Casamentos sempre brilhavam nos olhos de muitos. Na nossa cultura os mais belos eram aqueles em que se utilizavam os vestidos vermelhos. Quando pequeno, eu não entendia bem o porquê.

Eu só cheguei a ver na vida uma única noiva de vestido vermelho antes de ter de sair de casa, de passagem, e algo realmente parecia diferente, algo naquela cor me fazia ter uma mistura estranha de temor e atração.

Minha mãe me sorria como se estivesse sofrendo quando eu perguntava sobre eles.

Chegou o dia em que eu, com surpresa, ganhei meu próprio vestido vermelho.

Mas nenhum deles estava mais lá para vê-los. Meu pai, minha mãe, aqueles que me entregaram com olhos incertos.

“Apenas a corajosa casará de vestido vermelho” Minha mãe chegou a me dizer antes que eu não pudesse mais vê-la.

E eu soube que aquele era apenas mais um vestido branco tingido de vermelho, e aquele vermelho deveria ter sido meu, que não deveria ter existido.

Não se poderia ter filhos antes do casamento, apenas as corajosas lavavam sua honra com sangue. Elas afogavam seus filhos com culpa nos olhos. Essa culpa, junto com o sangue, lavava as honras delas, e elas e seus maridos legítimos eram abraçados pela sociedade.

Depois que eu soube disso por minha mãe, que acabou por dizer isso para mim depois de muito insistir, com muita hesitação, achei que aquele destino era certo, e tentei ficar ao lado dela o tempo que tínhamos, mas disseram que minha mãe preferiu não fazer isso. Por isso, ela se matou e meu pai foi perseguido e morto. Era eles ou eu.

Gota, gota, gota.

Será que aquela era uma mensagem de arrependimento, de alguma forma?

Eu queria que fosse, apesar de ter uma grande certeza que não era bem assim.

E isso só fazia doer mais.