Na manha seguinte, Nicholas se sentia bem melhor. Embora... Ele especulou. Teria sido melhor acordar sem o cabelo pintado de graxa preta.

Foram os pensamentos dele quando ele tomou banho para tirar à graxa. Acostumado com isso - muitas vezes usara a técnica para esconder o cabelo muito brilhante em meio à multidão - ele conseguiu lavá-lo facilmente.

Só tenho pena de Pablo. Ele pensou risonho. O menino mais velho não tinha sido poupado da pegadinha... Provavelmente dos gêmeos.

Ele então desceu as escadas, pensando em esperar um pouco perto da lareira, uma vez que ainda era muito cedo.

Vivi estava sentada em uma das poltronas, perto da lareira. Percebeu a chegada de Nicholas, olhando levemente e, sem dizer nada. Seu olhar e cheiro foram todo o necessário para Nicholas perceber o que ela estava pensando. Ela não queria outra provocação, aquilo tinha a abalado muito.

Nicholas sorriu culpado.

—Ei, não me ignore para sempre, Madame. Eu sinto muito. De verdade. Você pode me provocar sobre algo, realmente. E eu juro que não vou retaliar. Por favor? — Ele quase implorou. O sentimento culpado estava consumindo-o. Ele realmente odiava isso.

Assim como odiava se sentir como um criminoso. As lágrimas dela tinham abalado sua estrutura.

—Eu não quero. — Ela disse, secamente. — Você... Apenas me fez lembrar algo ruim, ainda estou tentando me recuperar, só isso. — Ela suspirou. — E eu não gosto de você. — Murmurou, com um tanto de raiva. Ela parecia com raiva da atitude de Nicholas.

O loiro fez beicinho e se ajoelhou ao lado da poltrona dela, com os cotovelos no braço da poltrona. Se a técnica de desculpas não tinha funcionado, ele não tinha escolha a não ser incomodá-la. E ele era bom nisso.

—Sim, eu fiz uma babaquice real. —Ele concordou. —Eu me esqueço que as pessoas ligam muito para as coisas e sou um idiota irritante e babaca. —Coçou atrás da cabeça. —E por isso eu estou me desculpando. Ajuda se eu me desculpar por existir?

—V... Você... — Ela ficou um tanto corada. — Por que não v... Volta para as ruas? C... Ca... — Ela se afastou dele, encolhendo-se numa parte da poltrona. — Eu não gosto de você... V... Você... — Ela choramingou. — Odeio que me pressionem e... E...

Nicholas sorriu tristemente.

—Quer que eu volte? —ofereceu. —É só dizer que sim. Eu saio daqui e volto a comer lixo. —Ele afirmou, sem problemas.

Se isso fizer parar esse sentimento.

Eu faço qualquer coisa.

—N... Não, eu não quero. — Ela se espremeu mais na poltrona. — Por que insiste tanto em mim? Você tem amigos, fique com eles. Afaste-se de mim, eu sou uma Cobbens, se lembra? Odeie-me.

Tenho amigos? Ele pensou, levemente. Acho que não.

—Você assassinou minha mãe? —Nicholas perguntou, num tom suave. Ele não estava acusando. Seus olhos eram apenas leves e seu sorriso triste.

Ele nunca tinha parado de sorrir. Provavelmente tinha se esquecido como.

—Não. — Ela sorriu um pouco. — Mas conheço quem. — Depois, seus olhos gelaram.

Nicholas balançou a cabeça e seus dedos começaram a batucar na perna. Era uma técnica que ele tinha, e usava quando sua mente começava a... Pensar demais. Assim, ele concentrava-se em desvendar padrões complicados de batuque e nomea-los, ao invés de pensar em coisas ruins.

—Eu também conheço quem. Não sei o nome. Mas eu vi. —Ele riu. —Eu tenho uma memória muito boa, e aquele dia eu lembro bem. —Seu sorriso ficou maior. —Mas... Se você não matou minha mãe, porque eu deveria te odiar?

Ele parou e se levantou.

—É por que seu nome é Cobbens?

Ele andou até a frente da poltrona dela, olhando-a nos olhos.

—É por que você disse coisas ruins para mim desde que nos conhecemos?

Ele se agachou.

—Ou simplesmente porque disseram isso pra você?

Seu mistério é fácil de desvendar, Madame.

—P... Por que... Por que eu sou um lixo. — Ela espremeu o rosto na poltrona, não queria olhar para ele. Não queria. — Por que você deveria me odiar, eu sou Cobbens, tenho o sangue de quem matou seus pais. Além do mais, eu não sou legal. Não sou. — Ela disse ainda com o rosto numa parte da poltrona, sua voz saiu um tanto abafada.

Baixa auto-estima. Possível autoflagelação. Ele anotou, observando os sinais. Vou ser surpreso se ela não aceitar calada que alguém a machuque.

—Eu não acho. —Negou. —Eu conheci muitas pessoas lixo na minha vida, e você não parece uma delas. —ele sorriu, esticando a mão para brincar com uma mecha do cabelo dela. —Você não é um lixo. E se alguém disse isso, essa pessoa é realmente cega. —ele riu, lembrando-se da primeira coisa que ela havia chamado ele. —Além do mais, você é muito legal. —ele riu baixinho. —Um pouco mal-humorada, talvez... E certamente precisa de um pouco mais de educação, mas de qualquer outra forma, você é muito divertida.

—Eu sou um lixo. — Ela disse, depois, olhou para ele e sorriu. — Não precisa ficar com pena de mim. — Depois, suspirou e arrumou-se na poltrona. — Eu sei que sou meio estranha, mas não fique com pena.

Nicholas riu alto. Ela acha que eu tenho pena? Tá de sacanagem...

—Senhorita, eu tenho pena dos lixos que estupram crianças e obrigam-nas a trabalharem por dinheiro. Eu tenho pena de mercenários. —o loiro fez uma pausa. —Não de garotas emocionalmente instáveis e com uma tendência muito grande a tentar me provocar. Essas são as mais legais. Uma vez, teve uma garota que tentou me abraçar e quase me sufocou! É estranho! Eu sou um morador de rua, porcaria, não um ursinho! Aquele tipo de menina me assusta! E você não é como elas, então... —ele cantarolou. —Você é legal, madame.

—Eles não são lixos. — Ela estremeceu. — São monstros. — Depois, um sorriso irritante apareceu ao seu rosto. — Ela te a abraçou, é?

—Sim. E foi assustador. —ele acenou com a cabeça freneticamente. —Juro, eu ainda não entendi por que. Quero dizer, tudo bem que eu estava bem limpo naquele dia, mas não faz sentido.

—Ah. — Ela deu uma risadinha. Um tanto tímida. Oh, merda.

—Eh... —Nicholas estava sentindo todo o progresso feito se esvaindo com a conversa. —Meninas são todas estranhas assim ou aquela era especial? —Ele perguntou curiosamente, querendo manter a conversa.

—Bem, abraços são felizes, eu acho. — A menina olhou para a fogueira. — Principalmente para um cachorrinho que abana o rabinho, feliz. — Nicholas quase pode vê-la imaginando isso, quando riu. — Nicholas Sanders.

O loiro se estirou, com uma risada.

—Oh, bem. Normalmente eu não gosto de pessoas me tocando. —ele apontou. —É ruim. —sentou-se, olhando para o fogo. —Aaah, Pablo está demorando. Acho que ele ainda está tentando tirar a graxa do cabelo...

— Graxa? — Vivi piscou, e Nicholas sentiu seu cheiro de confusão divertida.

—Nossos companheiros de quarto são os gêmeos Weasley. —explicou. —Eles são brincalhões. Adoram pregar peças e tal... Pelo que eu vi, todo mundo no quarto acordou com o cabelo coberto de graxa. —Ele passou a mão pelo cabelo loiro então mostrou os dedos levemente manchados de preto. —Eu consegui tirar a maioria, mas ainda vou precisar lavar mais uma ou duas vezes para tirar tudo.

A morena riu um pouco.

—Deve ser complicado tirar graxa do cabelo. — Ela fez uma pausa, pensando. — Um dia derramaram geléia no meu cabelo... Demorei três dias para tirar completamente. — Sorriu.

—Nunca comi geléia. —O menino mais novo brincou com um fiapo do chão. O ritmo de seu batuque mudou. —É bom?

—Um pouco. — Ela olhou para a mão dele. — Prefiro chocolate.

Oh, isso é interessante. Ele anotou a informação. Pequenas coisas que pareciam inúteis sempre poderiam ser boas, no futuro.

Nicholas esperou pacientemente enquanto ela fazia uma pausa pensativa.

— Bem... Você pode experimentar muitas coisas boas daqui... O bolo de chocolate estava bom. — Ela fez uma cara feia. — E não fui eu quem comi tudo.

—Eu realmente acho que foram os gêmeos. Você é muito magra pra agüentar tudo. —ele a cutucou.

—Eu sou pesada, até. — Brincou. — Será que já... Botaram o café?

Nicholas inclinou a cabeça.

—Provavelmente. Mas é cedo. —opinou. —Não tem movimento, ainda. Devem ser umas sete horas.

Eles foram interrompidos por uma leve xingamento. Virando-se, Nicholas observou um Pablo quase caindo estava a baixo, só conseguindo se manter de pé por causa do corrimão.

—Ai droga— Ele falou levantando-se corretamente, limpando a sujeira da roupa. — Oh! Você me esperou!

—Conseguiu tirar à graxa? —perguntou alto, com um sorriso. Pablo era muito divertido.

—Nem depois de meia hora de banho e uma escova de roupa!— Ele passou a mão saindo bem pouca graxa— Pelo menos saiu à maior parte...

Ele olhou para Vivi e pareceu levemente inseguro.

—Olá senhorita Vivi— Ele acenou alegremente e educado. — Estão prontos para o café?

—A... Ah, oi. — Ela disse, com um pequeno sorriso.

Então se quietou num canto, e tentou ficar menor. Nicholas pode entender que ela provavelmente estava insegura perto deles. Adicionou problemas de comunicação a sua lista mental.

—Se tiver bacon de novo, eu vou adorar. —ele cantarolou. —Vamos, Madame? —ele disse, oferecendo a mão com o sorriso mais sincero que ele podia se lembrar de ter dado nos últimos oito anos. —Quem sabe tem chocolate. Está frio, apesar de ser verão. Pode ter chocolate quente.

—Eu posso ir com vocês? — Ela disse um tanto confusa.

—É claro!— Pablo respondeu primeiro sorrindo e indo um pouco a frente. — Ei seria ótimo ter chocolate quente, esse verão ainda é muito frio pra mim...

Nicholas acenou e então inclinou a cabeça, com um sorriso convidativo.

—Eu não te odeio aqui. Nem lá fora. —Ele riu baixinho, segurando a mão dela e puxando-a delicadamente. —Vamos lá. Aproveite um pouco da liberdade, madame. Além do mais...

Ele sorriu largamente.

—Você é minha primeira amiga oficial.

Vivi corou. Ela pareceu ficar alegre, embora um alegre meio entristecido. Ela não deve ter muitos amigos... Essa conclusão causou raiva em Nicholas, de alguma forma.

Vivi sorriu um pouco.

—Obrigada. — disse, com a voz suave.

Nicholas riu, mas suas orelhas ficaram um pouco vermelhas, como ele escondeu o rosto.

O salão principal tinha apenas começado a encher quando eles chegaram.

—Aaaaah, eu posso sentir, eu posso sentir o cheiro de bacon... —O loiro menor choramingou feliz. —Eu amo esse lugar.

Pablo riu sentando-se. O loiro mais velho então pegou uma caneca de chocolate quente, ovo e um pedaço de bolo. Nicholas pegou — sem nenhuma surpresa — bacon. Vivi pegou um pedaço de bolo de chocolate e chocolate quente.

O loiro mais novo riu quando viu o que ela pegou.

—Sabe, você deveria comer coisas que sustentam mais. —Ele repreendeu, com uma risada. —Já ficou anêmica? É horrível.

—Já. — Ela disse, abocanhando o bolo. — Fiquei sem comer direito durante um tempo. Não é legal, mas não é como se eu tivesse sentido algo.

—Oh, bem, tome cuidado, sim? —Embora fosse uma brincadeira e suave, ele era bem sério sobre isso.

Ele tinha visto pessoas demais morrendo de fome ou doentes para não se preocupar.

—Siga o exemplo do Pablo. Ele está comendo doce E ovo.

—Café da manhã é uma refeição importante de fato— Pablo se meteu na conversa, com o prato cheio. — Nicholas está basicamente indo bem apesar de que a gordura que o bacon tem é assustadora.

—Eu sou magrelo! —exclamou Nicholas, fazendo beicinho. Ele era de fato. —Eu preciso de gordura.

Vivi riu um pouco.

—Gordura entope o sangue. — Sussurrou, brincando.

—Mas me impede de quebrar ossos. Quebrar ossos não é legal.

—Ok. — Pablo disse. — Mas é bom ter mais que bacon no prato— ele mostrou a língua voltando a comer.

Nicholas bufou e pegou um pão, além de suco de abobora.

—Feliz mamãe? —perguntou ele, com um beicinho.

Vivi sorriu.

—Isso, seja saudável.

—Diz a pessoa que vai com certeza ter... D... Qual é a doença do açúcar mesmo?

—Está falando o que senhorita do bolo— Pablo olhou pra ela num sorriso— O mesmo vale para você!

Os meninos falaram ao mesmo tempo.

—Doces são gostosos. — Resmunga. — Irresistíveis. Acho que vou casar com um.

—Diabetes. E ela vai ter com certeza, se não variar um pouco a comida — Ele riu olhando Vivi.

Brincadeiras a parte, Nicholas realmente era magro. Quando ele erguia a mão, a blusa da escola escorregava constantemente. Mesmo sendo já bastante pequena e adaptada, ela simplesmente não conseguia prender nos pulsos magros do garoto.

—Não vou ter diabetes. — Ela resmungou. — Além do mais, o Nicholas devia de acrescentar ao cardápio dele os doces.

—Nunca tive costume de comer. —ele apontou. —Era caro demais. —encolheu os ombros. —Pra que eu preciso comer doces, afinal? —ele perguntou, com a sobrancelha levantada.

—Doces é mais para paladar e engordar. E espinhas— ele olha pra Vivi num sorriso malicioso— muitas espinhas.

—Não ligo para espinhas. — Ela deu outra garfada no bolo. — E doces tem gorduras.

Nicholas franziu o cenho para isso, olhando para os doces. Ele se sentia estranho com aquelas coisas.

—Mas não é justo. —ele murmurou para si mesmo.

Por que eu posso ter isso, e nenhum deles pode? Pensou ele, sombriamente, antes de voltar a comer bacon.

Logo que eles terminaram de comer, — Nicholas já tinha parado há tempos, muito mal-acostumado a comer demais — os horários foram entregues.

—A primeira aula é transfiguração. —ele disse, alegremente.

Vivi suspirou, aliviada por não ser com Snape. E depois olhou ao redor.

Nicholas inclinou a cabeça, analisando os sentimentos dela. Impaciência e alivio?

—Vamos? —perguntou ele, sorrindo. —Não queremos aborrecer McGonagall

—Claro, claro.

—Ah, ela não parece alguém que queremos irritar... — Pablo concordou. E os meninos (E Vivi) fizeram seu caminho para fora do salão principal. — Espera pra que lado é?

—É na ala oeste do 3º andar. —Nicholas leu no papel. —Então é pra lá. —ele era bom com direções. Vamos subir as escadas... Só espero que o castelo não nos confunda, embora.

Eles estavam bem próximos da sala, quando Nicholas sentiu todos os seus sentidos ficarem tensos. Sentimento de impaciência, irritação e espera entrou por seu nariz e ele observou ao redor. Havia um terceiro ano parado próximo a sala, de cabelos pretos e olhos castanhos, absolutamente comum... Se não fosse o cheiro de falsidade que emanava dele. Ele olhava diretamente para o grupo de primeiros anos... Não o grupo realmente. Para Vivi.

Ele era uma das pessoas que ela não queria encontrar?

O terceiro ano andou tranquilamente até eles e sorriu para Vivi de forma muito dócil.

—Bem-vinda a Hogwarts Vi, estou realmente feliz em vê-la novamente, apesar de que estou um pouco decepcionado com a sua seleção, não imaginava que você entraria na Grifinória. Não tenho nada contra, mas eu preferia ter você perto de mim. –Ele manteve o sorriso amistoso. Mas o cheiro dele quase fez Nicholas vomitar.

Pablo olhou o garoto confuso e depois para Vivi.

—Conhecido?

A garota olhava para o terceiro ano, seus sentimentos eram uma mistura de medo e rancor. Depois, olhou para Pablo e o respondeu:

—É... Um pouco...

Nicholas não estava gostando do cheiro que a situação estava tomando, mas se manteve quieto. Se fosse uma situação de puro-sangue, a ultima coisa que ele poderia fazer para ajudar era se pronunciar. Ele sabia muito bem que isso acarretaria problemas para todo mundo.

—Um pouco? —O terceiro ano passou a mão no cabelo de Vivi. — Não fale assim eu vou ficar triste! Você deveria ser um pouco mais amigável comigo, nem ao menos pareceu feliz de me ver.

Nicholas ergueu a sobrancelha para isso. Não parecia exatamente algo comum. Eles eram crianças, apenas. Ele tinha visto esse tipo de coisa em casais problemáticos de 16, 17. Sua cabeça começou a formar as possibilidades, como ele se viu com informações o suficiente para isso. Seus dedos começaram a batucar na calça, aleatoriamente.

Vivi afastou-se dele, fazendo- parar de mexer nos cabelos dela.

—N-Não me toque, por favor.

Nicholas já estava prestes a interceder, os sentimento de Vivi eram turbulentos o suficiente para ele se preocupar, quando Pablo decidiu salvar a situação.

—Hm... A gente precisa ir para a aula se você não se importa. —Pablo comentou, puxando os outros dois.

—Claro! Podem ir. —O garoto ainda sem nome fuzilou Vivi com o olhar— Depois conversamos querida.

Quando ele saiu dali, Nicholas bufou.

—Que babaca. —murmurou sob sua respiração. O cheiro de falsidade dele estava quase deixando o menino mais novo doente, mesmo com ele bastante longe já.

Vivi sorriu para ele.

—Ele sempre foi assim, já estou acostumada.

Oh... Nicholas anotou a informação. Então eu posso riscar ex-namorados da lista. E ele não gostou das opções que ficaram.

—Quem é esse cara? — Pablo olhou pra Vivi confuso.

Os olhos de Nicholas brilharam com os pequenos pedaços de informações que ele estava recolhendo, para seu novo quebra cabeça.

Eh... Então é assim?

—Muito provavelmente outro puro-sangue. —Foi Nicholas que respondeu, inclinando a cabeça. —Um muito babaca, por sinal.

—É apenas um conhecido. — A menina corrigiu.

Vivi encarava suas mãos. Os sentimentos dela eram de alivio, de alguma forma. Isso alertou Nicholas. Aquele garoto não era o pior. Não mesmo. Vivi provavelmente tinha outro inimigo... Ou outros. Seus olhos se estreitaram, mas ele se forçou a tentar aliviar a situação.

—Bem. Se ele aparecer de novo, eu não vou poderei ajudar-me a não dar um soco nele, minha senhora. Infelizmente, tenho que falar com seriedade com a Madame. Ele parece um daqueles estupradores de criançinhas. Consideravelmente assustador, se não se importa com minha opinião. Um pouco... Bizarro, também, porque ele não pode ter mais de doze ou treze anos.

Vivi soltou uma risada.

—Não faça nada, ele pode ser perigoso.

“Ele pode ser perigoso”, o sorriso zombeteiro de Nicholas não poderia ser mais evidente. Ela diz para o lobisomem.

—Eugh. —Pablo tremeu com o pensamento— Vamos indo pra aula e torcer que ele não apareça de novo.

—É por aqui. —Nicholas apontou. —Definitivamente. —ele podia sentir o cheiro de McGonagall.

Eles entraram e foram tomar um assento. Nicholas se sentou no fundo e no canto, mais por costume que qualquer coisa. Vivi começou a olhar alguns lugares para se sentar, sem saber muito bem onde deveria, pois quase todos estavam ocupados. Era a aula com a lufa-lufa afinal. Nicholas viu Edward sentado em algum ponto no meio da classe.

—Aqui. —Nicholas apontou para a carteira na frente dele. —Pode sentar, se quiser. —Ofereceu, pela primeira vez desde que Vivi o tinha conhecido, em um tom abertamente inseguro.

Depois do encontro com o terceiro ano, Nicholas podia ver uma razão para ela querer manter ele distante.

—Obrigada... — agradeceu a menina, sentando-se.

Nicholas sorriu alegremente, e observou ao redor. A professora não podia ser vista em qualquer lugar, no entanto. Havia apenas um gato estranho sentado na mesa.

—Onde está a professora? —Sussurrou a garota, estranhando.

—Será que a McGonagall se atrasou?— Pablo sussurrou para Vivi e Nicholas. Nicholas não conseguia ver McGonagall como o tipo de pessoa que se atrasava, embora.

—Não sei. —Nicholas sussurrou de volta, encarando o gato um pouco eriçado.

—N... Nem eu... –Vivi gaguejou. Ela ainda não estava acostumada com Pablo.

Poucos segundos depois, o gato, no entanto começou a mudar e crescer. Em apenas alguns segundos, McGonagall estava sentada na mesa, olhando para a sala criticamente.

Vivi piscou uma ou duas vezes, um tanto assustada com a transformação repentina.

Edward deu um pulo, pois não esperava ver um gato se tornando a professora.

—Wow!

Pablo arregalou os olhos com a entrada da professora, um tanto surpreso.

Nicholas inclinou a cabeça, ainda um tanto eriçado, por causa do gato – ele não gostava de gato desde que tinha se tornado um lobisomem.

—Isso, alunos, é o que chamamos de transfiguração. —a professora McGonagall falou, puxando a varinha e batendo com ela na lousa para que aparecessem coisas escritas. —Quando você transforma uma coisa em outra, utilizando apenas a magia. Isso é o que aprenderão esse ano.

—Isso... Foi realmente um bom exemplo— Pablo comentou baixo com os olhos brilhantes— Transformar-se num animal consciente parece bem legal.

Nicholas se encolheu interiormente com isso.

—Apesar disso, nem tudo é possível na transfiguração. Alguém pode me dizer o que não é? E qual o nome das coisas que não são?

Nicholas não sabia a resposta, então simplesmente afundou na sua cadeira, um pouco desanimado.

Pablo não fazia idéia e tentou pensar em alguma resposta, seres mágicos talvez? Ele não tinha certeza.

—Professora, eu sei um! —Edward levantou a mão.

—Fale Senhor...? —ela olhou para Edward.

—Wolff professora! Não podemos transfigurar bens preciosos como ouro e pedras preciosas!

—Bom senhor Wolff, dez pontos para a Lufa-Lufa. —a professora ainda tinha um rosto severo. —Mais alguém se importou de abrir o livro nesse verão?

Nicholas ficou um pouco aborrecido com isso. Não é como se ele não tivesse tentado. Só eram... Tantas palavras estranhas... Ele deslocou sua atenção na aula para seus amigos. Vivi estremeceu um pouco e Pablo apenas coçou a cabeça sem graça. Ambos não tinham lido no verão então, também.

—Bem, as leis das transfigurações que não podem ser realizadas são as leis de Gramp. Ou leis da transfiguração Elemental. As exceções a essas leis são, em ordem, a Comida, Ouro e elementos preciosos, os Animais Mágicos, os Objetos animados e os Seres vivos. Também não se pode criar nada do ar, simplesmente. Diferente de uma conjuração, a transfiguração é quando você passa um objeto de um estado para o outro...

Ela explicou rapidamente, tomando um rumo mais aberto sobre as formas dos feitiços, conjugações verbais e coisas que fizeram a cabeça de Nicholas doer.

—Não é tão difícil assim... — Vivi comentou, com um sorriso.

—Fale por você. —Nicholas murmurou, com um beicinho. Ele não conseguia nem ao menos fazer anotações. —Ah... Amaldiçôo o ensino fundamental nesse momento...

A menina riu.

—Acho que quando chegar à prática vai ser mais fácil para você.

—Ei! Silêncio, vocês estão tirando a minha concentração! —reclamou Edward.

—Menos dez pontos da Grifinória. —A reclamação de Edward chamou a atenção de McGonagall.

Nicholas suspirou, lançando um olhar mal-humorado para Edward. Não é como se fosse difícil ignorar pessoas conversando na sala. Ele duvidava que Edward fizesse algo assim de propósito, mas...

—Pode me explicar isso, mais tarde?—Ele perguntou, quase sem som, para Vivi.

—Ah, p... Posso sim. — Cobbens deu um sorrisinho. Parecia um tanto sem jeito.

Nicholas sorriu brilhantemente, com seu humor renovado.

—Agora, estarei dando-lhes um fósforo. —A professora disse. —Utilizando os princípios da aula, de pensamento, criação e mágica, quero que tentem transformar esse fósforos em agulhas. —Ela passou os fósforos de mesa em mesa. —Podem começar.

Segurando sua varinha Nicholas resmungou um pouco para si mesmo. Ele tinha que fazer essa coisa ficar pontuda, prata e de metal...

Pablo encara o fósforo tentando aplicar a magia, concentrando-se, metal... Metal...

Depois de um curto tempo havia realmente ficado meio metálica com a cor, mas ele não estava conseguindo realmente transfigurar.

—Difícil... — murmurou segurando a varinha tentando mantê-la e fazer o feitiço.

Vivi um tanto empolgada, começou a se concentrar para que o fósforo se transformasse em agulha. Ficou um tempo se concentrando, com os olhos fechados. Porém, quando os abriu viu que o fósforo tinha ficado azul.

—P... Por quê? — Choramingou.

Edward tentava realizar a tarefa, porém todo o seu esforço não estava sendo recompensado. Nada acontecia com a fósforo, ele já estava começando a ficar preocupado.

—Por que eu não consigo?

Nicholas murmurava para si mesmo.

—Argent, argent... —O fósforo tomando um pouco de aparência de agulha, já levemente prateado e pontudo, depois do trabalho da ultima meia hora. Apesar disso, ele não estava conseguindo transformar aquilo em metal. Era irritante. Argent era metal, não era? Ele realmente não sabia.

—Ai. —murmurou Nicholas, soltando o fósforo, franzindo a testa. Seus dedos levemente queimados.

Ele ergueu a mão.

—Professora... Acho que consegui.

A professora veio checar.

—Não é metal, é prata, mas é o mesmo principio. —ela acenou com a cabeça. —Cinco pontos para a Grifinória por não ser exatamente o que eu pedi.

Nicholas acenou orgulhoso de seu sucesso, embora um pouco emburrado por agora não puder mais segurar o ex-fósforo.

O fósforo de Edward nem mudava de cor. O garoto estava começando a acreditar que não conseguia.

Por que não acontecesse nada com o meu? Pensou. Droga varinha, como vou salvar as pessoas se não consigo transformar um fósforo em agulha. Me ajuda!

—Boa Nicholas! — Pablo elogiou— ei até que você tem dom na transfiguração hu?

Nicholas riu, colocando as mãos nos bolsos.

—Não é difícil, uma vez que você começa a conseguir imaginar a transformação. —ele apontou. —É muito difícil só ficar com o que você quer que chegue a mente. Tente ir mais devagar e transformar pedaço por pedaço.

—Humm, ok xô tentar de novo— Ele fala virando de volta para o próprio objeto tentando novamente

Edward entendeu seu erro quando ouviu o loiro mais novo. O garoto se concentrou e começou a fazer exatamente o que amigo havia dito, ele começou a imaginar a cor da agulha, e depois de algumas tentativas seu fósforo mudou de cor, fazendo o garoto comemorar como se tivesse realizado a transfiguração na primeira tentativa.

—Silencio Sr. Wolff. —pediu a professora, franzindo a testa.

—Desculpe! —Ele corou e sentou.

O fósforo de Vivi tinha passado por inimagináveis cores, até que finalmente tomou forma de agulha, com uma cor metálica. Parecia ter alguma coisa errada, mas parecia uma agulha, sim.

—Acho que consegui! — Ela sorriu.

Nicholas sorriu.

—É madeira ainda, embora. Mas é um bom começo. —ele disse, cutucando ela.

—Ah—h... — Ela se encolheu um pouco, com um sorriso.

—Continue tentando Cobbens. —ele disse, alegremente. Tenho certeza que vai conseguir. Você é boa nisso.

—Obrigada, Sanders. — Disse, rindo.

Nicholas sorriu, piscando.

A aula acabou um tanto rápido demais para o gosto do Nicholas — que depois da parte teórica tinha tomado gosto pela coisa —, e logo eles estavam do lado de fora da sala. Agora tinham 20 minutos livres antes da próxima aula. Presumivelmente para ajudar os primeiros anos a achar a próxima sala. (Nicholas se perguntou porque eles não disponibilizavam mapas).

Assim que saíram da sala, apesar de tudo, foram parados por Edward, que cheirava a arrependimento.

—Nicholas, me desculpe pelos pontos perdidos pela Grifinória, eu não fiz aquilo de propósito.

Nicholas parou surpreso.

—Eh... Tudo bem. —ele estava tentando manter sua expressão surpresa de subir em seu rosto. —Você não tinha a intenção de fazer isso, eu acho. E a gente estava realmente conversando então... —ele coçou atrás da cabeça, confuso.

Ele sorriu e sussurrou:

—Obrigado pela ajuda na aula prática. Eu ouvi o conselho que você deu para o Pablo e realmente ajudou muito. —Em seguida ele acenou para Vivi e Pablo e foi na direção contraria.

Nicholas inclinou a cabeça.

—Ele é estranho. —murmurou. As pessoas não costumavam se desculpar com ele.

Pablo apenas acenou num sorriso de volta

— Ele é bem animado hu?

—Às vezes demais. —Nicholas suspirou. —Agora temos o que?

Foi um primeiro dia turbulento... Mas um bom primeiro dia.