O Diabo do Sertão

Muito a perder


Era o princípio da manhã. Os moradores da Lagoa da Esperança tinham a chance de provar do maravilhoso café da manhã preparado por Socorro de Deus. A senhora estava com mais tempo para fazer outras coisas, afinal de contas, Diabo melhorava a cada dia. Ele não tinha condições ainda de caminhar e deixar o assentamento, mas já passava boas horas acordado e se alimentava bem. João Cego tornou-se o maior responsável pelo homem. Ele sempre trazia comida, bebida e cigarros, mas o ex-cangaceiro não aceitava quase nada do homem. Na verdade, ele só abria a boca para conversar com Antônio, Socorro e mais ninguém.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Apesar do tempo livre, no entanto, a mulher mais querida do acampamento não gostava de ficar parada: sentia a necessidade de sempre estar ajudando de alguma forma. Dessa maneira, ela se via costurando algumas roupas ao lado de Bia, colhendo sementes com Maria das Dores, ou mesmo preparando a alimentação de todo o grupo, como naquela manhã. Havia café preto, queijo coalho, pães e cuscuz temperado. Era um cardápio privilegiado para o acampamento, e todos se alimentavam com grande alegria. Ou quase todos. Na verdade, enquanto se alegrava ao ver o prazer daqueles pobres coitados, Socorro sentiu falta de um rosto, ou melhor, uma voz. José de Lima não estava presente e isso incomodava enormemente a senhora.

O rapaz era falante e sua voz podia ser ouvida a uma grande distância. Ás vezes, a senhora bem lembrava, ele falava demais. Mas isso não era exatamente um problema. Havia uma estranha alegria que Zé trazia consigo e com sua voz típica. E Socorro gostava muito disso. O fato é que ela não era a única a sentir falta da presença do garoto: enquanto olhava para os que se serviam a mesa, ela percebeu que Maria Beatriz não parecia tão animada, apesar das apetitosas comidas a sua frente. Levantando-se rapidamente, Socorro de Deus gesticulou indicando que daria uma voltinha. O restante do grupo permaneceu concentrado nos pães, no café, no queijo e no cuscuz. Bia até seguiu a senhora com os olhos, mas logo tratou de voltar a se alimentar. Aquele seria um dia longo como todos os outros.

Socorro de Deus caminhou alguns metros até chegar na demarcação do curral. “Tão previsível”, ela pensou ao ver a figura de José de Lima onde ela mais esperava: encostado nas estacas de madeira, ao mesmo tempo em que acariciava o seu fiel companheiro, Carlinhos. O rapaz estava com um olhar perdido, e sua boca parecia estar fechada por uma força maior que sua própria vontade. Parecia que ele tinha muito a dizer, mas não conseguia encontrar forças para falar. Talvez só Carlinhos entendesse, afinal. Nutrindo uma certa pena, Socorro logo tratou de se aproximar e, surpreendendo Zé, soltou algumas palavras.

— Mas o que houve, minino? — Questionou com uma voz que trazia uma certa doçura misturada com assertividade. José permaneceu em silêncio. — Que foi? O gato comeu sua língua?

Como se não quisesse conversar sobre nada, Zé virou-se para Carlinhos e voltou a coçar a cabeça do animal. O jumentinho parecia alegre com todo aquele carinho, e o rapaz até que ganhava um certo ânimo ao ver o seu melhor amigo alegre. Socorro chegou ainda mais perto e, ficando ao lado de Carlinhos, disse:

falando com , minino — ela agora parecia um pouco insatisfeita com o silêncio. — Vai me deixar sem saber de nada mesmo?

— Sou eu, Socorro — José falou com certa impaciência. Tirou as mãos de Carlinhos e, olhando para o horizonte, encostou-se na cerca do curral e respirou fundo. — Eu fazendo e falando besteira como sempre. Tem novidade não, né?

— Oh, meu filhin — Socorro deu um tenro abraço no rapaz. Ele recebeu aquela onda de amor com alegria, mas permaneceu com os olhos voltados para o nada. — Todo mundo erra. O que foi dessa vez? Converse comigo que eu num gosto de te ver assim não.

Soltando ar pela boca, um estranhamente sério José buscava palavras para explicar. Se afastou da cerca e, após pensar por longos segundos, passou a olhar diretamente nos olhos de Socorro de Deus. Começou:

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— É a Bia. Sou eu — olhou para baixo como se sentisse uma vergonha legítima daquilo. — Parece que a gente nunca se acerta, dona Socorro. Eu sempre falo a coisa errada na hora errada. E ela também num quer ter muita paciência comigo. Não sei, mas às vezes parece que a gente tá se afastando. E eu tenho medo disso.

— Medo? — A senhora permanecia abraçada ao rapaz. Queria a todo custo fazê-lo se sentir querido e bem-vindo, seja onde fosse.

— Eu amo essa menina. Faço um monte de besteira, mas amo de verdade — sua voz transmitia uma mistura de convicção, medo e preocupação. Seus olhos estavam marejados. — Eu queria poder dar o mundo a ela, mas eu não consigo fazer isso nem pra mim. Eu sou um perdido, Socorro. Um perdido.

— Não, meu menino. Todos nós estamos perdidos nesse mundo. Ave Maria, até o Padre Miguel deve ter suas dúvidas, né não? Mas num se preocupe, meu fi. Beatriz gosta muito de você e também quer o seu bem. Você só precisa ter paciência. As coisa se acertam com o tempo.

— Eu só... — José sentiu-se fraco mais uma vez. Não era físico, mas estava em seu íntimo. Talvez sentisse que existia algo a perder, algo o qual ele queria segurar com todas as forças. Apoiou-se mais uma vez na cerca e, novamente, o horizonte o encarou. O horizonte cheio de possibilidades ou simplesmente o nada? Ele não saberia responder. — Eu só queria ajeitar as coisas. Ter um tempinho pra conversar com ela, mas parece que o mundo inteiro quer nos atrapalhar.

— Nada atrapalha quem realmente quer, meu Zé — Socorro respondeu com doçura. Encostou a mão em seu ombro e fez um leve carinho. — Mas eu acho que posso te ajudar. Cês precisam é de tempo a sós. Lagoa da Esperança não é o melhor lugar pra isso. Espere um segundinho.

Sem entender, José de Lima viu Socorro de Deus se afastar do curral. A mulher seguiu em direção da mesa, onde a maioria dos moradores do assentamento já haviam terminado suas refeições. Maria Beatriz estava ajudando na retirada dos pratos e xícaras, até que ela foi interrompida pela mulher mais velha. As duas trocaram alguns palavras e, poucos segundos depois, a mais jovem começou a caminhar em direção de Zé. Socorro ficou para trás dando continuidade a toda a arrumação.

Vendo sua namorada se aproximar, José rapidamente ajeitou seu cabelo para trás e, olhando para Carlinhos, perguntou:

— Eu bonito?

O jumento não respondeu, mas Zé juraria ter ouvindo um “sim”. A menina logo apareceu na sua frente.

— Bia — ele a recebeu com ternura na voz.

— Zé — ela retribuiu. — Socorro disse pra a gente ir pegar água no poço.

— Oh, claro. Eu vou pegar a carroça.

Aquele era um momento estranho. Um incômodo silêncio perdurou enquanto José de Lima pegava a carroça e fazia os ajustes necessários para Carlinhos ajudar em todo processo da busca pela água. Beatriz observava com um olhar meio perdido, como se procurasse alguma ideia ou palavra, qualquer coisa que fosse útil para começar uma conversa com seu namorado. No entanto, o silêncio continuou até que o rapaz finalmente tivesse concluído a sua parte.

— Primeiro as damas — ele disse com uma elegância inventada.

Bia soltou um riso discreto e, com a ajuda dele, subiu na carroça. Zé também subiu e logo tratou de colocar Carlinhos em movimento. O casal estava lado a lado, ao mesmo tempo em que a carroça trazia um bom número de baldes de madeira. Eles seguiam o caminho lentamente e, apesar do calor, havia uma boa brisa que aliviava o percurso. No entanto, nada aliviava aquele silêncio. Maldito silêncio! José sabia que estavam a alguns quilômetros do poço mais próximo, mas não adiantaria nada ter aquele tempo todo com Bia caso não soltasse uma só palavra. No entanto, sua cabeça parecia estar vazia para esse tipo de ideia.

— Tá quente, né? — Foi o melhor que ele conseguiu falar. Maria Beatriz concordou com um “uhum”, e aquela não era exatamente a resposta que o rapaz esperava. “Ora mais, o que é que eu poderia dizer?”, pensou se sentindo um verdadeiro estúpido. — Eu mais tranquilo quanto aquele Diabo. Depois de tudo que conversamos, sabe. Acho que você estava certa.

“Acho que você estava certa” foram as palavras que mais chamaram a atenção de Bia. Ela olhou para seu namorado e, um pouco mais desinibida, respondeu:

— Como de costume, né? — Soltou uma gargalhada e viu Zé gargalhar também. Então, o estúpido silêncio apareceu mais uma vez. No entanto, Bia também queria lutar contra ele. — O importante é que fiquemos bem e juntos, certo?

José de Lima olhou em seus olhos e, dando um belo e genuíno sorriso, respondeu:

— Sim!

Durante alguns minutos, a garota pensou na possibilidade de revelar sobre sua gravidez. “Esse é o momento”, uma voz gritava em sua cabeça. “Ele te ama e vai ser um excelente pai para essa criança”. No entanto, ela sentiu mais uma vez aquela velha insegurança. José: um homem não tão esperto, com certos deslizes de caráter e às vezes imprevisível. “Não, esse aí não pode dar um bom pai”, outra voz clamou. Para sorte de Bia, seu namorado não podia ouvia nada daquela discussão interna.

— Eu estava pensando que, quando tudo isso passar, a gente bem que podia comprar uma casinha só pra a gente — José disse enquanto se aproximavam do poço. — Eu ia gostar de ter um lugarzinho pra chamar de meu. Pra chamar de nosso.

Durante aquele momento, o bom ladrão sentia e demonstrava uma felicidade tremendamente verdadeira. Sim, aquela era a mulher da vida dele. Mesmo com as dúvidas, as brigas e as discussões, ela lhe fazia tão bem e tinha um coração tão grande. Como não amar? Bia sorriu ao ouvir aquilo.

— Não sei quando isso vai acontecer — ela disse com uma certa incredulidade, mas havia esperança em sua voz. — Mas vai ser bom ter o nosso cantinho.

E, tendo ouvido aquilo, José ficou satisfeito ao saber que, no fim das contas, o plano de Socorro de Deus não era tão ruim. “Obrigado, dona”, ele agradeceu mentalmente. No entanto, o prazer que sentia em ter Maria Beatriz ao seu lado logo foi substituído por uma certa angústia. Aproximando-se do poço, Zé, Bia e Carlinhos se depararam com uma cena um tanto quanto inesperada: várias pessoas tentavam acessar o local, mas eram afastadas por um homem alto e seu comparsa.

— Saiam daqui! — O homem mais alto levantou o revólver que segurava. — É uma questão de lei!

— Minha nossa Sinhora — Zé deixou escapar enquanto observava de longe. — Quem é aquele?

— Parece o lacaio do prefeito — Bia respondeu com raiva na voz. — Valter, acho.

Ela estava certa. Valter e mais um homem armado faziam uma espécie de “segurança” do poço. Tal poço nada mais era que um ponto conhecido pelos moradores próximos. Era comum que alguns membros do assentamento fossem até o lugar pegar um pouco de água. Não era abundante, mas qualquer ajuda era sempre bem-vinda. Infelizmente, parecia que isso havia mudado.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Esse poço não é autorizado — Valter dizia em voz alta, mas as pessoas ignoravam. Pobres pessoas. Sedentas, elas tentavam passar pelos seguranças apenas para serem empurradas e ameaçadas. — Chega!

Valter disparou para cima. A barulheira causada pelos sedentos logo deu lugar a um silêncio medonho.

— Já disse — Valter repetiu. — Poço não autorizado. Vão caçar água em qualquer outro lugar!

Observando tudo aquilo sem se envolver na ação, Zé comentou:

Fi duma quenga.

— A gente devia fazer algo — Beatriz sugeriu.

— O quê? tá doida do juízo?

— Que foi? Ói todas essas pessoas: são gente como a gente. Devem ter seus próprios assentamentos e seus próprios problemas — ela argumentou. — Você num consegue roubar o povo com toda calma do mundo? Por que não tenta dar um jeito nisso?

— O povo que eu roubo num costuma pensar em atirar em mim — Zé rebateu. — Acho melhor a gente voltar. Nós pega uns cactos no caminho e leva pro assentamento. Tiramos água deles.

Bia pensou em discordar mais uma vez, mas sabia que seu namorado tinha razão. Era um risco tentar fazer qualquer coisa que não fosse recuar. Então, finalmente sem brigar com ele, olhou para seus olhos e concordou:

— Vamos voltar.

A quilômetros dali, Água Funda passava por dias tensos. Após o atentado contra a vida de Breno Farias, os boatos mais perigosos circulavam pelas feiras, missas e qualquer ocasião em que mais de três pessoas estivessem juntas. “Marcondes mandou matar” era a frase predominante, ainda que ninguém se arriscasse a gritar isso. No entanto, não era difícil saber de tamanha falação. E era exatamente por isso que o prefeito marcou mais um encontro com o magnata da água, Gustava Água-Santa.

— Estão me chamando de assassino! Assassino! — Marcondes Maia estava coberto de fúria. Sua vontade mais íntima era de colocar fogo em sua própria casa. Talvez fosse um bom momento, afinal, sua família não estava ali. Sua esposa, Lino e Luana deviam estar pela escola ou algo do tipo. Guilherme? Bebendo, provavelmente. — Eu juro que não mandei matar o desgraçado. Ele podia até merecer, mas eu não mandei, meu Deus!

— É uma situação complicada — Gustavo respondeu com as sobrancelhas arqueadas. Os últimos dias também haviam sido duros para o ricaço. Apesar da evolução com os contratos em Água Funda, toda a exposição feita por Breno Farias lhe era prejudicial em um certo nível. Ele continuava rico, mas o estresse havia lhe custado alguns cabelos. — Primeiro os contratos sumiram, depois o Breno revelou tudo. Aí, pra piorar de vez, o homem leva um tiro na frente de uma multidão. Se você não fez isso, Marcondes, devo dizer que armaram pra você. Soube que o Farias está bem e saudável, afinal. Não acho que falte muito para deixar o hospital.

Marcondes levantou-se abruptamente de seu confortável sofá. Sentia a vontade de quebrar algo. Como aquela onda de azar poderia estar ocorrendo justamente com ele? Não, não era certo. A eleição não estava distante e todos aqueles eventos poderiam culminar em sua derrota.

— Breno quer manchar o meu nome e vai levar o seu junto. E se disserem que você mandou matá-lo? Já pensou nisso? — Maia questionou. — Aquele desgraçado é capaz de tudo. Ele e aquele padrezinho fi duma égua. Diabo, queria eu ter contratado aquele pistoleiro ou qualquer um que acertasse o tiro. O que mais eu posso fazer?

O prefeito coçava a cabeça e se xingava mentalmente repetidas vezes. Repensava seus atos e imaginava em quais pontos poderia ter cometido erros para que a situação atingisse aquele ponto. “Pequenos erros moldam todo um futuro”, refletiu, mas queria negar aquela realidade. Devia haver algo que ele pudesse fazer, qualquer coisa que lhe fosse útil para virar aquele miserável jogo.

— Bem — Gustavo começou. Dessa vez, parecia um pouco mais sereno, mas seus olhos brilhavam da mesma forma de quando ele conseguia um contrato ou concessão. — Talvez tenha como ajeitar essa bagunça.

— Desembucha — Marcondes exigiu.

— Pense como sua família sempre pensou, Maia. Quem precisa de votos é você, não eu. Eu, na verdade, só preciso que você assine uns cheques. O dinheiro estando em minha mão já é motivo de satisfação — o ricaço soltou uma breve risada enquanto explicava. — No fim, não importa o que a população pensa de mim. Eles não são meus clientes. Mas as prefeituras e os governos? Esses sim. E são vocês que precisam de votos. Então faça o seu jogo político. Lute contra os “malditos poderosos detentores da água”. Jogue meu nome na lama e o dinheiro na minha conta. Dê água aos pobres, mostre que você está do lado deles e não do meu. É isso que o povo quer ver. É isso que o gado precisa.

Com o seu rosto demonstrando um indiscreto sorriso, Marcondes começou a enxergar uma luz no fim do túnel.

— Você é mais esperto do que aparenta, hein? — O prefeito elogiou o magnata da água. — Aguarde meus próximos passos, Gustavo. Nossa “briga” vai render muito.

Talvez restringir o acesso de água por parte da população sedenta não fosse a escolha mais inteligente, de fato. Valter estava servindo como um verdadeiro peão nessa controversa empreitada, mas tinha seus ganhos. Afinal, o mais importante para o homem ao final do dia era receber o seu sustento, por menor que fosse. Já era noite quando ele finalmente retornou para a cidade. O lugar contava com o movimento de sempre: famílias inteiras sentavam-se nas calçadas para conversar sobre a vida e fofocar como se não houvesse amanhã. A brisa da noite era agradável e compensava um pouco do calor sufocante que as manhãs e tarde costumavam ter. Mas isso não importava ao homem.

Continuou a caminhar com um objetivo claro em mente. Passou pela casa de Marcondes, depois pela sua própria residência, pela escola e, após alguns instantes, finalmente se viu diante do hospital da cidade. Adentrou o local e percebeu que finalmente havia algum espaço ali. Passara por lá no dia anterior e mal conseguia andar em decorrência dos curiosos que insistiam em querer ver o candidato a prefeito Breno Farias.

— Venho visitar Breno Farias — disse à recepcionista.

— Quem fala? — Ela seguiu o protocolo.

— Ele vai saber.

Aquela resposta causou estranhamento na recepcionista, mas ela logo tratou de enviar sua assistente para o quarto de Breno. Poucos segundos depois, ela retornou autorizando a visita de Valter.

— Muito obrigado — ele agradeceu dando um risinho irônico enquanto caminhava vagarosamente até o quarto do candidato a prefeito. A assistente abriu a porta para ele e, rapidamente, o grande homem adentrou o aposento. — Aqui estou. Do jeito que combinamos, “prefeito”.

Breno Farias estava sentado em sua cama. Na cadeira ao lado, Clara, irmã do candidato, olhava com atenção para Valter.

— Bom homem — Breno disse de maneira cínica. — Meu braço ainda dói, mas devo dizer que você fez um bom trabalho. Clara, o dinheiro.

A irmã se levantou e retirou da bolsa um grosso pacote de dinheiro. Entregou nas mãos de Valter e viu o homem dar um sorriso verdadeiro.

— Agora você pode tentar consertar seu filho quebrado — o candidato a prefeito falou com quase nenhuma empatia. Clara soltou um olhar inquisidor sobre o irmão, mas logo viu que o homem mais alto não parecia ligar para aquilo. Simplesmente escondeu o dinheiro nas calças e deixou o quarto do hospital. — É isso que ele faz, Clara. É a isso que ele serve: o dinheiro.