Attack on Zombie

PoV Eren


Ela estava do mesmo jeito que a primeira vez em que a salvei: com os olhos assustados e cheios de lágrimas. Essa era uma visão difícil, já que Mikasa era sempre forte e indiferente.

Ela sempre queria me proteger, mas dessa vez seria diferente.

Mesmo que fosse pela última vez, eu ira salvar essa garota assustada novamente. Do mesmo jeito que há muito tempo, eu queria dar a ela mais uma chance de sobreviver.

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— Não seja tonta, Mikasa! — Ela, ainda meio atordoada pela minha cabeçada, olhou para mim confusa. Sorri para ela, tentando fazer com que as próximas palavras soassem as mais verdadeiras possíveis. — Eu me viro.

Mas eu sabia que aquilo não seria verdade. E ela também.

Empurrei-a para trás e segui em direção àqueles mordedores. Eu precisava despistar eles para dar uma chance à Mikasa. Quando me aproximei o suficiente, virei para o lado e eles me acompanharam, correndo atrás de mim na tentativa de me devorar.

Olhei uma última vez para a imagem da garota que ficava para trás. Ela balançou a cabeça e, chorando, correu para o outro lado.

Apesar de meus perseguidores continuarem firmemente atrás de mim, eu me sentia calmo: ela conseguiria; eu sabia disso.

Ela conseguiria levar meus pais ao porto e todos eles conseguiriam sobreviver.

Mesmo assim ainda havia uma dor em meu peito: eu queria sobreviver junto com eles.

Mas pelo menos eu teria dado minha vida para salvar Mikasa e minha família.

*

Apenas quando o anoitecer chegou foi que eu consegui sair da floresta. Somente me vi livre daquele grupo de mordedores que me perseguia após atravessar a nado um rio que cruzava a floresta. Enquanto os observava sendo levados pela correnteza, eu tirava o tecido que eu havia envolvido minha mão e limpava a mordida.

Olhar para o meu pulso esquerdo, o qual tinha uma parte de carne arrancada, parecia doer mais do que o próprio ferimento, pois eu sabia que não era a dor a pior coisa e sim o que aquela mordida seria capaz de fazer: me transformar em um monstro.

Peguei o pequeno punhal que recebi de Annie e me preparei para arrancar minha mão. Pensei em cortar o pulso, pois talvez o ‘veneno’ ainda não tivesse se espalhado, já que mesmo após algumas horas eu ainda não tinha sentido mudança alguma. Amarrei aquele pedaço ensanguentado de minha camisa um pouco acima da mordida e coloquei a lâmina sobre a minha pele.

Mas hesitei: talvez a transformação fosse de uma hora para outra, sem que eu pudesse sentir mudanças; o que não adiantaria em nada arrancar o meu pulso. Fiquei com o punhal sobre a minha pele por algum tempo, pensando se talvez isso resolveria algo. Será que eu já estava contaminado?

O ferimento ainda soltava sangue. Aquilo doía. Por que isso tem que acontecer? Por que temos que perder nossas vidas e nossos sonhos?!

Enquanto eu ainda pensava na atitude que eu deveria tomar, o som dos passos arrastados de um zumbi surgiu atrás de mim. Aquele mordedor idiota veio em minha direção.

Droga. Se naquela hora na floresta eu tivesse desviado daquele mordedor como eu desviei desse eu ainda poderia estar com Mikasa. O zumbi voltou o rosto para mim de novo. Seus dentes amarelados ainda não tinham vestígios de sangue e sua roupa ainda não estava tão desbotada e mal arrumada como a dos demais. Deveria fazer pouco tempo que ele se transformara e ele queria fazer de mim a sua primeira refeição. Daqui alguns instantes eu poderia ser um morto-vivo como ele procurando alguma presa.

Droga. Eu dei de tudo para derrotar esses malditos. Para impedi-los de nos privar do que é nosso! Eu queria salvar minha mãe, meu pai e Mikasa. Mas eu estava assustado. Eu não queria ser como aqueles seres sem alma. Droga. DROGA!

Aquele zumbi avançou para mim novamente, com toda a velocidade que seu corpo morto poderia oferecê-lo. O punhal ainda estava na minha mão e aquele desgraçado vinha em minha direção. Poderia ser por pouco tempo, mas eu ainda estava vivo! Eu ainda tinha consciência!

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— EU NÃO VOU DESISTIR DE TUDO AINDA!

Ergui o punhal e finquei na cabeça dele. Ele caiu no chão e o sangue negro começou a se espalhar. Olhei para o meu pulso ferido e apertei a minha mão, fazendo o meu sangue vermelho pingar no chão e se misturar com aquele sangue escuro.

Eu não vou arrancar minha mão. Que se dane esse maldito vírus. Eu quero aniquilar cada um desses malditos monstros. E eu farei isso com as minhas próprias mãos!

*

A estrada na qual eu tinha saído estava praticamente vazia, apenas com alguns carros parados e alguns mordedores pelo caminho. Peguei o pequeno punhal e fui ao encontro dos zumbis para eliminá-los. Mesmo que eu morresse, eu iria deixar esse mundo um pouco mais limpo desses detestáveis insetos.

O anoitecer estava ficando cada vez mais intenso e meu corpo necessitava de uma pausa. Caminhei até encontrar um depósito abandonado e nele entrei. Não havia nenhum zumbi me esperando e, por sorte, ainda tinha latas de alimento em conserva que, apesar de estarem velhas e o sabor não ser nada agradável, serviram como refeição aquela noite para mim.

Depois de me alimentar, eu sentei encostado em uma parede e novamente desfiz aquele pedaço de roupa que estava sendo usado para estancar o sangue e olhei para a ferida. Continuava a sangrar.

Suspirei desanimado e coloquei aquele atamento improvisado mais uma vez. Com a cabeça apoiada na parede eu pensava em como seria virar um zumbi. Pensava em como eu ainda iria andar mesmo estando morto, mesmo não sendo mais eu.

Quando eu fechei os olhos, imaginei que aquela seria a última vez que me lembraria de algo. Imaginei que quando eu acordasse, eu poderia não ser mais eu.

Mas eu estava errado.

*

Quando o sol passou pelas vidraças quebradas, eu despertei com uma poça de sangue ao meu lado. Minha cabeça estava tonta e meu corpo fraco.

Olhei para o ferimento que, apesar de diminuir a intensidade do sangue que saía por ele, continuava a sangrar. Respirei fundo e, de repente, comecei a rir. Eu ainda estava vivo, mas sentia que iria morrer logo nesse ritmo.

Comi mais um pouco do alimento das latas em conserva e saí para procurar uma farmácia ou loja que tivesse algo para melhorar o meu ferimento.

Os zumbis que eu ia encontrando no caminho iam sendo abatidos por mim, mas quando a quantidade começou a aumentar, fiquei preocupado pensando que somente aquele punhal não adiantaria nada. Mas logo eu encontrei um homem morto com uma Ruger .22 ao lado, ainda com cinco balas no tambor e mais à frente havia um machado. O machado seria ótimo, a Ruger iria fazer barulho, mas seria muito útil em necessidade.

Ao adentrar na cidade encontrei um mercado lotado de mordedores. Guardei a Ruger e tentei dar conta deles apenas com o machado, o que foi bem sucedido. Na seção farmacêutica havia várias coisas úteis para ferimentos e utilizei-os para limpar a ferida e depois usei uma atadura de crepe para cobrir o ferimento. Por fim peguei alguns antibióticos para tomar se necessário e coloquei o machado em mãos. Foi apenas eu dar alguns passos que já havia uma coisa daquelas se arrastando no chão. Finquei o machado com toda a força na cabeça dela, deixando-o fincado em seu crânio ao ver uma arma melhor caída no chão: era uma Alabarda, um tipo de machado com duas lâminas e uma haste comprida rematada por uma peça pontiaguda. Não pude deixar de sorrir ao ver aquela arma, quase que medieval, em um lugar daqueles.

Saí daquele mercado com a Alabarda na mão, sendo bem mais eficiente para decepar a cabeça de qualquer morto-vivo que cruzasse minha frente.

Após andar um pouco mais, peguei um dos carros abandonados que ainda tinha a chave na ignição (e ainda tinha também um motorista morto-vivo no banco) e comecei meu caminho para Seattle.

Eu não sabia bem ao certo o porquê ir para lá, mas talvez eu ainda encontrasse uma solução lá ou alguém que eu pudesse ajudar.

Após algum tempo seguindo pela estrada, a quantidade de mordedores começou a aumentar significativamente, até eu encontrar dois carros capotados fechando o caminho.

Os zumbis corriam até o meu carro e eu continuava a avançar em direção a estrada fechada. Bem, se eu já iria morrer de qualquer jeito, não custava nada arriscar mais um pouco.

Ao aproximar bem dos carros capotados eu girei completamente o volante, fazendo com que o carro girasse de lado. Enquanto o carro derrapava de lado, eu abri a outra porta e, antes que ele batesse nos outros carros, eu dei um salto. Quando abri os olhos, meu único braço inteiro estava completamente ralado, e parte do meu rosto sangrava.

Mas eu estava do outro lado daquele paredão de carros batidos e, de certa forma, salvo.

Antes que eu começasse a comemorar pelo meu feito, senti uma forte fisgada na minha perna e ao tentar sentar, a dor se intensificou: a ponta de lâmina da Alabarda estava fincada em minha coxa esquerda. Segurei firmemente o cabo dela e puxei com toda a força.

Soltei um grito de dor e logo em seguida tive que me levantar para acabar com dois zumbis que vieram atraídos pelo meu grito. Os corpos deles ficaram caídos enquanto eu, mancando, subia em cima de um dos carros para verificar a situação do outro lado: uma multidão de zumbis estava aglomerada do outro lado dos carros, e parecia surgir mais se juntando a eles a cada instante. O primeiro reflexo que eu tive foi pegar a Alabarda e fincar na cabeça daqueles seres que esticavam a mão na tentativa de me agarrar, mas após a queda de alguns, vi que fazer aquilo era inútil. Parecia que cada vez a quantidade aumentava cada vez mais, o que provavelmente iria impedir a passagem de qualquer um por esse caminho.

Acabei deixando-os de lado e segui andando pela estrada, matando apenas os zumbis que surgissem em minha frente, ainda debilitado para perseguir os que não me avistavam.

Procurei um carro em bom estado e me apossei dele, aproveitando também para enfaixar a minha perna e engolir alguns antibióticos com dificuldade antes de continuar meu caminho.

Este mesmo carro serviu como descanso para mim nesse dia.

*

Quando acordei no outro dia, a dor por todo o meu corpo era insuportável. Meu braço e meu rosto ralado ardiam e minha coxa latejava enquanto o meu pulso mordido começava a inchar.

Mesmo já sendo o segundo dia sobrevivendo com essa mordida, eu não conseguia acreditar que eu ainda não havia me transformado em um ser sem alma.

Por três dias eu vaguei sozinho evitando as cidades grandes, procurando por recursos em pequenos vilarejos e casas ao lado de rodovias. Mas verificar casa por casa em busca de mais curativos para minhas feridas ou de alimentos era uma tarefa lenta, já que normalmente as casas estavam com seres indesejados e armários vazios.

Cada um desses dias que eu fiquei sozinho eu tentava eliminar o máximo de zumbis que eu encontrava. Após fazer um curativo em minha perna, eu sentia que a cada dia ela melhorava, apesar de continuar mancando. As feridas de minha queda também cicatrizavam, mas a mordida de meu pulso continuava do mesmo jeito.

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Meu pulso, que inchou nesses dias, parecia ficar pior toda vez que eu acordava. O sangramento já havia parado, mas em troca disso parecia que os músculos ao redor queimavam, queimando mais do que minhas feridas raladas e latejando tanto quanto a minha perna.

Na tarde do quarto dia em que eu havia me separado de Mikasa, estava percorrendo uma estrada muito limpa de mordedores e de carros quando a gasolina do meu carro acabou. Até agora eu não tinha me preocupado em conservar gasolina, já que eu sempre trocava de carro quando a gasolina de um acabava. Mas dessa vez não havia nenhum para eu pegar e eu estava longe demais de qualquer vilarejo.

Desci do carro dando um longo suspiro e segui o meu caminho a pé.

*

Após meia hora caminhando mancando, a dor de minha perna já estava ficando insuportável. Imaginei se seria melhor simplesmente ir ao caminho de uma cidade e servir de alimento para aquelas coisas. Mas eu não conseguia desistir: toda vez que um ser daqueles cruzava minha frente eu tinha a vontade de acabar com ele. Porém a cada dia eu me sentia mais fraco e vulnerável ao atacá-los.

Resolvi parar para descansar um pouco e reforçar as ataduras de meus ferimentos.

Enquanto eu enfaixava novamente minha perna, eu escutei um som fraco que se aproximava cada vez mais.

Levantei em um reflexo e ao longe pude ver um farol de automóvel seguindo em minha direção. Aquilo era mesmo verdade?!

Conforme o farol se aproximava, eu pude ver o furgão chegando perto de mim e parando. Dentro dele havia um homem de uma mulher, ambos sorriram para mim e o homem falou para eu entrar na parte e trás.

Entrei sem questionamentos, aproveitando da bondade deles. Talvez esse apocalipse servisse para aproximar mais as pessoas, já que todos os estranhos que eu havia encontrado até agora tinham me ajudado de alguma forma.

Após pouco tempo de viagem o homem parou o furgão e veio conversar comigo.

— Olá, rapaz. Eu sou David. — O homem deveria ter uns trinta anos, era negro, forte e tinha um sorriso simpático. Ele me estendeu a mão: — Prazer em te conhecer.

— Eu sou Eren. Obrigado por me deixar pegar carona. — Ao apertar a mão do rapaz, ele viu o meu braço e analisou os arranhões. Olhou para a minha calça ensanguentada e para o meu pulso envolto em faixas.

— Parece que você está precisando de ajuda... Você se detonou bem!

David soltou uma gargalhada e saiu um momento. Quando voltou, trouxe a mulher que estava com uma caixinha de primeiros socorros.

— Esta é minha mulher, Anabethy.

— Por favor, me chame só de Bethy. — Ela era bem morena também, tinha um cabelo preso em dreads em um rabo de cavalo e possuía um sorriso encantador. Mas o que mais me chamou foi a sua barriga. Ela provavelmente deveria estar grávida. — Ah, sim. Este será Bobby. — Ela disse, ao ver que eu encarava a barriga dela. — Ou Ester. Depende do que virá.

A moça deu um sorriso alisando a sua barriga. Ela iria ter um bebê... em um mundo desses?!

Enquanto eu estava absorvido em pensamento sobre que confusões um bebê poderia trazer, ela se posicionou ao meu lado e começou a passar algum produto no meu braço ralado. Ao primeiro toque senti minha pele arrepiar e arder.

— Desculpe, devia avisar que isso vai arder. — Ela sorriu gentilmente e continuou a cuidar dos meus braços.

— Você deve imaginar que tipo de enfermeira ela era, não é?! — O homem sorriu largamente provocando a mulher. — Eu ainda tenho medo dela!

A mulher fez “Shhhh” para ele e começou a rir também.

Depois disso a moça praticamente costurou minha perna, o que, a cada vez que a agulha passava por minha pele, me fazia gemer de dor. Ela pediu desculpas por não ter algum anestésico e depois me ofereceu analgésicos.

Ao trocar a bandagem de meu pulso, ela se voltou para trás assustada:

— Você foi mordido?! — O homem também voltou o olhar para o meu pulso ferido e o olhar de condenação dos dois parecia penetrar em mim.

— Fui.

— A quantas horas? — O homem se aproximou bruscamente, afastando a mulher de perto de mim.

— Há quatro dias. —Os dois se encararam, duvidosos.

—Isso não é possível. Muitas pessoas ao meu redor já foram mordidas e a febre as consumiu tão rápido que em menos de duas horas elas já tinham virado um deles. — A voz do homem se tornou amedrontadora, sem vestígio daquele sorriso de simpático de pouco. — Diga a verdade, rapaz.

— Eu estou dizendo a verdade.

O homem aproximou de mim e colocou uma mão em meu ombro, olhando-me fixamente nos olhos. Eu o encarei sem vacilar, percebi que aquilo era um teste. Depois ele se ergueu e cruzou os braços. Imaginei que ele iria me botar para fora do furgão naquele instante, mas ele não fez isso:

—Eu acredito em você, rapaz. Você deve ter algo diferente para ainda estar vivo. Mas sabe que terei que ficar de olho em você, não é?

— Sim, senhor.

A mulher continuou tratando de meu pulso, sem repulsa ou qualquer desconfiança. Os dois simplesmente voltaram a ser simpáticos e gentis, e a noite nós fizemos um banquete com os alimentos que eles possuíam na parte traseira do furgão e conversamos um pouco. Eles também estavam indo em direção a Seattle e nós iríamos juntos até lá.

Isso, é claro, se eu continuasse vivo.

*

Foram cerca de quatro dias até chegarmos em Seattle. Além de David dirigir o carro com a velocidade de uma tartaruga, várias vezes paramos para procurar suprimentos. Nós dois fazíamos batidas pelas casas enquanto Bethy permanecia no furgão, para segurança dela e do bebê.

David e eu viramos amigos durante esse tempo, e ele me contou como conheceu Bethy e que ele descobriu que iria ser pai um pouco antes de tudo ficar catastrófico, há seis meses. Bethy cuidava de minhas feridas e elas estavam praticamente curadas. Menos meu pulso mordido.

Meu pulso começava agora a cicatrizar, ficando naquele estado em que a pele fica coberta por uma camada de pus amarelado. Mas apesar de aparentemente a ferida estar melhorando, eu ficava pior a cada dia: meu mal estar piorava, me sentia cada dia mais fraco e era como se aos poucos a minha vida se esvaísse de mim. Minha pele empalideceu e realmente a febre começou a surgir em mim: na última noite eu não tinha conseguido dormir, a febre estava alta e por mais que Anabethy cuidasse e desse remédios para mim, ela parecia não passar. Agora não era mais apenas a ferida que queimava, era meu braço inteiro, e isso parecia aos poucos passar para o restante do meu corpo.

Nesse dia, enquanto Bethy ficava ao meu lado tentando abaixar minha febre, David permanecia com a arma na mão, esperando eu me transformar para que pudesse me matar.

Mas isso mais uma vez não aconteceu.

*

Quando chegamos por uma das estradas principais da cidade portuária de Seattle, uma grande quantidade de carros parados parecia impedir a passagem. David quis voltar e tentar pela 520, mas Anabethy advertiu que a situação do porto do outro lado não deveria estar muito diferente.

David ainda tentou seguir aquela rodovia com o furgão, raspando nos carros enquanto passava. Às vezes nós dois saíamos do carro para livrar o caminho e acabar com alguns andarilhos perdidos e voltávamos ao trajeto. Porém, ao chegar ao centro da cidade, andar com o furgão seria impossível.

Saímos do furgão e começamos a andar em direção ao porto. Segundo as notícias transmitidas no rádio, eles iriam fazer uma ronda de helicóptero pelos portos de Seattle procurando por sobreviventes; mas isso iria acontecer somente ao pôr do sol.

Por isso, andávamos devagar pelas ruas praticamente desertas de Seattle. Eu imaginava que a quantidade de mordedores em cidades grandes iria ser gigantesca, mas até agora poucos haviam aparecido em nosso caminho. David e Bethy seguiam na frente enquanto eu ia atrás deles, devagar.

Eu ainda estava com febre e sentia meu corpo fraco para fazer qualquer coisa. Mas eu não queria que eles reparassem nisso ou se preocupassem comigo. Apesar do meu esforço para acompanhá-los sem demonstrar fraqueza, David percebendo a minha dificuldade foi me ajudar a andar. Eu recusei. Era patético ser um peso morto. Mas o homem pegou o meu braço e colocou em suas costas, me servindo de apoio.

— Vamos lá, Eren. Não seja tão orgulhoso. Você já é um guerreiro rapaz. — Ele sorriu enquanto me ajudava a andar mais rápido. — Na verdade eu esperava que você iria morrer logo. — O homem riu ao meu lado e eu não pude deixar de sorrir também.

— Obrigado pela sinceridade.

Após alguns quarteirões andando com o apoio de David, resolvi andar sem escoro, já que começava a me sentir um pouco melhor. David duvidou no início, mas não pensou duas vezes para me soltar e ir ajudar Bethy que parecia um pouco cansada também.

— Olhe lá querido. — Bethy apontou para alguns andaimes que indicavam a proximidade do porto. — Estamos chegando!

Nossos passos se apressaram e eu acompanhei eles, até encontrar um trio de zumbis perdidos no meio dos carros.

— Pode deixar Eren, eles são meus.

Entreguei a ele a Ruger .22 que eu ainda tinha guardado (mas já havia encontrado mais munição para ela), e ele deu os três tiros certeiros na cabeça deles. Bethy deu um gritinho de comemoração e eu não pude deixar de sorrir ao pensar que estávamos perto de uma salvação.

Mas aquele tiro ecoou pelo quarteirão todo, fazendo com que os zumbis aglomerados no cais virassem para nós. Até agora, a existência daqueles seres havia passado despercebida, pois o números de carros a nossa frente não nos permitia uma a visão do que estava tão a nossa frente.

E quando os vimos, correndo em direção a nós, já era tarde demais.

— CORRAM! — Gritou David, enquanto ele procurava alguma alternativa para nos salvar. — Eren, leve Bethy até aquele prédio! — Ele apontou com a Ruger para um prédio mediano no próximo quarteirão. A porta estava aberta, mas havia um carro na frente dela.

O homem se aproximou de Anabethy e a beijou, sussurrou algo em seus ouvidos e veio ao meu encontro enquanto Bethy já começava a correr.

— Eren, cuida dela para mim. Proteja ela.

— O quê?! Você é idiota?! Vá você proteger ela, imbecil! Eu já estou morto!

— Idiota! Você foi mordido, mas eu é que serei o morto. — Ele deu aquele sorriso gentil pela última vez. — E além disso, sou eu quem está com a arma.

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O homem saiu correndo na direção dos zumbis enquanto atirava na cabeça dos mordedores mais próximos. Eu fui correr em direção a ele, para tomar seu lugar ou ao menos ajudá-lo, quando Anabethy gritou por socorro. Droga.

Tentei correr o mais rápido que podia, tentando reaver as forças que a tempo eu não possuía e consegui chegar até Bethy antes do mordedor atacá-la. Finquei o punhal na cabeça daquele maldito e olhei para trás. David continuava a atirar nos mordedores, mas cada vez mais ele tinha menos tempo para recarregar a arma.

Levei Bethy até o prédio e a ajudei a subir pelo carro para passar para dentro do estabelecimento. Fatigado, antes de conseguir respirar um pouco e subir no carro para entrar no prédio junto de Bethy, eu escutei o seu grito vindo de lá dentro. Droga!

Pulei por sobre o carro rapidamente e encontrei Anabethy lutando com um mordedor. Ele estava caído no chão e ela do outro lado, se afastando cada vez mais. Aniquilei o zumbi antes que ele se levantasse novamente e fui ver como estava Bethy, se algo havia acontecido além do susto.

A mulher começou a chorar loucamente enquanto eu me aproximava dela. Ela colocou as mãos no rosto e caiu no chão, chorando.

— Bethy, você está bem?!

Ela ergueu os olhos para mim e esticou o braço, horrorizada. O mordedor caído deveria tê-la atacado primeiro e foi o golpe dela que o derrubara, afastando-o dela; mas para afastá-lo de si, ele já havia mordido o braço dela. Pelo movimento que ela fez para derrubá-lo, boa parte do braço havia sido arrancada, fazendo a mordida que eu levei parecer um leve arranhão.

Enquanto Anabethy chorava, o som de gemidos roucos vindos de dentro do prédio parecia se intensificar e a multidão de zumbis passava ao lado de fora do prédio.

— Vamos, Anabethy.

A mulher mexia a cabeça negativamente. Outro zumbi se aproximou e eu terminei com ele, mas ao fundo do prédio eu podia ver algumas sombras se levantando e outras caminhando em direção ao choro. Procurei por alguma saída e vi a escadaria.

— Vamos Bethy ! — A mulher continuava chorando agachada. Eu teria que fazer algo. Suspirei tentando encontrar o máximo de força possível e os últimos resquícios de vitalidade que eu possuía. — Me desculpe por isso.

Peguei a mulher no colo e comecei a correr em direção a escadaria. Ao entrar nela eu fechei a porta para bloquear a passagem de qualquer ser indesejado. Comecei a subir a larga e grande escada, mas realmente não possuía forças para fazer isso. Parei no meio do caminho, na volta do 5º andar. A mulher ainda chorava e eu arfava como se meu coração fosse sair pela boca. A mulher ficou deitada com uma mão no rosto e outra na barriga. Eu encostei-me à parede enquanto minha vista estava embaçada e minha cabeça rodava, parecendo que iria explodir. Meu mundo parou de girar quando a mulher segurou o meu braço:

— Eren... salva ele.

— Eu não sei se há como salvar o David agora... — coloquei a mão no rosto para segurar o choro.

— Não ele. — A mulher olhou para mim, assustada. — Salve o meu bebê.

— O quê?!

—Eren, por favor... tire ele de mim. Não deixe ele ser contaminado. Eu quero que o meu bebê viva. Eren...

Como eu poderia fazer isso?!

—Não diga besteiras Bethy, vamos ir lá pra cima.

— Não Eren! Não adianta mais! — A mulher chorava a cada sílaba — Por favor, eu te imploro, não deixe ele ser infectado.

— Anabethy, eu fui mordido e ainda estou vivo, você também vai aguentar bastante, vamos lá ... você vai conseguir.

— Não diga besteiras, Eren. — A mulher tentou sorrir. — Você foi agraciado de forma que mais ninguém é. Eu não irei durar muito. Vai Eren. Por favor!

— Anabethy, se eu fizer isso você irá morrer!

— Mas o Bobby ou a Ester terá uma chance de viver! — A mulher cessou o choro. Seu olhar se tornou sério. — Eren, eu te imploro. Por favor...

Ela apontou para o punhal em meu cinto e pegou-o, colocando em minhas mãos, elevando-o acima de sua barriga.

— Por favor...

A mulher fez uma última súplica com o olhar. Eu apertei o punhal e finquei na barriga dela de forma delicada. Ela soltou um grito de dor, mas antes de perder a consciência para a dor, ela me agradeceu.

Rasguei a barriga dela procurando a criança. Ela urrava de dor e eu não sabia o que estava fazendo. Minhas mãos estavam cheias de sangue enquanto eu abria a pele dela, e encontrava um pequeno ser escondido por uma capa protetora. Rasguei com mais delicadeza aqueles tecidos que pareciam tão frágeis até encontrar a criança. Ainda era pequena demais.

Anabethy gritava cada vez mais, gritos ensurdecedores que me deixavam em pânico. Quando eu consegui encontrar a criança, eu puxei-a para fora da barriga de Bethy, mas a mulher não teve a chance de ver seu filho: com o meu movimento ao arrancar a criança de suas entranhas, ela soltou um último berro de dor e calou-se.

Cortei o cordão umbilical do bebê e o trouxe junto a mim. A criança respirou apenas um segundo, antes de também desfalecer.

Quando o bebê não reagiu mais e Anabethy não chorava mais de dor, eu soltei um grito de desespero.

POR QUE ISSO TEM QUE ACONTECER?!

Apertei a criança morta em meu peito enquanto eu chorava. Não... não... não...

Olhei para Anabethy ao meu lado: sua barriga aberta vazava sangue, o qual chegava a manchar até os seus compridos dreads. Mas o seu rosto havia congelado em uma expressão encantadora: ela sorria. Ela morreu sorrindo, com a ideia de que seu filho continuaria vivo por ela.

Levantei o pequeno bebê, extremamente frágil e olhei para o seu rosto minúsculo. Ele ainda não se assemelhava muito com os dois, mas parecia ter a feição da mãe e possuía a cor do pai. Mais uma vez apertei aquela criança comigo, e a coloquei ao lado de Anabethy, deixando o braço da mulher ao redor da criança como se fosse sempre protegê-la. Por fim eu me levantei, limpei minhas mãos de sangue e, ainda com o choro estancado na voz, disse para Anabethy, esperando que ela me escutasse de algum lugar:

— Parabéns, é Ester...

*

Quase sem forças, acabei de subir o resto das escadas e saí da escadaria, fechando a porta logo em seguida e me sentando encostado nela. Tudo estava perdido. Não havia mais chances... eu não tinha mais esperanças, nem mais vontade de viver.

Meu corpo queimava e minha respiração parecia sufocada. Eu não conseguia parar de chorar pensando que todo o esforço que eu sempre fiz não adiantou nada, eu não conseguira salvar ninguém.

Teria sido melhor se eu tivesse morrido naquela noite no armazém abandonado, pois assim eu teria morrido me sentindo um herói por ter salvado Mikasa, e não como um imprestável que não conseguiu cumprir o pedido de um amigo de proteger quem ele amava.

Com o pôr do sol surgiu o barulho de um helicóptero sobrevoando o cais. Quem eles pretendiam salvar? Não tinha como alguém sobreviver aquela manada de monstros que esperava no porto.

Quando o som do helicóptero parecia estar dando a volta, ao longe apareceu também um barulho agudo, tocando em vários tipos. Parecia... alarmes de carros? Algo parecia ter disparado todos os alarmes dos carros no outro porto. O som era fraco, longe, mas mesmo assim eu imaginava a quantidade de zumbis que aquilo iria atrair.

A imagem do helicóptero passou pelo horizonte, rumo a aonde vinha o barulho de alarmes.

Fechei meus olhos, desistindo de qualquer coisa.

Mas foi quando eu senti algo passando rápido por mim, muito perto.

Abri os olhos assustado, mas não havia ninguém no telhado.

Dessa vez eu pude ver um vulto passar de forma muito rápida pelo prédio. Aquilo era um homem?!

Tentei levantar e comecei a acenar quando vi que o próximo vulto se aproximava. Ele desceu até onde eu estava e a figura de um moço loiro com um equipamento estranho se formou. Ele olhava para mim desconfiado, encarando minha roupa suja de sangue.

— Você foi mordido?

Eu afirmei com a cabeça. O rapaz tirou um revólver e o apontou para mim.

— E isso já faz mais de uma semana...

Fiquei com esperanças de que o rapaz me poupasse por essa afirmação, mas sua arma continuou apontada para mim, até chegar mais um de seus companheiros e parar ao lado dele. O rapaz loiro conversou algo com o que acabara de chegar e se virou para mim.

— Tem sorte de Natasha não estar no grupo hoje. — Ele abaixou a arma, mas continuou olhando desconfiado para mim.

Eu tentei agradecê-lo, mas senti que tudo o que eu tinha havia se esgotado: sem aviso algum eu caí no chão, sem a capacidade de me mover. Minha respiração pesada me fazia acreditar que eles me deixariam ali, para morrer assim. Outro homem chegou ao lado do rapaz, parecendo muito alegre:

— Drake, o helicóptero informou que conseguiram salvar dois jovens no outro porto! — O rapaz olhou para mim, quase com pena. — O que nós vamos fazer com ele?

— Vamos levá-lo para o Centro de Pesquisas. Ele deve ter algo interessante. E da próxima vez vamos trazes o cabo Levi e os nossos melhores homens para limpar esses portos. Pessoas como ele dificilmente conseguiriam sobreviver a is.....

Eu apaguei antes de terminar de escutá-lo falar, e lembro-me de apenas ouvir algo sobre “Não misturá-lo com as pessoas saudáveis” e algo sobre pesquisas no abrigo. Após isso, eu entrei em um sono repleto de lembranças.

Quando eu acordei, eu estava em um laboratório rodeado de cientistas.

—Bem vindo de volta a vida.— Um cientista novo ainda, com cabelos negros e encaracolados estava arrumando alguma coisa no meu ombro. — Está sentindo alguma dor?

Eu tentei respondê-lo e perguntar onde eu estava, mas era como se eu não tivesse controle do meu corpo. Eu não conseguia mexer minha cabeça e nem o resto de meu corpo. Minha vista estava embaçada, mas toda a dor que eu sentia havia desaparecido.

— Eu vou fazer alguns testes com você. Se doer me avise, está bem?

Avisar? Avisar como se eu não conseguia me mexer?!

O rapaz pegou um estilete e começou a passá-lo em meu braço esquerdo, cada vez afundando-o mais. Eu podia sentir a lâmina penetrando minha pele, mas eu não sentia dor alguma. Depois o rapaz mudou de lado de passou o estilete eu meu braço direito. E isso doeu. Meu corpo se contraiu e ele percebeu isso.

O moço saiu para anotar algumas coisas e começou a falar com outros cientistas que apenas observavam. Quando ele voltou, ele mexeu em alguns controles, reposicionando a mesa em que eu estava deitado, fazendo-a ficar em pé.

— Bem, vamos lá. N3, ande.

N3? Ele estava falando comigo?

—Por favor, N3. Eu sei que você está me entendendo. Ande por si mesmo.

Eu confesso que tentei, mas eu não consegui fazer meu corpo mexer. Era como se algo impedisse o controle de meu corpo.

— Bem... — O rapaz olhou decepcionado para mim. Ele deu um suspiro e voltou a mexer nos controles, fazendo com que a mesa se posicionasse novamente na horizontal. — Vamos ter que te arrumar.

O rapaz aproximou-se com uma espécie de injeção na mão e aplicou-a no meu ombro. Apenas quando ele colocou a injeção foi que eu percebi que havia algum tipo de aparelho em meu braço. Quando o líquido foi injetado, uma onda de choque passou por meu corpo e eu apaguei.

Foi como piscar os olhos: sem pensamentos, sem lembranças.

Quando eu acordei, eu não sentia mais nada.

O homem de cabelos encaracolados fazia testes comigo, e dessa vez tudo que ele ordenava meu corpo obedecia. Eu usava uma armadura negra e apenas o meu braço, uma vez mordido, ficava de fora.

Outros cientistas vinham tirar o sangue do meu braço, outros continuavam a cortá-lo e vendo se regenerar com rapidez. Aquele corpo não parecia ser mais meu. Minha mente já não era mais minha também.

Eu não possuía mais controle de nada em mim.

*

Vários experimentos com diversos tipos de injeções e cortes se passaram até me colocarem em uma espécie de treino. Eles mandaram diversos zumbis para me atacarem e o rapaz deu a ordem para acabar com eles. Meu corpo ia rápido, eu não tinha mais medo. Eu não tinha dor, ressentimento. Eu não tinha emoção.

Quando os testes terminaram, o rapaz sorriu de uma forma cansada e foi aplaudido pelos companheiros. Eu queria ir até eles e matá-los também. Não queria ser um brinquedo de cientistas idiotas. Mas eu só conseguia obedecer a esses malditos cientistas que haviam me transformado em uma arma.

Enquanto eu estava no fim de mais um treino, um alvoroço se criou do outro lado daquela sala de vidro. O rapaz esperou que todos os zumbis daquela sala fossem derrubados por mim para abrir a porta.

— É hora de você ser usado de verdade. — Ele passou a mão pelo cabelo negro, parecendo ansioso. — Hora de mostrar que você foi um sucesso.

*

Eles me colocaram em um contêiner junto com um monstro gigantesco. Chamavam-no de N2. Ele era enorme, sua pele toda era deformada, com várias costuras e pedaços em carne viva. Sua cabeça era dividida no meio por um tipo de costura e sua arcada dentária escura ficava completamente exposta. Ele arfava atrás de mim, respirando fortemente e emitindo um som que, se eu ainda fosse eu, poderia aterrorizar-me.

Com uma batida no chão percebi que havíamos chegado. A trinca se destravou.

— N3, abra a porta. — A voz do cientista vinha do aparelho de comunicação no meu capacete.

Abri a porta e eu e a criatura gigantesca atrás de mim saímos para lutar contra o estranho ser a nossa frente.

— N2 atacará primeiro. Espere uma brecha para derrubá-lo. — A ordem foi clara e rígida.

O monstro urrou e correu em nossa direção. Como combinado, o N2 começou a disparar uma rajada de tiros contra o monstro a nossa frente.

— Vá agora! — A voz ordenou e eu saí correndo entre os tiros e, ao chegar perto do monstro eu deslizei no chão e com a minha espada de lâminas negras eu cortei uma das pernas da criatura, fazendo-a cair.

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Antes que outra ordem fosse dada, um zumbi apareceu por trás. Eu não tinha ordens para aquilo, mas lentamente eu cortei o crânio daquele mordedor. Atrás dele muitos mais vinham em minha direção. A minha frente o monstro gigantesco também se aproximava de mim, apesar de levar vários tiros do N2.

— Deixe o Tyrant para o N2. Os zumbis são atraídos por você, espere eles se aproximarem para acabar com eles. Quando se aproximarem, elimine o máximo possível.

Virei para encarar a multidão que se aproximava e quando estavam perto o suficiente, comecei a carnificina. Estava criando um monte de cadáveres quando uma ordem me foi dada:

— O Tyrant está vindo até você. Quero que você acerte-o. — Uma pequena pausa se formou enquanto eu podia escutar os pesados passos do monstro que se aproximava. — Agora!

Dei um salto para trás e com a minha espada cortei o braço do monstro.

— Continue matando esses zumbis!

Essa era uma ordem que eu não importava em seguir. Mesmo sem uma consciência, eu ainda tinha a vontade de aniquilar cada um daqueles zumbis. Em meu estado de transe, a única coisa que eu sabia que eu queria era matar aqueles zumbis. Eu queria matar todos eles. Matar mais. Mais. Mais. Matar mais. Muito mais.

— N3, pare. Já está bom. Vamos terminar com o grandalhão ali. Use toda a sua força agora.

Meu corpo se contraiu, pronto pra atacar com o máximo que eu tinha.

— Você é mais rápido que ele. Quando desviar de um ataque, já faça o contra-ataque. O N2 te dará cobertura. Agora vai!

Comecei a correr em direção àquela criatura e meu corpo obedeceu as ordens: eu consegui desviar de todos os golpes e ainda dar os contra-ataques ordenados. Mas uma ordem mudou aquela situação:

— N3, deixe ele te pegar. Pare de lutar.

Meu corpo ficou imóvel, enquanto o monstro erguia-me, pronto para perfurar meu peito. Uma lufada de tiros atravessou o peito do monstro, vindo do outro lado.

— Rasgue a cabeça dele agora!

Em um movimento rápido levantei minha espada e finquei-a no crânio daquela criatura.

— Perfure esta criatura até o coração....

Minha espada desceu até o coração exposta daquela criatura. O monstro gigante cambaleou.

— Acabe de uma vez com ele.

Acredito que o N2 recebeu a mesma ordem que eu, já que nós dois começamos a desferir golpes até o corpo daquele monstro ser reduzido a migalhas sem possibilidade de regeneração.

— Volte para dentro do muro agora! Acabe com qualquer ser que atravesse a frente!

Eu não tive a necessidade de cumprir essa ordem, já que o N2 atirava em toda criatura que aparecia. Quando entramos no abrigo, os cientistas começaram a vir em nosso encontro.

Ao longe eu vi o moço de cachos negros se aproximando.

— N3, tire o capacete. — Ele disse quase que sorrindo, mas no mesmo tom de ordem que eu era obrigado a obedecer.

Minhas mãos tiraram o capacete de meu rosto e várias pessoas pareceram impressionadas. Eu queria poder ao tirar aquele capacete escapar das garras daquele cientista. Mas meu corpo não me obedecia. Todos os sons das pessoas falando algo sobre o espanto que eu causara pareciam longe demais. Tudo que eu parecia estar pronto a prestar atenção era somente a ordem do cientista.

Mas uma voz se sobressaltou na multidão. Uma voz conhecida e carinhosa que eu já sentia falta.

— Eren?! — a voz se aproximou de mim. — Eren!

Uma garota surgiu correndo em minha direção. Ela me abraçou chorando e seu choro parecia me trazer de volta a vida, me libertando das correntes instaladas por aquele cientista.

— Eren….

Novamente ela estava do mesmo jeito que a primeira vez em que a salvei: com os olhos assustados e cheios de lágrimas. A voz dela era chorosa, como da última vez que a vi. Mas dessa vez, não foi eu que a salvou.

Foi ela.

Ela despertou em mim a consciência adormecida.