Viena, 2008

Pela primeira vez em muito tempo, Magnus estava se divertindo extremamente.

Não ter que se preocupar com algum Caçador de Sombras ou com algum Ser do Submundo era incrivelmente reconfortante.

Entretanto, Magnus ainda tinha algum sentimento de que alguma coisa estava por vir. Seus sonhos quase sempre eram proféticos, era muito raro eles não acontecerem. Ele ainda podia se lembrar das pilhas de ossos... do sangue...

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O feiticeiro balançou a cabeça para dissipar esses pensamentos. Valentim estava morto, os Seres do Submundo estavam sendo mais escutados graças a Luke Garroway e ele estava numa relação muito boa com Alec.

Tudo estava perfeito.

Alec estava mais à vontade quanto a ser visível para todos os mundanos, algo que tinha evoluído muito desde o primeiro encontro em que eles tiveram.

Eles estavam aproveitando bastante as suas férias. Eles já tinham ido para muitos lugares. Magnus ainda podia se lembrar.

Alec e Magnus estavam passeando pelo Egito quando avistaram uma feirinha e decidiram ver como era. O feiticeiro percebeu que tinha uma mulher vendendo artefatos que exalavam Magia Negra.

— Não aconselho a você vender essas coisas. Nunca trazem boas notícias.

A mulher olhou para Magnus atentamente e seriamente até dar uma risada de escárnio.

— E o que você sabe sobre isso, garoto?

Magnus arqueou a sobrancelha.

— Mais do que você pensa — ele brincou com os anéis em seus dedos. — Siga meu conselho — e saiu dali.

O feiticeiro percebeu que Alec não estava mais do seu lado e estava parado em uma das bancas olhando atentamente um cartão postal.

— Você vai comprá-lo — Magnus disse, chamando sua atenção. Alec virou-se para ele e sorriu.

— Acho que sim. Quero mandar para Isabelle, sabe? Ela pediu para entrar em contato e mandar fotos.

Magnus assentiu e eles compraram o cartão.

Ele não deveria ter feito isso.

Alec passou sabe-se lá quanto tempo em frente àquela droga de cartão sem saber o que escrever. Ele escrevia algo, depois apagava. Escrevia de novo e apagava.

Magnus revirou os olhos.

— Escreva algo do tipo: “Queríamos que vocês estivessem aqui. Só que não”.

E Alec realmente escreveu isso.

Bane também se lembrava de quando Isabelle respondeu ao cartão postal falando alguma ideia de montar o casamento deles.

“Eu acho que um tema de outono seria legal”. Magnus tinha respondido, mas Alec fez questão de riscar isso e quase ter um ataque. Ainda mais quando Isabelle realmente foi mais a fundo nisso gerando um alvoroço que arrastou Jace, Clary e o vampiro para isso. Ele ainda se lembrava da sua resposta para ter que fazer Isabelle parar:

Querida Isabelle,

O Alec está prestes a ter um ataque nervoso. Se você não desistir imediatamente de planejar meu casamento com seu irmão, eu voltarei para Manhattan e explodirei o Instituto. Eu transformarei Church em um monstro comedor de humanos que fará um alvoroço em Manhattan, pisando em mundanos. E eu farei você ficar gorda.

Com Amor,

Magnus”

Até aí eles já tinham ido para vários lugares. Itália, França, Índia...

No momento, eles estavam se dirigindo para o Opera House.

Magnus percebeu que, durante suas férias, Alec realmente estava fazendo o esforço para se vestir bem. Claro que muitas das coisas que Magnus mostrava para ele, Alec rejeitava, como uma camisa cheia de lantejoulas azuis ou então um cachecol com penas de pavão.

O feiticeiro ficou olhando Alexander por um longo período enquanto o jovem tentava nervosamente ajeitar a sua gravata em seu terno preto.

Bane também vestia um terno preto, porém como estava frio demais lá fora, decidiu colocar luvas brancas e um comprido cachecol branco de seda com as pontas adornadas em bolas.

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Ele não se cansava da visão de Alec. Ele era diferente de todos os Caçadores de Sombras que ele já tinha conhecido. Magnus ainda se lembra perfeitamente sobre como ficou chocado quando Alexander, no meio de todo Salão em Idris, veio caminhando com uma confiança que não era costumeira de Alec e o beijou na frente de todos ali presentes. Aquilo tinha surpreendido e alegrado Magnus profundamente.

Alec terminou de se arrumar e Magnus pegou os ingressos para a ópera.

Eles ainda tinham bastante tempo para ir até o Opera House então decidiram jantar primeiro. Magnus escolheu um restaurante chique e maravilhoso localizado perto da ópera.

— Fazia tempo que eu não vinha aqui — Magnus disse para Alec enquanto observava o cardápio. — Da última vez que eu vim, fui expulso por ter me envolvido num incidente com Ragnor.

— Incidente? — Alec perguntou curioso.

— Sim. Um incidente envolvendo colocar sem querer fogo em uma garrafa de vinho e tê-la caída em cima de uma das mulheres mais ricas de Viena.

Alec olhou espantado para Magnus.

— Ela pegou fogo? A mulher.

Magnus fez um gesto para Alec não se preocupar, como se não fosse nada.

— Naquela época, as mulheres usavam perucas muito longas. O fogo só queimou seu cabelo falso.

— Oh — Alec falou e voltou a ver o cardápio.

Magnus ficou em silêncio novamente. Ele sabia que Alec tinha um certo interesse em seu passado, porém era acanhado demais para perguntar, ainda mais sabendo que Magnus não estava disposto a falar. Às vezes, o feiticeiro fala uma ou outra coisa nada importante para Alexander, mas era só isso.

Ele não queria falar sobre seu passado. Era algo para ser enterrado. Ponto final.

— Aqui eles têm um delicioso gulash*. Vale a pena experimentar.

Alec assentiu ainda decidindo o que queria.

Magnus parou para lembrar das vezes em que veio para Viena. A mais catastrófica de todas foi quando ele veio com sua amiga feiticeira Lacey. Catastrófica não porque eles, de alguma forma, colocaram em perigo vidas mundanas ou fizeram algo ilegal para toda a sociedade. Não, catastrófica porque ele se lembra dos olhos desolados da feiticeira quando perdeu seu amor que era um Caçador de Sombras.

Pensar em Lacey faz Magnus se lembrar de Tessa. Quando ela chorava pelas noites naquele seu apartamento na França. Ele tentava reconfortá-la de alguma maneira, tentando parar seus soluços constantes e de partir o coração pedindo pelo seu falecido marido, William Herondale.

“— O primeiro é sempre o mais difícil.”

Ele tinha dito.

Mas seria mesmo? Magnus parava para pensar. Como ele ficaria uma vez que Alec se fosse? O feiticeiro nunca iria admitir para si mesmo, mas ele tinha medo. Medo de seus sentimentos por Alec serem muito grandes para ele lidar.

Magnus balançou a cabeça. Ele precisava parar de se preocupar com o passado ou com o futuro. Ele tinha tomado essa decisão há muito tempo.

Depois do calmo jantar, Magnus e Alec seguiram para a Opera House. Eles entraram no enorme e luxuoso lugar quando Alexander recebeu uma mensagem.

Era de sua mãe.

Magnus não sabia muito sobre o que pensar de Maryse. Ela parecia ter lidado bem com o fato de que Alec era gay e estava namorando o Alto Feiticeiro do Brooklyn. No entanto ele não poderia dizer o mesmo de Robert Lightwood.

— Minha mãe pediu para nós voltarmos para Nova York. Disse que era urgente que você fosse. Algo sobre um vampiro apenas falar com você — Alec disse olhando para o celular com uma expressão de aborrecimento e uma certa preocupação.

Magnus sabia o que aquilo significava. Havia poucos vampiros que ele conhecia que se metiam em encrencas e pediriam por ele. Ele tinha uma leve impressão de que ele sabia de quem eles estavam falando.

— Tem um portal aqui perto do Opera House — Magnus disse. — Vamos.

Ele e Alec seguiram pelas ruas de Viena para chegar até o Portal. Era bastante óbvio o quanto Alec estava aborrecido com toda a situação. Magnus também não estava pulando de alegria, mas já estava acostumado com esse tipo de coisa.

Ambos atravessaram o Portal, acostumados com aquela sensação estranha do mesmo enquanto você está indo de um lugar para o outro.

Eles entraram numa das salas do Instituto de Nova York sendo recebidos por Maryse. Rapidamente, a mulher levou eles até o Santuário.

A Caçadora de Sombras dizia, de uma maneira meio desajeitada, que foi bom eles terem chegado tão rápido.

Magnus explicou que havia um Portal em Viena. Alec expressou seu descontentamento pelo fato de suas férias terem sido atrapalhadas.

Alec e Maryse trocaram mais algumas palavras e então Magnus olhou diretamente para vampira. Aquela que ele não via desde o incidente com o Hotel Dumort.

Ela continuava a mesma. Com seu cabelo loiro, seu corpo esbelto e olhos brilhantes. Entretanto, ele não sentia mais aquele estalo quando a via. Não tinha mais nada, além de uma vaga lembrança de uma paixão pouco duradoura.

— Eu quero — Magnus respondeu à Maryse, que perguntou se ele realmente queria falar com a vampira, saindo de seu devaneio do passado, tirando as luvas — eu falo com Camille para vocês.

— Camille? — Alec olhou para Magnus com as sobrancelhas erguidas. — Você a conhece, então? Ou... ela te conhece?

— Nós nos conhecemos — Magnus deu de ombros, bem de leve, como se dissesse, o que se pode fazer? — Ela já foi minha namorada.

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Glossário:

(*) Gulash é um prato típico austríaco de carne cozida com especiarias.

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