After Ever After-Interativa

Chapter XXIII-O Dia Antes de Tudo Começar


Charlotte Marie Montgomery

Lá pras quatro da manhã, olho em volta. O vasto salão, nesse exato momento, se despede de suas últimas visitas à medida que os O'Crown deixam minha casa. Festus acena de longe enquanto sua família se despede propriamente da minha, e eu sorrio de volta e tento- falhando -acenar de volta. "Wow, Charlotte, você deve ter batido algum recorde de cansaço", penso. Minha mãe e tia Ella, porém, engatam conversa, o que faz meu amigo andar até onde estou.

–Charlie, você parece morta- Festus brinca.

–Te garanto que estou- eu devolvo, e ele ri baixinho -Sério. Eu nunca dancei tanto.

–Dançou sim- ele replica, ocupando um pufe próximo -Na Dançatona do ano passado, lembra?

–Ah. A Dançatona- eu repito, a imagem da festa subindo à minha mente. Dançatonas eram maratonas de dança, nas quais os estudantes eram desafiados a dançar por uma noite inteira, sem parar. Quanto mais músicas, mais dinheiro dos patrocinadores para a causa da escola.

–Você ganhou a Dançatona, Char.

–Eu sei. O troféu na minha escrivaninha não me deixa esquecer- considero, e rio fracamente -Tá. Talvez essa tenha sido a segunda noite que eu mais dancei na minha vida.

–Justo- Festus considera -Será que teremos Dançatonas na escola nova?

–Espero que sim- admito -Caridade me dá algum crédito com minha mãe. Ela costuma pegar menos no meu pé por uma semana quando faço algo bom.

Festus ri fraco, como se não tivesse energia o bastante. I feel ya, my friend. Olho para onde ele está, com uma cara de quem quer rir, e ele torce o nariz.

–Eu só preciso de café, ok?

–Na mesa de café da manhã- eu digo, embora me pareça óbvio -Se quiser me trazer um chocolate amargo, eu tô aceitando.

–Se eu levantar daqui minha única parada antes da minha cama vai ser o carro dos meus pais, Charlie- meu amigo confessa, e é minha vez de rir desenergizadamente -Acho que você consegue levantar o traseiro daí e ir lá pegar seu chocolate.

–Nah. Como amanhã de manhã- respondo rapidamente -Como vocês andam num carro, de qualquer jeito? Quero dizer, somando sua família toda, dá seis.

–A razão pela qual nosso carro tem sete assentos e que Will e Max dividem um carro é exatamente essa, Charlie- Fest explica -E, como eu acabo de me lembrar, hoje é meu dia de usar o banco de trás. Então a menos que eu queira me espremer entre Royal e Max, eu realmente tenho de ir.

–Se é por uma boa causa, eu permito que me abandone- dramatizo -Nos vemos por aí?

–Claro- Festus diz, enquanto acena e sai andando.

Encaro o teto por alguns breves minutos, ouvindo vagamente a voz de minha mãe e de tia Ella ao fundo do salão. As luzes do teto parecem se misturar, e minha visão embaça a cada segundo. Quando eu estou quase pegando no sono- o que me renderia carona no colo até o quarto -, uma voz me acorda.

–Só te digo uma coisa- ouço meu irmão dizer, e vejo ele jogado no pufe ao lado do meu -Temos aula em algo como vinte e sete horas.

–Argh, Rick- eu devolvo, ainda com a voz grogue -Você realmente é um estraga-prazeres.

–Estava dormindo, Lottie?- ele dá uma risadinha.

–Achei que o sono fosse meio que sagrado pra você- resmungo.

–O seu é tão sagrado pra mim quanto o meu pra você, maninha.

–Touché- admito -Me leva pra cama?

–Você tem um e sessenta e sete, Charlotte- Richard diz, cético, e boceja -Eu acho que nem consigo te carregar.

–Então fala com o papai que eu peguei no sono- replico, virando-me de lado para me acomodar no pequeno sofá.

–Você terá de parecer convincente.

–Pode deixar- bocejo -Boa noite, Rick.

–Boa noite, Charlie.

–x-x-x-

Acordo na manhã seguinte com o barulho de um aspirador. É claro que mamãe contratara gente pra poder limpar tudo hoje mesmo. Grunho, virando para a janela e vendo que o sol está mais alto do que nas manhãs normais. Pego o meu celular na mesa de cabeceira e posso constatar que são onze e meia da manhã, o que me faz levantar de vez e consequentemente tropeçar na mochila ao pé da cama.

Droga. Mochila.

Era hoje. O último dia de férias.

Ainda de pijama- só porque eu posso -desço para o café da manhã. Quando chego na sala de jantar, a única alma ali perto é Richard, que toma seu leite quente com cookies.

–Boa tarde, Charlie- ele me cumprimenta, rindo.

–Falou, Adormecido- replico, o chamando pelo nome que o pessoal em geral usava -Papai me levou pra cama?

Ele assente e engole antes de responder.

–Sim. Rosie pediu pra ele levar ela também, mas, bom, ele disse que ela tá muito crescida.

–Um e setenta e cinco- eu concordo, pegando um pouco de chá e rosca de canela -Ela é enorme.

–Discutível- meu irmão replica -Diferente do fato de que temos de ir à aula amanhã.

–Não precisa me lembrar.

–Preciso sim.

–E não vai ser tão ruim, de qualquer jeito. Eu vou estudar com Festus, Jasp e um outro pessoal aí. Minha turma esse ano vai ser a turma.

–Só se for a pior turma.

–Discutível- eu o imito.

–Ponto seu- ele admite -Mas Spencer Smith vai estar na sua sala.

–Aquela garota é doente.

–E barraqueira. Como alguém que eu conheço.

–Haha- ironizo e aperto sua bochecha -Você é tão engraçado, Rick. Ou não.

–Lembra de me chamar quando for brigar com ela.

–Não vou brigar com ela.

–Aposto quinze majs que na primeira semana de aula vocês já estão rateando.

–Vai perder- eu aperto sua mão -E quinze majs vão me dar o conjunto de canetas que eu quero.

–Veremos- meu irmão levanta uma sobrancelha e beberica de sua caneca.

–Você verá- eu concordo e bebo do meu chá. Quinze majs cairiam bem no meu bolso.

Moony Willd

Para começo de conversa, nem eu mesma havia entendido porquê raios Tristan havia inventado de me deixar em casa após a festa. Eu realmente já estava com vontade de ir quando meus pais foram embora, e ele só teria de fazer um desvio inimaginavelmente grande. Eu poderia muito bem só ter entrado no carro do meu pai e dito que via ele na segunda. Na escola. O que já teria me rendido uns cinquenta minutos a mais de sono.

Em vez disso, estou sentada no banco do passageiro do carro do meu namorado, sem saber porquê ele quis me trazer.

–Onde estamos, Trist?- eu pergunto, a voz abafada de cansaço, quando percebo que ele não está exatamente no caminho para minha casa -Tristan?

–Quase lá, Moon- ele responde, sem tirar os olhos da rua -Quase lá.

Eu teria dado de ombros, mas eles doíam demais, então só volto a me recostar no banco. Algum tempo depois(uns cinco minutos, mas pra mim parece a eternidade), ele para o carro, mas o deixa ligado.

–Chegamos- anuncia.

–Onde estamos?

–Senta direito e vai ver.

Faço o que ele diz, endireitando a coluna, para dar de cara com o parque na porta do zoológico. Os postes estão acesos, mas brilham fracamente, e o lugar está completamente deserto. Parece meio mórbido.

Percebo, porém, o objetivo ao olhar para o céu. Esse é o lugar mais mal-iluminado da cidade, o que nos possibilita ver todas as constelações que eu conheço, ao som dos animais noturnos zoológico adentro.

–Você sempre disse que queria ver esse lugar à noite- Tristan explica -Então eu te trouxe aqui.

–Você é uma gracinha- eu devolvo, me inclinando para frente na tentativa de ver mais -Mas eu estou morta.

–Ok. Vou te deixar em casa.

Ele dá ré e manobra, fazendo o caminho mais curto e rápido para minha casa. Nenhum de nós fala nada, somente a rádio faz barulho e, por acaso, toca Our Song. Quando ele estaciona na frente do meu prédio, olho para ele antes de descer.

–Eu já disse que te amo?

–Já, mas aposto que vai repetir.

–Eu te amo, Tristan Smith- o ignoro e colo meus lábios nos dele por algum tempo. Segundos depois, me afasto e sorrio -Boa noite.

–Durma com os anjos- meu namorado devolve, meio aéreo, e espera que eu entre no prédio antes de arrancar.

Sorrio para o porteiro antes de entrar. Eu era realmente muito sortuda.