Olhe para as Nuvens de Chuva

Uma Noite... Normal?


O clima se preparava cada vez mais para a chuva. O jovem na sacada mirou um ponto distante da cidade e riscou o ar com o dedo indicador direito, num movimento rápido do braço. Imediatamente um relâmpago cortou o céu, seguido de um estrondo que fez tremer a terra.

Yakusoku soltou um risinho baixo de satisfação. Lançou outro raio, agora olhando para a Torre de Tóquio. Depois, achando que era muito mais divertido brincar com a tempestade, fez um gesto com as duas mãos, como quem diz “Venha, venha”. Abrindo os braços para receber a brisa gelada, sentiu seus cabelos serem soprados para trás, juntamente com as portas e as cortinas da sacada, de uma forma violenta. Ele fez mais raios partirem o céu, iluminando as nuvens carregadas, os trovões soando com uma fúria incomensurável.

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“É hora de refrescar mais!”, ele pensou, rindo mais alto, e ergueu bem os braços. Respirou fundo, sentiu o cheiro bom da água vinda das alturas e baixou os braços rapidamente, fazendo grandes gotas precipitarem-se sobre tudo. Em menos de um minuto Yakusoku já estava todo molhado, mas não se importava.

Brincava assim com os elementos havia mais ou menos quatrocentos anos, mas a sensação jamais deixava de ser indescritível, mesmo depois que ele viera para a Terra, onde precisava esconder-se o tempo todo. Fazia uns dois séculos que estava neste lugar, e ele não se arrependia de por tê-lo escolhido. Admitia que perdera parte de seus poderes ao modificar o próprio corpo, assumindo uma forma humana, mas... arrepender-se? Nunca!

A chuva caía intensamente, fria, no rosto dele, que agora estava sério. Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. Sentia a água na pele, ouvia-a bater nos prédios, nas vidraças, a ventania, agora mais forte, mais impetuosa, fazia-o sentir-se vivo.

Assim ele permaneceu por vários minutos, com o rosto e as palmas das mãos virados para o céu e os pés descalços, em um culto solene à natureza.

Quando afinal ele relaxou, a chuva também se acalmou, os trovões cessaram e o vento, apesar de ainda ser congelante, diminuiu sua velocidade, até tornar-se novamente uma brisa gentil.

Yakusoku deixou os braços caírem ao longo do corpo, abrindo os olhos e olhando para a noite. Sentia-se melhor agora. Menos entediado. Chuva sempre lhe fazia bem. É claro que estava encharcado até os ossos, mas sentia-se melhor.

Entrou de novo e tomou um banho quente. Vestiu um pijama e deitou-se no sofá do quarto, olhando para fora através da vidraça da porta da sacada. “Que linda noite de chuva!”, pensou enquanto comia os biscoitos que Takenouchi-san lhe trouxera.

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