Assim que o corpo morto de Bruno caiu mole ao chão um trovão ecoou no céu e vários raios nas nuvens as iluminavam, fazendo com que a noite, outrora escura parecesse dia. Era Layla, Estava com as emoções à tona, totalmente acabada.

Abraçada forte no corpo sem vida de Bruno, Layla chorava muito ao mesmo tempo em que raios caiam, um por um, em cheio nos goblins que iniciaram a emboscada, matando-os todos exceto Rene, que Cyro o mantinha no chão, mordendo-lhe o pescoço para o submeter e dominar.

–Você irá para a prisão de Warfang seu traidor filho da puta! –Cyro dizia mordendo ainda mais forte, fazendo Rene rugir de dor e se sacudir para tentar se libertar.

Todos começaram a voltar para Warfang, exceto Layla, que ainda chorava, agora debaixo apenas da tempestade sem os raios e trovões, abraçado com Bruno e seu pai, Larzek, que se sentia profundamente culpado ao ver Bruno dar sua vida para salvar a de Layla.

De fato ele a amava... E o sentimento era reciproco... Layla... Acho que você... Nunca irá me perdoar. –Pensava o grande dragão que perdera toda sua imponência e agora seu semblante era de tristeza e culpa. Ele se aproxima devagar por tráz de Layla e a toca no ombro. –L... Layla eu... Me perdoe eu...

Layla o olha com fúria e berra, mostrando os dentes. –É TUDO SUA CULPA! EU TE ODEIO! –Ela diz com lágrimas de puro sofrimento.

Seu pai abaixa a cabeça rente ao chão e fala com sua voz desaparecendo. –Me perdoe minha filha... Me perdoe meu amor... –Larzek fecha seus olhos e algumas lágrimas saem de seus olhos. –N... Não fale q... que me odeia, filha... Por favor! EU te amo filha. Q... Queria lhe proteger.

–DELE?! EU NÃO PRECISAVA SER PROTEGIDA DELE! ELE ME PROTEGEU MUITO MELHOR DO QUE VOCÊ FEZ AQUI! –Layla diz nervosa mas logo percebe que havia falado uma coisa errado.

Larzek arregala os olhos e olha finalmente para baixo. –Me... Perdoe... E... Eu não pude te proteger. Não mereço ser seu pai.

Layla olha para seu pai e mais lágrimas saem de seus olhos. Ela não queria soltar o corpo de Bruno mas seu amor por seu pai a fez soltar o corpo no chão lentamente, dando um último beijo e vai até seu pai, lambendo sua cabeça. –Pai... Desculpe por ter falado aquilo... Eu... Eu não queria... Estava nervosa com você.

Larzek sente a lambida em sua cabeça e olha para Layla, dando uma lambida tímida nela. –Você tem razão... Foi minha culpa.

–Não... Foi culpa... Daquele maldito Rene. Grrrr... Pai... –Os olhos de Layla se enchem de lágrimas novamente. –Pai... Como eu vou viver? Não serei capaz de amar ninguém igual ele novamente! Paaaii! –Ela despenca abraçando muito forte mesmo, sofrendo. Seu coração doía como nunca. Era uma dor como se fosse um aperto, algo sugando sua vitalidade, sua alma. –P... Pai...

Larzek sentia um sofrimento imenso vendo a tristeza de sua filha. Ele a abraça forte acariciando suas costas com suas garras. –Meu amor... Shh... Calma meu amor! Nós iremos lhe ajudar. Você sabe disso.

Layla levanta seu olhar para o rosto do pai e da um leve sorriso. –Sim. Eu sei... Ai pai... Essa dor... No meu peito...

Larzek a solta e toca no peito dela. –Isto significa que seu amor por ele era realmente verdadeiro meu amor. Mas não se esqueça, ele sempre irá estar com você, aqui. -Ele diz sorrindo para ela.

Layla assente e o lambe. –Para todo o sempre!

Ele assente e então a coloca em suas costas. –Vamos voltar para a cidade, Layla... Vai pegar um resfriado aqui, minha linda.

–Mas e ele, pai? E Bruno?

Larzek olha para o corpo de Bruno. –Melhor deixa-lo aqui... A próprio natureza irá fazer seu trabalho.

Layla, nas costas de seu pai, olhou uma última vez para o corpo ensanguentado de Bruno e suspirou. –Sempre lhe amarei meu Bruno... Meu querido humano.

Larzek se apressara para chegar em Warfang e voa direto para a sacada do quarto de Layla, pousando e entrando.

Dayla e Kelly estavam lá, deitadas em frente à lareira, Dayla lambendo as costas de Kelly que ronronava feito um filhote. Ao verem Larzek com Layla nas costas, com a cara que estavam, se assustaram e Dayla se levantou.

–Querido? O que houve? Por que está assim?

Larzek deu um beijo na bochecha de sua amada. –Amor... Estávamos errados... Aquele... Aquele humano se sacrificou para salvar a vida de nossa filha!

Nesse momento Kelly arregala seus olhos e se levanta, correndo até o lado de seu pai. –Layla! Você está bem, maninha?

Layla olha para sua irmã com um olhar de extremo sofrimento. –Por fora sim... Mas... Por dentro... Destruída.

–Ai Lala... –Kelly diz e pula nas costas de seu pai, se deitando do lado de Layla e a cobrindo com sua asa. –Lamento tanto em ouvir isso. Me desculpe por o chamar daquelas coisas e... –A voz de Kelly foi desaparecendo. –E de pensar coisas muito piores...

Layla a olha e pela primeira vez em sua vida a abraça com tamanha força que Kelly grunhiu.

–Ahh... L... Layla você... –Kelly começa a dizer, mas entende a dor de sua irmão e a abraça também. –Irei lhe ajudar sempre. Sabe disso minha irmãzinha!

–Sim... eu sei... Obrigada minha irmã querida.

Enquanto as duas conversavam e Kelly tentava animar sua irmã, Dayla e Larzek conversavam sobre a emboscada.

–Então o líder da emboscada foi um dos antigos candidatos? O homofóbico, certo?

–Sim! Foi ele mesmo... Creio que Spyro não está nada feliz... Apesar de merecer uma morte dolorosa, Rene é apenas um jovem. Tem a mesma idade de Layla!

–Sim... Você está certo... Será que... Rene se aliou ao mestre das trevas? –Pergunta Dayla.

–Tenho certeza meu amor... Goblins... Emboscada... Sim... Só pode ter sido isso... Droga! –Larzek pisa forte no chão do quarto. –Tanto trabalho... Tantas famílias e amigos mortos em vão!

–Se acalme meu amor. Tudo dará certo! Spyro e Cynder o derrotaram quando jovem! Se ele voltar, eles estão muito mais fortes!

–O que impede de Malefor também estar mais forte? –Larzek pergunta olhando os olhos com medo de sua amada.

Todos ficam quietos no quarto até que Layla da um pulo para baixo, caindo de quatro. –Eu... Eu irei ver Cyro... Preciso falar com ele... Com meus amigos.

Larzek olha para ela e assente, a lambendo. –Tudo bem minha linda. Pode ir. E me perdoe novamente.

Layla assente e lambe a lateral do rosto de seu pai. –Você queria me proteger... eu te entendo papai... Não se desculpe mais.

–La! Eu quero ir com você! Posso? –Kelly pergunta abanando a cauda suavemente e descendo das costas de seu pai, indo para o lado de sua irmã.

Layla olha para Kelly dando um leve sorriso e assente. –Seria muito bom te ter ao meu lado nesse momento, Kel.

Kelly sorri e esfrega sua cabeça no pescoço de Layla.

As duas então saem do quarto, Layla de cabeça baixa, quieta, olhando diretamente para suas patas. Milhões de lembranças surgiram em sua mente. O jeito em que Bruno tocava-lhe as patas, as massageando. Ela amava sentir as delicadas mãos de Bruno em sua pata.

Parou, levantou a pata, olhando as almofadas de sua pata. Lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos. –Bruno... –Ela diz baixo olhando sua pata e então a fecha, sofrendo muito.

Kelly a acompanhava e parou um pouco a frente de Layla, a olhando chorar. Sempre havia tido inveja do jeito que seu pai tratava Layla melhor que ela o que a fazia odiar Layla, porém, nesse momento ela sentiu uma profunda dor no coração. Era sua irmã e estava sofrendo. Ela deixara todos os sentimentos negativos que tinha por sua irmã e então se aproxima dela, colocando uma das patas no queixo de Layla e levantando seu rosto até o seu. –La... Minha irmã... Não fique assim. Eu te amo minha irmãzinha. Não gosto de te ver sofrendo dessa maneira.

Layla sente o toque e abre seus olhos para encontrar os de Kelly. –Não dá Kelly... Eu... O amava! Faria tudo por ele! Queria ter uma família com ele! Estávamos fazendo planos! Queríamos ter filhos! Kel... Por que? Por que isso aconteceu?!

Kelly deixa uma lágrima escorrer de seu olho e abraça sua irmã. –Calma minha pequena... Você vai encontrar alguém...

–Não! Eu não quero! Eu quero Bruno! Meu querido Bruno! –Layla diz e se separa do abraço. –Você não entende o que é isso.

–Eu sei que você está sofrendo La... Calma.

Layla olha para baixo novamente. –Eu vou matar aquele filho da puta do jeito mais doloroso que tiver! –Layla diz com eletricidade correndo seu corpo.

–La... Calma! Não se irrite! Você sabe que perde o controle quando fica nervosa.

Layla olha para Kelly e respira. –Mas que eu vou o matar... Ah sim... Eu irei!

Kelly suspira. –Vamos La! Queria ir ver Cyro e os outros, não? Devem estar no templo.

Layla assente e volta a andar.

Mais e mais lembranças passam por sua mente, mas desta vez ela se força a continuar caminhando, ainda chorando pelas lembranças.

A lembrança que mais a comovera foi quando, na casa de Cyro, Bruno tinha desmaiado, ela cuidara dele e ficou ao lado dele até que acordasse. As lembranças de como Bruno a tratou bem quando ela vulgarmente subiu em cima dele acariciando-lhe o peito. A sensação do toque no peito do humano ainda estava nas patas de Layla. Ela sorrira lembrando das mãos de Bruno em seu quadril, a acariciando.

Logo após então ficou séria, pois uma coisa dentro dela lhe disse. –Você nunca mais terá isso. –Isso a deixara extremamente séria, deprimida. Pensava em coisas que jamais pensaria que iria pensar, cogitar.

Depois de algum tempo, finalmente chegam no templo. Cyro estava na porta, impedindo qualquer um de entrar, porém sua expressão era parecida com a de Layla, porém sem tantas marcas de lágrimas.

Ao ver as duas, Cyro passa a pata nos olhos, os enxugando e olha para Layla. –Layla...

A dragonesa negra olha para Cyro vendo sua expressão e imediatamente começa a chorar mais.

Os dois dragões pensaram iguais e começam a chorar, abraçando um ao outro com Cyro a lambendo suavemente na crina. –Lamento tanto Layla! Pelos ancestrais... Eu não consigo crer que isso aconteceu. Layla...

Layla não dissera nada, apenas chorava nas costas de Cyro até que ele separa o abraço.

–Layla... Antes da emboscada ele veio até mim. Me disse que iria lhe dar uma coisa. Quando ele... Ele... Se foi eu... Peguei para lhe entregar... –Cyro diz e coloca a pata em sua mochila.

Layla não esperava por isso. Ela arregala os olhos.

–Ele disse que era para provar o amor dele por você ao seu pai. –Cyro diz e tira um magnífico colar com um pingente em formato de coração com algumas garras negras segurando uma linda pedra esmeralda lapidada no mesmo formato.

Layla leva a pata até sua boca vendo o lindo colar e seus olhos se enchem de lágrimas novamente. –Pelos ancestrais! B... Bruno... Meu Bruno... É a pedra que nós achamos no lago... –Ela estica sua pata pegando o colar e o olhando mais de perto. Ela o cheira e sorri extremamente. –O cheiro dele... –Ela diz com lágrimas escorrendo de seus olhos delicado e então coloca o colar envolta de seu pescoço. –Obrigada Cyro. Obrigada por me entregar o presente de Bruno para mim!

Cyro assente sorrindo.

Layla olha para sua irmão e olha para baixo. –Kelly... Por favor... preciso ficar sozinha... Irei andar um pouco.

–Tem certeza Layla?

–Absoluta minha irmã! –Ela diz e a abraça forte, como uma despedida. –Te amo minha irmã! –Então a solta e começa a andar em direção ao dormitório novamente.

No caminho de volta vozes em sua cabeça falavam sem parar. –Você nunca o terá novamente! Ele se foi nas suas patas e você não pôde fazer nada. Como pode ser uma guardiã se não consegue proteger nem a quem ama? Você não merece essa vida. É fraca!

Layla andava no mesmo ritmo sempre, olhando para baixo, sem emoção, entrando no dormitório. Ao chegar ao seu quarto o encontra vazio. Ela entra olhando em volta.

Toca seu colar, as lágrimas voltando e as vozes à atormentando mais e mais.

Olhando mais em volta vê uma corda que ela usava para treinar sua agilidade. Ela vai até a corda e a pega, voando até o teto e amarrando uma extremidade em uma das vigas de sustentação do prédio.

A corda ficara pendurada cinco metros do chão.

Layla continuava com lágrimas escorrendo de seus olhos. Ela vai até a porta do quarto e a fecha, girando a chave e a trancando. Pega um banco que havia lá o posicionando bem debaixo da corda e subindo nele.

Ela toca o colar fechando seus olhos. –Me desculpe meu amor! –Ela diz e então pega a corda, a amarrando em volta de seu pescoço muito forte e fechando os olhos. –Não consigo viver sem você! –Ela diz e então leva a cauda até o banco.

Ela respira um pouco e então da um golpe com a cauda no banco, o jogando para longe e ela caindo, sendo pendurada pela corda.

O ar se esvaia de seu corpo conforme a corda a apertava. Ela se debatia mas estava disposta a aceitar, ficando cada vez mais quieta, parada. –Lamento... Meu... Amor.