Estavam a salvo, porque a mera possibilidade de uma alma britânica negar abrigo a jovens congelando na véspera do Natal era absurda.

Mas, infelizmente, a salvação estava distante o suficiente para valer uma caminhada sofrida. Os dois haviam entrado em um silêncio confortável, mesmo assim, alguns minutos depois, Pansy resolveu falar.

— Você acha que se trata da casa de um assassino? — Ela começou animada demais para quem estava colocando a palavra “assassino” em uma frase.

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— De onde você tirou uma maluquice dessas? — Pelo tom da indignação do garoto, parecia até que ela havia falado da casa dos Weasley. Pansy fez um escrutínio na expressão dele.

— Eu sei lá! Uma casa assim, no meio do nada… Quem sabe não tem um daqueles loucos contra imigrantes fazendo um nova seita por aí? — Ela disse sem acreditar muito, depois olhou o garoto, travessa.— Eu não vou me importar de entrar para o culto, se isso me garantir uma caneca de chocolate quente em frente a uma lareira bem acesa.

— Eu vou fingir que não ouvi isso.

— Mas agora falando sério, por que alguém faria uma casa no meio do lugar mais ermo do condado? — Ela perguntou já tendo ignorado o frio, ante a perspectiva de um ambiente quentinho. — A gente tem que estar preparados para o caso disso aqui ser o matadouro de um serial killer.

— Seria um final digno para nossa aventura. — Rony falou fazendo graça.

— Sua família sentiria sua falta.

— A sua também. — Ele disse com uma segurança que não sentia realmente, não fazia ideia do tipo de gente que eram os Parkinson, bem podiam ser aquele tipo de pessoa morta por dentro, que não sabe amar ninguém.

— Eles com certeza ficam bem de preto. O luto vai cair bem neles em geral.— Ela fez um gesto abrangente, mas se arrependeu em seguida, porque isso fez o vento congelante pegá-la de jeito.

— A morte definitivamente não cai bem nos Weasley, a gente soluça, fica com a cara inchada e nariz escorrendo… — Ele descreveu, enquanto fungava para validar o ponto.

— Ao menos teria um funeral lotado.— Ela riu com maldade e ele a acompanhou, porque era bem verdade. — Ah, finalmente! Parece que eu estava certa, é um respeitável pub, numa estradinha no meio do nada! O quão brilhante ficará nosso sangue nas paredes desse lugar?

Ela falou divertida, dando uma última corrida para o alpendre do lugar. Embora Pansy tivesse razão quanto a localização, o “Cabeça de Javali” parecia ser um adorável pub e hospedaria para jovens inocentes como eles: a placa tinha um javali medonho desenhado, com olhos esbugalhados. Isso sem falar das janelas curvas, tão tomadas por fuligem que mal dava para ver o que tinha dentro.

O sino do pub tocou e pareceu como se os adolescente tivessem sido transportados para uma história de bang bang ao atravessar a porta.

Todos os ocupantes do bar os escrutinaram, uns quatro sujeitos mal encarados, com aparência de que se tomassem banho, seriam identificados como procurados da polícia. O dono era igualmente assustador.

O homem tinha um porte de quem tinha sido um cara encrenqueiro na juventude, embora os olhos azuis por trás dos óculos fossem espertos e a barba grande e desgrenhada de bode, de duas cores, cobrisse qualquer possível cicatriz de briga.

Rony se colocou mais perto de Pansy, que não estava nem um pouco intimidada com os olhares inquisidores. Ambos se aproximaram do balcão próximo ao dono do bar, onde um outro senhor grisalho limpava os copos com um pano encardido.

Ele os encarou com desconfiança.

— Boa noite, senhor. Quanto para usar o telefone? — Tinham que dar um prêmio para ela, porque Pansy era feita de um material resistente. Rony a encarou com admiração.

— O telefone está quebrado, um idiota bateu com o carro e o desconectou. — Ele respondeu de má vontade, sob o olhar atento do patrão.

— Hoje? — Rony perguntou surpreso e até mesmo Pansy o olhou com impaciência.

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— Há três anos.— O dono do bar falou em um tom que não cabia contestações ou perguntas adicionais, do tipo “E por que ainda não reconectaram a linha?”.

— Então o senhor tem um celular que possa nos emprestar? Algum de vocês têm? Não?— Ela havia se voltado para o restante do salão, mas foi sumariamente ignorada.

— O que dois cachorrinhos como vocês fazem fora da cama a essa hora, de todo modo? — O homem barbudo perguntou já demonstrando toda a sua vontade de os mandar voltar por onde vieram.

— Nosso carro caiu em uma vala há alguns quilômetros, a gente precisa ligar para o seguro, para acionarem o guincho. — Ela explicou calmamente e depois aumentou a voz para que os outros clientes a escutassem. — A menos que algum de vocês possa nos dar uma carona para…

— Na verdade a gente aceita o cardápio. Vocês servem comida aqui, não servem? — Tudo que Rony queria era impedir Pansy de sacudir sua carteira cheia de dinheiro na frente desses caras que podiam ter acabado de escapar de uma prisão.

Só que ele devia ter usado outro disfarce, porque seu estômago protestou com o futuro maltrato que sofreria.

— Servem chocolate quente com conhaque? —Pansy se antecipou à resposta do homem, bastante à vontade. — Eu mataria por um choconhaque!

— Vocês tem mais de 18 anos? — O barman perguntou cético, colocando o pano sujo com o qual estava enxugando os copos no ombro.

— Temos. — Rony confirmou com segurança.

— Têm os documentos de identidade? — O proprietário do lugar perguntou com uma nota cética na voz.

Dessa vez o garoto fez uma careta, porque havia saído de casa sem nenhuma documentação ou dinheiro. Sério, onde ele estava com a cabeça quando aceitou essa loucura de Pansy?

— Eu tenho. Vou querer dois choconhaques e um quarto, já que não tem um bom samaritano aqui capaz de nos deixar usar o telefone por um minuto! — Pansy falou em voz alta, tirando duas notas de 50 libras da bolsa, junto com sua identificação.

O velho barman ignorou a identidade e pôs uma nota, depois a outra sob a luz do bar. Ficou feliz ao constatar que eram verdadeiras. Pegou uma chave amarrada a um pedaço de madeira com o número 3 escrito e entregou ao casal.

— Subindo as escadas, segunda porta a direita. Levo o conhaque de vocês em cinco minutos. — O dinheiro já havia sumido espertamente para Deus sabe onde, então Pansy sorriu cínica para a súbita solicitude do homem. O dono da espelunca também parecia não ter mais nenhum problema com os dois.

— Chocolate com conhaque, senhor. E veja se traz algo para acompanhar, um peixe com fritas ou um… Não sei, qualquer coisa bem quente! — Não iria dizer que queria algo esterilizado pelo fogo, mas o pedido estava implícito. Pegou a chave, não sem antes ver o assentimento do homem. — Vamos, Rony.

O garoto a acompanhou escada acima, passivamente, mas assim que entraram no quarto apertado e ela tirou o casaco pesado, ele gesticulou com nervosismo, sem emitir nenhum som.

— O que foi, garoto? — Pansy o perguntou, entre o risonha e assustada, porque ele podia muito bem estar tendo alguma reação tardia ao acidente, tipo um traumatismo craniano ou ataque de pânico.

— Você ficou louca? Como é que você fala com aquele cara daquele jeito? — Ele sussurrou com medo do homem abrir a porta de supetão.

— Por quem você acha que aquele povinho lá embaixo tem mais respeito agora: pelo garotão desengonçado e assustado ou pela puta cheia da grana? Não é minha primeira vez em lugares como esse, Rony, relaxa. — A garota se jogou na cama, com o celular na mão. — Merda, ainda sem sinal! Que bosta de buraco é esse?

— Acho que você tá certa, mas… Fala sério! A gente não pode passar a noite aqui! Tipo… — Ele gesticulou para o quarto pequeno, que na verdade era até agradável, então olhou para Pansy em seu vestido curto, meia-calça preta e sorriso travesso. — Meus pais vão ficar preocupados.

Foi a melhor desculpa que encontrou para justificar o início da sua crítica ferrenha a ideia. Sim, porque tirando a preocupação da família, Rony conseguia pensar em uma ou duas coisas para fazer enquanto estivessem naquela espelunca.