A Seleção de Apolo

Minha mãe é uma vaca


Saí praticamente voando por aquele corredor, brava e um tanto magoada pelo comentário do Apolo sobre mim. Como assim, eu não significava nada pra ele?

Já era de se esperar, um lado da minha mente ironizou. Depois de tudo que você fez, querer que ele te idolatre já e forçar um pouco a barra né?

— Eu não quero que ele me idolatre. – sussurrei. – Eu apenas queria que...

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Ele te tratasse bem depois das inúmeras merdas que você fez a ele? Me poupe.

— Ah, cala a boca. – mandei em um tom mais alto, enquanto abria mais uma das inúmeras portas daquele subsolo.

Porém, quando levantei o olhar, dei de cara com os olhares confusos e até um pouco temerosos dos deuses e das selecionadas sobre mim, antes de eu ser quase morta em um abraço sufocante de urso. Deveriam estar assim por eu aparentemente ter gritado com o nada...

E você ainda duvida chuchu?

Revirei os olhos. Acho melhor parar de ler HQ’s do Esquadrão Suicida por enquanto...

Só fui sair da minha discussão interna quando alguém começou a buzinar no meu ouvido, ainda abraçada a mim.

— CAMMY! O MEU ZEUS! CAMMY! VOCÊ ESTÁ BEM? – perguntou chorosa.

Fiquei completamente sem jeito. Como se já não bastasse um monte de gente me encarando como se eu fosse louca, Afrodite ainda cuidava do resto.

Tal mãe tal filha...

Eu já não mandei você calar a boca?

Bom, voltando... Pode parecer estranho, mas aquela era a primeira vez que Afrodite me abraçava.

— Tô viva. – murmurei contra os seus cabelos. Por Zeus, como alguém conseguia manter seu cabelo intacto enquanto o Olimpo era atacado? – Hãm... – comecei a ficar desconfortável quando ela não me soltou – Eh... Mãe... Dá para me soltar? Obrigada. – agradeci, assim que ela me soltou.

Afrodite, por outro lado, tomou meu rosto nas mãos, com olhos arregalados.

— O... o que você disse? – gaguejou.

— To viva?... – perguntei em dúvida. – Você tá bem Afrodite? Cheirou muito perfume foi?

— Não, não. – ela abanou as mãos, como se minhas perguntas fossem (e estivessem sendo) descartáveis. – Depois do “tô viva”! – vendo meu olhar confuso, logo acrescentou: - O que você disse depois de “tô viva”?

— Da pra me soltar?... – mais perguntei do que respondi.

Ela bufou impaciente.

— Não Camille! Antes disso!

Ponderei, tentando me lembrar.

— Mãe?

Um sorriso estranhamente largo se apossou de seu rosto, me fazendo corar, retraída. Então, quando pensei que já havia atingido o nível máximo de constrangimento para a minha vida toda, ela desatou a chorar de novo, me sufocando em um abraço, me fazendo perceber o quanto eu estava equivocada. Sobre o constrangimento, é claro.

Já estava ficando impaciente.

— Será que dá para me soltar? – perguntei. – Você está cortando a minha circulação sanguínea.

— Meu bem. – reconheci a voz de Hefesto. – Você vai matar a sua filha sufocada.

Hesitante, ela foi se afastando aos poucos, e, ainda chorando, se jogou em Hefesto, não o soltando mais. Ele, por outro lado, apenas passou um braço pela sua cintura, acomodando-a contra seu peito enquanto limpava suas lágrimas com a outra mão.

— Vo... você não entende! – ela se dirigiu a Hefesto com aquele sorriso estranho, e ele começou a secar uma nova onda de lágrimas. – Camille não me chama desde que tinha dez anos Hefesto! Dez anos!

Corei mais ainda, e como tudo que é bom tem que melhorar...

Ironia, você por aqui?

Caraca garota! Já não mandei você dar o fora?

Há há há! Como se você mandasse em mim!

Que seja! Aonde eu estava mesmo? Ah sim... e como tudo que é bom tem que melhorar... Apolo surgiu do meu lado, provavelmente brotando da terra.

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Nisso eu concordo!

— O que está acontecendo?

— Ah, querido! – Afrodite desatou a chorar (de novo), enquanto largava Hefesto, apenas para pular no pescoço do deus da poesia. – Você a salvou! Salvou a minha Camille! A minha filhinha! O meu bebê!

Revirei os olhos.

— Já chega, né Afrodite? – perguntei irritada, vendo o olhar sofrido que Apolo mandava em minha direção. Quase fiquei com pena dele. Quase.— E ele não me salvou. – dei ênfase no “não”. – Fala sério – desdenhei. -, até um dálmata faria um trabalho melhor que o dele. O que me faz chegar no ponto crucial dessa história: porque foi ele – apontei para Apolo -, e não você que veio atrás de mim? – perguntei realmente magoada. – Você é a minha mãe. Não ele.

A cara de Afrodite foi uma mistura de choque, tristeza, pavor e ressentimento, enquanto eu só me assustava por dizer o que eu realmente sentia. Eu não fazia isso há tempos...

Aproposito, de nada por isso viu?

Se Afrodite é a minha mãe, ela é quem deveria ter movido céus e terra para me achar. E mesmo que eu não queira, o meu coração insiste em perguntar: se o Apolo foi atrás de mim, mesmo eu não significando nada pra ele (como ele mesmo disse), o que a minha própria mão sente a respeito de mim? Desgosto? Ressentimento? Obrigação?

Balancei a cabeça. Não queria mais pensar nisso.

— Cammy... – Afrodite murmurou.

Você devia escutar ela.

Bufei.

— Vê se me erra. – respondi. Só não sei pra quem...

Hefesto abriu a boca, provavelmente para me repreender, porém eu já havia lhe dado às costas, voltando a procurar a saída daquele negócio. Fiquei perdida por algum tempo, para longos minutos depois encontrar uma pequena placa escrita “saída”.

Atravessei a porta e bufei ao ouvir passos atrás de mim.

— Olha Afrodite, se você veio falar mais alguma merda pra mim...

— Não é a Afrodite, Cammy...

Me virei imediatamente, meus olhos lacrimejantes por reconhecer as vozes.

A primeira garota que eu vi fora a Willow. Ela estava acabada, e sua roupa não estava atrás. Seu cabelo antes preso em um lindo rabo de cavalo agora estava solto, seu vestido cor de salmão parecia ter passado em cima de uma poça de lama, para logo após ser rasgado por garras de algum leão e seus pés descalços e sujos eram a prova de que ela já havia deixado seu salto caído por aí há muito tempo.

Corri, rapidamente abraçando-a, e agradecendo a Zeus por ela estar bem.

Logo a sua traseira, ainda abraçada a ela, pude reconhecer Margot. Mesmo despenteada, com seu vestido verde água cortado na altura das coxas e descalça, ela ainda esbanjava uma completa aura de guerreira, o que me fez ter uma mini inveja– mesmo que por um nano segundo. Puxei-a pelo braço, deixando-a surpresa, mas mesmo assim, ela se juntou ao abraço.

E por último... Por último Emily. Claramente, ela foi a que mais sofrera naquele ataque. Com rímel borrado na altura dos olhos, um vestido amarelo completamente destruído durante o caos e com um salto alto quebrado, ela estava irreconhecível. Suas feições então... não eram as feições alegres de sempre. Não eram as feições que eu estava acostumada a ver.

Rapidamente me soltei das duas, correndo ao seu encontro. Poderia dizer que aquela cena foi uma das mais lindas da minha vida, um verdadeiro filme clichê envolvendo a amizade como foco principal, mas quem eu queria enganar? Nós estávamos totalmente acabadas.

Assim que me posicionei em sua frente, Emily me puxou para um abraço sufocante, mas eu tão pouco reclamei. Naquele momento, percebi que nós duas chorávamos, uma tentando consolar a outra.

— Shhh... Tá tudo bem, Emy... Eu tô aqui... E tô inteira também...

— Eu... – sua voz falhou. – Eu fiquei com tanto medo, Cammy! E quando eu não achei você naquele salão eu me desesperei. Eu... Eu já perdi muitas pessoas importantes na vida... Minha mãe... – ela soluçou. – Eu não poderia perder você também... Entende?

— Claro que entendo, Emy... Eu também não poderia te perder. E não vou! – segurei em suas mãos, fazendo-a me encarar. – Lembra-se da nossa promessa? – ela assentiu.

— Melhores amigas pra sempre.

— E se uma cair... – incentivei.

— A outra também cai...? – perguntou hesitante.

— Eu ia falar que se uma cai, ela empurra a outra pra ela cair também, mas essa é mais filosófica. – brinquei, a fazendo rir.

Logo Margot e Willow entraram na conversa, deixando o clima mais calmo, o que me fez agradecê-las mentalmente por isso. Depois de algumas frases trocadas e uns corredores percorridos, chegamos em frente aos nossos quartos.

Willow foi a primeira a se despedir, logo sendo seguida por Margot. Estava prestes a entrar em meu quarto quando Emy me chamou.

— Cammy? Nós podemos conversar? Eu preciso te contar uma coisa... – suspirei.

— Não pode ser amanhã, Emy? Eu estou muito cansada. – e como se fosse para comprovar a minha fala, um bocejo escapou pelos meus lábios.

— Ah... claro. – tive a impressão de ver sua face se entristecer um pouco, para logo depois ela morder os lábios. – Boa noite, então.

Sorri, lhe dando um beijo na testa.

— Boa noite, Emy.

Estava tão cansada que quando entrei no quarto, só tive forças para colocar o colchão no lugar. Logo após já havia capotado na cama.