Antes que novembro acabe...

(Bonus) - Will.


Will

Ele tem os olhos castanhos desconfiados e o cabelo da mesma cor. Mas os olhos são definitivamente o que me chama a atenção, eles têm uns pingos dourados misturados ao castanho que me fazem querer ficar olhando o tempo inteiro. E é por causa disso que ele deve estar achando que sou algum tipo de stalker ou algo do gênero. Por que ninguém em sã consciência fica encarando alguém durante tanto tempo do jeito que estou fazendo. Mas a verdade é que ele me chama a atenção. Tem alguma coisa no jeito como ele anda, na forma como sua boca se curva em um sorriso e no jeito que ele franze a testa que é adorável e que definitivamente me chama a atenção.

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Descobri seu nome ontem e hoje já sei onde ele mora, sei que veio de Los Angeles, sei o nome do seu pai e a profissão do mesmo. Sei o nome da antiga escola dele, sei o seu número de celular e o número do telefone da sua casa. E a cada dia que passa descubro mais um pouco sobre Noah Grace.

É claro que o primeiro contato com ele não foi o melhor. Ele sempre arranja jeitos de me irritar, mas a cada vez que nos encontrávamos isso ia ficando mais ameno, menos importante. No fim, Noah se mostrou um garoto inteligente e nada esnobe, como eu esperava já que ele não era daqui.

Tudo bem, que ele odeia Dickson com todas as suas forças, mas tem momentos que ele parece pertencer mais a esse lugar do que eu. Acho que no fundo ele tem uma relação de amor e ódio com essa cidade, ao mesmo tempo que ela o acolhe também o afasta. E isso de se afastar é o que o irrita tanto no final.

Estou olhando pra ele agora. O cabelo está ficando grande e logo logo vai começar a cobrir seus olhos. Seus lábios estão comprimidos e a testa franzida, coisas que denunciam que ele está pensando. Daqui a pouco ele vai colocar a tampa da caneta na boca e mastigar a ponta da tampa com os dentes da frente, então seus olhos vão se abrir e ele vai ter a resposta. É como um ritual. Eu já percebi isso. Noah sempre repete os mesmos gestos quando está pensando, quando a pergunta o intriga. Mas ele sempre tem a resposta no final. Claro, menos em Inglês. O moreno é péssimo nessa matéria.

Mas se ele não fosse ruim, eu não estaria aqui. Afinal, sou o seu professor particular. A ideia foi de Emma. A garota tinha percebido meu interesse no garoto novo e tratou de encher minha cabeça com isso. Foi ela quem descobriu que ele precisava de aulas de reforço e me obrigou a entrar para a turma de monitores e depois quando sai, ela foi quem me obrigou a ligar pra ele e dizer que eu aceitava dá as aulas.

Sabe, eu sempre fui gay. Sempre tive certeza disso desde quando era pequeno e até já tinha tido a oportunidade conhecer alguns garotos fora de Dickson, mas nunca foi nada sério. Eram só beijos sem sentimento algum. Apenas experiência pra eles, apenas beijos pra mim. Mas então Noah apareceu. Surgiu naquele beco e interrompeu a sessão de socos que eu recebia de Mark e seu cãozinho, Roderick.

Confesso que fiquei com raiva no primeiro momento por ele ter interrompido aquilo. Não que eu estivesse gostando de apanhar, era apenas que aquilo era um assunto meu e eu não queria que ninguém visse o quão fraco eu era. Entretanto ele viu, ele surgiu com o rosto cheio de raiva e me defendeu e eu fui tão rude com ele. Não posso culpa-lo por ter ficado com um pé atrás comigo, por ter dado ouvidos as coisas que Elizabeth dizia ou Matt. Eu teria feito a mesma coisa no lugar dele. Mas se ele soubesse o porquê disso tudo, se ele soubesse uma fração da grande fraude que eu sou...

– Que foi? – ele perguntou e percebi que o estava fitando por bastante tempo.

Balancei a cabeça e depois sorri pra ele.

– Deixe-me ver se você acertou. – mudei de assunto e peguei o caderno dele.

Li a sua resposta.

– Não, não. – falei.

– Ah, qual é. – ele reclamou e deitou a cabeça na mesa.

Eu não podia culpa-lo. Química era chata mesmo.

– Você quase acertou. – e ele levantou a cabeça, mostrei a ele onde estava o erro. – Primeiro esse par de elétrons tem que voltar pro Bromo, aí ele vira um íon e então depois que ele vai se ligar com o substrato e formar um novo composto. – expliquei.

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– Isso é uma bosta. – resmungou e cruzou os braços.

– Você tem que aprender essa bosta se quiser passar.

Ele ergueu a sobrancelha e olhou pro lado, apostava que ele estava ponderando o que eu disse, se tentava mais uma vez ou se desistia de vez. Por fim, Noah bufou.

– Tudo bem. Me deixe tentar mais uma vez. – entreguei o caderno a ele. E logo ele estava rabiscando a resposta certa.

Quero contar a você, pensei. Quero que saiba o porquê de Liz me odiar tanto. Quero ficar com você. Eu quero, eu quero, eu quero tantas coisas e maioria delas envolve você, Noah. Mas eu estou com medo demais pra assumir isso e se Mark souber minha vida vai virar um inferno.

– Tudo bem com você? – ele perguntou sem olhar pra mim, ainda concentrado na resposta.

– Sim, por que?

– Está distraído hoje.

– Apenas pensando em algumas coisas.

Noah olhou pra mim de canto de olho, me avaliou brevemente mas desistiu do que ia perguntar e voltou a desenhar o mecanismo da reação.

Um dia te conto, pensei.