Os dias se seguiram daquela forma e quando Zaniah viu, já estavam no meio de maio. Todas as noites, encontrava-se com James às escondidas. A relação deles já havia ultrapassado o simples “você é a irmã do meu melhor amigo” há muito tempo e, agora, eles eram amigos porque queriam. Porque se preocupavam com o outro e sempre se ajudavam.

A presença de James fez a dor pela perda de Sirius diminuir um pouco, diminuindo, assim, os ataques de pânico e ansiedade, os quais se tornavam cada vez menos frequentes. Era engraçado para James pensar que a garota mantinha mais contato com o melhor amigo do irmão mais velho do que com o próprio irmão, mas de certa forma entendia o caso.

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Só havia um problema entre os dois. Um assunto que sempre deixava o clima pesado quando citado: as diferenças de pensamentos políticos.

Zaniah e James poderiam falar sobre tudo. Tudo eles eram extremamente compatíveis, menos no ponto de visão de sociedade.

Os Potter eram traidores de sangue, Zaniah sabia. Mesmo que não estivessem na lista das 28 Sagradas, tinham um sangue tão puro e de raiz tão nobre quanto famílias desta, como os Abbot, por exemplo. Mas não os Black’s. Não. Os Black’s eram a própria realeza bruxa.

Por outro lado, James sabia que Zaniah seguia fielmente as opiniões da família. Opiniões essas as quais James cresceu repudiando.

E havia um nome específico que não poderia ser citado nos seus pequenos encontros: Lily Evans.

Uma nascida trouxa (para Zaniah, sangue ruim) que andava junto de Severus Snape. Um mestiço (imundo, por Zaniah) que era amigo de seu irmão mais velho, Régulos, e odiava o outro irmão, Sirius.

James era apaixonado pela garota, correndo atrás dela sempre que possível, e sendo dispensado todas as vezes.

Zaniah não gostava de Snape, o que James aprovou de cara. Mas não por ele ser necessariamente detestável, sim, ele era. Mas porque Zaniah temia que a convivência de Snape com a tal Evans afetasse Régulos de alguma forma. De irmão desvirtuado, já bastava Sirius.

Foi em uma noite de sexta-feira, na Sala Precisa idealizada como uma linda clareira quente, que James perguntou se Zaniah sabia como nascidos trouxas tinham magia no sangue.

Zaniah se viu confusa com a pergunta.

— Eles roubam de algum bruxo. Os que chamamos de abortos, perderam magia para os sangues ruim.

James riu brevemente.

— Por isso queimam os abortos da árvore genealógica da sua família? – Ele perguntou, parecendo debochado e Zaniah indagou a si como ele sabia. Com uma revirada de olhos ela imaginou o óbvio. Sirius.

— Claro. Afinal foram fracos o suficiente para que deixassem roubar seu bem mais precioso.

James estava estático. Nunca imaginou ouvir tanta besteira sair da boca de uma garota tão inteligente em outras questões.

Zaniah não entendia a pergunta do mais velho.

— Sabe, Zan, os nascidos trouxas e os abortos realmente tem uma relação, mas não é essa a qual você disse. – James fechou os olhos e em poucos segundos havia um livro sobre as pernas da mais nova. “A História do Sangue Mágico”. Era enorme, com mais de 1000 páginas, com certeza. O Potter o recolheu e pareceu concentrado por alguns minutos, procurando o local onde a informação que queria estava. Quando achou, deslizou o livro até a menina, indicando onde ela deveria ler.

Os olhos de Zaniah começaram a passar preguiçosamente pelas palavras da página, mas logo sentiu seu coração acelerar e seus olhos se arregalaram na medida em que lia.

É impossível, considerando a teoria da Biogênese sobre o surgimento da vida, que a magia brote espontaneamente em algum ser. Assim como é ridículo afirmamos que uma criança nascida trouxa seja capaz de roubar a magia de outra criança, nascida bruxa. Afinal, entraríamos em outra questão: como saber quais crianças são capazes de roubar magia e quais são capazes de perde-la?

A realidade é que quando um aborto, filho de pai ou mãe ou ambos bruxos, nasce, a magia não é capaz de se manifestar em seu corpo, no entanto ainda faz parte do seu gene. Gene, ainda mágico, que irá se apresentar algumas gerações depois, normalmente em um filho ou filha de pais trouxas, humanos sem magia.

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Zaniah olhou para James em choque. O garoto sorria simpático para ela e isso, por algum motivo, a irritou profundamente.

Tudo o que Zaniah cresceu acreditando havia sido destruído em apenas dois parágrafos. Afinal, quem Alejandro Mendelez, o autor do livro, acreditava ser para afirmar tal baboseira? Correu para o final do livro, nas notas e informações, e constatou que Alejandro era um historiador espanhol do século XVIII.

Olhou para James como quem pedia por socorro e, mesmo tentando falar, não conseguiu. Nenhum som saia de sua boca. Ela continuava em choque. Tudo que imaginou era que queria poder visualizar a árvore genealógica de sua família mais uma vez. E a Sala Precisa logo atendeu seu desejo, assustando um pouco Zaniah.

Em um momento, a Black e o Potter estavam na clareira idealizada por James. No outro, estavam na sala de estar, de frente da tapeçaria da Mui Nobre e Antiga Casa dos Black’s.

Seu olhar foi para um nome que nunca havia dado muita atenção. Apontando para que James a acompanhasse.

— Aqui, Marius Black. – Zaniah indicou uma queimadura na parede, onde ainda podia se ver o nome do componente familiar. – Queimado da tapeçaria por seu irmão e meu avô, Pollux Black. É tio de minha mãe. Um aborto.

James apenas olhou a garota, esperando que ela chegasse à conclusão sozinha.

— Eu nunca soube nada dele. Ouvi vovô falar apenas uma vez, que seus pais permitiram que ficasse em casa até atingir a maioridade bruxa. Depois disso, ele foi expulso e ninguém mais ouviu falar dele. – Ela respirou profundamente. – Eu não sei se ele se casou, teve filhos ou se morreu tempos depois de sair de casa. Eu não tenho informação alguma dele. Mas, se aquele livro falar a verdade... – Zaniah gaguejava.

— Ele fala, Zan. – James a cortou.

— Então, segundo aquele livro, se Marius teve herdeiros e esses herdeiros tiverem herdeiros... – Zaniah falava com um fio de voz. – Significa que um sangue ruim poderá nascer, carregando o sangue Black em suas veias?

O coração de Zaniah disparou. Tudo. Tudo que ela cresceu ouvindo estava arruinado. James a abraçou de lado, buscando confortá-la, mas Zaniah sentia que precisava colocar seus pensamentos em ordem.

Olhou para a tapeçaria uma última vez antes de se desvencilhar do mais velho e correr em direção à porta da sala.

Durante duas semanas James e Zaniah não se encontraram mais.

Mas esse período acabou num dia ensolarado de junho. Zaniah estava recostada em uma árvore qualquer lendo seu livro Mulheres que correm com os lobos, extremamente concentrada por ser uma leitura difícil. No entanto, sua concentração foi quebrada quando ouviu vozes se sobressaindo de todas as outras no jardim. Vozes as quais sentia falta. James e Sirius.

E não tardou para que Zaniah visse quem eles seguiam. O detestável e narigudo, Severus Snape. A garota observou aquela cena por um tempo, vendo que uma confusão se concentraria ali.

Foi o tempo de marcar a página do livro onde havia parado, guarda-lo em sua bolsa e levantar o olhar mais uma vez para ver que o mestiço estava pendurado no ar de cabeça para baixo, enquanto James e Sirius caçoavam de suas cuecas sujas.

Espera. Eles tiraram mesmo a calça do Ranhoso?

Zaniah riu consigo mesma ao ver que utilizava o apelido que James e Sirius chamavam o sonserino.

Foi se aproximando devagar do grande grupo já reunido no jardim, podendo visualizar seu irmão Régulos e seu irmão Sirius postos em lados opostos, como se travassem uma batalha pelo olhar. A sangue ruim, nascida trouxa, Zan corrigiu-se, aproximava-se da confusão.

Olhou Régulos quando esse percebeu sua aparição. O irmão lhe chamava, com Rabastan e Antony ao seu lado, Bartô, Darwin, Narcisa e Malfoy estavam juntos deles. E lá estava Juliet, posta entre o Burke e o Crouch. Elas não conversavam dês do momento que a Avery disse que Zaniah se vitimizava. Por mais que sentisse falta da melhor amiga, não sentia que estava pronta para perdoá-la pelas palavras. Mas uma satisfação cobria-lhe, Juliet corria trás de si como um cachorrinho corre atrás do osso.

Despertou do transe, desviando o olhar do grande grupo o qual uma vez ela fez parte, e voltou a olhar para James. Ele simplesmente não conseguia agir com naturalidade quando a Evans estava perto e sempre acabava fazendo papel de idiota. Riu do próprio pensamento, parando quando ouviu Severus Snape proferiu as palavras que mudariam a vida dele, de Lily, de James, de Sirius e de Zaniah.

— Eu não preciso da ajuda de uma mulherzinha sangue ruim como você! Vá lavar uma louça e pare de me encher o saco. Putinha do Potter.

Todos ao redor se surpreenderam e Zaniah só sentiu ainda mais raiva quando olhou para seus familiares e viu que eles riam da situação, aprovando-a.

Quando deu por si, estava com a varinha levantada proferindo a azaração. A qual Snape recebeu duplamente, pois James havia a desferido no mesmo momento que a Black.

— Nunca mais insulte uma mulher de novo, entendeu, Ranhoso? – Ela falou em alto e bom som, indo em direção a ele de forma agressiva. Sentiu uma satisfação enorme a preencher ao usar o apelido que James e Sirius usavam. Era errado, era bom. Virou-se a tempo de ver Régulos e companhia a olhando descrentes, Sirius e James com sorrisos maiores que a cara, enquanto Remo Lupin a olhava de forma curiosa e Peter Pettigrew completamente amedrontado. Olhou para a garota ruiva a sua frente, a qual ela não conversara nem uma única vez, mas que já tinha estabelecido tantos obstáculos entre elas. Naquele momento, vendo a garota em choque e com os olhos marejados pela fala do, até então, melhor amigo, Zaniah só pode se solidarizar por ela. Estendeu-lhe a mão e a grifinória olhou-a confusa.

— Vamos, Evans. Eu vou tirar você daqui.

A garota assentiu curtamente, ainda paralisada e, timidamente, deu a mão para Zaniah.

A sonserina guiou-a para fora da confusão escutando os gritos de Régulos, Narcisa e Lucius em sua direção, prometendo contar tudo para Walburga e Orion. Contar tudo para ele. Olhou para trás uma última vez, encarando o irmão do meio e então deu-lhes as costas, continuando seu caminho, enquanto sentia que ela e sua mais nova companhia eram seguidas de perto pelos Marotos.

Zaniah não se importava de ser deserdada naquele momento, ou torturada. Ela começava a refletir sobre os valores recebidos em casa e, mesmo que ainda não tenha se livrado completamente das amarras em que foi criada, Zaniah sabia de uma coisa.

Nome nenhum, causa nenhuma, Lorde nenhum, objetivo nenhum era maior do que o seu feminismo.