínimo que poderia fazer por aquele que tinha lhe dado tudo, inclusive a própria vida.

XXX

Harry olhou de soslaio para o lugar onde deveria estar Malfoy, mas ele tinha sido encurralado por Lestrange. Agora era com ele. Como sempre tinha sido desde que tinha onze anos.

Eles já tinham encerrado um embate inicial e Harry se sentia esperançoso por ter saído dele sem maiores problemas além de alguns cortes. Não havia conseguido infligir nenhum dano ao bruxo das trevas, mas tampouco havia sofrido nas suas mãos.

Estranhamente, Voldemort ainda não havia lançado nenhuma Maldição da Morte contra ele. Se era algum trauma do passado (das últimas três vezes que ele tentara aquilo, não havia dado muito certo para ele), Harry não saberia dizer, mas estava muito grato por aquela mudança de postura.

Era como se Voldemort precisasse matá-lo de todas as formas possíveis, para que não houvesse mais voltas. E ele não conseguiria aquilo com um simples Avada Kedavra.

"Diga-me, Harry, o que está achando do mundo que eu criei em sua ausência?" Voldemort perguntou em tom de conversa. Harry o ignorou completamente, continuando os passos que eles davam, circulando um ao outro. "Tsk, o que Dumbledore acharia da sua falta de bons modos?"

Harry semicerrou os olhos verdes. "Nunca vamos saber, não é? Você é um covarde que mandou matá-lo."

"Sempre vendo as coisas pelo lado negativo." Voldemort o censurou como se ele fosse uma criança. "Eu apenas concedi uma chance para o jovem Malfoy salvar sua família através da tarefa de se livrar de Dumbledore e veja como ele me retribuiu."

Tentando pegar Harry desprevenido, Voldemort lançou um feitiço não-verbal que Harry desviou com menos esforço do que esperava

Ele está debilitado, posso sentir que ele está mais fraco, Harry pensou sem nunca desviar os olhos de Voldemort. É o preço que se paga por ter dividido sua alma tantas vezes.

"Malfoy retribuiu da forma que você merece."

"Estranho ouvir isso do homem que luta em nome da lealdade que as pessoas depositam nele." Voldemort acrescentou jocosamente. "Seria muito se eu pedisse o mesmo das pessoas que me cercam?"

"Medo não é e nunca foi sinônimo de lealdade, Tom." Harry argumentou serenamente.

Voldemort fez um gesto dissuasivo com a mão repugnante como se estivesse afastando o argumento de Harry como se fosse uma mosca inconveniente. "Por falar em lealdade e em Malfoy, imagino que sua surpresa maior foi descobrir em quais atividades a doce garota Weasley tinha se engajado nesses últimos anos."

"Gina é livre para fazer suas próprias escolhas." Harry respondeu com os dentes trincados.

"Liberdade é uma ilusão, se te serve de consolo." Voldemort continuou em tom de deboche. "Enfim, não julgarei as preferências questionáveis da menina. São os mistérios do amor. Eu aprendi a não subestimá-lo."

"Você não sabe nada sobre amor." Harry vociferou, finalmente perdendo a paciência. "Expelliarmus."

Voldemort rebateu o feitiço com facilidade. "Oh, pelo contrário; o bruxo sábio aprende com seus erros." Voldemort apontou sem misericórdia. "E você, Harry Potter, nunca aprende. É uma pena." Harry levantou sua varinha, mas teve tempo de lançar mais nenhum feitiço. "Crucio."

E Harry gritou.

XXX

Encolhido em um dos cantos do Salão Principal, James fungou e limpou os olhos na Capa da Invisibilidade.

Doía tanto.

Antes daquela noite, ele não tinha dimensão do quanto as coisas poderiam doer.

Ele levantou a cabeça para olhar mais uma vez para sua mãe, quase deitada sobre o vovô, chorando como James nunca havia visto antes. E para o tio Rony, que estava estranhamente projetado sobre sua mãe, como se pudesse protegê-la de tudo.

Contudo, James constatou com tristeza que ele não poderia proteger sua mãe – tampouco o próprio James – da dor que estavam sentindo naquele momento. James não conhecia o vovô há muito tempo, mas ele tinha sido uma das primeiras pessoas a lhe abrir os braços e estar lá, para o que quer que fosse.

O vovô era uma pessoa boa, James suspirou. Pessoas boas não deveriam passar por tudo aquilo.

Nem as pessoas más, talvez, mas James ainda não havia se decidido sobre aquele ponto.

Tentando desviar a mente e o olhar daquela cena, ele procurou o resto da sua família na multidão que se digladiava ferozmente. Tio Jorge e tio Percy estavam lado a lado, lutando contra três comensais e cercados por um ser estranho coberto por uma espécie de manto negro que escondia uma pele nojenta e pegajosa.

Viu Dave e Anne e ficou apreensivo por aqueles que tinham cuidado dele e de Aries por tanto tempo.

Tentou procurar o Sr. Malfoy, mas ele não estava em nenhum lugar que James pudesse ver. E, então, no meio das suas buscas uma série de gritos lhe chamou a atenção e ele encontrou seu pai e Voldemort.

Voldemort estava de pé com uma expressão de satisfação discernível mesmo aquela distância. Seu pai estava rolando no chão, gritando a plenos pulmões de uma forma tão desesperadora que James não resistiu ao impulso de levar as duas mãos aos ouvidos, tentando abafar aquele som, todos aqueles sons.

Seus olhos se voltaram mais uma vez para o corpo de seu avô e James decidiu que queria ter quatro mãos, duas para tampar os ouvidos e mais duas que garantissem a obstrução dos olhos. Sem ter essa opção, contudo, James se encolheu o máximo que podia, abraçou forte sua mochila e deixou as lágrimas correrem livremente pelo seu rosto, diante da dor, da tristeza, da culpa e da sensação de impotência.

Queria estar na sua casa ou no esconderijo da Resistência.

Queria poder voltar no tempo e nunca ter fugido. Talvez se não tivesse fugido, nada daquilo estaria acontecendo e aquela dor não estaria ali.

Mas não podia ajudar ninguém. Nunca pôde, nem mesmo Della, e tinha sido por ela que tudo tinha começado.

James se abraçou um pouco mais firme, como se quisesse se tornar minúsculo. Nos braços, a mochila era quase uma extensão do seu corpo e James tomou um susto quando sentiu algo se movimentar lá dentro.

O chapéu!, James pensou com peso na consciência. Estava tão ocupado apertando sem misericórdia a mochila contra si que se esqueceu que havia um ser vivo – na falta de classificação melhor – ali dentro.

Ele abriu a mochila e tirou o chapéu desajeitadamente. Ele saiu com um puff abafado (que James interpretou como uma expressão de ofensa). Ainda continuava sendo um chapéu velho e surrado que não trazia grandes esperanças para James, ainda mais quando ele se remexeu um pouco como se estivesse fazendo um alongamento. Lembrou um pouco a Sra. Longbottom, que James tinha conhecido quando ela fora até o Chalé das Conchas visitar seu pai.

Então o Chapéu tossiu dramaticamente e caiu de lado inerte.

"Você morreu!?" James apontou o dedo indicador de forma acusadora para o Chapéu considerando uma traição particularmente cruel se ele tivesse morrido justamente depois de ter sido carregado até ali. Não poderia aguentar mais mortes, não depois do vovô.

Contudo, não era o fim da vida do Chapéu como ele temia. Num suspiro entediado, o objeto falou com James mais uma vez.

"Da nossa última conversa você deve se lembrar."

"Sim." O menino confirmou acenando com a cabeça.

"Então também se lembra que Hogwarts sempre ajuda aquele que dela precisar."

Com isso, algo brilhante dentro do chapéu chamou a atenção de James. Lentamente como se estivesse pedindo permissão, o menino levantou a aba do chapéu, espiando melhor o objeto que ali estava – ou que ali tinha aparecido, uma vez que James com certeza teria notado uma espada enorme dentro do Chapéu que também estava dentro da sua mochila.

"O que eu faço com isso?" James perguntou assustado, puxando a espada de dentro do chapéu, sentindo seu peso.

"Nada que esteja fora do seu alcance.

Algo que você talvez queira, uma nova chance."

Os olhos de James foram do chapéu e depois para a espada.

Uma chance.

Ele não poderia trazer Della de volta ou o seu avô. Mas poderia fazer a diferença sobre o que viria dali em diante. Com isso em mente, James colocou respeitosamente o Chapéu Seletor na mochila, ajeitou a Capa da Invisibilidade ao redor de si – sua mãe ficaria louca se ele saísse totalmente desprotegido – e, com algum esforço levantou a espada que era quase do seu tamanho.

Seguindo com as costas encostadas na parede, James começou a se arrastar lateralmente para perto da onde seu pai estava, com a esperança de que poderia ajudá-lo de alguma forma.

XXX

Draco não podia negar que não estava nas suas melhores condições. Estava tonto, perdendo muito sangue no braço, com cortes de variadas profundidades pelo corpo e com a cabeça doendo terrivelmente. E, para completar, a imagem do seu tio à sua frente não contribuía em nada para alegrar seu estado de espírito. Ele deu dois passos à frente com dificuldade e então encarou Lestrange nos olhos, que sorriu para ele.

"O mais admirável e irritante sobre você, Draco, é que você nunca desiste." Lestrange concedeu, cercando Malfoy lentamente. "Sempre se levanta de novo e de novo com uma expressão de superioridade tatuada nesse rosto desagradável."

"São seus olhos, tio." Ele cambaleou em busca de equilíbrio, segurando o braço machucado. Pela primeira vez naquela noite, Draco teve a impressão de que não chegaria até o fim dela. Se tivesse sorte, se livraria de Lestrange, mas depois disso começava a duvidar que conseguiria ir muito longe.

"Contudo, dessa vez não pretendo permitir que você se levante. Adeus, sobrinho." Lestrange apontou a varinha em direção a Draco e disparou. "Avada Kedavra!"

Não houve tempo de reação.

Pelo menos não de Draco.

Ele sentiu um baque no seu corpo que o atirou de cara no chão, batendo com força a cabeça e o braço direito, que estava sendo pressionado por um peso quase insuportável.

É isso o que é morrer? Se não for, chega bem perto disso.

Demorou alguns segundos para perceber que o peso sobre braço pertencia a um homem bem robusto. Um ruivo.

Um dos infinitos ruivos.

"Estupefaça!" Gritou uma voz de mulher com forte sotaque atrás dos dois, lançando um feitiço que atingiu em cheio o peito de Lestrange, jogando-o para longe.

Draco estava quase desmaiando. A única coisa que o mantinha acordado era a adrenalina da batalha e o coração disparado. Ainda observava o Salão Principal de um ângulo estranho, com a cara colada no chão. O teto parecia se mover, ora chegando mais perto, ora se afastando. Pôde distinguir a expressão moribunda no rosto de um Comensal caído perto dele, agarrando a própria barriga e uivando de dor; imaginou que sua expressão não deveria estar muito longe daquilo. Quando seus olhos começaram a girar nas órbitas no primeiro sinal de desfalecimento, ele sentiu o homem sair de cima do seu braço – devolvendo um pouco da sua consciência- e pôde reconhecer qual dos irmãos de Ginevra aquele era.

"Vamos, Malfoy." Carlinhos Weasley resmungou quando se ajoelhou ao lado de Draco. "Não me obrigue a ter que dizer para minha irmã e meus sobrinhos que eu deixei você aqui, inconsciente e no meio da batalha."

Draco afastou Carlinhos com um gesto fraco e impaciente da mão, mas não conseguiu sair do chão no tempo que desejava.

Foi então que ele conseguiu ver pela primeira vez a mulher que tinha lançado o feitiço em Lestrange. Uma loira de pele bronzeada e quase do seu tamanho o olhava com repreensão e uma dose inconfundível de desprezo.

Ela pareceu ficar impaciente com a demora de Draco para retomar completamente a consciência e se agachou ao nível de Draco, agarrou firmemente seus dois braços – inclusive o machucado – e o colocou de pé num solavanco. Draco gemeu dolorosamente.

"Mirela, cuidado!" Carlinhos exclamou e tentou aparar para a queda iminente do cunhado. "Ele não parece estar bem."

"Ninguém aqui está bem, Carlos." Mirela respondeu com o máximo de gentileza que podia e se limitou a observar Draco tentando recobrar seu equilíbrio. "Não temos tempo!"

Contra aquilo Draco não poderia argumentar, por mais que sua vontade fosse dar um safanão na mulher por tê-lo erguido com a delicadeza de um trasgo.

Depois de alguns segundos Draco conseguiu dominar seus movimentos, ainda que estivesse se sentindo como se tivesse caído do Expresso de Hogwarts em movimento.

"Potter." Foi a única palavra emitida por Draco enquanto ele olhava o cenário ao redor de si.

"O que tem Harry?" Carlinhos perguntou, não gostando do rumo daquela conversa. Malfoy definitivamente não estava em condições de ajudar ninguém – começando por si mesmo.

"Onde está Potter?" Draco perguntou com mais veemência dessa vez.

"Malfoy-" Carlinhos tentou aconselhá-lo, mas foi interrompido por Mirela.

"Está a quinze metros, na nossa diagonal." Ela apontou com a varinha para o lugar onde Potter duelava com Voldemort, quase no fundo do Salão.

"O que ele vai conseguir fazer nessas condições?" Carlinhos indicou Malfoy com um braço coberto de cicatrizes.

"Um homem faz aquilo que tem que fazer." Foi a resposta enigmática de Mirela, que suscitou um suspiro exasperado de Carlinhos.

Draco, pela primeira vez, não se incomodou com o fato de estarem falando sobre ele como se o próprio Draco não estivesse presente - de fato, aquilo lhe lembrava um pouco Narcissa e Lucius, mas ele afastou o pensamento. Ele tinha que ignorar tudo aquilo porque, ao olhar para a direção que Mirela tinha apontado, além de avistar Potter sendo massacrado pelo Lorde das Trevas, tinha visto algo a mais que deixou seus joelhos um pouco menos firmes.

Bem rente à parede, estava um par de tênis infantil cujo dono estava com o resto do corpo magicamente invisível. E, ao lado dele e da parte visível da sua mochila ilustrada com sapos, estava a extremidade preocupantemente pontiaguda de um objeto prateado.

A visão daquele objeto lhe causou náuseas que Draco não pôde explicar totalmente.

Fechando os olhos e pedindo a ajuda de qualquer entidade espiritual, Draco começou a se arrastar em direção a Harry, sob o olhar preocupado de Carlinhos e orgulhoso de Mirela.

XXX

O barulho havia cessado e Harry pôde ouvir seus pensamentos mais uma vez.

Demorou dez segundos para que ele se desse conta de que Voldemort tinha parado de torturá-lo e o observava de cima com uma expressão de desgosto e asco no rosto horrível.

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"Tudo isso, Harry, para quê?" Voldemort perguntou num tom condescendente. "Você trouxe seus amigos – sua família – até aqui para morrer mais uma vez, como fez há tantos anos. Para que eles vejam o seu fracasso?"

Harry se apoiou nos cotovelos para conseguir se levantar. "Trouxe-" Ele engoliu saliva para conseguir falar melhor. "Trouxe minha família até aqui para que tivéssemos uma chance de recomeçar."

"Olhe para você, Harry." Voldemort apontou com a varinha diretamente para Harry, sentindo um prazer mórbido em humilhá-lo e em falar com ele daquela posição de superioridade. "Tanto esforço para isso? Você sequer consegue me infligir uma injúria – por menor que seja-, insiste em usar feitiços de pessoas limitadas e covardes. Como ousa falar em recomeço, quando você não consegue ir além das barreiras morais que estabeleceram por você?"

"Fazer o que é certo não é algo estabelecido por alguém." Harry rebateu sem hesitar."E só é uma barreira para pessoas como você."

"Você é um fraco e um tolo, Harry Potter." Voldemort sibilou quando se cansou dos argumentos de Harry. "E eu estou extremamente desapontado com o quão pouco você fez ao reaparecer depois de todos esses anos. Não tenho mais paciência nem o desejo de prolongar essa farsa que é a ressurreição do Homem-que-Sobreviveu e a insurgência da Resistência. Eu vou dar a você e à sua família o recomeço que vocês desejam. Um recomeço sob seus túmulos."

"Não se eu puder evitar, meu lorde." Draco afirmou sarcasticamente, intervindo ao se aproximar de Potter e Voldemort com dificuldade.

"Olá, Draco." Voldemort se virou para Malfoy como se estivesse agradavelmente surpreso com a visita de um velho amigo. "Nesse momento mesmo estava imaginando se você já teria fugido ou se escondido sob a sombra de Narcissa."

Draco engoliu o pavor que sentia toda vez que Voldemort lhe dirigia a palavra. As condições do jogo haviam mudado e não havia mais brecha para isso. "Nesse momento mesmo estou imaginando que deveria ter fugido." Ele se arrastou um pouco mais para frente. "Pelo jeito, sou uma decepção para nós dois."

Voldemort não sorriu, totalmente desacostumado com Draco mostrando vestígios de impertinência ao se dirigir a ele. "E como você pretende me impedir, Draco? Teve a oportunidade de se encarar ultimamente?"

Draco engoliu em seco.

Voldemort tinha razão.

Numa situação onde Draco estivesse totalmente saudável e no auge das suas capacidades mágicas, ele ainda não seria páreo para Voldemort e desconfiava que nem Potter pudesse bater o bruxo das trevas usando magia. Naquelas condições então, debilitado e sem sequer conseguir permanecer de pé, dificilmente seria uma ameaça.

"Usando as armas que tenho." Draco respondeu com sinceridade. Não havia sentido em tentar mentir para alguém que podia entrar na sua mente. "Sempre fiz isso, não tem sentido mudar agora."

Dessa vez, Voldemort não escondeu o sorriso ofídio.

XXX

Harry se levantou com dificuldade sentindo os efeitos da Maldição Cruciatus percorrendo todo o seu corpo.

Agradeceu mentalmente a Draco por aquela interrupção bem vinda que lhe daria mais alguns minutos para refletir sobre seu próximo plano de ação. Que Draco colocasse a conversa em dia com Voldemort enquanto ele se recuperava.

Estava prestes a lançar mais um feitiço quando viu uma mão, presa ao nada, acenando freneticamente para ele da parede. Harry conteve o impulso de limpar os óculos para enxergar melhor.

Merlin, permita que não seja o que estou pensando que é, Harry pensou desesperadamente. James, nessas horas eu realmente queria que você não fosse tão parecido comigo ou com Gina.

A pequena mão então levantou a barra da Capa da Invisibilidade e revelou a espada de Godrico Grifinória encostada rente à perna de James..

Merlin, foi tudo que Harry pensou.

XXX

Draco deu dois passos para a direita obrigando Voldemort a acompanhá-lo para não ficar exposto a nenhum feitiço; nem dele nem de Harry, que estava um pouco mais a esquerda, por enquanto isolado da conversa. O movimento forçava Voldemort a ficar num ângulo que o impedia de ver a mão de James que acenava e, para o horror de Draco, mostrava uma espada gigante para Harry.

Maldito menino estúpido!, Draco pensou, mas logo fechou sua mente para o caso de Voldemort espiar dentro da sua cabeça.

"Vejo que terei que lidar com os dois então." Voldemort suspirou com certo drama.

"Se não se importar, prefiro lidar com você primeiro, meu lorde." Draco pediu com falsa humildade.

Voldemort perdeu a paciência, avançando em direção a Draco e apontando a varinha para o seu rosto. "Estou cansado de você e seu sarcasmo, Draco, assim como estive cansado do seu pai e suas bajulações. Sua família nunca trouxe nada além de vergonha para o sangue puro dos bruxos."

Draco cambaleou para a frente numa tentativa de se desviar da varinha, mas quase se desequilibrou sentindo o sangue fugir do seu rosto mais uma vez. Tinha pouco tempo.

Voldemort o segurou pela capa como se ele não pesasse quase nada, prensando a varinha contra seu pescoço. "Ah, não desfaleça tão cedo, Draco. Não quero te matar enquanto estiver desacordado, nem antes que você veja o que acontece com os traidores de Lorde Voldemort, antes que você veja o que eu farei com sua mãe, sua mulher, seu filho. Somente quando eu transformar tudo que você ama em cinzas, Draco Malfoy, somente então você terá minha permissão para morrer."

Ao ouvir aquilo, Draco não pensou duas vezes. Draco sequer pensou, se fosse honesto consigo mesmo. Todos os pontos daquela história se uniram harmoniosamente e ele soube o que tinha que fazer. Ele se projetou para frente, deixou que a varinha se enterrasse na carne do seu pescoço e literalmente abraçou, Voldemort.

E então, pela primeira vez na vida – e provavelmente última, Draco encarou Harry Potter com os olhos cinzentos carregados de súplica.

Harry hesitou por um milésimo de segundo (ele mesmo já tinha entendido o que deveria ser feito) enquanto Voldemort, surpreso, tentou se desvencilhar de Draco como se o contato com ele – com um bruxo de classe inferior – fosse algo grosseiro e repugnante.

Draco trincou os dentes diante daquela hesitação. "Potter, é AGORA!"

O semblante de Harry misturava resignação, melancolia e determinação ao se virar para o lugar onde estava James e erguer sua varinha. "Accio, espada!"

A espada saiu voando de onde estava aninhada perto da perna de James, derrubando a Capa da Invisibilidade e revelando o menino para pousar seu cabo com certa violência na mão direita de Harry.

Draco desviou o pescoço da varinha de Voldemort no momento em que da ponta dela jorrou um jato verde que seria sua morte antecipada e apertou um pouco mais seus braços em torno da figura magra, usando seus últimos resquícios de força.

"Pretende ir a algum lugar, meu lorde?"

Voldemort não teve sequer tempo de responder quando virou a cabeça para o lado a tempo de ver Harry se aproximar por trás e fincar a espada de Godrico Grifinória no seu torso, transpassando-o e, por consequência, perfurando o corpo de Draco junto com o seu, grudando os dois numa imagem repulsiva.

Voldemort lançou um olhar de absoluta perplexidade para Harry e depois para James, ainda encostado na parede. Era simplesmente impossível que ele estivesse morrendo de forma tão não mágica, em Hogwarts, sua casa, seu território, sua alma.

O fruto originado em um, tem o poder de perdição sobre o outro. E tudo o que carregar o fruto de um, será maldito e venenoso para o outro…

A profecia era verdadeira...

Desviando os olhos de Potter e seu filho, ele virou o rosto para Malfoy e viu que ele sorria, com seus dentes marcados de vermelho pelo sangue que estava subindo pela sua garganta.

Por um instante, eles ficaram apenas se encarando e Voldemort teve seu golpe de misericórdia ao constatar que sua última imagem seria o sorriso ensanguentado de Draco Malfoy.

Seu corpo – cuja a alma que nele residia já estava em decomposição e fraca há muitos e muitos anos – começou a se esfacelar como se não houvesse ossos e músculos, sendo formado apenas por partículas de poeira e sujeira.

Num último grito que não era nem um pouco humano, o que restava de Voldemort explodiu numa nuvem de escura e repugnante, assim como o próprio tinha sido em vida.

Harry observava tudo, ainda segurando a espada, até perceber que não havia mais Voldemort, apenas Draco transpassado pela espada na barriga. Harry puxou a espada rapidamente, torcendo para que aquele fosse o melhor curso de ação e que Draco pudesse resistir até conseguirem ajuda.

Draco, por sua vez, ficou livre do único apoio que o prendia e pendeu para trás, caindo no chão com um baque surdo, finalmente em paz desde que tinha dezessete anos.

Em paz.

Ele quase podia sorrir, de verdade dessa vez. Mas estava tão fraco, tão cansado.

Seu mundo foi se apagando pouco a pouco e a última coisa que Malfoy ouviu foi o grito de lamento de Ginevra vindo de alguma parte do Salão Principal. Ele desejou inutilmente poder ver o rosto dela pela última vez.

Então Draco mergulhou na abençoada escuridão.