Meth

Quando acordei estavam todos ao meu redor, me sentia presa no meio de tanta gente, todos estavam me olhando como se eu tivesse feito algo errado. E o mais estranho é que eu não me lembro de nada da noite passada.

— O que está acontecendo? – perguntei levantando-me.

— Bem... Você levou uma flechada na barriga – disse Hanna – mas já está tudo bem.

—O que? Eu levei uma oque na minha barriga? – na verdade eu tinha escutado só estava perplexa de mais.

— Uma flecha! Não sabe o que é isso não?! – Disse Hanna irônica.

— Claro que sei, é só difícil de processar. E por acaso vocês sabem quem fez isso comigo?

— Não, ele ou ela foi rápido de mais, e não conseguimos pega-lo.

— Nossa mais nem pra isso vocês prestam né?!

— Nos desculpe se estávamos mais preocupados com você do que com o atirador!

Hanna disse nervosa e saiu às pressas da caverna onde estávamos abrigados, eu não queria de modo algum que ela interpretasse aquilo como um xingamento. Mas algo me dizia que ela não estava com raiva diretamente de mim, alguma coisa a incomodava.

— O que ela tem? Só fiz uma brincadeira!

— Parece que você não conhece ela muito bem, né?! Ela ta se sentindo impotente e principalmente, ela ta com raiva dela mesma, por não ter conseguido pegar quem fez isso com você – Sam disse.

Depois daquilo me senti um pouco culpada por ter falado daquela maneira com ela, queria me levantar e conversar, mas era como se minhas pernas não obedecessem meus comandos. E pra falar a verdade eu me sentia uma inútil deitada daquele jeito com todo mundo cuidando de mim e eu sem poder fazer porcaria nenhuma.

— Sam, faça um favor pra mim?

— Claro.

— Chame Hanna aqui por favor?! quero conversar com ela... – antes de Sam sair, completei a frase, só pra dar uma enfase – A sós por favor.

— É claro Meth.

Sam chamou-a e alguns segundos depois ela entrou segurando seu arco-e-flecha. Eu nunca havia percebido o quanto aquela coisa era grande. Quando ela entrou permaneceu em pé na entrada da caverna, enquanto isso Sam e Lucy sairam cochichando, pude ouvir uma risada de Lucy e Sam por um instante olhou para trás com um sorriso tão maldoso que fez meus pelos da nuca se arrepiarem, mas deixei aquele assunto de lado.

— Dá pra se sentar? Está me deixando irritada parada ai como uma arvore. – eu disse brincando.

— É por que eu quero te lembrar que você não pode ficar em pé. – Ela respondeu no mesmo tom brincalhão.

Poderia ficar ofendida com esse comentário, mas não era dessas de ficar com raiva de todo mundo atoa. Por fim Hanna se sentou e esperou eu começar a conversa, ela sabia que isso me irritava por isso sempre fazia isso, e sempre podia perceber um mínimo sorriso no canto de sua boca, eu sempre ficava nervosa com isso só que naquela ocasião ver o sorriso no rosto dela me animou um pouco.

— Me desculpe por ter falado aquilo, só queria brincar um pouco.

— É eu sei, e você tem que começar a levar as coisas mais a sério sabia?

Naquela hora percebi que o sorriso havia desaparecido, e o que tomava o lugar era uma pontada de dor, raiva e preocupação comigo.

— Nossa desculpa se só queria animar um pouco o lugar. – acabei ficando brava também.

— Me desculpa, não deveria ter falado daquele jeito com você, é que estou muito estressada esses dias.

— E porque o motivo?

— Bem Sam já deve ter te contado que eu fiquei aborrecida por não ter pego aquele ordinário...

— Sim ele me disse.

— Odeio me sentir impotente desse jeito.

— E você acha que eu estou feliz por ter levado uma flechada? E olha que eu to mais impotente que você.

Nós duas rimos por um instante. Mas seu rosto se tornou sério mais uma vez.

— Olha, eu não gosto muito da ideia de ficarmos nesse lugar por muito tempo, não gosto da Lucy e o Sam está estranho, estive pensando que, quando você melhorar poderíamos partir...

Ela falou aquilo com uma pontada de duvida, fiquei com medo de perguntar, mas como sou adiantada as palavras saíram da minha boca antes que percebesse.

— Mas...?

— Mas que eu acho que Sam não vai conosco.

— E porque não?

— Em partes por que eu não quero que ele vá, e em outra por que eu acho que ele se apegou tanto a Lucy que quer ficar aqui com ela, e por mais que eu odeie admitir, não suportaria a ideia de ver os dois caminhando felizes de mãos dadas na nossa frente

Quando ela disse isso uma me lembrei que prometi a ela que contaria o porquê de estarmos fugindo do castelo e é claro a história dos pais dela. Não queria contar aquilo agora até porque daria mais uma razão para ela ficar triste, porque só a ideia de deixar Sam com aquela menina me partia o coração, imagine o dela?

— Concordo completamente com você, então partiremos que dia?

— Como eu te disse, quando você melhorar.

— Ai, eu me sinto uma inútil desse jeito, é como se eu não pudesse fazer nada.

— Mas você não pode fazer nada.

Começamos a rir juntas, e de repente todos os meus problemas haviam desaparecido por completo.

— Bem estou morrendo de fome e você?

— Também estou, mas como você pode ver estou incapacitada de andar, então acho que vou continuar com fome.

— Até parece, que vou deixar minha melhor amiga passando fome, vou ali fora trazer algo para comermos ok?

— Ok... e Hanna...?

Ela se virou em minha direção e perguntou com um sorriso largo na boca:

— Sim?

— Muito obrigada por tudo!

— Que isso, sei que você faria o mesmo por mim.

— Quem te disse isso? – falei em tom brincalhão

— Aah, não faria? Então acho que alguém vai ficar com fome, a não ser que as pernas melhorem o mais rápido possível.

— Hanna, Hanna, por favor, não faça isso, sabe que não suporto sentir fome.

— haha, eu sei bobinha, já volto, um minuto.

Quando ela saiu do quarto, peguei um pedaço de pano dentro da minha calça e o desembrulhei, olhei bastante para a única coisa que me restara de meus "pais", uma corrente de prata, com três símbolos, uma ancora, um tridente e um cavalo. Não servia em meu pulso, e mesmo que servisse não usaria, pois um simples toque aquela pequena coisa viraria uma adaga de ouro, que poderia matar qualquer um com um simples golpe.

Quando Hanna entrou com dois pratos de sopa, guardei o objeto imediatamente, pois se me visse com ela, o que eu iria responder? Que era uma adaga poderosa?

Não, eu não podia fazer aquilo, mesmo ela sendo minha melhor amiga sentia que se contasse a ela, algo de ruim iria acontecer.

— Voltei, ainda está com fome?

— Claro que estou, você me conhece né?

O resto da noite ficamos conversando sobre várias coisas, me senti mais em paz enquanto colocávamos o papo em dia, nem me preocupei com Sam e Lucy, pois eles dormiam em outra caverna, do lado da nossa, mas as paredes eram anti som ou sei lá o que, porque já tentei ouvir conversa deles, mas nunca consegui. Mas enfim, o que mais importava era que estava tudo bem pelo menos por enquanto.