A Volta da Raposa

Meu bom amigo, Zorro


Quando chegou à porta do escritório do Capitão, Garcia precisou criar coragem para entrar. Ele viu que Don Alejandro estava do lado de fora, então percebeu que aquela seria a primeira vez em que falaria sozinho com Diego depois de ter descoberto a verdade. Tudo ainda parecia muito insólito, mas aquele era o momento de encarar a surpreendente realidade.

— Soldados, deixem-me a sós com o prisioneiro. – ordenou aos soldados que montavam guarda a pedido do Governador.

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Diego pôde ouvir a ordem dada por Garcia do outro lado da porta e ficou um pouco preocupado.

— Prisioneiro? Isso quer dizer que estou preso de verdade? – perguntou Zorro assim que o soldado entrou, mas ainda tentando manter um fio de esperança.

Garcia não respondeu à pergunta e logo que os soldados se retiraram, ele se aproximou tímida e silenciosamente de Zorro, que permanecia sentado no mesmo lugar de antes. Ele pôde ver que o mascarado já tinha sido atendido pelo médico, pois já não sangrava mais e sua palidez começava a diminuir.

O soldado grandalhão então se sentou na cadeira que antes tinha sido ocupada por Don Alejandro e passou a olhar fixamente para Zorro. Ainda era difícil para ele acreditar em tudo o que tinha acontecido, mesmo tendo testemunhado com seus próprios olhos. Diego estranhou ver o Sargento tagarela tão calado e o observando de um modo bastante esquisito.

— O que foi, Sargento? Por acaso eu já fui condenado à forca? – brincou Zorro, mesmo sabendo que aquela era uma possibilidade bastante real.

— É o senhor mesmo ai detrás dessa máscara, Don Diego? – perguntou Garcia ainda incrédulo.

Diego achou graça da pergunta do soldado, pois de todas as dúvidas que ele poderia ter, perguntou justamente algo da qual já sabia a resposta. Diego supôs que a revelação talvez tivesse sido surpreendente demais para Garcia e ele poderia ainda não ter conseguido assimila-la completamente, então resolveu reforçar a informação.

— Sim, Sargento, sou eu. Veja. – e baixou a máscara novamente, deixando-a repousar no pescoço, como se fosse um colar.

Para a surpresa de Diego, Garcia imediatamente fechou os olhos e ainda os tapou com as mãos rechonchudas, pois não queria comprovar outra vez o que já sabia.

— Ora, Sargento, o que foi? Zorro finalmente revela sua identidade e o senhor não quer ver?

— É que eu prefiro acreditar que foi tudo coisa da minha cabeça e que nada disso é verdade. Assim eu não preciso mais mentir para o Governador.

— O senhor mentiu para o Governador? – perguntou Diego surpreso – Vamos, Sargento, olhe para mim. Sou eu, seu amigo Diego.

Diego puxou as mãos do soldado para baixo e ele finalmente decidiu abrir os olhos e encontrou o rosto cansado, mas sorridente do amigo.

— O senhor mentiu mesmo para o Governador por mim? – perguntou Diego novamente.

— Sim, Don Diego! E agora acho que vou para a corte marcial, mas eu fiz o que minha consciência mandou. – respondeu com bastante sinceridade.

Ao ouvir aquelas palavras, Diego sentiu o coração apertado e ao mesmo tempo ficou muito comovido.

— Muito obrigado por sua atitude, Sargento. Mas não se preocupe, porque pelo que pudemos ver hoje, o Governador é realmente um bom homem e acredito que não cometerá nenhuma injustiça. E se cometer, não tenha dúvidas de que o Zorro continuará aqui para impedi-lo. Afinal, o senhor já viu o Zorro deixar alguma injustiça acontecer?

— Para falar a verdade, não. – concordou Garcia já mais animado.

— E não vai ser agora que ele vai começar.

— Obrigado Zor... quer dizer, Don Diego. – Garcia estava confuso, sem saber ao certo como se dirigir ao homem à sua frente, mas optou por usar o nome de seu bom amigo. – Sabe, Don Diego...

— O quê, Sargento?

— Eu acho que no fundo eu sempre soube que o senhor era o Zorro.

— É mesmo? – questionou Diego, não acreditando muito na afirmação.

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— Que outra explicação teria para que o melhor espadachim do mundo ainda não tivesse me matado? Ele só poderia ser mesmo um amigo.

Diego sorriu achando graça da conclusão lógica do soldado.

— É verdade. Mas me diga, como está a minha situação? Está muito ruim?

— Eu não tenho certeza, Don Diego. Só posso dizer que o Governador ainda não sabe da sua identidade. Nós conseguimos manter isso em segredo até agora e algo me diz que a população está do seu lado.

— Monastário não contou? – perguntou Diego surpreso.

— Ele tentou, mas ninguém acreditou. – disse achando graça.

— E os soldados, será que não contarão?

— Bem... depois de tudo que soubemos do Capitão, estão todos perplexos. Os soldados são homens bons que só querem manter a ordem. Eles também não concordam com as atitudes do Capitão Monastário. Acho que não falarão, porque isso poderia acabar ajudando ele de alguma maneira e nós com certeza não queremos isso. Ele precisa pagar pelo que fez.

— Então quer dizer que todos já sabem que Monastário tentou matar o Governador e que Don Arturo Contreras é seu cúmplice? E me arrisco até a dizer, o mentor intelectual por trás de todo esse plano diabólico.

— Isso mesmo! Como sabe disso, Don Diego? – indagou Garcia boquiaberto.

— Eu já desconfiava, mas depois que meu pai voltou com notícias da capital, eu tive praticamente certeza.

— Pois é, eles confessaram tudo e agora estão presos.

— Acho que finalmente estamos livres de Monastário! – alegrou-se Zorro.

— É bom mesmo, Don Diego, porque eu já não aguentava mais levar chutes no traseiro todos os dias!

Os dois riram como bons amigos, mas aquele breve momento de descontração tinha chegado ao fim e o soldado precisava cumprir suas ordens e levar Zorro até o Governador.

— Consegue andar, Don Diego?

— Sim, eu estou bem melhor. Obrigado, Sargento.

Ele se levantou apoiando no braço do soldado, mas não precisou de ajuda para caminhar.

— Não se esqueça de pôr a máscara, Don Diego. – lembrou o Sargento, antes de saírem da sala.

— É verdade, já estava me esquecendo! – e ergueu a máscara, cobrindo a parte superior do rosto novamente. Feito isso, os dois saíram ao encontro do Governador.

Don Alejandro estava do lado de fora do quarto e apenas olhou para o filho. Eles não trocaram nenhuma palavra, mas Diego sabia que o pai estava preocupado. Ele próprio estava apreensivo, porque a conversa que teria dentro de poucos minutos, decidiria não somente o destino de Zorro, mas o de Diego de la Vega também.