— Eu não vou transar com você hoje, Ronald Weasley, pode tirar essa ideia da sua cabeça. — Pansy disse tudo com um sorriso cruel, se espreguiçando de um jeito muito sexy para o gosto de Rony.

Ele a olhou sem saber se ela estava falando sério ou só o provocando para ver até onde ele poderia ir. O garoto adoraria ser o tipo de cara espirituoso, que iria engatinhar por cima dela, a fazendo mudar de opinião, mas no fim das contas acabou cruzando os braços, a olhando meio ofendido.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— E por que não?

— Porque eu não transo com tudo que se move, Weasley. — Dessa vez não havia sombra de dúvidas, ele havia feito a pergunta errada e Pansy agora estava irritada com ele de novo. Mas no fundo o garoto sabia que podia piorar ainda mais as coisas ou pelo menos sua boca estúpida, que falava antes do cérebro escolher as palavras, sabia.

— Desde quando?

O silêncio que se seguiu a pergunta foi aquele tipo de acontecimento horrível e torturante para uma das partes de uma conversa tensa. Rony tinha certeza de que o silêncio na mão de alguém como Pansy era uma arma, mas ele logo foi quebrado por dois toques na porta.

O ruivo, ainda de pé, na entrada do quarto pequeno, não fez muito esforço para atender o chamado e pegar a bandeja de comida e bebida trazida pelo barman. Fechou a porta com um dos pés, ignorando completamente a mão estendida do homem pedindo gorjeta.

— Você se arrependeu do que disse no momento em que as palavras saíram da sua boca, não foi? — Pansy falou com ironia e ele se aproximou com a comida e os dois copos do que supostamente eram choconhaques. — Minha vontade é de virar essa bandeja na sua cara.

— Mas não vai fazer, porque vocês está tentando ser uma pessoa melhor, certo? — Rony tentou, mas o olhar da garota não era nada amigável.

— Estou esperando você trazer a bandeja perto o suficiente.

— Okay, desculpas por isso, eu… Preciso parar de falar essas coisas para você, desculpa mesmo, eu não faço ideia de onde veio essa história. — Rony se sentou na ponta da cama de casal, colocando a bandeja entre eles, coincidência ou não, longe o suficiente das mãos dela para um ataque.

— É a segunda vez que você toca nesse assunto, traz a tona minha má reputação… Achei que isso não te incomodava. — Ela acusou, fingindo que aquilo não a atingia realmente. Se inclinou para a caneca mais próxima, cheia de mini-marshmallows flutuando na bebida quente. — Não é que você traz sorte na comida mesmo? O cara caprichou no meu copo.

— Um dos meus muitos dons, mas voltando ao assunto do sexo… Eu realmente acho que você pode fazer com quem e quantas vezes quiser e não tem que dar explicações a ninguém sobre isso, sério. — O garoto achou por bem deixar bem claro que não era um desses caras babacas que tinha uma régua diferente da deles para usar com as mulheres. — Desculpe de novo, você não me deve satisfações.

— Eu sei disso, obrigada por me dizer o óbvio. — Pansy falou com sarcasmo, então se concentrou na bebida quente, para não queimar a língua: o choconhaque estava perfeito! — Hum… Estar ao seu lado tem mesmo suas vantagens! Mas, para encerrar o assunto sexo de uma vez por todas, coloquei uma resolução de ano novo que eu tenho certeza que você, meu perseguidor querido, vai gostar.

Rony estava bebendo da sua própria bebida, escolhendo se arriscaria comer a batata ou o peixe frito. Olhou para a garota com uma leve curiosidade, ignorando o apelido, porque por ele o assunto já poderia ter morrido, mas se ela queria falar, então que ficasse a vontade.

— Que resolução?

— Vou tentar parar de usar sexo como arma. — Ela falou como se aquilo não fosse nada demais, então Rony não fez muito alarde também. — Draco diz que eu só transo com a intenção de dominar as pessoas, o que eu sempre achei um ótimo motivo, mas aparentemente é errado, então eu vou tentar melhorar.

— Finalmente uma coisa que concordo com Malfoy, mas agora eu queria falar sobre outra coisa ainda mais importante, espero que você não se ofenda, mas... Alguém já te disse que seu namorado é gay? — O garoto perguntou com seriedade, fazendo Pansy quase derramar o chocolate batizado na própria perna ao rir gostosamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu sei disso! Quero dizer, não dá para ter cem por cento de certeza, mas… Eu sei lá! Ou o problema é comigo ou nem bisexual ele é! — Ela deu de ombros, parecendo mais conformada do que indignada com a situação.

— Pansy, ele é obcecado por Harry e parece estar com você apenas para manter as aparências. — Ela parecia estar levando tudo na brincadeira, mas Rony estava falando sério. — Achei que esses últimos tempos você estava chorando mais porque tinha descoberto isso… Não foi esse o caso?

— Não, eu não… Quando eu desconfiei que ele não gostava tanto assim de mim e estava me usando para se passar por um cara comum, eu transei com Blaise Zabini. — Pansy falou com displicência, então Rony a olhou intrigado. — Ele elogiou meu bom gosto, porque Blaise é o mais bonito dos amigos dele.

— Que cara estranho… Mesmo que ele não goste de você, ele devia se importar com a traição do amigo!

— Bem, ele não se importou, maldito seja, então eu decidi que se ele não se abalava com sua namorada transando com um amigo, eu iria me vingar transando com o maior inimigo dele. — Ela disse, com deboche.

Rony havia se deitado de costas na cama, deixando a bebida na bandeja redonda entre os dois. Ele olhou para o teto, tentando lembrar de todas essas fases do namoro mais famoso da escola.

Draco Malfoy e Pansy Parkinson eram o típico casal ioiô, ninguém nunca sabiam quando estavam juntos ou separados e embora os casos de Pansy fossem bastante conhecidos, Malfoy permanecia como um lorde injustiçado, quase um herói trágico.

— Foi aí que você dormiu com Harry? — O garoto perguntou e se assustou quando a bandeja tremeu e quase derramou todo o conteúdo no lençol. Pansy havia se deitado e agora estava encarando o teto, como ele.

— Você precisava ter visto aquele garoto no dia que eu contei para ele sobre Potter. — Ela falou divertida, tapando os olhos com uma das mãos. — Ali eu vi o dragão no nome dele se mostrando!

— Qual era exatamente essa dinâmica de vocês? Em um dado momento, antes dele te levar em casa, você ia lá e contava com que tinha transado para irritá-lo? — Era o tipo de coisa que Rony nunca entenderia, porque Pansy era obviamente uma garota forte e cínica o suficiente para não depender de namorados, mas ela insistia naquela relação fracassada por algum motivo.

—Não, antigamente a gente… Na verdade, eu estou colocando as coisas em perspectiva agora, porque antes eu só… Estamos ficando muito velhos para isso, Rony, acho que eu cheguei no meu limite de quanta merda eu posso aguentar por Draco, só isso. — Ela falou sem emoção, fazendo Rony a encarar, tentando ver alguma coisa através de sua expressão tranquila.

— Você ainda gosta dele?

—Acho que essa nunca foi a questão. — A garota continuou com simplicidade, deixando seu cabelo muito escuro contrastar com a cor clara dos lençóis surpreendentemente limpos do Cabeça de Javali.

— E qual é a questão? —Ele agora havia levantado o tronco, tendo uma visão privilegiada do rosto da garota. Ela lhe devolveu um sorriso triste.

— Acho que eu gostava muito pouco de mim. — Era o tipo de conclusão que mudava vidas, Rony sabia, mas não tinha certeza se ela estava falando sério quanto a querer mudar sua situação. Às vezes era cômodo permanecer onde estava, mesmo que o lugar fosse um verdadeiro inferno. — Você entende do que eu estou falando?

—Não.

—Vai me dizer que seus namoros com Brown e Granger foram perfeitos? — Ela o questionou irônica, então o garoto aproveitou a posição para comer uma batata já ficando meio flácida e pouco atrativa, por conta do tempo que foi ignorada no prato.

—Se fossem perfeitos, eu estaria com uma delas agora, mas não era sobre perfeição que você estava falando. —Ele havia começado a responder de boca cheia, então engoliu antes de continuar. — Não sou a pessoa com a melhor auto-estima do mundo, mas eu não me forcei a ficar com alguém só para não ficar sozinho.

— Pelo que eu me lembro, você terminou com Granger justamente pelo mesmo motivo que eu continuei com Draco todo esse tempo: você não achava que a merecia. — A garota apontou. Se levantou, ficando com os olhos na altura dos dele. Sorriu com certo conhecimento de causa. — Foi isso que quis dizer com aquele papo de deixar ela livre, não foi? A única diferença foi que eu achei que Draco era bom demais para mim, então eu me rastejava para continuar tendo ele na minha vida.

— Você tem razão, de certa forma temos o mesmo problema. —Ele riu com pouco humor, mas Pansy ainda o olhava com uma expressão difícil de decifrar.

—Ao menos você foi maduro o suficiente para se livrar de parte do problema, meus parabéns.

— Você quer saber como foi meu namoro com Mione? — Ele perguntou incomodado com o crédito que ela dava a sua maturidade, porque talvez ela retirasse os parabéns ao saber como as coisas tinham sido de verdade.

— Acho que estou mais curiosa em saber como foi o namoro com Lilá Brown, algo me diz que foi digno das páginas de romances de banca… Ou das manchetes policiais. — Ela capturou um par de iscas de peixe e colocou de vez na boca, parecendo animada para ouvir as histórias.

— Certo, certo… Deixa eu ver o que dá para contar sem me humilhar terrivelmente na sua frente… Bem, comecei a namorar com Lilá quando eu tinha acabado de completar 16 anos e eu tenho que dizer, fiquei muito surpreso com uma garota legal e bonita como ela, ficando afim de um cara como eu. — Ele começou acompanhando Pansy na comilança, porque, não era que sua boa sorte para comidas tinha conseguido salvar até mesmo os petiscos daquela espelunca?

— Sua auto-estima me comove, mas continue.

—No início era muito bom ter toda aquela atenção, Lilá é a garota mais carinhosa que um cara poderia querer, mas… Ela era um pouco pegajosa. — Ele falou com uma careta e Pansy já estava começando a se acostumar com aquela mania estranha dele.

—Sério, Roniquinho? — Ela falou com deboche, o fazendo revirar os olhos.

— Fique você sabendo que meu apelido oficial de “momolado” era “uon-uon”. —Ele havia falado aquilo como se fosse uma informação séria, fazendo Pansy quase colocar choconhaque para fora, pelo nariz.

—QUE?

—Nos primeiros meses a gente se coloca em uma bolha de amor e eu… Adorava os beijos, os amassos e… Quando a gente começou a transar… Olha, ela podia me chamar do que quisesse, sinceramente, eu não dava a mínima para isso!

—Onde eu estava quando tudo isso aconteceu? — Pansy agora ria com vontade, sob o olhar de um Rony pouco incomodado com o fato. — Essa é provavelmente a coisa mais ridícula e absurda que eu já ouvi!

—Era bem legal para quem estava de dentro…

—NÃO! Não ouse tentar se justificar! Apenas aceite que você se deixou amarrar por uma poção do amor e virou uma daquelas… Daqueles… Argh! Daquelas pessoas toscas, que falam com voz de bebê! — Pansy parecia que iria vomitar só de citar os tais indivíduos asquerosos, fingiu um falso arrepio, arrancando uma risada sincera de Rony.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Eu estava apaixonado!

—Sem direito a defesa! Que coisa mais triste… Como a gente pode se decepcionar tanto com um cara? — Ela maneou a cabeça com uma decepção que bem poderia ser verdadeira, Rony não ficaria surpreso se fosse, afinal aquele era um episódio vergonhoso de sua história. —Mas como acabou todo esse romance dantesco?

—Ah, essa parte é meio humilhante, na verdade… — Ele começou, coçando a orelha que estava ficando avermelhada e Pansy o encarou como se ele fosse louco.

— MAIS?

— Tá, tá, tá… Já entendi que todo o namoro foi um grande festival de coisas vergonhosas, mas o jeito como as coisas terminaram foi a pior parte. — Ele se justificou, fazendo a garota o olhar bastante interessada.

—Ok, você conseguiu minha atenção: como foi que as coisas desandaram entre você e Brown? — Pansy agora estava deitada de bruços, com o queixo apoiado nas mãos, como uma garotinha esperando pela melhor parte do conto de fadas contado pelo papai.

— Eu fiz uma operação para arrancar quatro dentes sisos de uma vez, eles eram muito tortos, então precisou ser feito no hospital.

— Hum… —Pansy incentivou muito interessada onde essa história de dentes tortos iria parar. Rony continuou.

— Tudo correu bem, obviamente e eu já estava no quarto, me recuperando, mas o efeito da anestesia ainda não tinha passado. — Ele parou para tomar um gole de sua bebida, já morna, de tanto tempo que levou para ele lembrar de sua existência. Pansy sorriu maliciosa para a hesitação do garoto.

— Sei… Continue.

— Eu não me lembro dessa parte, Ginny e Harry que me contaram e como Lilá me cobrou satisfações sobre isso, infelizmente só pode ter sido mesmo o que aconteceu. — Ele enrolou mais um pouco, fazendo a garota o olhar com irritação.

— Desembucha logo o que aconteceu, Weasley!

— Tá, ok, lá vai: eu… meio que me declarei para Mione, quando ainda estava meio grogue por causa da anestesia. —Pansy tapou a boca teatralmente com as duas mãos. Ele a olhou com impaciência. — Infelizmente na frente de Lilá.

— Meu Deus!

—E de Mione, claro. —Assim que ele terminou de contar, Pansy se jogou de volta na cama, rindo com muita maldade da cara do garoto. Ele maneou o rosto com indignação, mas depois de alguns segundos, já a olhava com um sorriso no rosto. —Não teve a menor graça, Pansy, a pobre Lilá ficou bastante magoada.

—Pelo menos ela teve dignidade o suficiente para te dar um pé na bunda e não ficou lá, atrás de… —Pansy parou no meio da frase, porque a expressão de constrangimento de Rony só podia indicar uma coisa. — Ela pediu satisfações, não foi?

— E eu não dei, porque… Como vou explicar isso sem parecer uma pessoa horrível? Ela era muito, muito grudenta, eu não pude… EU SEI, isso é terrível, mas eu não pude deixar essa chance de terminar com ela escapar, minha aflição era tanta, que eu já estava me vendo casado e com três filhos com ela, de tanto que eu não sabia o que fazer para dar o fora nela!

— Suponho que namorar Granger logo em seguida não ajudou em nada na sua causa. — Pansy afundou um pouco mais o dedo na ferida e o garoto a olhou culpado. — Brown deve estar planejando sua morte nesse exato momento e eu acho que é pouco ainda.

— Sim, Lilá obviamente me odeia agora, mas, por outro lado, esse episódio me deu uma chance com Mione, então no fim das contas eu não tenho muito do que reclamar, há males que vem para o bem. — Ele deu de ombros, sonso e Pansy franziu o cenho para a cara de pau dele.

— E você precisou se operar do que, para finalmente terminar com Granger? — Ela perguntou sarcástica e Rony a encarou ofendido.

—Meu término com Hermione foi bem maduro, se quer saber! Eu já te falei sobre ele, terminei com ela porque achava mesmo que ela merecia coisa melhor. — Ele falou chateado e quando Pansy não não argumentou contra, se viu forçado a falar mais sobre o assunto. — O que mais eu poderia fazer? Eu e Mione estávamos miseráveis na relação e… O babaca que disse que valia a pena sacrificar tudo por amor merecia uma morte bem lenta e dolorosa! As coisas na vida real não são como nos livros.

Pansy o encarou intrigada, mas resolveu ter uma abordagem um pouco menos agressiva para seus padrões, afinal, embora Rony soubesse muito sobre ela e ela provavelmente soubesse mais do que muita gente sobre ele, ainda eram praticamente desconhecidos.

—Você ainda amava Granger quando terminaram?

—Acho que vou amar Mione para sempre, não importa o que aconteça, o amor só… Ficou diferente agora, sabe? — Ele não a olhou nos olhos, mas se tivesse feito, teria percebido que ela sabia o que ele queria dizer. — Ninguém te ensina a se afastar de uma pessoa antes do amor acabar, fazem parecer que é tudo que precisamos para… Eu sei lá, só sei que não podia continuar perdendo ela aos poucos.

Pansy ficou pensativa e Rony terminou de beber todo o conteúdo de seu copo, deixando no fundo apenas alguns marshmallows tristes e solitários. A garota esperou ele a olhar de novo, para voltar a falar algo.

— Essa foi provavelmente a coisa mais bonita que eu já vi alguém fazendo por outra pessoa. — Ela falou com sinceridade, sem nenhum traço da garota popular, que gostava de rir das pessoas e suas fraquezas com crueldade. Talvez aquela garota nunca tivesse existido, no fim das contas.

— Foi a coisa mais difícil que eu já fiz, então espero que isso me garanta uma entrada no céu. — Rony disse numa tentativa boba de descontrair o clima pesado, mas Pansy não parecia que tinha ouvido a brincadeira, parecia estar com a mente em outro lugar, até sua expressão se tornar resoluta.

— Ok, Rony, você ganhou a sua chance e eis como será: — A garota fez um malabarismo para pôr a bandeja com os copos e resto de comida no chão, depois se sentou sobre os pés, para encarar seu companheiro de aventura, de igual para igual. — Nós vamos dar um beijo e esse único beijo será o primeiro de muitos ou o último entre nós, está certo?

O garoto ruivo ajeitou um pouco melhor a postura, mas seu semblante demonstrava que ele tinha feito mais por reflexo, acompanhando a nova posição de Pansy, do que por realmente entender a proposta feita.

— Ok. Hum… Eu não… Quem vai decidir se é uma coisa ou outra? — Ele perguntou intrigado, achando muito estranho e anti-romântico toda aquela situação.

— Nós vamos. Você parece se importar comigo, então isso significa que não mentiria para mim, nem insistiria, caso não tivéssemos química, certo? — Ela questionou, depositando uma confiança que era uma responsabilidade grande para qualquer cara. Rony a olhou incerto.

— Não sei se é justo colocar tanto significado em um simples beijo, porque nem sempre funciona perfeitamente da primeira vez, quero dizer, a vida real é diferente da ficção, onde os sinos tocam e fogos de artifício explodem não sei onde! — Ele ainda tentou argumentar, mas Pansy estava irredutível.

— Saberemos se o beijo for digno de um tira-teima, mas fora isso, uma chance e acabou: nós seremos somente amigos, se não houver nenhuma pontinha de… — O telefone de Pansy tocou, a fazendo praguejar baixinho pela interrupção, depois ela encarou Rony com os olhos arregalados.

— Tem alguém te ligando, isso significa dizer que há sinal aqui! Vamos, atende! O que você está esperando, Pansy? Atende! — Rony falou ansioso, quase tentando pegar, ele mesmo, o telefone largado de qualquer jeito na cômoda bamba ao lado da cama.

— Ok, isso é ótimo, mas não acha que a gente precisa definir primeiro essa coisa do beijo e, não sei… O nosso futuro, Rony! —Ela falou exasperada e ele apontou para o celular vibrando e tocando, quase caindo do móvel de madeira, com um desespero cômico.

— Mas…

— Um único beijo e você pode atender o telefone e chamar a Inteligência britânica, a Interpol, os Kingsman, eu não me importo! — Dessa vez Pansy conseguiu a atenção dele, afinal havia capturado o rosto do garoto com as duas mãos e tinha se colocado de joelhos no colchão duro, para ficar na altura mais próxima o possível da dele. — Preciso apenas de um beijo para saber se você é real…

Ela falou a última frase em um sussurro e ainda assim soou mais alto do que o escândalo que o celular oferecia na mesinha de cabeceira a alguns metros do casal. Rony olhou no fundo dos olhos escuros dela, do jeito que sempre sonhou em fazer quando estavam distantes, separados pelas suas janelas e só pôde rezar para ele ser real, o que quer que real significasse para ela.

Apoiou as mãos de leve na cintura da garota e a trouxe mais para perto, até que a única coisa lógica que restava para os dois fazerem era fechar os olhos e tocar os lábios, como se fosse a primeira vez que ambos beijavam alguém na vida.

Talvez fosse algum tipo de primeiro beijo mesmo, apesar de Pansy sempre ser muito cética quanto a ideia de endeusar as primeiras “qualquer coisa” com parceiros diferentes. Flertar, beijar, dar uns amassos, transar… Era tudo muito igual e natural para ela, então não fazia ideia do porquê estava tão nervosa, tão insegura em avançar um pouco mais no ato, em trazê-lo para si de uma vez por todas e mostrar quem mandava na situação.

Rony era irritantemente lento, talvez pelo simples fato de que a incerteza de ter apenas uma chance com ela pairava sobre sua cabeça. Ele parecia querer aproveitar cada segundo do contato entre suas bocas, movia os lábios sobre os seus com uma delicadeza inesperada e ela sentia a respiração dele em seu rosto, as mãos grandes em sua cintura e o calor do corpo dele encostado no seu…

Parecia uma eternidade desde que estiveram no frio do lado de fora, dado a alta temperatura ao redor dos dois agora.

Demorou uma eternidade também para que ele deixasse sua língua abrir caminho entre os lábios dela, o gosto de chocolate deixando tudo ainda mais gostoso, então a garota retribuiu o gesto com bastante ímpeto, exigindo um beijo mais voraz.

Se em um primeiro momento Rony queria mostrar que poderia ser um cara romântico e delicado, com a exigência de um beijo mais agressivo, o garoto provou que tinha pegada o suficiente para ser um rival à altura.

Pansy gostava de estar no controle de tudo, adorava ditar o ritmo, o começo, meio e fim de cada um dos seus beijos, mas Rony tinha um jeito interessante de inverter as coisas. Ela se deixou cair na cama e permitiu que ele ficasse por cima dela, desgrudando os lábios dos seus para iniciar uma trilha descendente de beijos pela sua garganta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— E a ligação? — Ela perguntou sem fôlego, com um princípio de riso, pelo completo esquecimento do tema que parecia vital para ele há um par de minutos.

—Foda-se a ligação! — Ele respondeu em um rompante de agressividade, mas assim que fez menção de voltar a beijá-la, o celular que havia parado de tocar voltou a soar alto, como quem exige toda atenção para si. Rony olhou para a garota, incerto e Pansy também o encarou, em dúvida. — Ou talvez a gente devesse atender esse bendito celular... Sabe-se lá Deus quando vamos ter outra oportunidade dessas!

Pansy o empurrou de cima de si com um sorriso entre o divertido e frustrado, porque você tinha que detestar e adorar um cara focado o suficiente na salvação dos dois, a ponto de ignorar um amasso com ela em uma cama de motel no meio do nada.

— Atenda a maldita ligação, Rony! Talvez seja o nosso tão esperado milagre de Natal. — Respondeu irônica, então o garoto fez a mesmíssima cara de desculpas que havia exibido no início do dia, quando a atendeu na porta, escondido da irmã.

Rony já havia se sentado ao lado da cômoda em um salto, então atendeu o celular de Pansy, onde um número não salvo na agenda dela chamava com insistência. Não fazia ideia do que a pessoa queria, mas teria que ser o tipo de gente proativa, que liga para o reboque e organiza uma missão de resgate em meia hora ou menos, porque eles precisariam de toda a...

— Alô! Aqui é…

Rony?!?! Rony, é você mesmo? Gente, é o Rony! — A voz de Bill soou surpresa, então aliviada, falando com pessoas que obviamente estavam fora da linha. — Garoto, onde você está? Faz ideia da loucura que está… Olha, quer saber? Me diga onde você está agora, que eu estou indo… Espera, Percy, eu vou…

— Ronald Bilius Weasley, é bom você ter uma ótima desculpa para dar, porque eu coloquei o gabinete do prefeito todo para trabalhar buscando por você em plena véspera de Natal, então se você não estiver sendo mantido refém por um grupo de…

— Melhor pegadinha de todas!

— Fez todo mundo quase morrer do coração…

— Enquanto dava umas voltas com ninguém mais, ninguém menos do que…

— PANSY PARKISON!— Os gêmeos haviam interrompido Percy, fazendo aquele jogral típico deles, que enlouquecia qualquer um, terminando com um grito em conjunto. Rony foi obrigado a desligar a ligação e olhar para Pansy com uma cara de culpa.

— Sinto muito, Pansy, mas acho que nosso grupo de resgate está mais para uma equipe de extermínio. — Ele falou com uma careta e a garota sorriu, se sentindo leve e despreocupada pela primeira vez em muito tempo.

—Bem, Rony, a essa altura do campeonato, você já me conhece o suficiente para saber que eu caio, mas caio atirando.