A carta de Sirius deixada no quarto de Zaniah era clara: após participar do seu primeiro jantar com o Lorde das Trevas, teve a certeza de que não queria aquilo para sua vida, e sentia muito por Zaniah estar fazendo isso com a dela. “Seguindo uma linha de pensamento preconceituoso, desnecessário e ultrapassado” ele havia escrito.

Então era isso. Sirius era um traidor de sangue, e Zaniah apenas pôde sentir raiva do irmão naquele momento. Perguntava-se como ele, o herdeiro do clã Black, teria a coragem de trair seu próprio nome.

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Sua mãe havia queimado o nome de seu irmão da árvore genealógica horas depois de sua partida.

Naquele ano, os Black não comemoraram o ano novo com as outras famílias.

“Que escândalo! Como vou encarar nossos amigos agora?” foi o que Walburga disse após Orion indagá-la sobre a decisão de não comparecerem.

A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black nunca fora realmente aconchegante, Zaniah sabia disso. No entanto, a neve que caía do lado de fora pareceu entrar na residência, a ponto que o clima de dentro era gelado e cortante.

Não houve comemoração no ano novo, Zaniah passou-o trancada em seu quarto, fazendo as tarefas de Hogwarts. Ao ouvir os fogos de artifícios trouxas fez algo que, na frente de seus pais, teria sido razão para um tapa na face.

Chorou.

Chorou de saudade do irmão, chorou de incompreensão e, principalmente, chorou porque fora abandonada por alguém que sempre disse que ela era a pessoa mais importante do mundo para si.

Eu sou, ou era, a pessoa que ele mais ama e, mesmo assim, ele se foi. Em quem eu posso confiar, céus?

No entanto, com certeza, o pior dia foi o retorno a Hogwarts. A plataforma estava cheia e calorosa, no entanto Walburga apenas deixou os dois filhos na estação e aparatou para de volta a casa, sem despedidas. Assim como Orion, que nem se dera ao trabalho de comparecer na partida dos filhos.

Régulos estava tão abatido quanto a própria Zaniah, por mais que essa não entendesse o motivo. A não ser, é claro, do fato de que dês da partida do irmão, Régulos estava sendo extremamente cobrado por seus pais.

Estavam subindo juntos ao trem quando algo disse para Zaniah olhar para trás. E lá estava ele: seu cabelo não estava bem penteado (se Walburga visse, teria um surto), mas o sorriso entoava seu rosto, assim como o reflexo de calmaria nos olhos. Ele ria de algo que o Potter dissera. Então foi lá que seu irmão achou um lar, afinal.

Sirius não vira Zaniah, mas a expressão de felicidade em seu rosto fez com que o coração de Zaniah se apertasse.

No fundo, ela queria que ele sentisse tanta falta dela quanto ela sentia dele, mas aparentemente a família biológica já havia sido superada pelo mais velho.

Régulos segurou sua mão, puxando-a através dos corredores. Ele também havia visto Sirius, mas sentia-se responsável pela mais nova.

Andaram através do trem, indo parar nas cabines destinadas à Sonserina, onde encontraram todo o seu grupo. Entretanto, não entraram junto dos outros. Em uma cabine vazia, entraram, no objetivo de não falar com ninguém durante a viagem. E assim foi feito, nem mesmo os dois irmãos trocaram palavras em todo caminho que o trem desenhava.

Zaniah sentia-se sufocar e, em um momento de total desespero, sentou-se no chão da cabine, saindo do banco, e começou a chorar compulsivamente.

A sensação em seu peito era de que iria morrer a qualquer momento. Não conseguia respirar ou parar de tremer.

Ele não te ama. Sua mente repetia. Ele te abandonou porque não te ama.

Mas, afinal, quem amaria?

Você é um peso. Para seus pais, para seu irmão, para Sirius, para seu nome. Você não faz nada direito, Zaniah. A voz continuava gritando em sua mente, enquanto Zaniah chorava compulsivamente no chão.

Sentia-se afogando, não tinha ar em seus pulmões. As mesmas frases continuavam em sua mente e, então, Zaniah batia a cabeça contra o vidro da cabine, afim de fazer as vozes se calarem.

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Só por um minuto, por favor. Calem-se.

E batia ainda mais sua cabeça contra o vidro. Tudo o que sentia era dor e desespero.

Ela iria morrer, ela sabia.

E você merece, merece morrer.

Tudo que seu cérebro conseguiu captar depois disso foi da porta da cabine sendo aberta abruptamente e poucos segundos depois pares de mãos a alcançarem.

— Zaniah! – as vozes gritavam. Pareciam preocupados com ela.

Preocupados? Com você? Por favor, você é um peso morto para todos eles.

CALE-SE!

Então bateu a cabeça mais uma vez na janela, com toda força que conseguia.

Depois disso, lembra do escuro a abraçando e seus sentidos se esvaindo.

O lugar era claro, mas Zaniah se sentia estranhamente sufocada. Abriu os olhos e encontrou diversos pares de íris acima de si, fitando-a.

O primeiro que reconhece, a sua direita, foi o de Bartolomeu. O dono dos olhos castanhos segurava com firmeza sua mão direita, enquanto Régulos segurava sua mão esquerda. Ao redor deles, Darwin, Rabastan, Narcisa e Anthony a encaravam, ansiosos.

A Black mais nova olhou tudo, confusa, quando seu despertar foi percebido pela curandeira da escola.

— Afastam-se! Deixem-na respirar! – Madame Boust falou, espantando os amigos de Zaniah. No entanto, Bartolomeu e Régulos apenas se afastaram um pouco, não deixando de segurar a mão da garota.

— O que aconteceu? – Zaniah perguntou, tentando recordar-se de como havia parado ali.

— Pelo o que seu irmão nos contou, senhorita Black, você teve um ataque de pânico no trem. – a curandeira falava, então as memórias de Zaniah começavam a voltar, fazendo sentido.

Então existia um nome para o que a tinha acontecido. Ataque de pânico.

— Você bateu sua cabeça diversas vezes contra o vidro do trem, senhorita, isso lhe causou um desmaio. – Boust explicava. – Você acordou brevemente quando chegou aqui, ontem de noite, mas não estava consciente, inclusive não falava nada com nexo.

Zaniah respirou fundo. Era a manhã do outro dia.

— Que horas são? – ela perguntou.

— São 7:45. – A mais velha lhe respondeu. – Como está se sentindo?

— Sinto-me bem. – Zaniah respondeu simplesmente.

A curandeira assentiu, sorrindo docemente para a garota.

— Vou deixar com você uma poção calmante e outra para dor de cabeça, caso precise de mais algo, não hesite em me procurar, certo?

Zaniah apenas assentiu.

Com um balanço de varinha, a Black estava vestida com os uniformes da Sonserina.

Zaniah saiu da enfermaria, encontrando Régulos e Narcisa a esperando. A loira rapidamente foi abraçar a morena, seguida por Régulos.

— Tem certeza que se sente bem? – O irmão indagou visivelmente preocupado.

— Você nos deu um grande susto ontem, Zan. – A filha de Cygnus disse após Zaniah afirmar que sentia-se bem.

— Eu sei, então peço desculpas. Não entendo o que me aconteceu.

Régulos e Narcisa se olharam compadecidos. Entendiam, tampouco. No entanto, seguiram seu caminho em silêncio.

Estavam chegando no Salão Principal quando a mais nova avistou Sirius, sentiu o coração afundar em si, mas milésimos de segundos depois começar a martelar contra o peito.

— Vamos sair daqui. – Foi a única coisa que conseguiu sussurrar para seus dois familiares. Virou-se de costas e logo foi acompanhada, nenhum deles a indagou sobre o movimento, respeitavam suas vontades, afinal.

Os dias passaram daquela maneira, com Zaniah ignorando Sirius, pois descobriu que a visão de seu irmão se tornara, nos termos médicos, um gatilho para o seu ataque de pânico.

No entanto teve um sábado em que a Black acordara sentindo um aperto no peito. Um vazio. Aproveitou o fato de ser cedo e resolveu se recolher na biblioteca, onde poderia fazer seus trabalhos sossegada, sem a companhia dos demais sonserinos. Faltavam três meses para acabar a aula e estava cheia de tarefas, afinal.

Passou o dia no cômodo silencioso, o qual estava praticamente vazio, já que os demais alunos aproveitavam os primeiros sois de abril para passar o dia nos jardins. Não sentiu fome alguma durante todo o dia e quando se deu conta já era hora do jantar. No entanto, apenas ao pensar em entrar no Salão Principal, seu aperto no peito agravou-se. Assim, decidiu por seguir seu caminho até o silencioso Salão Comunal da Sonserina.

Sua mente vagava enquanto suas pernas vagavam em uma direção qualquer do castelo.

Zaniah não estava feliz. Não lembrava da última vez que estivera minimamente contente, na verdade. Talvez no episódio com Abraham, e aquilo já fazia quatro meses. Nos últimos tempos, nem mesmo com Bartolomeu estava conseguindo se sentir leve. Acordava e dormia com a sensação de um peso nas costas, e as noites de sono tampouco eram boas.

Não estava cansada. Estava exausta. De tudo. De si.

Quando passou pela porta que dava acesso à cova das cobras, a familiaridade de lar lhe preencheu e se sentiu um pouco mais calma ao visualizar o grupo ao qual fazia parte inteiramente a frente da lareira, que já não estava mais ligada, afinal o início de abril trazia consigo um clima mais ameno.

Ao verem a aproximação de Zaniah, o grupo logo se abriu para que ela entrasse. Foi recebida com um abraço ladino de Bartolomeu e um beijo na testa por parte de Régulos, no entanto ao observar suas companhias, pôde perceber que Juliet estava no meio da roda, com uma carta na mão e com as bochechas rosadas, enquanto isso, todos os outros estavam aparentemente tensos.

— July... – Zaniah se aproximou. – O que aconteceu?

— Sebastian. – Juliet falou ríspida. – Minha mãe mandou que ele resolveu que quer estudar em Ilvemorny ao invés de Hogwarts.

— O quê? – Zaniah movimentou seu corpo em direção à carta, visivelmente confusa. – Por quê?

— Porque ele foi passar um tempo com os Alencar e sofreu a merda de uma lavagem cerebral! – A Avery explodiu, mostrando a carta a Zaniah, que pôde ler que o herdeiro do clã Avery não estava interessado em seguir a linha de pensamento sanguepurista.

Zaniah suspirou. Sabia que a família de Andrea Alencar Avery, por mais que sangue-pura, não compartilhava dos mesmos ideais do Lorde das Trevas, o que frustrava Juliet. E, por mais que também se sentisse frustrada com Sebastian, sentiu alívio, afinal não era apenas os Black’s que possuíam um ponto no final da curva.

Sentou-se do lado da amiga.

— Sabe, July, ele ainda é novo... – a Black tentou amenizar a situação.

— Nós já tínhamos nossa linha de pensamento bem formada com a idade dele! – a Avery a cortou rispidamente, visivelmente irritada.

— O que eu quero dizer, - Zaniah elevou o tom de voz, insatisfeita com a falta de educação da melhor amiga – é que não o afaste de você.

Juliet virou-se para ela, seus olhos brilhando em raiva.

— Não seja hipócrita, Zaniah! Você não consegue nem enxergar Sirius que já faz seu showzinho e se vitimiza!

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A respiração do grupo ficou pesada. Zaniah trancou a sua. Juliet piscou duas vezes ao perceber o que havia acabado de proferir.

E mais uma vez Zaniah sentiu-se quebrada.

Não saberia dizer como chegou até a Torre de Astronomia. Tudo o que se lembrava era de virar as costas ao grupo, mesmo com os protestos de Juliet e Bartolomeu. Lembra de Rabastan tentar segurá-la e, depois de meses, fazer um contato visual com ela. Zaniah não se deixou abalar pelos olhos verdes e lembra de proferir um sonoro não toque em mim antes de sair pela porta do Salão.

Quando se viu, estava a frente da varanda da Torre, olhando para o céu. A constelação de Orion foi a primeira que localizou e logo depois observou a Cão Maior. A estrela mais brilhante do céu noturno ao olhar humano se destacava nesta, Sirius. Baixou os olhos e fixou seu olhar sobre um ponto imaginário no jardim do castelo. Seu olhar embaçava e Zaniah já sentia as lágrimas escorrerem pela sua face.

Black’s não choram. A voz de sua mãe retumbou na sua mente. Na frente de alguém. Adicionou, como uma desculpa de que ali poderia colocar tudo para fora. E colocou. Quanto mais lágrimas rolavam por suas feições aristocráticas, mais suas mãos apertavam o corrimão da varanda e mais seu corpo se impulsionava para frente.

Jogue-se, vamos, ninguém sentirá sua falta.

E quase se jogou. Estava prestes a matar-se quando um par de, fortes, braços circulou sua cintura, afastando-a da varanda.

Ao se virar, surpreendeu-se ao ver James Potter a sua frente, com um olhar que não escondia sua preocupação. Deixou-se ser segurada e levada por ele como um pequeno bebê enquanto chorava em seu peito. Andaram poucos corredores até que James parasse em frente a uma parede vazia e andasse a frente dessa três vezes. Zaniah não entendia o que estava acontecendo, mas o pânico não a deixou processar a porta que apareceu a sua frente e nem o lugar quentinho e aconchegante que existia após ela. Diferente do Salão Comunal das cobras, este lugar era arejado e muito iluminado, trazia paz ao coração de Zaniah.

James a sentou em um sofá em om dois movimentos de varinha conjurou um copo e depois um pouco de água, dando-lhes a Zaniah.

— O que está fazendo, Potter? – Perguntou desconfiada, após aceitar o copo d’água.

— Eu te falei, Black, vou cuidar de você. – Ele disse, bagunçando o cabelo enquanto parecia preocupado, seus olhos gentis passavam uma calmaria estranha a Zaniah, que aceitou a companhia de bom grado e dormiu aquela noite no colo de James, enquanto chorava por tudo que estava sentindo.